Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quarta-feira, abril 30, 2008

Pensamento pequeno-zen-burguês


Enquanto alguns aplicam seu bufum nas Ilhas Cayman, Bermudas e outros paraísos fisco-insulares, eu me orgulho de ter investido o meu nas Ilhas Cagarras: o retorno, segundo o guia, é rápido e garantido. Confesso que não me fiei muito no coletinho, mas é bem verdade que eu retornei à Marina da Glória depois de 105 minutos.

Em que outra aplicação, aliás, a gente pode ver, tocar e até mergulhar na liquidez - e com vista pra Ipanema?

Al mare


A gente sabe que não está tão velho assim quando, entre um iate de luxo, uma escuna e uma lancha super veloz, daquelas que só sabem navegar com o bico apontado pro céu, opta-se pelo último tipo de embarcação pra fazer um passeio turistóide às Ilhas Cagarras. Quando o guia falou que a lei exige que os tripulantes desse tipo de náu usem o colete salva-vidas, bati palminhas. Tudo bem que eu ainda estava tímida, me senti meio ridícula vestida assim, de babado laranja afofado no gangote, e tive de reprimir o u-hu. Mas, meu irmão, quando o barquinho saiu da baía quicando, quando eu percebi que ficava mais tempo no ar que no assento, quando eu realizei que é a maior vantagem ter bunda numa hora dessas e quando eu finalmente percebi que o conceito de juventude pode estar intimamente relacionado à existência de uma coluna vertebral flexível e machuda o suficiente pra resistir às porradas daquele barquinho -- ou o que quer que seja aquilo -- contra as ondas violentas do mar, teve uma hora em que eu não só gritei u-hu, como dei de chamar as Cagarras pelo prenome e dizer "QUERIDAS, AQUI VOU EU!!!!!". Quando eu comecei a gritar assim, admito, o resto das pessoas não tripulantes na náu estavam tão chocadas, assustadas, traumatizadas ou enjoadas -- não necessariamente comigo e nem necessariamente nesta ordem -- que, juro, nem perceberam que era eu, e não uma janaína qualquer, quem lhes estourava os tímpanos. Na hora do mergulho cagarral, uma moça resolveu vomitar, e eu achei ótimo porque tenho fobia de peixe, e se ela vomita dum lado e eu mergulho do outro, folgo em imaginar que os peixes devoradores de gente e seus dejetos estarão todos concentrados do outro lado do barco, onde grãos de arroz, pudim de leite, carne de sol e outras coisas azedas flutuam com sucos gástricos, desviando para lá -- e não pra mim -- a atenção dos moluscos aquáticos.


Aliás, antes de mergulhar na frente daquela ilhona por quem eu, de longe, sempre babei, perguntei pro moço do barco:
- Aqui tem peixe?
- Tipo assim... aqui, no mar?
- É, tipo isso. (eu não gostei da brincadeira)
- É.... tem... Tem muito peixe no mar.
E diante de meu enigmático olhar de ou diz ou desce, mas se você não descer eu te sento a mão, ele seguiu:
- Você quer saber, assim, tipo, se eles são agressivos?
- É, se são maiores que eu, se comem gente, tipo isso.
- Ah, nã... Até tem peixes maiores que você, às vezes até uns mamíferos marinhos, mas não, nunca ouvi falar de algum que tenha comido uma pessoa.
- Nem beliscado ou mordiscado de leve?
- Ah, pô, um beliscãozinho assim... (e diante de meu olhar fóbico semi-surtado), sei lá... duvido muito. Né? Pode mergulhar tranqüila, mas ó: nada de se debater nem de ir pra muito longe do barco, heim?

Lembrei na hora dos filmes de terror marinho: Tubarão, Mar Aberto e Riding Giants. Mas as Cagarras passaram 35 anos me esperando, eu não podia fazer isso com elas, não podia decepcioná-las. Então caí. E o mar estava lindo, o dia estava lindo e nenhum peixe me importunou sob a saia do mar verdíssimo. As cagarras compensam!

segunda-feira, abril 28, 2008

Gentileza


Gentileza
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Pra não perder o hábito de fotografar as vacas do cow parade.

domingo, abril 27, 2008

As cagarras de pertíssimo.


