Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

terça-feira, julho 29, 2008

Ofurô

Levou um tempo pra perceber que estava com febre, porque no inverno é sempre possível que o frio nos ossos seja legítimo. Mas tremia demais, sentia-se fraca demais, os olhos lacrimejavam demais, então ela achou - mesmo sem ter um termômetro por perto - que era febre mesmo, e dirigiu de volta pra casa pensando que deviam criar uma nova regra de trânsito proibindo pessoas febris de dirigir, porque o motorista febril delira, o vermelho do sinal o faz chorar, faróis na cara fazem seus olhos fecharem, quebra-molas lhe trituram os ossos e o resultado disso é não-bom. De qualquer forma, se proibissem a direção febril, seria engraçado ver blitz de trânsito se transformando em drive-thru de saúde, com policiais solícitos aferindo a temperatura e a pressão dos motoristas, e já que vão pedir pro contribuinte soprar no etilômetro, poderiam aproveitar para coletar sangue de todos para aumentar o cadastro nacional de doadores de sangue e medula. Todo mundo que tem uma carteira de habilitação válida já foi obrigado a decidir se doa ou não doa, não é? Então.

Já em casa, entrou imediatamente debaixo do chuveiro escaldante que, justo naquele dia frio, não estava nem tão escaldante assim. Sentiu o corpo relaxar, reservando-se ao direito febril de não se importar com o fim trágico que estava dando, ela mesma, à toda água potável do planeta. Mas foi pensar nisso, que logo pensou em outras formas de ficar quentinha sem gastar tanta água. Lembrou do ofurô daquele hotel na serra de Ibitipoca. Aquilo sim é que era água quente! Mas lembrou também que levou horas pra decidir se entraria ou não naquela banheira suspeita de madeira. Se a Vigilância Sanitária não permite que se corte laranjas em tábuas de madeira porque é nojento, imagina o quão nojenta deve ser uma banheira de madeira onde pessoas estranhas, estranhas o bastante para querer ir pra Ibitipoca, muito possivelmente trocam vários tipos de fluidos repletos de bactérias amiguinhas do calor (ah, porque algumas bactérias adoram um calorzinho!). Acabou entrando no ofurô, mas foi de tampax mesmo sem estar menstruada, apenas para sua proteção mental. E agora, lembrando da sensação ofurística vasodilatadora daquele dia feliz, tudo o que ela queria era um ofurô. Já tinha uma hora que estava no banho, então entrou numa camisola de flanela e foi delirar sob 3 edredons na cama.


O ofurô era realmente tudo o que ela precisava naquele momento: o aspecto suspeito da madeira micróbio-friendly estava disfarçado pelas pétalas de rosas vermelhas ligeiramente orvalhadas e pelo óleo essencial de canela, que dava uma nota de charme àquela penumbra de velas num vale de eucaliptos. Ah, os eucaliptos! Não aquela essência barata de sauna de academia, mas eucalipto de verdade, daqueles que ficam prateados em noite de lua cheia e limpam os pulmões da gente da cidade. Envolvida por cheiros e lembranças, deixou seu roupão felpudo cair e entrou no ofurô. Sentia-se um comprimido efervescente de vitamina C em um copo d'água muito quente, e em poucos segundos percebeu que todo o seu corpo cedia e a dor passava, e onde havia frio agora existia apenas conforto. O frio é o mal do mundo: inadmissível pensar que alguns casos de febre são tratados com gêlo. É uma solução muito hostil para quem apenas quer um pouco de calor humano. O ofurô é o calor humano em forma de banho.

O avançado estado de relaxamento foi interrompido pelo alerta de sede. Tateou em volta e encontrou uma moringa e um copo d'água. Bebeu meio litro. E voltou a relaxar.

O avançado estado de relaxamento foi quase interrompido pela vontade de fazer xixi. Olhou eu volta, estava cercada de velas e eucaliptos. Ninguém iria reparar se ela fizesse xixi ali mesmo, no ofurô. Parecia justo, já que ela podia deixar ali qualquer tipo de fluido, e o xixi não é exatamente o líquido mais contaminante que sai do nosso corpo. Em estágio de semi-relaxamento febril, levou o xixi ao banco dos réus e tirou-o de lá vitorioso, orgulhoso de sua inocência, até mesmo um pouco eufórico pra sair e gritar pro mundo que há coisas piores por aí que fazer xixi num ofurô. Então ela deixou. E sentiu um calorzinho gostoso e uma nova onda de relaxamento.

De repente, frio. Tudo o que é bom acaba, e o ofurô ficou frio. Tateou em volta pra ver se encontrava algum telefone pra falar com o pessoal da pousada, mas Ibitipoca não era pra tanto. Quisesse alguém falar com o pessoal da recepção, que andasse até lá, sob rajadas de vento gelado e frios que triturariam a alma dos mais valentes. E o frio aumentava. O frio molhado é o pior de todos. Acabou-se o relaxamento, acabou-se o cheirinho de eucalipto, acabou-se o que era doce. O telefone toca. Ué, mas aqui não tem telefone. Mas o telefone toca, toca, toca.

- Alô?
- Filha, você não ligou hoje, está tudo bem?

