Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quarta-feira, maio 31, 2006

Depressão temporal

Faltam 20 minutos para minhas férias terminarem e eu sinto agora a mesma sensação de um boi que começa a caminhar lentamente pelo corredor da morte, rumo ao boxe de atordoamento: agora faltam 19 minutos para o fim das minhas férias e quando eu me deitar para dormir, já terei voltado a ser prisioneira do tempo. E o tempo, essa coisa abstrata que poderia perfeitamente me pertencer e se submeter ao meu belprazer, voltará a me tiranizar com sua agenda fechada, suas horas pra entrar, horas pra sair, hora pra comer e, o pior de tudo: hora pra acordar, portanto hora pra dormir. Agora, faltando 16 minutos para o fim das minhas férias, eu sinto latejar a dor de não poder trabalhar de 16 às 22h, que é quando eu estou mais (d)esperta, e sim de 8 às 17h, porque o tempo obedece a estatutos e regras medíocres que opacificam o brilho do olhar de quem as obedece à revelia.

Eu não sou contra o trabalho: sou contra a hora hermética para trabalhar, a coisa inflexível, a carga horária burra. Não sou contra a rotina: sou a favor da rotina de manhã OU de tarde OU de noite, quando for melhor pra mim, desde que eu possa mudar sempre que eu precise ou queira. Não sou contra as reuniões semanais, mas preferiria que elas pudessem gentilmente desistir de ocorrer em dia de jogo do Brasil na Copa. Porque se o tempo pára para o povo assistir os jogos nessas ocasiões, é uma sacanagem sem precedentes históricos que eu seja escrava do tempo justo então.

É uma sacanagem ser escrava do tempo, ponto. O tempo é meu, cacete, queria fazer o que quisesse dele. Mas em vez disso, fico passando os olhos do relógio - que diz que faltam 4 minutos para o fim - pra pilha de livros que não li, porque não tive tempo. O tempo, esse tirano cruel. Quero passar o final de semana em Miguel Pereira, sem celular, sem internet, sem ninguém que possa interromper minha leitura, exceto meus peludos, que sabem muito bem a diferença entre minha cara de brincar de bolinha e a cara de "agora, não!"

Pronto. Enquanto eu reclamava do tempo, ele caiu sobre minha cabeça com a pesada sentença de que minhas férias se esgotaram, e é hora de dormir porque amanhã quem manda é ele - e eu vou voltar a sentir fome pontualmente às 12h30, e vou levar exatos 24 minutos de um trabalho pro outro, e vou trabalhar 12h15minutos por dia. Fora as horas que eu vou trabalhar nas horas livres.

Estou deprimida, mas, se eu chorar, o tempo - que não perdoa nada nem ninguém - também me castigará com rugas e ficará rindo da minha cara de perdedora, sentindo-se o rei da cocada preta. Ainda não sei como farei isso, mas resolvi que a única forma d'eu não ficar por baixo nessa história é criar pra mim um dia com 30 horas, nem que eu tenha que roubar essas seis horas extras do meu vizinho. Ou do gato gordo que dorme no capô quentinho dos carros no estacionamento, alheio aos segundos que fogem correndo de mim.

Noite de autógrafos


Noite de autógrafos
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segunda-feira, maio 29, 2006

PoderRosa


PoderRosa
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Os relógios do Humaitá ficaram rosa!

It's only rock'n'roll but I like it.

De repente me ocorreu que a Lauro Sodré, deste ângulo, parece a língua-logo dos Rolling Stones.

domingo, maio 28, 2006

A colunista preferida se despede


A colunista preferida se despede
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Bolo de capivara

Na pele dos animais


Imagem enviada por e-mail pelo Zé, um gato sem casaco de couro.

Uma vez eu solicitei o kit de iniciação ao vegetarianismo do People for the Ethical Treatment of animals (PETA). Pouco tempo depois, recebi em casa a revista Animal Times, contendo receitas vegetarianas, propaganda de produtos vegan e fotos de atrizes ecologicamente corretas; alguns adesivos contra o KFC, que cria frangos para fritura em condições absolutamente tenebrosas; um bumper sticker do PETA; e um DVD contendo um video clipe de seis minutos com 20 motivos para uma pessoa deixar de comer carne. Assisti o DVD e entrei imediatamente em depressão. O filme mostrava imagens de abatedouros e granjas, slogans veganos que grudam no cérebro e vegetarianos bonitos que parecem ter a vitalidade, a inteligência e a superioridade que uma pessoa que come carne jamais vai alcançar. Enfim, o filme me fez sentir um cocô.


Obviamente, passei 3 dias sem comer carne depois disso e, pra tentar melhorar o mundo ao meu redor, mostrei o DVD pros carnívoros dos meus pais - meu pai assistiu a contragosto, sentado na pontinha do sofá, e fazia menção de levantar toda vez que entrava uma imagem mais apelativa; mas nosso acordo era que ele assistiria até o fim, o que ele fez só pra me dizer com propriedade, conhecimento de causa e o desprezo, que lhe é característico, que eu vivo no mundo fantástico de Oz. Ok, eu vivo mesmo. Exatamente por isso comprei minhas pastas de soja pra não comer o cottage "deles", meu leite de soja pra não tomar o "deles", e por aí vai. Como eu disse, essa divisão da geladeira em um território ecologicamente correto e um incorreto durou 3 dias, durante os quais eu pensei seriamente em me desfazer de cintos, bolsas e sapatos de couro, mas desisti quando lembrei que minha carteira é de couro, e que ela já me foi roubada e devolvida duas vezes, então não dá pra descartar assim um item só porque ele é de couro. Sobretudo se ele GOSTA de mim.


Achei uma droga ver o quão limitada pode ser a coerência de uma pessoa. Eu amo animais, mas não posso evitar que eles morram pra dar de comer, beber e vestir ao mundo. Posso, sim, sair por aí falando mal da Animale sempre que possível, porque a Animale vende roupas feitas com peles de animais (e ainda põe na etiqueta a absurda mensagem: "por ser feito com peles naturais de animais, este produto pode sofrer variações de coloração"). Posso preferir uma marca de cosmético que não faça teste em animais, embora seja extremamente complicado manter-se atualizado sobre essas multinacionais que se compram, fundem e vendem todos os dias. Posso ensinar pros meus alunos de inglês que o chester, embora usado em dietas light, é um frango deformado geneticamente pra ter um peito enorme, e o peito fica tão enorme que as perninhas das aves geralmente não aguentam sustentar o corpo, culminando com fraturas espontâneas de fêmur (e eu roubo 2 minutos da aula de inglês pra desenhar a fratura e a cara de sofrimento do frango), e ficam vivendo com uma dor inimaginável até a hora do abate. Posso chorar alto num restaurante sempre que o garçom trouxer patê de foie gras à mesa, e dizer aos soluços, pra sensibilizar a gerência e o estúpido do chef, como se eles não soubessem, que foie gras é feito com requintes de crueldade, que toneladas de comida são socadas no estômago da ave até que ela tenha lipidose hepática, que é uma sentença de morte dolorosa. E posso, obviamente, parar de comer carne, leite, manteiga, queijo, vestir lã, etc, mas isso tudo dá muito trabalho e, como eu sou preguiçosa, sigo adiando.


Outro dia vi, na mesma rua, um casaco com gola de chinchila à venda e um chinchila de estimação no colo de sua dona. A moça me deixou segurar o bichinho e eu senti o coraçãozinho dele disparar em minha mão: impossível não associar coração disparado a sentimento. Nessa hora, lembrei do dia em que vi na Bloomingdale's um casaco de pele de chinchila que ia até o chão. Diante daquela estupidez em forma de roupa, no chão da loja me sentei, enfraquecida de tristeza, e comecei a chorar ao pensar em quantas dezenas de bichinhos foram mortos pra vestir uma perua burra, vazia e esganiçada.


Ser contra casaco de pele no Brasil pode até parecer ideologicamente supérfulo, mas quem vê vitrines todos os dias sabe que as peles estão invadindo nossa moda um pouquinho mais a cada inverno: nas golas, nos punhos, nos acessórios. É a globalização da monstruosidade.

