Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Eu preciso dizer que te amo.

Eu fiz, como em todos os anos, a minha listinha de resoluções de ano novo. Este ano eu fui fofa e zen e tomei apenas resoluções tangíveis, como telefonar para pelo menos um amigo querido por dia, mas não para reclamar da vida, e sim para dizer que "I just called to say I love you".

Confesso que não é fácil ligar pra qualquer pessoa e simplesmente dizer "e aí, beleza? eu te amo, valeu? beijo grande". Isso porque algumas pessoas questionam o amor espontâneo. Embora pareçam supresas e felizes com minha declaração de amor num primeiro momento, acabam me cobrando por que, só agora, 12 anos depois, eu resolvi sair do armário e ligar assim, num meio de tarde, pra dizer oi, eu te amo. Querem saber por que eu não disse isso há 7 anos, quando meu mundo caiu, ou meu gato espirrou, minha vaca tossiu, meu porco carpiu e meu cachorro miou? E por que eu passei 3 natais seguidos sem mandar cartão? Como alguém tão ruim e pérfido, que passa 3 natais seguidos sem mandar cartão, tem a cara-de-pau encerada em óleo de peroba de ligar assim, num meio de tarde, só pra dizer "eu te amo"?

Aí eu tento ser zen, gente. Porque ser zen é meu objetivo. Eu relevo, ponho em perspectiva histórica, sóciopolítica, sócioeconômica e até estral. Independentemente de estar errada ou não - porque quem sofre de culpa está sempre errado -, eu assumo meu erro, só que o meu erro foi crer que estar ao seu lado bastaria! E A-I, M-E-U D-E-U-S!, era tudo o que eu queria! Então, eu peço perdão e insisto:

Veja bem, bwana: mim amigo; mim ser toda errada, mas mim gostar muito-muito-muito tuncê, ok? Câmbio. Tem alguém aí?


E embora eu tente ser zen e dar o mesmo tratamento a todos, depois de um mês implementando minha resolução telefônico-afetiva de ano novo, acabei criando uma lista mental das pessoas pra quem eu ligarei sempre - porque a receptividade é pirotécnica, extasiante e endorfinizante - e daquelas pra quem eu só ligarei novamente num evento arquetípico (casamento, nascimento ou morte). E no advento do evento morte, vou tentar ser zen o bastante pra não dizer que só liguei pra dizer "bem feito!".

Porque eu ainda estou iniciando meu caminho zen-evolutivo, uma longa estrada pela qual provavelmente trafego no quilômetro dois de cinquenta milhões e meio, o quilômetro mais conhecido como o "zen-noção de ridículo".

quarta-feira, janeiro 28, 2009

Bate-palminha da estrela

Gente, a culpa me assola! Eu tomo meu floral pra culpa todos os dias, mas ela não me larga! Aí eu entro aqui neste pobre-blog-abandonado e tenho vontade de chorar, mas não um choro que deprime e reforça a coitadice alheia, do tipo "é, meu amigo, eu concordo: o abandono é a pior coisa que há". Seria um choro do tipo desesperado, porque a coisa amada não sai do lugar sozinha.

Se meu blog se movesse com as próprias pernas, eu ia dizer pra ele sair desse lugar quietinho aqui e vir correndo atrás de mim, que eu estou com a corda toda! É verão, é Rio, é gente bonita, e ô gente bonita! Tem mil coisas acontecendo na cidade, pré-carnavalescos, festas eletrônicas em bolha, bailinhos em museus, shows no pier da Praça Mauá (estarei lá pra ver os Titãs), Vik Muniz no MAM, enfim, a vida invadiu a cidade e o Rio nunca esteve tão vivo, tão alegre. Ou talvez a vida tenha me invadido, o que é uma possibilidade bastante razoável, porque eu tenho achado a vida ótima, as pessoas ótimas, a temperatura ótima, o ar está entrando com mais facilidade nos meus pulmões, as comidas de repente ficaram mais saborosas, ou seja: talvez esse meu floral seja tarja preta.

Ou talvez eu seja toda uma tarja preta só, porque o preto é uma cor ótima.

Calma, quartinho verde de bagunça: embora o preto seja ótimo, você continuará verde e continuará por aqui. Quando a vida está ótima assim, o máximo que a gente faz é bater palminhas.

domingo, janeiro 25, 2009

Rio de açúcar


Rio de açúcar
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sábado, janeiro 17, 2009

A verdadeira maldade de A Favorita

Eu detesto assistir novela. Não que eu me sinta melhor ou intelectualmente mais elevada que todo mundo que assiste, mas é que toda vez que eu cismo de acompanhar uma novela fico com a vida meio limitada entre nove e dez horas da noite, raramente consigo sair de casa cedo o suficiente para evitar a fila do Carioca da Gema, enfim: essa vontade de ficar em casa pra ver hoje o que eu poderia ver amanhã no youtube acaba virando um estorvo na minha rotina, e eu sempre digo que não é isso que quero pra mim, não é isso que quero pra mim, não é isso que quero pra mim. Até que, de repente, uma música que me lembrava vovó e uma cena particularmente delicada entre mãe e filha com a Patrícia Pillar me fisgaram e acabaram por neutralizar o meu mantra: no dia seguinte, lá estava eu, agindo que nem uma viciada na frente da TV.