Não estava tudo bem. Nunca está tudo bem quando se faz xixi na cama depois dos 2 anos de idade. Mas fica o alerta: pessoas normais fazem xixi em ofurô. Pense nisso antes de entrar em um.

sábado, julho 26, 2008

Recadinho magnético subliminar

280 minutos de aeróbico na zona alvo, 135 min de musculação e 182 pontos por semana. Se eu não emagrecer, é porque não era pra ser.

sexta-feira, julho 25, 2008

Sobre o pedalaço etílico de amanhã

Está temporariamente adiado por motivo de força maior. No momento, nenhuma força pode ser maior que minha força de vontade para voltar à boa forma física, e se eu fosse beber uma margarita frozen, espécie melada de sorvete açucarado com tequila, eu teria de pedalar do Leme à Barra e voltar só pra poder voltar ao Posto 3 e estar caloricamente apta a tomar um chope, de forma que fica muito pouco prático esse esquema de pedalar e beber. Se fosse pra correr e beber, tudo bem, já que a corrida queima mais calorias que a pedalada no plano, mas eu sinceramente detesto correr bêbada.

Além disso, minha pedalada anti-protesto contra (ou a favor) da Lei Seca pode esperar a Barra da Tijuca se manifestar primeiro. Nem precisa ser em relação à Lei Seca, pode ser qualquer coisa. O dia em que a Barra se manifestar, eu retomo o projeto do pedalaço. Por ora, pedalinho (400kcal/hora).


PS sobre a Barra (pra vocês não acharem que eu surtei ou surto do nada - há sempre um bom motivo): o Alex Adeodato, meu amigo de fé e irmão camarada, morador da Barra da Tijuca, depois de me convidar pela terceira vez para visitar sua clínica vocês sabem aonde, e depois de ouvir de mim pela enésima vez que "você sabe, querido, eu te amo, mas aí nesse lugar eu não vou...", proferiu o seguinte, em tom semi-profético, semi nouveau riche e semi-afetado: "Ah, mas vai passar a vir! Ninguém mais poderá se dar ao luxo de evitar a Barra dentro de pouco tempo. O futuro do Rio é aqui!". De forma que agora vocês podem entender porque eu vou esperar a Barra se manifestar. Antes de ser obrigada a andar de 175, quero que a Barra prove algum merecimento. Qualquer indicativo de consciência serve. Aguardo.

quinta-feira, julho 24, 2008

Vá ao teatro e chame os amigos.

Como integrante da Falange dos Amigos dos Amigos desde Criancinha (GDB), uma organização mafiosa de cunho afetivo, recreativo e cultural, venho por meio deste post-it indicar duas peças que estão fazendo a diferença nesta inverno veranicoso: uma é pra gente grande (ou mais ou menos grande, do tipo que só vai a teatro pra ver global), outra pra gente de todos os tamanhos, nesta ordem:

CIRCUNCISÃO EM NOVA YORK

Autoria: João Bethencourt
Direção: Ricardo Kosovski
Elenco: Francisco Cuoco, Nildo Parente, Suzana Saldanha, Débora Lamm, Pitty Webo, Cláudio Garcia (gato pacas) e Saulo Arcoverde.
Sinopse: Comédia de costumes com todas as características de um grande Vaudeville tradicional....
Classificação etária: 12 anos
5ª a Sáb., às 21h e Dom., às 20h
Ingressos: R$ 40,00
Até 14/09/2008

Teatro Villa-Lobos. Av. Princesa Isabel, 440 - Copacabana


Um Garoto Chamado Rorbeto

Autoria: Gabriel, o Pensador
Direção: Sura Berditchevsky
Elenco: João Pedro Zappa, Waleska Arêas (o mais novo rap-talento do Brasil segundo o Jô Soares) e muitos e muitos outros.

Sinopse: Adaptação teatral de livro do Pensador que recebeu o Jabuti 2006 de literatura infantil. Temática social cantada em rap com músicas do Gabriel Pensador. Menino queria se chamar Roberto, mas o ignorante do pai o registra como Rorbeto.

Classificação etária: livre
Sábados e Domingos, às 16h
Ingressos: R$ 8,00
Até 28/09/2008

Teatro Oi Futuro. Rua Dois de Dezembro, 63 - Flamengo.


quarta-feira, julho 23, 2008

Duralex, pedalex

A Lei Seca veio pra ficar, minharrente, então eu não vou ficar aqui dizendo se sou contra a favor, se acho a lei radical-hardcore ou normal. Só sei que se essa lei tivesse chegado há 2 anos, quando eu ainda tinha carro e me alimentava exclusivamente das frutas que porventura compareciam às caipirinhas do Palaphita, eu ia achar ruim: ninguém gosta de ver a vida mudar da noite pro dia, duma blitz pra outra. E a vida mudou, não tenho dúvida.