Como ser criativo em 30 lições



O Google é o melhor amigo da insônia. Privada da minha estimada capacidade de dormir, googlei alguns temas e encontrei este blog, ilustrado com charges do autor, que se autodefine escritor e cartunista de verso de cartão de visita. Num post de agosto de 2004 (não, eu não li todos de hoje pra lá!), ele dá 30 maravilhosas dicas sobre como ser criativo. É enorme de longo, mas vale à pena. Pra quem não tiver tempo ou inglês suficiente pra leitura, as imagens dizem mais que mil palavras. :)

sábado, maio 27, 2006

Meninices de homens feitos

Conversa rolando animada no Palaphita: duas mulheres de trinta em TPM, uma em fase estral mansa e quatro homens. Três deles na faixa dos 40, o fim da adolescência masculina. Uma mulher em TPM pergunta aos rapazes, aproveitando estar em companhia de tantos homens experientes (um eufemismo, é claro, alusivo à idade), algo sobre os efeitos colaterais do Viagra, ao que um prontamente diz: "Ah, Viagra dá sangramento no nariz. O pau fica duro, a gente não sente direito e, na hora de abaixar a cueca, pá: porrada no nariz, que sangra pra caramba." Mulheres não entendem imediatamente, homens caem na gargalhada, rola uma polarização do grupo. Dez anos depois, num lampejo de lucidez, uma mulher em TPM diz pra outra: "É guerra! Eles estão de sacanagem com a nossa cara." Mas os homens são mais rápidos e danam a disparar rajadas de piadas de escola - tipo: "que time é teu?, jacaré no seco anda?" -, o que, em condições normais de temperatura e pressão não tiraria as mulheres tão do sério a ponto de se fazer necessário pedir um fondue de chocolate. Que, como todos sabem, chocolate é ansiolítico. As mulheres continuam tentando emplacar uma conversa inteligente, mas o pau da barraca já está chutado. Os homens se unem pra implicar com as mulheres. Começam a se chamar de apelidos de guerra, apelidos de escola, apelidos de homens e, embora tenham se conhecido ali, naquele dia, parecem ser amigos desde criancinhas. Às mulheres, então, nada mais resta a fazer que não se render e compreender que elas nunca, mas nunca, nunquinha mesmo vão conseguir encilhar, domesticar e ensinar etiqueta francesa e trote espanhol a essas criaturas selvagens e enervantes, mas super meigas, bobas e adoráveis, eventualmente apaixonantes e obcecantes, que são os homens.

Eles cansam a beleza feminina, mas vá tentar viver sem eles! ;o)

Pai d'égua


Pai d'égua
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Queijo flambado no Palaphita.

sexta-feira, maio 26, 2006

A mulherzinha de 33 contra a TPM

Vamos assumir: por mais direitos iguais que seja, toda mulher tem seu lado mulherzinha. Mulherzinha no sentido pejorativo mesmo, aquele que estabelece um abismo intrasponível entre os gêneros, aquilo que faz com que uma mulher passe um fim de semana em Buzios com 2 malas, sendo uma só de cremes e secadores de cabelo, aquilo que faz a mulher desmaiar diante de uma barata e chorar assistindo comercial de dia das mães. Aliás, campanha de dia das mães com grávidas e mães recém paridas recebendo bebê na maternidade, pra mim, são golpe baixo: eu choro sempre. Sobretudo se estou em TPM. Em TPM, uma mulher - não diria normal, que isso não existe, mas "mediana", o oposto de excepcional - põe sua mulherzinha toda pra fora: algumas põem uma mulherzinha agressiva, do tipo que fere, degola e esquarteja; outras já têm uma mulherzinha frágil, do tipo que joga lencinho no chão e leva a mão à testa, simulando desmaio. Muitas, como eu, têm todas essas e mais algumas que sempre surpreendem, como a mulherzinha suicida, a fatalista, a esbugalhada, a insone, a sarcástica, a faminta e a que precisa urgentemente de uma lipoaspiração pra perder aquela barriga ENORME que costuma sumir sem faca após 4 dias.


Convenhamos: não deve ser fácil conviver com uma mulher durante a TPM. Este é o motivo número um d'eu não ter me tornado lésbica numa fase em que eu praticamente desisti dos homens. Obviamente, era uma fase TPM fatalista, do tipo "homem não presta".


Resumindo: não há nada mais mulherzinha que TPM. Os homens que não se conformam por terem nascido homens podem tentar de tudo: sex-change, silicone, hormônios, mega-hair, maquiagem definitiva e até implante de celulite, mas nunca vão conseguir chegar à essência mais mulherzinha de uma mulher, nossa maior bandeira e desgraça: a TPM. Dizendo assim, parece até que eu gosto de padecer desse mal que aflige a maioria das pessoas XX nos dias que precedem aqueles dias, mas eu vou morrer lutando contra os demônios que me tomam nesse fase infernal do ciclo estral. Agora mesmo estou afogada em vapores aromaterápicos de ylang ylang, lavanda, rosa gerânio, sálvia e manjerona dum pool de óleos essenciais que a vendedora da Originallis me jurou ser tiro e queda contra o mal que me aflige e paralisa. Acordei ouvindo Chants of India, do Ravi Shankar, que a cítara, se não faz uma mulher em TPM pular da janela, acalma. Bebi 2 litros de água só de manhã, que a água desintoxica, e a TPM é altamente tóxica, ácida e corrosiva. Comi 4 frutas diferentes no café da manhã, porque eu como que nem uma vaca na TPM. Mas também porque culpa é uma reação tipicamente mulherzinha em TPM, e porque é legal comer fruta, e é legal fazer qualquer coisa legal na TPM pra neutralizar a nóia.


Vale tudo contra essa tensão cujo nome eu não ouso mais repetir, desde ligar prum ex e mandá-lo se fuder porque ele nunca abriu a porta dum carro pra mim entre janeiro de 1995 e julho de 1996, até medidas mais extremas, como comprar um vestidinho ou fazer 3 aulas de spinning seguidas. E meu monstrinho dramático diz que eu posso sair ferida, sem um olho, manca das duas pernas e surda de um ouvido, mas essa guerra ganho eu. A TPM que se cuide.

quinta-feira, maio 25, 2006

ARGHHHH! Minhas férias vão acabar!!!

Falta uma semana pr'eu voltar à labuta.
Eu preciso de mais tempo!

quarta-feira, maio 24, 2006

O Povo odeia a Copa do Mundo.

Foto de Copa do Mundo roubada do Flickr desse maluco aqui.


O Povo Brasileiro não entende. O Povo fica atônito diante das pessoas gritando ensandecidamente para a TV. O Povo, coitado, morre de medo dos fogos que pipocam antes, durante e depois dos jogos. O Povo, enfim, odeia a Copa.

O Povo é meu galgo iraquiano. Ele é o único galgo iraquiano do planeta, mas não é o único cão a odiar a Copa do Mundo. Hoje ouvi fogos e pensei: coitado do Povinho; deve estar todo encolhido lá em Miguel Pereira, sem entender o que ele fez pra merecer tanto castigo sonoro. É que fogos são um verdadeiro castigo pros cães, um castigo sem sentido, e castigos sem sentido geram muita ansiedade.

Alguns animais têm tanta fobia de ruído que se mutilam, destroem a casa, pulam da janela e têm síncopes cardíacas. Morro de dó. Quinzinho, o Cocker Spaniel de uma tia minha, encerrou sua vida enforcando-se no portão por causa dos fogos do reveillon. Ela chegou, toda de branco, e encontrou aquele cenário trágico: metade do corpo pra fora, metade pra dentro, um palmo de língua roxa pendendo da boca desfalecida do pobrezinho. Fogos de reveillon. Que merda de ano novo foi aquele!

Os cães não entendem, não adianta. Não adianta ensinar pra eles o que é impedimento, mostrar a foto do time brasileiro e ponderar sobre a boa fase física do Ronaldo. Tudo o que seu cão irá entender é que ele está sendo punido com um foguetório desgraçado, e ele não sabe que merda ele fez desta vez pra merecer esse esculacho. O papel do dono nessa estória, obviamente, é tentar minimizar ao máximo o estresse do pobre cão, isolando acusticamente um quarto da casa com caixas de ovos, jornal, papelão, isopor ou o que for e deixando que seu melhor amigo possa se refugiar ali, no escurinho e no fresquinho, de preferência com uma música suave bem baixinha tocando, uma caminha bem gostosa pra ele poder deitar se quiser e várias meias sujas suas pra que ele se sinta amparado no exílio. Vale à pena deixar nesse refúgio algumas coisas com seu cheiro que seu cãozinho possa destruir com segurança, que destruir coisas ajuda a reduzir a ansiedade.

É bem verdade que há também aqueles cães, como o Tango, um American Staffordshire que eu cuidava, que não estão nem aí pro barulho dos fogos. Cães assim geralmente têm até um time favorito, mordem a torcida adversária e gostam de posar de boné e óculos. Desconfio que eles não desconfiam que são cachorros (cá entre nós, não sou eu que vou contar a verdade pra eles!). Pois o Tango, só pra contar um conto animalesco de futebol, estava assistindo um jogo da última Copa com seus donos e mais uma penca de gente, como convém numa quarta de final. Houve a iminência do gol, os homens todos se puseram de pé e esbravejaram. O gol não veio. Os homens deram socos no ar. Tango apenas observava. Eis que a bola estava novamente em pés brasileiros e, desta vez... gol! O dono do Tango corre pra abraçar seu melhor amigo e, no meio do abraço, entre tapas nas costas e gritos de "FILHO DA PUTA!!!", e essas coisas meigas que os homens dizem quando estão felizes, o amigo congela. O dono do Tango pergunta "pô, cara, o que foi?", ao que o amigo responde: "Cara, não queria dizer, mas seu cachorro está me mordendo."