As cagarras de pertíssimo.
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Happy campers


Happy campers
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Macuco tours. Vamos conhecer às ilhas cagarras hoje.

sábado, abril 26, 2008

Deu na Vejinha


Deu na Vejinha
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Gostei!

sexta-feira, abril 25, 2008

A grande marcha

Um dilema me atormenta há dias: escrever ou não sobre a Marcha da Maconha? Eu queria muito escrever sobre a Marcha da Maconha, mas como esse papo de fazer apologia ao crime é caidaço e eu sou totalmente contra, sentia uma preguiça de me indispôr com a moral e os bons costumes!... Anyway, escrevendo sobre isto ou não, se eu desse de ter preguiça e fome ao mesmo tempo, inevitavelmente seria acusada (sim, porque as pessoas acusam sem saber!) de estar re-al-men-te fazendo apologia ao crime, porque afinal preguiça + fome = larica, e larica está pra maconha assim como "ô, meu" está pra paulista: não que um não exista sem o outro, mas que é raro, é.

Então decidi que longe de mim divulgar uma barbaridade dessas -- imagina, UMA MARCHA SÓ PRA SOCIEDADE DEBATER A DESCRIMINALIZAÇÃO DA MACONHA --, até porque isso promete ser um tremendo auê no Arpoador (e em outras nove localidades brasileiras) no dia 04 de maio, domingo, às 14h, e, como todos sabem, tumulto e experiências antropológicas não são comigo.

Aliás, nesse mesmo dia eu vou correr uma provinha de 5km, que eu tenho mais o que fazer que defender os interesses de toda uma classe de marginais fora-da-lei, essa cambada de maconheiro safado e sem-vergonha: eu também corro. (e nas horas vagas, divulgo coisas sem querer-querendo)

Aliás, já que eu toquei discreta e delicadamente no assunto, o blog da marcha tem link pra um debate do Estadão sobre essa coisa abominável que eu, por toda minha lentidão de caráter, jamais farei: panfletar a marcha da maconha é crime?

Sei que não deveria me inspirar na famiglia Nardoni numa hora dessas, mas se apesar de toda minha inocência este blog cair no pente fino da linha dura e sair do ar nas próximas horas, por favor lembrem o Arthur Lavigne daquele problema grave da minha dislexia: às vezes eu troco tanto as letras que acabo escrevendo -- ou panfletando -- o que não quero.


A última notícia

Nos primeiros dias de caso Isabella, me intrigavam o mistério e a brutalidade; mais tarde, a repetição sistemática de notícias; depois, a força-tarefa familiar para encobrir a aparente culpa do casal de "meus". Agora, a única coisa que realmente me surpreenderia nesse teatrinho infantil mal ensaiado da sempre-muito-unida família Nardoni, seria um deles, num desabafo semi-lúcido desesperado, confessar: Ô meu, chega, vai! Chega de mentir, vai, meu! Fui eu, ma'foi sem querê, ô, meu!

Isto ou algum médium picudo psicografar uma cartinha da Isabella dizendo: "Pô, pai, não era você quem me dizia que é feio mentir?" E toda a descrição do crime do ponto de vista da menina.

Não quero parecer extremamente cínica, mas do jeito que a coisa vai, em pouco tempo o Vaticano canonizará a pequena Isabella. Igrejas também vivem de santo, e nem todos são tão populares quanto São Jorge. Aliás, estivesse nosso super padroeiro por lá no momento do crime, não seria de admirar se a criatura lançada à janela fosse a madrasta: toda história de dragão tem sempre um final feliz. (e nem toda madrasta é má, que o diga a Gabi Raio-de-Sol)

sexta-feira, abril 18, 2008

Pelô


Pelô
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Janela do céu


Janela do céu
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quarta-feira, abril 16, 2008

Bom dia.


Bom dia.
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terça-feira, abril 15, 2008

Sitting the dog


Sitting the dog
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Oi, eu sou a Lála. Meu problema é fofura.