Dia desses, uma brisa marítima do Leblão veio sussurrar no meu ouvido que uma amiga querida -- um ser humano desmamado em malte escocês cuja identidade vou preservar só porque nossa polícia federal tá me dando uma mêda danada -- e, por coincidência, a pessoa que melhor dirige alcoolizada no planeta, foi de sua casa ao Baixo Gávea de ônibus. Fiquei chocada. Tudo bem que é um trajetículo de duas paradas, mas mesmo assim eu senti uma aflição sem tamanho, não consigo explicar que nervoso foi esse. Tinha perguntas não queriam calar -- e aí, ela acertou que a porta de entrada é a da frente?, perguntou se podia pagar a passagem com AMEX? --, mas ao mesmo tempo fiquei feliz porque esse fato-revelação me ajudou a constatar que ninguém que conheço deu uma de desobediência civil pra cima da dita Lei Seca, que de seca não tem nada, porque a lei é clara, como claras são as pilsen de boa qualidade: pode beber à vontade, só não pode beber e dirigir. Simples assim.

Pronto, revelei: sou fã da lei exterminadora de pinguços ao volante (perigo constante, vide estatísticas maniqueístas no seu jornal, todos os dias). Tanto que quero propôr uma pedalada da paz declarada à Lei Seca pela orla neste domingo. Vamos beber por essa orla inteira, mas de bicicleta, que é pra provar pro poder público que a gente entendeu, que eles não precisam mais manipular os números do Miguel Couto, chega dessa palhaçada! Vamos beber do Leme ao Pontal, mesmo que seja preciso improvisar um pernoite (luau, luau!, u-hu, e o plano cresce!) em algum lugar pelo meio do caminho, que o álcool amolece a musculatura, e pedalar de volta (do Pontal ao Leme) vai ser meio foda.

Eis o trajeto desse meu plano audaz:

Dia: domingo, 27/07/08
10h: quiosque TGI Leme: magarita frozen e internet wi-fi, chapeize!
10h45: quiosque bar Luiz, em frente ao Copa: chope escuro e uai-fái (valeu, cambada de político safado!)
11h30: aquele quiosque mal ajambrado que tem na frente da Teixeira de Melo: caipirinha baratinha (vem num copão de 300ml!) e um queijo coalho mais adiante, logo depois do 9, no calçadão mesmo; daqui a gente entra no Jardim de Alah e vai pra Lagoa;
12h30: Árabe da Lagoa, se houver mesa, que em domingo de sol é foda. Atenção para a possível presença de flanelinhas guardadores de bicicletas institucionalizados, uniformizados e pagadores de imposto. Parada pra comer alguma coisa, fazer um pipi e esperar a galera que só acorda meio dia. Rola um gramado pra quem precisar tirar um soninho, que beber sob sol a pino cansa.
14h: Palaphita: aqui a gente vai fazer um protesto: vamos dizer pro Mário que ninguém vai beber porcaria alguma porque a caipirinha desse bar está cara demais. Não vamos dizer a ele que a gente não bebeu nada porque o Palaphita só abre mais tarde, às 18h, senão ele vai pensar que estamos bêbados. Daqui a gente segue pra Barra da Tijuca, cada qual no seu tempo, sem pressa, senão eu fico cansada só de pensar. Vamos nos falando pelo celular, caso alguém tenha conseguido se salvar do arrastão de telemóveis de Copacabana, que o Wi-Fi na orla é a alegria dos gatunos.

Mas ó, gente, é pra ir pela orla, heim? Não vão vocês se arriscar dentro de túnel, é muito perigoso, afinal domingo é dia de neguinho encher a cara e subornar guardinha em blitz de lei seca. Não sei se tenho mais medo de bêbado dirigindo ou da nossa polícia, preciso me decidir.

PS: Vamos fazer tudo isso, mas três horas mais tarde. E vamos deixar a Barra pra lá, eles se quiserem que façam o protesto deles, foda-se, eu não vou ficar passando a mão na cabeça de nouveau riche.

Vai uma peludoterapia aê, doutor?

Aliás, ela está castrada e prontinha pra adotar uns humanos. Os cães são mesmo muito caridosos.

Da generosidade dos cães


Da generosidade dos cães
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Eu já falei pra ela, porcaria isso de ficar beijando gente na boca, mas ela não me ouve.

terça-feira, julho 22, 2008

Parece mas não é.


Parece mas não é.
Originally uploaded by Van-Or
Hoje recebi a ilustre visita deste peludo negão, o Hulk, o show dog show de bola da Guarda Municipal. Ele até se parece com alguém que conheço. A diferença é que o Hulk sabe parar de roer as pessoas quando elas pedem com humildade.

domingo, julho 20, 2008

Nome Próprio

Ontem assisti a "Nome Próprio", o filme baseado na obra-vida-obra da gaúcha Clarah Averbuck. Achei importante ter visto esse filme agora, neste momento-clichê em que eu não consigo sair do mesmo parágrafo claustrofóbico de um livro que estou lendo:

"As dádivas do isolamento são inúmeras. [...] Ele erradica as lamentações, proporciona um insight penetrante, aguça a intuição, assegura o poder incisivo de observação e de visão de perspectiva jamais alcançado pelas pessoas 'aceitas'."
(In "Mulheres que correm com os lobos", de Clarissa Pinkola Estés)

Estou nesse mesmo trecho, nesse mesmo capítulo do Patinho Feio, capítulo que discorre sobre a importância do auto-conhecimento, do auto-encontro e da auto-aceitação há 3 semanas. É meu record num mesmo parágrafo. O livro é emprestado, e eu começo a me sentir mal por reter por tanto tempo o livro de outrem.