Ou seja, os cães podem até entender o que é gol, mas nunca vão acreditar que um cara que soca seu dono e o chama de filho da puta é amigo. Muy amigo!

Uma rave é só uma rave.


Experiências épicas pelas quais já passei:
  1. Micaretas;
  2. Carnaval com israelenses em Salvador;
  3. Semana do Médico Veterinário num acampamento ao lado dum rodeio em Jabotical-SP;
  4. Final com Fla X Flu no Maraca;
  5. Casamento de irmão;
  6. Reveillon em Copa;
  7. Show da Madonna e dos Rolling Stones no Maracanã;
  8. Rock'n'Rios;
  9. Arrastão em Ipanema;
  10. Tornado em Orlando;
  11. Fila pra montanha russa espacial na Disney, em alta temporada;
  12. Churrascaria em Dia das Mães;
  13. Praia fake às margens do Sena;
  14. Festival Celta nos Alpes (em Courtmeyer, na Itália), com encenação de batalhas entre bárbaros, cabeças cenográficas rolando no chão, casamento celta e shows de música estilo Enya no meio do matão, com pedras de gelo que não derretem nunca sobre a relva.


Eu, que poderia muito bem pensar que já passei por todas as situações limite que a vida me reservou até os 90 anos, fui lembrada hoje pela minha fiel escudeira e novidadeira, que nunca fui a uma rave. Pois bem, o que seria, assim, uma rave? Uma rave é simplesmente uma festa, mas ao contrário das festas normais, a rave não acaba quando uma pessoa normal acha que ela deve acabar. Ou seja, uma rave é apenas uma festa mais longa que a média. Perguntei se teria de me drogar, me despir, fazer sexo oral com pessoas estranhas em plena pista, coisas que a gente ouve - podem ser apenas lendas urbanas! - sobre raves. Não, não, não, nada disso. Uma rave é uma festa família como outra qualquer, só que acaba na hora do almoço do dia seguinte. Com esses argumentos bastante levianos, V. está quase me convencendo a ir na rave que ocorrerá este sábado no Riocentro. Estou com preguiça só de pensar que não vou poder ir pra casa quando me bater aquele soninho. Até porque, rave que é rave, tem que se ser no c* do mundo, o mais longe da sua casa quanto possível! Eu até tiraria uma soneca num daqueles puffs gigantes, não fosse o medo do doidão ao lado se aproveitar do meu corpinho enquanto eu sonho com meu edredon verde.

Se alguém se animar, por favor: me anime também.

Pecado capital: preguiça

Foto roubada do Flickr desta pessoa

Confesso, sem o menor pudor, que eu pratico regularmente quatro dos sete pecados capitais. Contudo, aquele em que eu mais me sinto em casa, por onde passeio desgrenhada só de camisola e pantufas, definitivamente, é a preguiça. Sou tão fã da preguiça que nem sei de onde tiraram que isso é pecado. Ainda mais capital! OK, se eu fosse um país, minha capital seria uma cidadezinha sem energia elétrica, sem escadarias, sem ladeiras e sem segundas-feiras chamada Distrito Preguiçal.

Morro de preguiça de trabalhar, mas tenho 3 empregos. Um deles é freelance, o que em princípio pode parecer uma ótima idéia porque pode ser feito à qualquer hora. Na hora de dormir. Na hora de comer. Na hora de bundar. Ou seja, nas melhores horas da vida. E eu vou empurrando com a barriga... vou deixando pra amanhã... Aí, quando o prazo está quase me engolindo, eu viro duas noites sem dormir, tomo dez latas de Redbull, fico neurótica, perco os cabelos, tenho gastrite, pego um resfriado e termino na bucha. Muitos dias depois, quando eu ainda estou traumatizada com todo esse estresse desnecessário e recebo o pagamento mixuruco por aquelas noites viradas em função da minha preguiça e desorganização, prometo a mim mesma nunca mais fazer isso!!! Entendendo-se por "isso" não a desorganização e preguiça, coisas inerentes à minha pessoa, mas sim o trabalho freelance que não se adapta ao meu jeito sloth de ser. Nem por muito dinheiro. Mas eu sempre acabao aceitando os freelas que me caem no colo. Minha memória traumática é inversamente proporcional às minhas necessidades financeiras oriundas do perdularismo. Este sim, um pecado que merecia ser capital dez vezes antes da preguiça ou da gula.

Este mês, tirei férias de um dos meus empregos fixos, mas nem senti que estava de férias porque continuei ralando nos outros dois. Faltam 7 dias para acabarem minhas férias e, subitamente, me bateu aquele desespero típico da iminência do fim. Não fiz nada do que queria fazer nas férias! Li apenas 3 dos 10 livros que separei (eram seis, que se tornaram 10 só pra que eu não desse conta mesmo). Não coloquei minha vida em dia. Não fui ao cinema 3 vezes por semana, não fui à praia, não malhei todos os dias, não andei de bicicleta, não sacudi o esqueleto em uma boate em plena quarta-feira, não enchi a cara, enfim: estou decepcionada com minha produtividade de lazer. Em vez de fazer tudo isso, eu acordei às dez sempre que pude (porque geralmente eu acordo às seis), passei horas falando com amigos ao telefone, fiquei mais tempo vestindo pijamas que roupas convencionais, passeei pela internet, escrevi umas besteiras, comi umas outras, dormi à tarde, arrumei um armário que eu não abria há anos e perdi as olheiras. Ou seja, exerci minha preguiça em toda a sua plenitude. Talvez tenha engordado uns 2 kg, e eu tenho preguiça só de pensar no quanto eu vou ter de rebolar pra voltar a vestir meus jeans com alguma dignidade.

Não tivesse sido a viagem à Porto Alegre, este sim meu maior momento de curtição do ano, eu poderia decretar que joguei mais um mês de férias no lixo por pura preguiça. Minha analista de Bagé diz que, nas férias, as pessoas querem descansar, e não trabalhar. Ela tem razão: na verdade, dá um trabalho danado se divertir. Bom mesmo é este edredon verde, que me namora enquanto eu quase desmaio sobre o teclado, me dragando pro que há de melhor num dia chuvoso como este, que é, obviamente - e que me desculpem os que estão trabalhando neste exato momento - dormir.

terça-feira, maio 23, 2006

Show do Capital no Rio Sul


Show do Capital no Rio Sul
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Não é nada, não é nada, e não é nada mesmo! :oD

Voltei! E trouxe fotos!

Tomando quentão (que no RS, diferente da receita de festas juninas do RJ, é uma espécie de chá com vinho e canela) no brique da Redenção. Seria uma ótima solução contra o frio, não tivesse tanto açúcar. :o(


Tirando casquinha duma chinchila de estimação: aos domingos, no brique, todo mundo leva seus pets pra passear e pegar sol.

Esse daschund aqui, ó, estava passeando em trajes típicos, de bombacha e tudo.

Parque da Redenção lotado, todo mundo curtindo o sol na grama e tomando seu chimarrão. Um lance meio Central Park, só que super mais bacana por ser brasileiro.


O parque da Redenção também sofre com o problema do abandono de animais domésticos: contei dezenas de gatos, mas a julgar pela quantidade de vasilhas de comida espalhadas por protetoras, deve haver centenas de gatos não domiciliados morando por ali. Os protetores espalham cartazes por todo o parque orientando a população a castrar seus animais e nunca abandoná-los.

Grafite "Desaparecido"

Faculdade de... medicina? Prédio lindo pertinho do Parque da Redenção.

domingo, maio 21, 2006

Vizinhas


Vizinhas
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Laura e sua gatinha Persa, um pompom irresistível.

Da janela


Da janela
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Faz frio. O frio aquece os sentimentos mais belos e resgata as melhores lembranças.

Porto Alegre é outro país.

Sei que dois dias não encerram opinião definitiva sobre um lugar em viagem alguma, mas neste curto período aqui em Porto Alegre eu pude constatar que as ruas limpas, os jardins bem cuidados, o trânsito organizado, os motoristas condicionados a respeitar o pedestre e até os grafites multicoloridos e esteticamente viáveis em nada lembram as outras partes do Brasil ao norte daqui. Talvez Curitiba. Talvez uma ou outra cidade em que a miséria não tenha extrapolado o nível do absurdo. Mas, definitivamente, um carioca tem tudo pra se sentir estrangeiro nesta cidade.

Primeiro porque, aqui, as mulheres são magras. Não magras, como as pessoas normais, mas Gisele Bündchenmente magras. Fui a um shopping ontem e passei 5 minutos observando a fila de bundas femininas na minha frente. Bundas cotidianas, do tipo que vai ao cinema assistir um filme pipoca no sábado. Eram bundas despudoramente desprovidas de carnes, acopladas a pernas entre as quais passaria com folga um gato gorducho, mesmo estando os joelhos colados. Da adolescente à quarentona, todas magras. E olha que aqui a sobremesa é de graça!