Acompanhei a Favorita da metade até o final. Na época em que comecei a assistir era legal não saber quem era a boa ou a má. Depois que a má se revelou, todo mundo começou a ficar meio mala, a trama se arrastou, a Flora cometeu maldades demais e teve até jornalista sério escrevendo sobre isso no jornal. Porém, havia algumas coisas que incomodavam mais do que as maldades da Flora: me incomodava aquele bom moço rigoroso de comportamento perfeito, e me incomodava um malinha daquele calibre ser o objeto do desejo de tantas mulheres na mesma trama - apesar daquela camisa xadrez! E tinha a prima dele, outra mala do mato com o cabelo permanentemente no rosto, grávida de não-se-sabia-quem. Estou dizendo pra minha mãe há 2 meses: esse filho tem de ser um acidente de percurso do primo-mala-cassiano, só pra provar pro público que a ética não compensa; que mesmo que a Flora termine morta ou presa, o mal se perpetuará. Os malas se perpetuarão!

E ontem, fim de trama, a gente descobriu que o pai do filho da adolescente grávida era, bem... o seu próprio pai.

Nessa novela, os vilões Flora, Dódi e Silveirinha mataram cachorro, mataram gente; mentiram, roubaram, chantagearam e sequestraram. Mas eu ainda acho que a maior maldade de A Favorita foi mostrada, de forma desconcertantemente suave, no núcleo de violência doméstica da novela: em uma família simples, a esposa era constantemente humilhada e espancada, e a filha estuprada. A Lilian Cabral deu leveza a esse núcleo: para a desforra e alívio de todos, ela encarnou o mulherão que dá a volta por cima. Embora a gente saiba que, na prática, nem todas as mulheres que sofrem violência em casa têm aquela altura, aquele corpão e aquele jeitão de quem vai acabar usando o rolo de macarrão na cabeça do marido. No mundo real, sair desse núcleo onde algoz e vítima quase sempre se encontram num duelo fatal - como essas duas meninas bonitas de São Paulo, Marina Sanches e Eloá, que morreram pelas mãos de ex-namorados possessivos e violentos - é quase impossível. Mesmo quando acaba o relacionamento, quando se cortam os laços, os nossos exemplares de homem truculento, primitivo e espancador de mulher dão um jeito de encontrar sua vítima, sua propriedade eterna, e eliminá-la do planeta, para que ela não seja de mais ninguém.

Eu tive uma conversa sobre isso há muito anos, numa mesa repleta de mulheres. Não me lembro qual foi a vítima-notícia que detonou o assunto na época, mas lembro que fiquei profundamente tocada pelo comentário de uma amiga, que achava que o ciúme era o culpado de tudo. Ciúme?!?, perguntei incrédula. Eu não tinha certeza de muitas coisas, mas sabia que não é o ciúme que mata e esfola. Talvez seja a forma leviana como algumas mães criam seus filhos, anulando-se como seres humanos e fazendo-os acreditar que a mulher é isso aí, uma nulidade, só mais um pano de prato na casa. Ou talvez seja a falta de todas as coisas básicas que a Constituição brasileira prega para que todos os cidadãos tenham um mínimo de estrutura familiar. Talvez nossas leis sejam como uma grande mãe nula, que nos ensina diariamente que não existe Justiça, não existe punição, e portanto não existe crime.

Pensando bem, a verdadeira maldade de A Favorita não foi nem a historinha subliminar de violência doméstica com os atores de Malhação. A verdadeira maldade foi constatar que nem os expectadores, nem os personagens contavam com a Justiça, mesmo quando ela deveria estar completamente a seu favor. Deve ser muito triste viver num país assim, onde a Justiça é objeto cenográfico até mesmo em novela.

terça-feira, janeiro 13, 2009

Fantasmagore - Russian Roulette

Diz meu rei, o Arthur:

"Este é o video do Fantasmagore no youtube. Trata-se de
minha nova banda, de rock instrumental. O video não foi feito pela
gente, apenas fizemos a edição pra encaixá-lo na música (e ficou
direitinho! rs). A música chama-se Russian Roulette (e nos créditos
finais dá pra ouvir outra música nossa, ainda sem título)."

Eu achei irado (mas talvez irado seja dez anos atrás demais pra dizer o que eu achei com exatidão). Esses jovenzinhos, ai ai!

quinta-feira, janeiro 08, 2009

Somos todos bípedes.