O filme? O filme me causou auto-comiseração. Fosse eu um pouco mais evoluída, teria sentido apenas comiseração. Eu ainda preciso de muito isolamento e distanciamento crítico pra chegar nesse ponto em que coitados são os outros.

sábado, julho 19, 2008

O pior cego

Estive recentemente no meu oftalmologista. Visita de rotina, só pra sair da rotina das conjuntivites semi-letais e do olho seco terminal. O que vou dizer agora pode parecer meio louco, mas -- porque os olhos são a janela da alma e o oftalmologista é o médico que cuida dos olhos, -- eu sempre encontrei no consultório do meu oftalmo algumas das melhores metáforas da vida. Da minha vida. Episódio metafórico de hoje...

O pior cego

Reclamei com o Evandro, meu médico de olhos, das dores de cabeça que vinha sentindo sempre que insistia em usar os óculos. Ele me sentou naquela cadeira estranha, deixou o consultório na penumbra e colocou todas as letras na parede. De acerto em acerto, fui ficando surpresa - e até sem graça! - com minha extraordinária acuidade visual. Percebendo o clima de "a taça do mundo é minha", despistei:
- Ah, o K também é moleza. Ninguém consegue confundir o K com o M, por exemplo. Difícil mesmo é diferenciar o D do O na última linha.
- Morena, seu grau diminuiu.
- Sério?!? Tem certeza? Será que não é só um artefato cerebral momentâneo?
- Não, não é. E é por isso que você tem sentido dores de cabeça.

Hesitei por alguns instantes, pensei nos prós e contras do pedido, mas acabei mandando:
- Vamos fazer o exame de novo, só pra ter certeza?
- Não, morena. Você vai é fazer novas lentes.
- Ai, caceta.... Essa indecisão dos meus olhos vai acabar me levando à falência!
- Ué, achei que você fosse ficar feliz por estar enxergando melhor.
- Pois é. Talvez eu não queira enxergar tão bem.

Foi aí que eu enxerguei, no semblante do meu metaforista de plantão, um sorriso que queria dizer exatamente isso: o pior cego é aquele que perde tempo temendo enxergar. Enquanto ele anotava em um cartão minha nova prescrição, eu tive uma epifania: daquele dia em diante, eu me esforçaria para enxergar pelo menos dois palmos a frente de meu nariz. Não da janela da alma pra fora, mas da janela da alma pra dentro. De par de palmo em par de palmo se vai ao longe, e de par em par não se chega a sete.

quinta-feira, julho 17, 2008

Teatro infantil


Tudo começou quando eu trouxe pra casa "Saneamento Básico, o filme". Já tinha assistido e amado, mas queria que meus pais, que adoram cinema-improviso com sotaque italiano, também apreciassem a comédia. Conforme previsto, meu pai ficou extremamente fascinado com a indumentária do monstro do lago, interpretado no filme por Wagner Moura. E talvez por causa do clima "foi feito por mim" que a fita inspira, minha mãe teve a estupenda idéia de montar uma peça teatral na festa de aniversário de meu sobrinho, este ano. Para meu choque e horror, meu pai aceitou, mas com a seguinte condição:
- Eu quero ser o monstro!



O Monstro do Lago (Saneamento Básico, o Filme)

Minha mãe não quis fazer peça de monstro, claro, pois a peça tinha de transmitir uma mensagem maneira, e peça com monstro faz com que metade das crianças chorem e metade queira matar o monstro, o que pode prejudicar a peça, o cenário e a mensagem maneira. Então ela descolou uma peça com 3 personagens, onde um deles é astronauta. Para atender à necessidade visceral do meu pai de usar um figurino maneiro, digno do monstro do lago, minha personal mamma, diretora-produtora-e-livre-adaptora de peças permitiu que meu pai ficasse com o papel do astronauta. Antes de ler o texto, antes de saber do que se tratava a peça, antes de reclamar que não queria cantar, dançar e nem se movimentar em cena, ele passou dias percorrendo lojas do SAARA e sites exóticos de artigos de pesca para buscar sua fantasia de astronauta. Veio me mostrar a foto da roupa que acabara de comprar online:

- E aí, o que achou?
- É branca. Funciona. Mas será que as crianças vão conseguir te ouvir de dentro desse uniforme de apicultor? Ele me parece hermeticamente isolado do meio externo.
- É esta a idéia!
- Então você talvez precise de um escafandro.
- Tem razão. Vou resolver isto.


E meu pai passou mais alguns dias buscando uma solução criativa pras crianças acreditarem que ele é realmente um astronauta, e não um domador de abelhas.

Então dia desses o vejo com a roupa de apicultor e o pescoço cheio de colares de neon em cores fosforescentes.
- O que você acha dos meus acessórios de astronauta?
- Não sei. Meio drag. Desistiu do escafandro?
- Pensei num cinto cheio de ferramentas.
- Pra quê?
- Pra consertar meu foguete.
- Você vai conseguir se movimentar em cena com esse pescoço duro, esse macacão impávido-colosso e o cinto cheio de ferramentas pesadas?
- Ora, você não viu o homem pisando na lua? Astronautas se movem muito pouco.