E uma coisa super preciosa que pude ver ontem num alegre jantar de aniversário: como o italiano está presente à mesa! É a primeira língua que vem à mente na hora da ofensa - ma che deficiente!, ma che imbecille! -, e na hora da cortesia - mangia che te fa bene. E a gente mangia, é claro. E como se come bem no Rio Grande!

O gaudério é um tradicional. A cuia passa de mão em mão, assim como todas as outras tradições. A bombacha é considerada traje de gala oficialmente autorizado, em substituição ao black tie. Os artistas que cantaram as belezas do sul acabaram se tornando políticos, como o Fogaça, compositor de "Porto Alegre é demais", que se tornou prefeito desta cidade. Há dicionários de gauchês com mais de 10 mil verbetes. Não é de se admirar que o sul já tenha tido seus rompantes separatistas, que vez por outra pipocam de forma arrefecida numa conversa regada a muito vinho.

Tudo isso me faz pensar que a solução para muitas de nossas mazelas sociais seja a valorização da cultura e da tradição familiar. Porque a identificação do indivíduo com a o grupo, o fortalecimento da auto-estima e o respeito ao próximo tornam o homem menos selvagem, mais consciente das necessidades coletivas e menos inclinado a votar num garotinho qualquer em troca de um boné. A cultura no Brasil, um dia, terá de ser levada a sério.

Festa de aniversário


Festa de aniversário
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Menina acendendo velas: "se eu nunca acender, nunca vou aprender." Lição para adultos.

sábado, maio 20, 2006

Missão Impossível


Missão Impossível
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U-hu!

Parquímetro, e não flanelinha!


Parquímetro, e não flanelinha!
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Porque se engorda...


Porque se engorda...
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Sobremesa grátis!

Caudilho de lata, vigilante do Rio Grand

"Dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria" - escultura de Vasco Prado na Assembléia.

By heart


By heart
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"No escuro, luz do teu beijo, quanta tristeza me invade; antes morrer de desejo do que viver de saudade. Ma quando penso a te, me sento bene." (Walkiria Schulz)

sexta-feira, maio 19, 2006

Sotaque

Pena que não dá pra tirar foto do sotaque dos gaúchos, porque eu não me canso de imaginar o desenho de suaves marolas encaracoladas que nunca estouram na areia quando ouço seus bás e gurias misturados à segunda pessoa do singular dos pronomes, raramente dos verbos. Se eu tivesse a foto desse sotaque, eu jamais a tiraria de minha mesinha de cabeceira.

Morro de pena de não ter um sotaque, e estou plenamente convencida de que não tenho mesmo. Minha infância em Brasília na década de 70, época em que ninguém era de Brasília e sim de todo lugar - Minas, São Paulo e Rio, sobretudo - me deixou com o carioquês transfigurado, o que foi interessante pro aprendizado do inglês, que é melhor falado por quem não diz naturalmente djidjay (DJ) ou troca o S por X. No entanto, isso sempre me gerou uma certa crise de identidade, porque quando me perguntavam de onde eu era - e eu dizia que era do Rio -, sempre me diziam: "Não, sério, de onde você é?". Isto sem contar que eu sou uma esponja de sotaques alheios: se passo 5 minutos conversando com uma operadora de telemarketing de Curitiba - que lugar danado pra fazer operador de telemarketing, sô! -, e vocês sabem que telemarketing nunca dura menos que 5 minutos, a não ser que se bata o telefone na cara d'um ser humano que não tem culpa de ter esse emprego chato pra cacete, eu desligo o telefone falando curitibanês.

Na adolescência, minhas melhores amigas eram gaúchas - uma delas, a Wal, tinha uma crise de identidade enorme também com essa questão do sotaque porque, embora fosse loura, tivesse 180cm e falasse o gauchês herdado dos pais praticamente alemães, ela deu de nascer e morar em Salvador por 9 anos, e queria-porque-queria ser baiana só por causa disso! Esse convívio íntimo com bás, guris e ésses que nunca soavam como xis transfigurou ainda mais o meu carioquês, a ponto de um belo dia eu ter de pedir socorro a uma delas numa lanchonete: "Candice, me ajuda! Eu quero pedir um cheeseburguer, mas me esqueci como EU falo isso." Ao que ela respondeu: "Você tem que falar: me vê um xxxxizzzz". Ah, bom. Naquele dia, eu não passei por estrangeira em minha própria terra.

Outra coisa interessante é a mistureba de sotaques que eu faço falando inglês. Aprendi inglês britânico na Cultura Inglesa e morei na Inglaterra, mas passei temporadas nos EUA, de onde criei afeição por sitcoms novaiorquinos que eu acompanhei por anos. Meu inglês é, portanto, uma amálgama de sotaques, e eu acho uma delícia ver a cara de interrogação dos estrangeiros com quem eu gasto o verbo tentando descobrir de onde eu sou. Brasil é o último lugar que eles pensam, apesar da evidente morenice e uma cara-de-pau que só nós, brasucas, e os israelenses temos.

Aguardem meu gauchês: dentro de 2 dias, estarei escrevendo como uma verdadeira prenda.

Vou pra Porto Alegre, ciao! :o)


Vou pra Porto Alegre, ciao! :o)
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quinta-feira, maio 18, 2006

Cheiro de mar


Cheiro de mar
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Anoitece em Ipanema.

quarta-feira, maio 17, 2006

Violino


Eu tenho uma tia que um belo dia acordou de saco cheio de tudo, abandonou o emprego público e o privado, fez uma malinha contendo 50% de cremes e perfumes e se mandou pra Nova York em busca do sonho americano. Na ausência deste, acabou se rendendo ao sonho do matrimônio, tendo para isto que se converter ao judaísmo antes de passar a assinar Kauffman. Desde a conversão, ela passou a freqüentar a sinagoga sem ter deixado de ir à missa aos domingos, o que lhe deu uma visão crítica comparativa das duas religiões, quiçá três, que nas férias no Brasil sempre rolava uma macumbinha, uma consultinha básica ao preto véio. Coisas de uma família ecleticamente religiosa.

Pois foi justamente o convívio de minha tia com a alta sociedade WASP (e, vamos combinar, judaica!) de Nova York que nos apresentou à vida orgânica dos Amish e ao VHS duplo do seriado musical da BBC "A Fiddler on the roof". Mesmo sem falar muito inglês naquela época, eu e minha irmã assistíamos ao filme direto; por causa da cena de abertura, em que um violinista se equilibra no telhado iluminado pelos vermelhos do crepúsculo enquanto arranca um som rascante do instrumento, Samantha, a caçula, cismou: queria aprender a tocar violino. Como tudo que ela pedia era um ordem, que caçula tem dessas coisas, meu pai comprou-lhe um violino, instrumento absolutamente estranho neste ninho de MPB e samba. Samantha, a loura de olhos verdes numa família de morenos, sempre gostou de ser a diferente. Não levei a menor fé no futuro daquela relação Sam-violino, mas, pra minha surpresa, em pouco tempo ela estava tocando uma versão melancólica de Asa Branca que me arrancava lágrimas. Ela tocava e pedia pr'eu cantar, mas eu morria de pena de competir com o instrumento, que o violino tem voz própria, e é constrangedor cantar junto de quem canta mais bonito. Mas ela insistia, e toda tarde nós nos reuníamos em torno de xeroxs de partituras e passávamos horas naquilo até meus pais chegarem e pedirem um repeteco dos melhores momentos.

Três anos mais tarde, foi a vez de minha irmã ir pra NYC em busca do sonho americano. Pode-se dizer que ela fugiu de casa, porque a danadinha foi para passar só um mês, ficou um ano, veio ao Brasil pra pegar umas roupinhas, aí passou a vir uma vez por semestre pra renovar o visto de turista e, depois de 5 anos, nunca mais voltou. O violino ficou mudo de tristeza, guardado num armário por 15 anos na esperança de que ela voltasse, talvez por saudade dela, talvez por saudade da Asa Branca que ela reinventou, talvez pelo sim, pelo não, talvez porque ela poderia não gostar que alguém usasse o violino dela, talvez pelo mesmo motivo que faz uma mãe arrumar todos os dias o quarto do filho morto. Só sei que o violino virou um vínculo nosso com essa caçula desgarrada, e por isso foi tão difícil convencer meu pai a dá-lo pra alguma criança que quisesse aprender, mas não tivesse condições de comprar um instrumento tão caro.

Levei 5 meses pra convencer meu pai. Uma vez convencido, mas cheio de condições (que o violino não fosse de uma criança só, mas de um escola que atendesse a várias crianças), ele deixou o violino comigo pra que eu o levasse à Laura Rónai, irmã da Cora que vive e respira música e que saberia dar destino bom ao violino-irmã. Aí foi minha vez de travar, e eu levei 3 semanas pra conseguir executar o desapego da entrega. Ontem, eu finalmente enfiei o instrumento no carro e dei-lhe destino. No caminho, a cada parada em sinal, eu olhava pro banco de trás e o via naquela caixa, parecendo uma múmia embalsamada, e sentia um profundo sentimento de tristeza, como se todas as cores daquelas tardes de música estivessem se esvaindo da minha retina. Como se agora fosse definitivo: Samantha não voltará mais pra casa.