Liu-Liu fez uma osteossíntese em outubro do ano passado e, desde então, achou mais prático andar sobre os posteriores - e olha que a moça é ligeira! Isso parece reforçar uma teoria de que cachorro foi feito pra andar em 2 patas, mas de vez em quando é bom ter uma ou outra sobressalente.

E pensar que tem gente que prefere matar seu cão a amputar-lhe uma pata irremediavelmente doente.

O Lobo Maurmiteiro

Numa certa manhã chuvosa de janeiro, estava Chapeuzinho Vermelho esperando o 284 na Central do Brasil, quando Seu Lobo Mau se aproxima e sussura-lhe ao pé da orelha:
- Shshshshsh.
- Heim?, quis saber Chapeuzinho. Mas no que ela disse heim?, um balde de adrenalina derrama-se em sua corrente sanguínea, acordando Tico, que, assustado, cutuca Teco, que por sua vez acha ter entendido algo como "...tocar a real... shshsh... 'ssa bolsa aê".

Corta imediatamente pra Chapeuzinho, que não tem tempo de esperar seus neurônios letárgicos chegarem a uma conclusão. Quando a gente está na dúvida se é assalto ou não, a melhor coisa é agir como se fosse assalto e pronto. E quem disse que nessa hora a gente consegue entregar tudo? A gente tem o instinto de recusar, então Chapeuzinho diz:
- Mas, moço... eu não tenho é nada. Nesta bolsa aqui, eu só tenho uma marmitinha...

Então o Lobo Mau infla o peito, arregala seus olhos tão grandes, levanta a camisa, exibindo uma peixeira de aproximadamente 80 cm, do tipo usado pra cortar bucho de tubarão-baleia, e ruge:
- NÃO DISCUTE COMIGO, MENINA, SENÃO VOU TE FURAR!

O cavalheiro ao lado, que também estava no ponto aguardando a chegada de seu corcel, resolve tomar uma atitude e brada que "ninguém vai levar a bolsa da menina, não", mas o Lobo Mau arranca, levando consigo a bolsa e desviando-se de uma pedrada, deixando Chapeuzinho aparvalhada e sem almoço, numa madrugada cinza, feia e chuvosa, em pleno deserto existencial da Central do Brasil.

O deserto então abre sua boca imensa pra Chapeuzinho entrar e ela entra acanhada, senta-se na beirinha da calçada e fica lá desamparada, molhada de chuva e tentando entender, entre tantas coisas:
1. Por que isso?
2. Por que eu?
3. Por que hoje?
4. Por que minha marmita, e não minha carteira cheia de dólares, euros e bilhetes premiados da mega sena?
E por último, mas justamente por ser o motivo principal das lágrimas que agora jorravam como cachoeira do rosto de Chapeuzinho, transformando a Central e todo o centro do Rio de Janeiro num caudaloso leito de rio:
5. Por que essa faca tão grande, Seu Lobo Mau?!?

Tudo bem que Chapeuzinho exagera, mas uma faca de dois metros e meio só pra levar um prato de comida é demais! É muita faca pra pouca Chapeuzinho. É muita violência por nada. Como diria o Gil, é désnécessário, Preta. Lobo Mau perdeu a noção completamente.

Aí, quando Chapeuzinho chega ao trabalho nadando em lágrimas e contando como acabara de sobreviver a um atentado terrorista à propriedade privada, não é sua trágica história que assombra os colegas, e sim o fato de o Lobo Mau ter lhe tomado somente a marmita.
- Mas era uma marmita muito limpinha e muito gostosa. E agora o Lobo Mau está lá, de pança cheia, e eu aqui, sem almoço, sem lanche e sem colação!

A sorte de Chapeuzinho é que sua colega-madrinha, Rita, come pouquinho e se ofereceu pra dividir seu almoço com a vítima do Lobo Maurmiteiro.

No dia seguinte, o episódio estava esquecido e todos continuaram felizes para sempre.

(Mas que era desnecessária aquela peixeira toda, ah, isso era!)

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Desapego e Santa Catarina


Desapego e Santa Catarina
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Aproveitei que acordei forte e já enchi duas caixas com roupas para doar. Ligue 38799600 que os caras pegam os donativos em casa. Caridade sim, perrengue logístico não.

quinta-feira, janeiro 01, 2009

Deu na Cora de hoje!



Que surpresa boa eu tive quando o Pierre ligou dizendo que meu texto no Segundo Caderno de hoje tinha ficado melhor do que aqui, no blog. Imediatamente fui ver do que se tratava e senti uma felicidade extrema por amanhecer publicada na coluna da minha Cora-madrinha. A coluna pode ser lida aqui, no site d'O Globo. Destaque para a solução criativa da Cora pra foto do navio. Não há muitos navios em Friburgo, como vocês podem imaginar. ;-)

O ano começou bem!

Feliz!


Feliz!
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