Algo me diz que as crianças vão odiar a peça, mas eu e minha mãe teremos motivo para rir do meu pai por muitos e muitos anos!

terça-feira, julho 15, 2008

Enqto isso, no curso de banho e tosa...

Peludos sem-lar e sem raça muito definida curtem fazer mão, cabelo e bigode com nossos dedicados alunos. Queria que minha manicure me abraçasse assim!

domingo, julho 13, 2008

Lasagna al fungi

- 50 g Shitake desidratado: R$10,65
- Massa de lasanha semi-pronta : R$2,65
- Vinho de mesa português super honesto: R$35
- Saber cozinhar aquilo que o estômago e a alma mais se desejam num domingo solitário de inferno astral invernal: não tem preço.

sábado, julho 12, 2008

Mundo estranho, este.


Mundo estranho, este.
Originally uploaded by Van-Or
Até meu elevador está precisando de camisa de força!

sexta-feira, julho 11, 2008

indexed : Wine or vinegar.




No indexed, uma boa definição deste momento.


Link: http://indexed.blogspot.com/2007/02/wine-or-vinegar.html

Respirar para não pirar

Ainda estou tentando entender. Estou tentando decidir se sofro de tensão pré-trans-pós menstrual ou estresse pré-trans-pós traumático empático. Falei pra minha joelhaço dia desses:
- Cheguei ao fim da linha: estou refratária à psicoterapia. Não consigo falar, não posso mais ler jornal, não posso mais ouvir notícia alguma. Mas eu ainda consigo escrever. Será que posso me tratar por email?

Minha joelhaço acha que eu sou muito má comigo mesma, então para provar que eu ainda me gosto, me defendo e me trato, resolvi buscar uma nova alternativa para cuidar do meu tão adoecido corpo-e-mente: o MARP.

Não me perguntem o que é o MARP, eu procurei esta resposta na internet e só encontrei definições vagas e vagamente esotéricas. Existe todo um mistério em torno dessa técnica francesa de morfoanálise e reajuste postural. Segundo minha mãe, que já tratou algumas dores de coluna no consultório de Teresinha Schulz, mãe da minha querida Wal, o MARP funciona, e funciona milagrosamente. "Milagrosamente?", eu quis entender. "Sim, é um milagre porque eu não sei como funciona. Eu simplesmente deitava lá, ela me colocava numa determinada posição, eu dormia e, quando acordava, u-hu: estava sem dor."

Ora, se a gente dorme mal e acorda bem, é tudo o que eu quero pra mim agora! Afinal, estou com mais dores do que posso aguentar, e são dores tão profundas que eu nem consigo localizá-las. Talvez a dor do pé, mas essa é a que me dói menos. As outras dores, profundas, misteriosas, que me fazem chorar no ônibus quando ouço a conversa animada de criancinhas sobre o que querem ser quando crescer, estas dores sim, precisam de mágica pra sumir.

Como a Teresinha agora mora em Porto Alegre, recorri Àquele que Tudo Sabe para descobrir um MARP-terapeuta no Rio, e encontrei a Liana. Fui lá esta semana e expliquei que não consigo mais falar, que preciso ser tratada pelo toque. Na verdade, como sou cética, eu queria dizer: preciso ser tratada por uma varinha de condão, mas se alguém perguntar, eu nego! Ela parecia entender exatamente o que eu dizia, embora eu tenho chorado muito e dito quase nada, e logo me pediu pra tirar a roupa e deitar num colchonete sobre o chão, onde me cobriu com uma manta macia e quentinha. Com a voz suave, me orientou a fazer a respiração em 3 estágios - ventre, costelas, alto do peito - e foi me esticando daqui, me articulando de lá, tudo muito suave, tudo muito gostoso, até que eu dormi com o rosto melado de lágrimas e filtro solar. Quando eu finalmente acordei e me pus de pé, ela perguntou como eu me sentia. Parei um pouco para pensar na resposta, consultei meus universitários internos e disse:
- Alta.

Ela sorriu e pediu que eu voltasse na semana seguinte. Saí tão leve, alta e contente que, por um instante, fui invadida por uma maré de otimismo. Oxigênio demais deixa a gente otimista. Respirar, aparentemente, é um verdadeiro veneno contra o pessimismo.

Fiquei tão polyanna depois da Liana que fui, dias depois, a uma dessas lojas onde tudo é verde mas o lixo não é reciclado. Queria comprar uns chás, uns aromas, uns patuás, sabe? Me deu um acesso de viadagem consumista. No caixa, encontrei o folheto publicitário de um professor de... algo muito vago e difícil de compreender para um não-iniciado como eu, mas que parecia ter algo a ver com meditação. Dei uma olhada no currículo do mancebo e vi que ele fez curso de não sei o quê na Índia, aprendeu a ser instrutor de não sei mais o quê na França, e a lista de países estrangeiros por onde estudou não terminava. Pensei, lá com meus botões, só pra perceber que eu ainda preciso respirar muuuuuito!, que esse cara tinha feito a proeza de dar a bunda pelos quatro cantos do mundo. Então meu superego perverso me sorriu: ainda bem que eu não sou má só comigo mesma. Enfim, uma boa notícia.

quinta-feira, julho 10, 2008

Abaixo-assinado

Dois leitores sugeriram que eu faça um abaixo-assinado para o Comando Geral da PM pedindo que a corporação pare de sair por aí matando gente. Eu, apesar do ceticismo, entrei na página do abaixoassinado.org para ver como isso poderia ser feito. É claro que não posso entregar uma petição nestes termos, "por favor, não me matem", até porque me parece óbvio que a polícia não deva sair por aí atirando e matando a população. Por isso eu peço a ajuda de pessoas sérias, que sabem ser sérias e escrever coisas sérias, para redigir os termos desse abaixo-assinado, que seria, se for um dia, realmente algo sério. Se alguém tiver uma idéia, por favor deixe-a registrada na caixa de comentários deste post.