E aquela música do Caetano que a Sam tocava no violão não me saía da cabeça:


Amanhecendo sim perto de mim
Perto da claridade da manhã
A grama, a lama, tudo é minha irmã
A rama, o sapo, o salto de uma rã

Eu te amo, sua fedelha.

Carteira de identidade

3x4 da minha identidade: a mulher de 33 então com 25.

Vanessa Ornella, com dois éles e sem ésse, por favor, natural do Rio de Janeiro, cidade que ainda atende pela alcunha de Maravilhosa, nascida em 20 de julho há quase 34 anos sob o signo de câncer e com lua em câncer – portanto dotada de natureza chorosa, dramática e carente –, rato d’água no horóscopo chinês, o que quer que isso queira dizer, olhos profundamente castanhos ou castanhamente profundos e cabelos que mudam de cor com freqüência, 159 cm de altura quando estou mal, 161 cm quando estou bem, o peso eu só revelo sob tortura boa, significativamente dotada de sangue O negativo, o que me torna uma doadora universal que Freud explica (e geral se aproveita), de sangue e de todos os órgãos (espero fazer bom e longo proveito deles até lá), filha de pais separados há séculos mas unidos até hoje no documento, para o meu desgoverno, médica veterinária registrada em 1997 e também freelancer de tudo que pinta, que não tá fácil pra ninguém.

Conclamo todos vocês a deixarem aqui um paragrafinho revelando suas identidades.

Saudades de Cecília

Foto roubada do Flickr de alguém (clique aqui pra saber quem!)


As Meninas
Cecília Meireles

Arabela
Abria a janela.

Carolina
erguia a cortina.
E Maria
olhava e sorria:
"Bom dia!"

Arabela
foi sempre a mais bela.

Carolina,
a mais sábia menina.

E Maria
apenas sorria:
"Bom dia!

Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;
uma que se chamava Arabela,
outra que se chamou Carolina.

Mas a nossa profunda saudade
é Maria, Maria, Maria,
que dizia com voz de amizade:
"Bom dia!"

segunda-feira, maio 15, 2006

Artelhos arteiros


Em homenagem ao Gobbo e à dona dos artelhos mais arteiros da blogosfera, aqui vai uma foto do meu pé contundido - sabe-se lá como, sabe-se lá quando - e imobilizado até semana que vem. Nada de futebol e sandálias elegantes para mim nos próximos dias. Humf!

Entre pai e filhas.

Sinal dos tempos. Uma família modernosa é composta por uma mãe divorciada, pelo menos 2 pais - o biológico e o atual - um(a) meio(a) irmã(o), um pet de baixa manutenção na casa do pai (pros filhos perceberem que se o pai dá conta de um peixe, não serão eles, crianças, que morrerão ao passar um final de semana na ausência da mãe) e, at last but not least, um blog. Isso mesmo: família que bloga unida, permanece unida. Sobretudo se a família for como a do meu amigo Lau, pai mezzo bobo, mezzo babão, que vê no blog Os Lau a chance de estar em dia com suas duas filhas de casamentos distintos, uma delas desgarrada lá nos States e outra em idade de descobrimento do mundo. Há vida familiar na internet!

Joaquim

Impressão minha ou o Joaquim Ferreira dos Santos anda magoado com o mundinho?

domingo, maio 14, 2006

Eu amo a minha mamma!


Eu amo a minha mamma!
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Colo de mãe: um dos melhores lugares do mundo.

Pro Povo não ter ciúme.


Pro Povo não ter ciúme.
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"Ué, já vai? Ficaí, toma mais um chope."

A Princesa e a garrafa


A Princesa e a garrafa
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Vinte cafunés depois...


Vinte cafunés depois...
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Estou perdoada! :o)

Casa de vó


Casa de vó
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Momento Pollyana mulé a pé


Momento Pollyana mulé a pé
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Eu estou contente por andar de ônibus porque assim eu posso admirar a paisagem.

Casa de avó


Casa de avó
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Fuckity fuck!!!

O Grito - Edvard Munch

Caraca, perdi o ônibus de 7h15 pra Miguel Pereira, o próximo ônibus é às 12h e não vou chegar a tempo pro almoço de dia das mães. A minha mamma vai comer meu fígado! (mas também, que idéia de jerico imaginar que eu conseguiria entrar num ônibus em plena madrugada de sábado pra domingo...)


Temo pela minha vida. (quanto deve sair um táxi Rio-Miguel?) Ainda assim, a gentileza me impele a desejar feliz dia das mães a: Coralinda Rónai, Laura Rónai (mãezona nota mil), Gabi Coutinho (yes!), Ligia do Sindy (pelo barrigão em vias de cuspir menina), todas as mulheres que já tiveram a sorte de parir, aquelas que não puderam mas foram mães de outras formas e aquelas que ainda não pariram mas, como eu, ficam tão aparvalhadas diante de um filhote de gente que pressentem que a vida de verdade, a vida pra valer, a vida como ela tem de ser, só começa depois que rebenta a bolsa e um bebezinho lindo pula do ventre pro peito.


Minha mãe a esta altura está louca comigo, o que eu entendo perfeitamente, porque deve ser uma loucura ser mãe de filhos que perdem a hora. Sempre. Torçam por mim. Vou mandar aquela do "perdi a hora porque estava comprando seu presente".

sexta-feira, maio 12, 2006

Go dreaming!

FRASES QUE SUA NAMORADA NUNCA DIRÁ.

Eu sei que é velha, mas como hoje entrei numas de recordar é viver, aqui vai (com comentários):

01) Nossa, você está tão estressado! Deixa eu fazer um boquete pra você relaxar.
Diz a mulher de 33: só consigo me imaginar altruísta assim depois de 3 lobotomias.

02) Tem comida demais em casa. Vamos levar só cerveja.
Diz a mulher de 33: essa aí eu diria facilmente. Tudo depende da casa, da companhia e, obviamente, da cerveja.

03) Eu acho que você deveria passar a noite com seus amigos...você merece isso.
Diz a mulher de 33: Faltou ela dizer "Te ligo depois de amanhã, quando acabar a festa na casa dos MEUS amigos."

04) Que peido incrível! Peida de novo!
Diz a mulher de 33: Dureza. Tive um namorado que peidava, era horrível. No início, eu reclamava. Depois, diante da inutilidade das queixas, passei a gargalhar resignada. Quanto mais ele peidava, mais eu gargalhava: no cinema, no teatro, em qualquer restaurante. O contexto dramático, sério ou romântico muitas vezes evidenciava o motivo da risada - o peido dele - e os flatos foram pavlovianamente parando.

05) Tô com uma saudade da sua mãe!... Posso convidá-la pra passar um mês com a gente de novo?
Diz a mulher de 33: Mostre-me uma mulher que diz isso, e eu lhe mostrarei uma doida varrida.

06) Pode deixar que eu troco o óleo e calibro os pneus.
Diz a mulher de 33: Ah, essa é fraca. Eu diria isso. Mas completaria: "Paris, hoje?". Todo mundo tem seu preço.

07) Vem ver querido... a filha do vizinho está só de calcinha novamente.
Diz a mulher de 33: Fraquinha também. Eu seria a primeira a correr pra ver a vizinha pelada. Bem possível que brigasse com meu namorado pelos binóculos ou o melhor ângulo da janela.

08) Não esquenta, deixa que na hora eu engulo.
Diz a mulher de 33: no fucking way! Em filme pornô, acho que rola dublê, esperma cenográfico, qualquer coisa menos isso.

09) Por que você não esquece essa história de "Dia dos "Namorados" e compra uma coisa pra você?
Diz a mulher de 33: Eu completaria: "..pra você me dar?"

10) Vamos assinar a Playboy?
Diz a mulher de 33: Tanta revista melhor pra assinar, sinceramente! Eu só assinaria Playboy se minha profissão fosse photoshopista, pra acompanhar as últimas novidades em edição de umbigo e celulite.

11) Gozou? Então dorme que eu me viro sozinha...
Diria a mulher de 33: "Gozou antes de mim, seu cretino egoísta? Vai trepar mal assim na casa do cacete!"

12) O pessoal do escritório te ligou do puteiro. É para você ir para lá em 10 minutos.
Diz a mulher de 33: "E, ó: vem pra casa desapegado, que quando você voltar, as suas roupas que ainda não estiverem consumidas pelo fogo estarão irreconhecíveis."

13) Humm... esse seu bafo de cachaça tá me deixando com um tesão...
Diz a mulher de 33: Tá certo. Bafo de cachaça não rola. Vodka não dá bafo, bafo de uísque é até afrodisíaco, mas cachaça...

14) Dinheiro? Prá quê? Eu só quero teu amor..(essa é forte).
Diz a mulher de 33: Isso me soa como golpe do baú. Amor e dinheiro não se misturam, mas também quando a separação é assim tão indiscretamente manifestada, tem coisa por trás.

Minha infância na macumba.

Foto roubada do Flickr de alguém

Nascida num ninho de católicos ecléticos semi-praticantes e ex-aluna de colégio de freiras, eu não tenho religião por pirraça e por preguiça: duvido de quase todas, tenho simpatia por algumas e cheguei à conclusão que religião é dispensável, mas fé é fundamental, não importa no quê. Já experimentei a messiânica, a católica, o kardecismo, pensei em me converter ao judaismo só pra casar com um israelense e, num determinado momento da minha infância, fui macumbeira: ia toda semana ao terreiro com minha família.

***

Brasília, 1978. Vejo Clarice, a empregada mais preta que já tivemos, desmaiada no chão do quarto dos meus pais. Passando por ela a caminho do banheiro da suíte materna, achei que ela simplesmente dormia: fiz xixi de porta aberta e observei que ela não me mandou lavar a mão depois. Naturalmente, fui até a sala, sentei na frente da TV com meus irmãos sem banho e janta, e esqueci da Clarice. Tanto que me causou espanto ver o pânico de meus pais ao encontrá-la ali desmaiada, meu pai sacolejando o corpanzil pesado e amolecido dela pelos ombros, Clarice acordando e explicando, ainda tonta, que tinha tomado "uma porrada da pombagira" e caído. Ficamos todos muito impressionados com aquilo, e eu passei semanas com medo de ir ao banheiro de noite e encontrar uma pombagira no corredor ou atrás do bidê. Me intrigava ter estado ali o tempo todo e não ter visto nada que pudesse ser uma pombagira.

Depois disso, meu pai biológico, uma auto-didata de primeira linha, leu tudo sobre macumba, comprou todos os discos, um atabaque, charutos e virou o melhor amigo do pai-de-santo irmão da Clarice, um vigarista que dizia incorporar um tal de exu caveira - ele sentava num banquinho, dava baforadas de charuto na cara de quem fosse e cuspia cachaça no fogo. Era duma grosseira atroz mas, enquanto showman, o cara era o rei da pirotecnia.

Passamos a ir - as crianças com seus brinquedos, minha mãe com seus livros - quase todo sábado ao terreiro da Clarice em Taguatinga, cidade satélite de Brasília que na época parecia uma vila de interior bem pobrinha. O terreiro era uma festa: lindas fantasias de baianas e fantasmas, pratos de comida no chão, uma profusão de aromas e cores. Eu brincava com os cães e as galinhas pretas que circulavam soltas por lá. Nesses encontros, meu pai tocava atabaque e preparava uma farofa amarela com pimenta que ele queria que a gente comesse com a mão pra agradar o tal do exu falastrão (ai, eu tinha uma antipatia danada por ele!); minha mãe lia fingindo participar e, quando eu tinha sono, Clarice me punha pra dormir na cama dela, forrada com uma colcha pinicante de fios dourados que me dava coceira. Num belo dia, acordei no meio da festa gritando "EU QUERO PIPOCA! QUERO PIPOCA!". Segundo minha mãe, os atabaques se silenciaram e todos aqueles frequentadores do terreiro se entreolharam como se minha fala noturna - provavelmente o sonho duma ida com a família ao cinema - tivesse algum significado religioso sinistro. Depois disso, passaram a me reverenciar, temer e admirar como filha de Yansã, o que me disseram anos mais tarde ser besteira, que eu sou mesmo é filha de Oxum. O engano, contudo, era muito conveniente, pois meu desejo de sacolé era sempre uma ordem, e tinha sempre pipoca fresquinha me esperando na casa da Clarice.

Meu pai não gostou da responsabilidade de ter uma médium em idade escolar em casa. Ficou com medo de sugerirem a raspagem da minha cabeça, coisa que pegaria mal no caretíssimo Colégio Santa Rosa de Lima, e aí, gradualmente, pra não contrariar o exu que ele tanto temia e bajulava, paramos de freqüentar a Clarice. Pena, porque eu amava aquela farra toda.

Cenas de menina.

Algumas imagens, eu só tenho na memória. Hoje, conversando com minha mãe, de preguiça na cama de manhã, lembrei de algumas cenas.

***

Eu, 5 anos, de cócoras no sítio do Nestor, brincando com os filhotinhos de gato. Cabelos desgrenhadinhos, fundilhos tingidos de um misto de lama e pingos escapados de xixi, que eu não queria parar de brincar pra me livrar do volume. Minha mãe achando tudo tudo lindo. Ela era do tipo que enfiava criança no chuveiro de roupa e tudo, e algumas roupas ela nem se dava ao trabalho de lavar: jogava no lixo direto.

***

Zoológico do Rio, 1979. Minha irmã caçula fez um xixi enorme na calça, não dava pra disfarçar com um casaquinho na cintura porque o sapato fazia shuock-shuock quando ela caminhava. Minha mãe, básica, com a ajuda de minha tia Neila então adolescente, tirou a roupa da minha irmã diante da primeira torneira disponível - um bebedouro camuflado ao lado do recinto dos muares - deu uma enxaguada na calcinha e pendurou na grade do recinto enquanto secava minha irmã com a própria camiseta e o que mais houvesse disponível. Eu e meus irmãos, nesse interim, assistíamos estupefatos o jumento cheirar e, em seguida, devorar a calcinha ainda semi salgada de xixi da Sam. Ele parecia tão feliz!

***
Brasília, 24 de dezembro de 1978. Primeiro e único Natal que passei no Planalto Central. Um homem vendia um cachorrinho preto na minha quadra, dizendo se tratar de um "cão policial". Troquei o cachorro por 3 envelopes fechados de figurinhas do "Amar é", e saí correndo com medo do sujeito se arrepender do péssimo negócio (eu correndo numa direção, e ele na oposta, com medo d'eu devolver o vira-lata). Com medo de minha mãe recusar a entrada do cão na família, parti prum esquema independente: forrei a lixeira do andar com jornal e coloquei ali alguns objetos de decoração, como um porta-retrato com foto da gente e a caminha de veludo vermelho duma boneca, que era pro Bob não se incomodar tanto com o fato de viver numa lixeira. Enquanto minha mãe fazia a ceia, eu entrava e saía furtivamente da cozinha com pratinhos de leite, recheio de peru e rabanada, que Bob devorava feliz. Até que minha mãe seguiu a ladra e descobriu meu segredo: tivemos uma conversa bastante dramática, eu chorei e implorei pra ficar com o Bob, e ela não pôde dizer não num dia daqueles. Vivemos felizes para sempre até que Bob, uma mistura imprecisa de Scooby-Doo X Rintintin com apetite de leão, cresceu demais e começou a alcançar a panela de feijão e se servir sozinho, antes da gente. Foi parar no sítio do Nestor, que adorava cachorro e precisava dum cão policial.

La mamma lida.

In: http://lynnforbessculpture.com/figures/reading.jpg

Parece que foi ontem que eu acordei e, quase sonambulando, fui até a cama de minha mãe, que lia deitada, escalei-as (mãe e cama) e me aninhei naqueles peitos que Freud explica, passando uma perninha por cima de suas costas. E o pezinho lá, batendo nas costas pacientes de minha mãe, que me acarinhava sem parar de ler.


Minha mãe nunca parava de ler. Eu fazia mil perguntas - filho de vampiro vai pra escola?, freira toma banho?, por que o Figueiredo não vende o nordeste pra pagar a dívida externa? - e ela quase que invariavelmente respondia "Ahnn?... Ééé...". Minhas amiguinhas iam embora lá de casa depois de uma tarde de brincadeiras, diziam "tchau, tia!" e minha mãe: "Ahnn?... Ééé." Sem tirar os olhos do livro. Acho que foi por isso que eu comecei a ler aos 6 anos. Caí dentro de tudo quanto era Júlia, Sabrina e Bianca que ela trazia do jornaleiro. Um dia, percebendo que aquilo podia foder com minha vida afetiva pra todo o sempre, minha mãe - ok, talvez tenha sido meu pai biológico - pôs Monteiro Lobato em minhas mãos. E daí pra Cecília Meireles, Ligia Bojunga e Fernando Sabino foi um pulo. Mas eu nunca me esqueci das Pamelas e Brendas, Catherines e Britneys daquela época: todas lindas, inseguras e felizes para sempre, mas somente da penúltima página em diante.