Sinceramente, eu tenho preguiça de pedir para não morrer, mas ao mesmo tempo acho injusto que brunos e joãos passem em brancas nuvens, da mesma forma que não acho salutar sentir o ímpeto de correr em fuga toda vez que um PM olha em minha direção. Se alguém quiser assumir esta iniciativa, que vai além de minha job-description como pessimista de plantão, pode contar comigo para criar um link permanente para o abaixo-assinado na coluna direita deste blog.

Leia jornal, mas não me chame.

Uma vez eu fui ao teatro com minha musa-mór, a Gabi Amaral, para assistirmos, sentadas, à Comédia em Pé. Era uma segunda ou terça-feira, chovia, e eu juro que não vou ficar tentando explicar porque o teatro estava vazio apesar de a peça ser excelente e custar só R$15 (ou R$10, ou R$8, não sei; só me lembro que gastei 5 vezes mais em chope depois). Poderia dizer que o teatro estava vazio porque brasileiro gosta mesmo é de novela, de final de futebol, gosta de beber e dirigir, de comer e fumar, GOOOOOOSTA de dizimar a água potável do planeta lavando sua calçada e seu chevete 86 diariamente, mas hoje eu acordei com uma vontade (muito tênue) de tentar ser suave, então não vou entrar no mérito dessa questão. O fato é que a peça, excelente, foi apresentada a uma platéia de 10 amigos, 10 amigos de amigos e 3 ou 4 outras pessoas que estavam ali só pra escapar da chuva. Sorte minha estar lá naquele dia, porque o Fernando Caruso me livrou de um peso que vinha me esmagando a auto-estima: ele, como eu, não lê jornal.

Sendo filho de um cartunista político importante que estampa a primeira página de um dos principais jornais do Brasil há tanto tempo que o tempo nem tinha sido inventado ainda, o ator Fernando Caruso ficou, como eu, tentando justificar sua falha de caráter: jornal, pra ele, é o papel onde seu cachorro faz xixi; o pobre cão deve ficar muito confuso de ver o dono, sujeito que deveria dar o exemplo, lendo seu papel higiênico. Ninguém deveria ler o papel higiênico dos outros, isto é uma invasão de privacidade sem limites. Mas o principal motivo do Fernando para não ler jornal é também um dos meus: se todo mundo lê jornal e comenta, então lerei outras coisas que ninguém pode ler por mim. Assim ganho tempo.

O Fernando Caruso revelou ter passado a adolescência inteira com medo de chegar na escola e ser sabatinado pelos colegas sobre os personagens da charge do dia de seu pai. Imagina a pressão sobre essa criança: ele não podia identificar o Sarney pelo bigode ou o Itamar pelo topete, também tinha de saber quem eram aquelas outras pessoas todas, tinha de saber porque eles estavam caracterizados como bandido ou cowboy e precisava dar explicações políticas pros amiguinhos que, como ele, não liam jornal (mas fingiam que liam). Ele dizia essas coisas na peça e eu sentia uma empatia tão grande que, naquele momento, cheguei a sentir amor por ele. Era tanta compaixão que eu poderia ter transado com ele simplesmente para recompensá-lo por todo o sofrimento naquela fase da vida em que as feridas são mais profundas.

Como disse o Caruso filho, para a sorte dos não-leitores ortodoxos de jornal, não existe nenhuma sociedade secreta de leitores de jornal que possa sacanear os não-leitores pelo pecado capital da não-leitura. Nenhuma notícia de relevância crucial, como a necessidade de ajustar os ponteiros do relógio no horário de verão, é mantida em segredo apenas para aqueles que lêem jornal. As pessoas falam, perguntam se você ajustou seu relógio, colocam um post-it em sua mesa, enfim, é perfeitamente possível viver bem e pontualmente sem ler jornal. É por isto que nós, não-leitores ortodoxos de jornal, não corremos o risco de ser barrados no baile porque desconhecemos a principal manchete do dia ou não reconhecemos as caras estampadas na charge do Chico.