***

Dia das mães daqui a 3 dias, e eu não comprei nada pra minha. Acordei hoje e escalei sua cama pra cruzar minha pernoca sobre suas costas e perguntei, na lata: "o que você quer de dia das mães?". Os olhinhos dela brilharam, dizendo que descobriu que existe um trocinho assim, desse tamanim, que armazena mais que um disquete e menos que um CD, mas é reutilizável, mais portátil e fácil de usar. Um tal de pen drive. Decretei: "Pois então eu vou te dar um desses." Aí ela veio com aquele papo de mãe, que se for caro ela não quer, bla bla bla. Não tive dó. Falei: "Tudo bem. Se for caro, te dou outro cinzeirinho de argila." Minha mãe nunca fumou, mas eu tenho uma facilidade incrível pra fazer cinzeiro de argila.

quarta-feira, maio 10, 2006

Nublada

"Imprisoned soul", foto roubada do Flickr de alguém

Dias nublados são o expurgo da alma. É na turbidez suja de seus cinzas que eu estendo meu uniforme de sofrer, puído do uso.

O horizonte fica mais distante num dia nublado: o olhar se perde naquela linha que nunca chega e, não raro, uma grossa lágrima rola face abaixo numa débil tentativa de se juntar ao oceano em que flutua o infinito e trazê-lo mais perto. As lágrimas de dor e chuva que brotam num dia nublado são operárias tristes que não mais sonham com o retorno do marido: apenas esperam que ele tenha morrido sem dor. Gotas de resignação.

Dias nublados são a redenção da felicidade, que alegria demais intoxica. E, assim como o dia tem 24 horas, a felicidade tem hora pra acabar. Que se não tivesse, os poemas mais belos não teriam sido escritos.

(e me dói saber que alguém possa fazer uso leviano de poemas e poetas para agredir outrem)

Ne me quitte pas

Sem carinho, sem coberta, no tapete atrás da porta. (Bendita a hora em que eu fui nascer mulher!)


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Ne me quitte pas
não me deixes
Il faut tout oublier
é preciso esquecer tudo
Tout peut s`outblier
tudo pode ser esquecido
Que s`enfuit déjà
o que nos escapa
Oublier le temps de malentendus
esquecer o tempo dos mal-entendidos
Et le temps perdu
e o tempo perdido
À savoir comment
procurando saber como
Oublier ces heures
esquecer estas horas
Que tuaient parfois
que às vezes matam
Á coups de pourquois
com golpes de " porquês"
Le coeur du bonheur
o coração da felicidade
Ne me quitte pas
não me deixes
Ne me quitte pas
não me deixes
Ne me quitte pas
não me deixes

Moi, je t`offrirai
eu te oferecerei
Des perles de pluie
pérolas de chuva
Venues du pays
vindas de um país
Où il ne pleut pas
onde não chove
Je croiserai la terre
atravessarei a terra
Jusque près ma mort
até perto de minha morte
Pour couvrir ton corps
para cobrir teu corpo
D`or et de lumière
de ouro e luz
Je ferai un domaine
eu farei um lugar
Où l`amour sera roi
onde o amor será rei
Où l`amour sera loi
onde o amor será lei
Et tu sera reine
e tu serás rainha
Ne me quitte pas
não me deixes
Ne me quitte pas
não me deixes
Ne me quitte pas
não me deixes
Ne me quitte pas
não me deixes


Ne me quitte pas
não me deixes
Je t`inventerai
eu te inventarei
Des mots insencés
palavras insensatas
Que tu comprendras
que tu compreenderás
Je te parlerai
vou te falar
De ces amants là
desses amantes
Que ont vu des fois
que às vezes viram
Leurs coeurs s`embraser
seus corações se incendiar
Je te raconterai
vou te contar
L`histoire de ce roi
a história desse rei
Mort de n`avoir pas
morto por não ter
Pu te rencontrer
podido te encontrar
Ne me quitte pas
não me deixes


On a vu souvent

tantas vezes vimos
Rejaillir le feu
renascer o fogo
De l`ancien volcan
do antigo vulcão
Qu`on croyait trop vieux
que acreditava-se velho demais
Il est, paraît`il
parece que tinha
Des terres brulées
terras queimadas
Donnant plus de blé
dando mais trigo
Qu`un meilleur avril
que a melhor colheita
Et comme bien des soirs
pois, em quantas tardes
Pour qu`un ciel flamboie
para que o céu fique flamejante
Le rouge et le noir
o vermelho e o negro
Ne s`épousent t`il pas ?
não se casam ?
Ne me quittes pas
não me deixes

Ne me quittes pas
não me deixes
Je ne veut plus pleurer
eu não quero mais chorar
Je ne veut plus parler
não quero mais falar
Je me cacherai là
vou me esconder ali
À te regarder
só te olhando
Danser et sourire
dançar e sorrir
Et à te écouter
e te escutando
Chanter er puis rire
cantar, e depois rir
Laisse moi devenir
deixe que eu me transforme
L`ombre de ton ombre
na sombra da tua sombra
L`ombre de ta main
na sombra da tua mão
L`ombre de ton chein
ou na sombra do teu cão


Ne me quitte pas

mas não me deixes
Ne me quitte pas
não me deixes
Ne me quitte pas
não me deixes

terça-feira, maio 09, 2006

Como Vinicius devorou minha alma.


Para uma menina com uma flor
Vinicius de Moraes

"Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, que aliás você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras. E porque você quando sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre num nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, como uma santa moderna, e anda lento, a fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der aquela paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta mas não concorda porque é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara– na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando. E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as outras mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse, cantando sem voz aquele pedaço em que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora – tão purinha entre as marias-sem-vergonha – a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nestas montanhas recortadas pela mão presciente de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa. E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos – eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão, de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfeitando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações – porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor."
PS: sacanagem, Poetinha. Eu só tinha 14 anos.

segunda-feira, maio 08, 2006

O analista de Bagé no metrô

Trudia, pegando o metrô pro centro, saquei "Todas as Histórias do Analista de Bagé" e comecei a ler pra chegar logo. Ah, pra quê?! A cada linha lida, eu me contorcia na cadeira pra refrear as gargalhadas que explodiam em meu peito. Não sou mulher de esconder o que sinto: e se acho graça, gargalho; se tenho medo, corro desembestada; se tenho nojo, vomito. Acontece que há lugares e horas em que a gente tenta controlar os baixos instintos pra fomentar o sonho de uma sociedade mais bela e harmônica.

Passadas duas estações, eu já tinha abafado umas dez gargalhadas viscerais, tendo feito meu fígado trocar de lugar com o rim esquerdo no processo, tamanha a força repressora que eu fiz. Até que me chega a página 45, onde o Analista recebe um paciente com um puta complexo de inferioridade e manda: "Tu tem é vaidade, tchê! Conheço muita gente inferior como tu, mas nenhuma pensa que isso é doença." Aí eu não me agüentei: seguindo o princípio d"o que é um pum pra quem já está cagado?", eu achei que não haveria nada demais em deixar escapar uma gargalhadinha apenas no vagão. Acontece que o acúmulo de cinco gargalhadas reprimidas me fez gargalhar que nem um exu nessa hora, e aí o metrô quase descarrilou. A mulher cujos livros eu voluntariamente segurava, pediu-os de volta e foi ficar de pé noutro canto do vagão, olhando-me desconfiada. Com medo do pior, fechei o livro e cheguei mesmo a respirar fundo pra me recompôr; pinguei Lerin nos olhos porque, de tanto rir, minha cara e olhos tinham ficado vermelhos. Limpei os óculos, tentei ficar 5 segundos sem ler, mas não teve jeito: corri a abri-lo na página 51, em que o Analista se embola no chão c'uma gaúcha chucra, numa cena digna de sátira tevêpirateana do defloramento de Juma Marruá. Aí eu apertei as duas mãos espalmadas na frente da boca e, vendo que não daria pra segurar aquela explosão, mergulhei minha cara na mochila e me larguei: gargalhei quase gritando. Doíam-me todas as costelas e a barriga, tanto que ri. O moço ao meu lado se levantou assustado, e eu, enviesada no assento, não tinha forças pra lhe dar passagem e permitir sua saída do meu perímetro de riso insano, o que resultou num balé de pernas que me fez rir ainda mais incontrolavelmente, enquanto eu dizia - entre lufadas de ar gargalhado: "pode passar, UAHUAHAUHAUAH, me desculpe, sim? HAHAHAHAHHAHAHAHAH, não consigo UHAUHAUAHUAHUAHAU levantar... UHAUHAUAHUAUAUA... ai, me desculpe". E eu não queria olhar em volta pra não rir ainda mais da cara das pessoas, mas a esta altura do campeonato eu já ouvia gente gargalhando no extremo oposto do vagão, ora cartesianamente dividido entre os que me riam de mim, os que riam comigo e os que tinham medo ou ódio de mim.


Finalmente chegou minha estação, eu me segurei no assento e fiz respiração de cachorrinho pra parar de rir e encontrar forças pra levantar. Meu rosto pegava fogo de vergonha. Agora eu acho de bom tom passar uns 6 meses sem andar de metrô no Rio, senão vão me obrigar a ir no vagão sarro-free de mulheres, onde condições ideais de temperatura e pressão jamais permitiriam que eu me comportasse mal daquela forma em público.