A gente, que não gosta de ler jornal, pode, de uma hora pra outra e sem aviso prévio, passar a ler. Ou voltar a ler, como seria o meu caso, porque já houve tempo em que eu lia tudo, da primeira página ao Prosa e Verso, mas é bem verdade que ultimamente eu raramente me arrisco além do segundo caderno e da revista de domingo. Adoeço com facilidade e sou muito impressionável, a ponto de passar meses deprimida quando descubro que brasileiros, pessoas que falam a minha língua afetiva, estão atirando crianças pela janela. Da mesma forma, não pode ser bom pra saúde de ninguém saber pormenores do relaxamento da prisão do Dantas ou das últimas mortes provocadas por PMs. A mim, basta saber que os filhos de meus amigos choram, gritam e fazem xixi nas calças quando vêem policiais nas ruas. É saber disso pra saber que não posso saber de mais nada, não suporto mais tanto horror e iniqüidade. O que dizer pra uma criança que se borra ao ver um PM, figura que deveria povoar o imaginário mágico infantil como mocinho, e não bandido? Não chore, querida: em Oz é tudo bem melhor, vamos, estamos perto do portal?!? Mais fácil que isso é não ler jornal.

Antecipo semanas, senão meses, de luto pelo menino João, 3 anos, que foi enterrado com sua fantasia de Homem Aranha depois de ter sido exterminado por dois policiais militares. Se algum notícia boa surgir nesse ínterim, por favor, me avisem. Quem sabe eu não me animo e volto a ler jornal?

quarta-feira, julho 09, 2008

Por favor, não me matem!

Estou com vontade de mandar ao Comandante Geral da Polícia Militar uma petição. Nada sofisticado, apenas um singelo pedido: que nenhum PM me mate, por favor. Nem de propósito, nem por engano. Muito menos por engano. Anexarei à carta uma foto minha de frente, de perfil, de perto, de longe e de costas. Sobretudo de costas, que é por onde os PMs mais gostam de atirar em pessoas inocentes. Na petição, a fim de angariar a simpatia da corporação, listarei 10 motivos para não morrer. Eu sei que tenho o direito constitucional à vida, mas não me parece um excesso explicar, bem explicadinho, porque eu não quero ser executada. Acontecimentos recentes me deixaram sob a forte impressão de que aos policiais militares os excessos são sempre franqueados e raramente punidos de maneira proporcional.

Dez motivos singelos e quase objetivos pra vocês não me matarem:

1. Eu sou útil em meu trabalho, mas aquele tipo de útil que faz falta (e não qualquer tipo vulgar de útil);

2. Na peça de aniversário do meu sobrinho, em agosto, eu serei a Boneca, personagem central que tem um número solo musical. A peça sem a Boneca seria um desastre;

3. Um dia eu vou escrever um livro, mas, por favor: nem me matem, nem me apressem, e não é me matando que eu vou escrever mais rápido qualquer coisa;

4. Fiz uma lista dos lugares que quero ir antes de morrer. A lista é grande, preciso de mais 40 anos de vida. Para chegar lá, vou fazer a minha parte e cuidar da minha saúde; façam a de vocês tomando bastante cuidado pra não me matar;

5. Preciso terminar minha monografia. Se eu morrer sem terminar minha monografia, voltarei como traça de biblioteca na próxima encarnação.

***

Eu disse 10 motivos? Não, são só 5 mesmo. Mas por favor, não me matem: meus cinco motivos podem parecer ridículos pra vocês, mas são muito importantes pra mim.

PS: pensei em fazer uma camiseta com os dizeres "POR FAVOR, NÃO ME MATEM" em letras garrafais, mas vai que um PM se irrita com minha arrogância de não querer morrer, e pá-puft!, já era uma VanOr. São tempos estranhos esses em que vivemos.

terça-feira, julho 08, 2008

Pessimesmo

Lála é um cão que sabe viver: se ela está angustiada, faz xixi; se está com fome, late; se está carente, pula em nosso colo e vira a barriga pra cima com a maior cara-de-pau do mundo. A vida parece ser mais suave aos poodles, ou pelo menos aos poodles que sabem viver. Eu, que tenho experimentado o castigo do peso sobre meu ser nos últimos meses, invejo os poodles que sabem viver, porque eles são dotados da única coisa que ainda cobiço na vida: a leveza existencial. Daí pra outras cobiças é um pulo, mas "uma cobiça de cada vez" é o mote do bom consumo-existencialista. Bom selvagem já morreu, quem manda no meu existencialismo sou eu.


Por que eu comecei este post pessimista pelos poodles? Bem, talvez porque nem só de alegrias Lálianas seja feita esta raça-pompom. Hoje esbarrei no prenúncio da maior tragédia humana que jamais poderia existir na figura de um poodle, ou pelo menos aquilo que parecia ter sido, um dia, um poodle: uma quase carcaça de cão, engessada em fezes e pêlos, foi encontrada na Quinta da Boa Vista por duas estudantes de veterinária que fazem estágio no zoológico. As meninas levaram o cão pro IJV, e algum veterinário de lá olhou para aquele cenário de horror e imaginou ver um cão, e porque imaginou que embaixo daquele horror de lacerações, deformações, traquéia exposta a céu aberto e odores que fariam qualquer fada morrer, ainda havia um cão. A criatura suspeita de ser cão tinha de ser tosada urgentemente, porque sua carapaça de fezes e pêlos era tão impenetrável que não dava pra saber se era macho ou fêmea, se tinha acesso venoso femoral ou jugular, enfim: por baixo de todas aquelas coisas feias e fedidas, algum veterinário ainda achou que ali existia um cachorro; e brigou pra que todos vissem a mesma coisa. Eu não quis ver, eu não queria ver, eu não queria me envolver. Mas minha diretora repetiu: "Vanessa, você já viu como está o coitadinho?" E eu, que fiz tanta questão de não olhar, quando me distraí, olhei direto nos olhos dele, olhos como os da Lála, vivos e interessados no ambiente, olhos que me dilaceraram por dentro: como um bicho sem pele, sem carne, sem pescoço, sem traquéia e sem perspectivas pode ainda olhar pro mundo com curiosidade e vivacidade? Essa curiosidade e esse desejo de viver só podiam estar zombando de mim!