De minha parte, está resolvido: nunca mais levo Verissimo pra fora de casa.

Frase do dia

O Amor é como capim.
Você planta, ele cresce.
Aí vem uma VACA e acaba com tudo!



PS singelim: Obrigada, Mônica L!

Sebo


Sebo
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Lado A


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Lado B


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Não basta ser pai, tem que participar!


Registro fotográfico de uma evolução gestacional. Arquivo feito pelo futuro pai babão e esposo corujo dessa linda barriga. Se não for pra ter um marido assim, que se foda: morrerei solteira e sem filhos. Eu vim ao mundo pra ser mimada, não suporto esse papo brabo de cada um por si.

PS: não existe coisa mais linda que uma mulher grávida sorrindo com a mão na barriga. Choro sempre que vejo.

Pro Lau.

Eu dedico "Chaiya Chaiya", música indiana que equivale a 3 latas de RedBull na veia e compõe a trilha do filme mais Bollywood do Spike Lee, ao mineiro mais carioca de toda Bel'zonte: carioca de chapeuzinho panamá, terno branco de linho, sapato bicolor e tudo.

Amei a peça, querido, obrigada. Eu tenho um lema: se é Galpão, é bão. Com texto de Brecht e direção de Paulo José, então, chega a ser covardia.

Bon Giorno a tutti, especialmente aos "italofones" deste blog.


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domingo, maio 07, 2006

Voz

Os mudos, esganiçados e fanhos que me perdoem, mas voz é fundamental. Um nódulo de cordas vocais me empurrou, pela segunda vez na vida, pra fonoterapia a perder de vista. Preciso reaprender a não estrangular, muitas vezes por empolgação, o ar que me sai da garganta. Minha linda fonoaudióloga, Clarisse, tem me ensinado a encontrar a voz virginal da moça loura, uma voz higiênica e enjoadinha que fica diametralmente oposta à minha, em brilho e intensidade, que é pra facilitar meu encontro com o caminho do meio. Ah, o caminho do meio! Como é difícil encontrar essa bosta. Sigo - argh! - tentando.

Pois bem. Eu acho que Marisa Monte é o caminho do meio. Tenho ouvido os discos dela que eu detestei de cara, todos baixados do e-mule (fuck you, EMI!), mas que do dia pra noite acordei amando. MM não é o rasgo sangrante da Elza Soares nem o quase falsete infantil da igualmente amada Billie Holiday, ou seja: é o equilíbrio mais-que-perfeito. Ela sabe respirar, sabe articular, sabe afinar e, ainda por cima, embala e emociona. Meu coração bate ao ritmo de suas notas límpidas impulsionadas pelas consoantes relevantes das letras que ela aprendeu a compôr. Linda menina, a Marisa.

***

Conhecer gente pela internet é furada: saí do www.parperfeito.com.br por isso. Não dá pra conhecer uma pessoa cuja voz você desconheça. A voz entrega tudo: o mal caráter logo se acusa pela voz, pelas pausas mal ensaiadas, pelos clichês e vícios exclusivos da fala: "Gataê", "Aê-gata", "Minha linda"... se falar algo do gênero, há 87% de chance d'o cara ser galinha e cretino.

Já troquei e-mails maravilhosos com um moço bacanerérrimo por semanas, mas na véspera de nosso primeiro encontro, tive a sobriedade de pegar seu telefone. Por sorte, eu liguei a tempo de desmarcar: o cara tinha voz fina. Nem sei bem se era isso, mas a verdade é que ele tinha uma cara (quadrada, de cavanhaque) incompatível com aquela voz. Não dá pra confiar num homem de voz fina. Aliás, não dá pra confiar em ninguém com um fiapo de voz.
***

Tenho inveja dos esquizofrênicos. Quem me dera ouvir vozes! Alguma voz que me dissesse: vamos malhar hoje? Vamos sair dessa cama? Vamos fazer uma viagem? Vamos comer macrô? Vamos fazer algo que preste? Na verdade, eu não queria só a voz, queria o resto todo: uma voz dotada de braços e pernas, um corpitcho assim-assim, que me jogasse na cama e... bem, deixa pra lá.

***

De tudo o que já foi dito sobre o amor, a maior verdade (0u a menor mentira) é esta: o amor nasce quando a voz sussurrada ao pé do ouvido segue, fluida e languidamente, até o coração.

Provações no provador feminino.

In: http://www.arcoweb.com.br/interiores/fotos/77/provador_circular.jpg

Eu odeio lojas de departamentos, mas a grana sempre curta e o perdularismo sempre largo me obrigaram, dias desses, a entrar num provador lotadaço da Renner para experimentar sete roupinhas absolutamente supérfulas. Peguei uma cabina no cantinho e comecei minha maratona de tira e põe. Na cabine ao lado, duas mulheres experimentavam roupas de festa.

- O que você acha desse aqui?, pergunta uma pra outra.
- Ah, é lindo e faz vista. É o tipo da coisa que chegou, tchan! E você tá mais magra (reparem que mulher nunca diz "você está magra"), com um corpo ótimo, tudo a ver com esse vestido.
- É, aquele filho da puta vai ver. Vou chegar lá arrebentando.

Eu parei tudo, na mesma hora. Então havia um filha da puta ardiloso por trás daquele inocente vestidinho de festa. Eu queria saber mais.

- É, mas você sabe que ELE vai estar lá com ELA, né? Será que até o dia 13 você já vai estar namorando?
- Nada é impossível. Não chego lá sozinha mas nem!, nem que eu tenha de alugar algum michê. E essa saia marrom aqui, que que você acha?
- Ah, esta sim, é tudo! Imagina essa saia com aquela sua sandália dourada, você faz uma maquiagem linda, carrega nos olhos assim e aí, sim, aí ele vai ver a merda que fez.
- Jura? Então separa a saia, vou levar. Agora tenho que pensar numa blusa que combine com aquele sutiã de alça de ouro. A alça de ouro tem que aparecer!
- Só me promete uma coisa: haja o que houver, você não vai dar pra ele.
- Ah, não, pode deixar. Do jeito que ele sumiu, ele nunca mais vai me procurar.
- Ou seja, que merda: se ele te procurar, você dá!
- Se ele me procurar, eu não respondo por mim. Mas ele não vai me procurar, fica fria.
- OK, então, voltando à vaca fria, meu bem: seu michê não pode ter cara de viado, não, senão o Caio vai é rir de você, de braço dado com um viadinho. Sinal de desespero total.
- Não quero pensar nisso agora, mas pior que é: tem travesti por aí com muito mais cara de homem que esses michês que fazem ponto em Copa. Nem isso vai ser fácil. Aquele filho da puta, olha só o que ele está me forçando a fazer: acordos com a bandidagem, com a corja da sociedade.

Eu tenho que abafar a gargalhada num trenchcoat digno de pólo norte. Fico pensando em que diabos eu estou fazendo com um casaco pesado desses numa cabine da Renner, em pleno Rio de Janeiro. Minhas divagações sobre o inverno e o consumismo são brutalmente interrompidas pelo choro copioso da mulher na cabine ao lado. "Perdi alguma coisa", pensei.

- Por que ele fez isso comigo, por quê?, pergunta ela com voz chorosa de abandono.
- Ah, amiga, homem é assim... não presta. Tem que abstrair.
- Mas *soluço* eu gos...tava tanto *soluço* dele e *soluço* ele nem pra... nem pra conver*soluço*sar comigo... ou explicar porquê... eu não entendo, não consi*soluço*go entender...

Fiquei com os olhos instantaneamente marejados e meu humanismo maternalíssimo quase me impele a sair disparada da minha cabine pra abraçar a moça. Porém um lampejo de sobriedade me faz lembrar que eu estava de calcinha, e de repente achei que ia pegar malzão abraçar uma completa estranha de calcinha. Sentei pra ouvir o resto.

- Ô, amiga... Olha, vamos fazer o seguinte: a gente compra esta saia, vai pra manicure pra ficar com as garras em dia, depois pega um cineminha, bate uma perninha, enche a carinha e você nem vai lembrar que esse mala existe. Vai passar, você vai ver.
- Mas eu não *soluço* consigo... ele acabou com a mi-nha vi*soluço*da.
- Eu sei... Mas você lembra do Beto? Foi a mesma coisa com o Beto. Um mês depois você já estava viajando com o Renan.
- Mas eles não chegam aos pés do Caio! O Caio, sim, era o ho-mem da mi-nha vida... e eu não en-ten-do... *seqüência de soluços*

Senti uma compaixão especial pela moça que chorava ao lado. Quis sair de meu provador para espiar seu rosto, ver se a reconhecia, mas algo me disse pra ficar ali bem quietinha em minha cabina, que corria o risco d'eu encontrar um espelho na frente do outro e, assim, ver minha imagem multiplicada por mil, por um zilhão de mulheres, todas unidas pelo canalha do Caio e por essa incrível capacidade de seguir vivendo, apesar dos tocos, que alguns chamam de perseverança.