Mais por estar hipnotisada pela alienação daquele animal à sua própria tragédia do que qualquer outra coisa, acabei ajudando a Lúcia, professora de banho e tosa, a remover a couraça que os meses de maus tratos haviam gerado naquele cão. Eu apoiava o cão na banheira, conversava com ele, sentia uma ponta de inveja de sua certeza de que uma vida melhor lhe aguardava e via a Lúcia vencer com a máquina, bravamente, carapaças e mais carapaças de pêlos com cocô. Não estou falando de nós, muito menos de embôlos: estou falando de um molde inteiriço e duro, dentro do qual se poderia fundir uma escultura de cão em bronze. Um molde triste. O ser humano pode chegar a este ponto, e não há fim para o fundo desse poço tenebroso.


Quando saí da sala de banho, uma nuvem negra pairava sobre minha cabeça: então é geral. Não é só a engenheira carioca que deixa de existir em circunstâncias misteriosas, nem é só o tenente que sacrifica 3 vidas inocentes em nome de sua controversa honra; não é só a criança de 3 anos executada por policiais, nem o bebê ou a criança de 5 anos jogados pela janela por progenitores inaptos. Da mesma forma, não é só o extermínio de animais na China, nem o extermínio de gente no Iraque e em todos os outros lugares que nutrem a indústria da guerra: é tudo isso e mais um tanto. E é tanta morte, tanta dor, tanta crueldade e tanto desamor, que eu me pergunto se ainda existe alguém que veja algum sentido na vida, apesar disto.


O poodle da Quinta, que foi resgatado por pessoas que acreditaram que ali existia uma chance de vida, é apenas um emblema. Estou esperando que alguém assim, tão grandioso, venha em nosso resgate. Estou ansiando para que ainda haja algo grandioso em mim que me faça acreditar que existe sentido em acordar, dia após dia, apesar de ver essas coisas se repetirem como no Feitiço do Tempo. Eu devo ter feito algo de muito ruim pra ter enfeitiçado o tempo assim.



sábado, julho 05, 2008

Orgulho gay


Orgulho gay
Originally uploaded by Van-Or


Alguém sabe quando, onde? Eu e Lala queremos participar!

PS: OK, é só uma marca, fiquei sabendo. E como toda marca, se desfilar será no fashion week.

sexta-feira, julho 04, 2008

FLIP

Estou assistindo a FLIP ao vivo por aqui, o máximo! Foi dica do Lucas, que aliás está fazendo uma cobertura riquíssima da festa literária internacional em seu blog:
http://espacogeral.blogspot.com/
Vale a pena!

TPréM, TeM e TPósM

Pode ser só inferno astral, mas também pode ser um novo código internacional de doenças mentais severas, não sei. Só sei que eu tenho vivido dias, semanas e talvez meses daquilo que eu gostaria que a Ciência chamasse no futuro, em homenagem à primeira mulher a se rasgar de cima a baixo com a moléstia, de Síndrome VanÓrica da Tensão Pré, Trans e Pós Mentrual. É uma coisa de louco, gente. Estou com o capeta no corpo, e olha que nem ele me agüenta!

São sintomas desta rara e aterrorizante síndrome:

1) Completar as frases do locutor da rádio de notícias, esse desgraçado incompetente que não anunciou a tempo que o trânsito estaria uma merda logo na via sem-pre desobstruída que eu tomo:
- "As fortes que chuvas que cairam na cidade hoje..."
- ... ME DEIXARAM FORTEMENTE ENGARRAFADA NESTA MERDA DE TÚNEL, O QUE POR SUA VEZ ME DEIXOU FORTEMENTE PUTA DA VIDA.

2) Substuir a inspiração pela bufada pra dentro e a expiração pela bufada pra fora.

3) Ver a ex-réfem da Farc sair linda e rejuvenescida do cativeiro de cinco anos e, em vez de ficar feliz por isso, suspeitar que os dermatologistas, cirurgiões plásticos e dentistas da selva devem ser muito bons, além de possivelmente americanos. Mais dois dias até esse resgate, e Spielberg compraria a história, se já não a estivesse dirigindo.

4) Atribuir mentalmente nomes de bichos a todas as caras desconhecidas que passam por mim pelas ruas, simpáticas ou não:
- Baleia orca.
- Porco chauvinista.
- Fuinha!

5) Esquecer a data da menstruação e ser pega de surpresa pelo fluxo, pois é comum nesta síndrome que o humor seja permanentemente como o da TPM - da pior TPM -, variando de muito ruim a ruinzinho à beça.

***

A notícia boa é que o chocolate aplaca (um pouquinho só, não quero encher o mundo de esperanças) a manifestação feroz-furiosíssima da TPTPM. Fiz estoque de chokito para evitar o pior.