Marcadores

Muito estranho, esse tal de ser humano. A gente perde tanto tempo reclamando de tudo, que muitas vezes nem se dá conta de que a vida é linda. Eu, que sou rainha do queixume, precisei desenvolver métodos sofisticados de percepção-otimista para que eu possa convencer meu seqüelado cérebro de que eu sou feliz agora, a fim de evitar a frase mais triste que uma pessoa pode entoar, a fatídica "eu era feliz e não sabia". Porque eu quero saber, sim, e quero ser, sim, feliz, muito embora a felicidade seja um conceito abstrato ensaboadíssimo que vagueia entre a pieguice brega e a intangibilidade djavaniana do ser, criei marcadores palpáveis para a dita, a saber:

1. Quando eu tenho dificuldade de decidir se estou trabalhando ou me divertindo.

Um bom exemplo disto foi minha incursão ao Parcão da Lagoa no domingo passado. Aproveitando que fiquei de babá da Lála, poodle fofa que eu hospedo aqui de vez em quando, e aproveitando-me do fato de que eu e Lála precisamos pegar sol e queimar muitas calorias, fui ao Parcão para soltar as cachorras - eu e a dita - e ver como funciona o parque canino mais badalado da zona sul, quais as aspirações dos proprietários que ali freqüentam, o que a prefeitura faz ou poderia fazer para melhorar o serviço, enfim: fui sondar, como veterinária de saúde pública e bem-estar animal do município, a quantas andava aquilo lá. Depois de tanto filmar, fotografar, conversar com os donos de cachorros fofos e me divertir, pensei: "agora tenho que escrever um relatório sobre isso, quiçá um livro!" Ou seja, eu estava trabalhando - uma verdadeira pesquisa de cão, pô! -, e não percebi. Fiquei bem feliz.

2. Meu corpo me obedece.

Toda vez que eu mando meu corpo correr 10 km e ele encara, apesar de toda sorte de maus tratos infligidos, fico tomada duma comoção chorosa arrepiante. Meu corpo me é tão fiel, coitadinho, que eu sinto que preciso cuidar mais dele. Afinal, o cara merece. Aí eu fico feliz porque, apesar dum queixume sazo-sinusital típico e duma asma aqui e ali (mas também, num mundo tão cheio de ácaros e poeira cósmico-existencial!), eu tenho boa saúde. De uma forma controversamente pollyânica e politicamente incorreta, eu sei bem o que é não ter saúde. Não quero pensar nisso apenas quando as circunstâncias me obrigarem a tomar antibiótico, ir a médico ou coisa pior. Sobretudo coisa pior.

3. Abstinência aguda de pessoas queridas.

Quando eu estou bem, necessito estar entre as pessoas que eu amo. O contrário também é verdadeiro: quando estou mal, sumo do mapa sem deixar rastros, porque afinal ninguém merece ser contaminado pelo mal-estar alheio. Foi pra isso que inventaram as cavernas: para as pessoas se enfiarem lá dentro até a expulsão de seus próprios demônios. Quando estou assim, exorcizada, pronta para mais uma primavera afetiva, sinto uma falta danada dos meus amigos. Exatamente como agora. Em outras palavras: eu sou feliz e sei muito bem disso, obrigada.

quarta-feira, abril 09, 2008

Lala is back!


Lala is back!
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Ah, sim, e sobre meu delicado estado de saúde...

... tenho a dizer que meu médico jurou, diante da última tomografia de tórax e seios da face, que esta sinusite realmente não vai me matar. Em face à crise asmática deflagrada há uma semana, no entanto, e diante de minha recusa em aceitar a internação na São José para comer purê de batata sem sal e coçar o saco por 3 dias, ele só me deu garantia de uma semana de vida, porque, como todo pneumologista, é cético e é foda. Ipecacuanha nele!

Probrema meu!

No final de semana passado, tive aulas da pós em homeopatia veterinária, curso que eu já deveria ter concluído há uma década, mas não o fiz por pura má vontade de escrever uma monografia. Agora voltei à escola pra ter aulas das matérias que surgiram nesse ínterim e cursar Metodologia Científica para, assim, entender de uma vez por todas pra que diabos serve uma monografia.

Há dez anos, pelo menos no IHB, a monografia era apenas um pré-requisito sem sentido para a conclusão do curso. As monografias dessa época que estão lá na biblioteca são prova disso, e em minha defesa tenho a dizer que, há dez anos, eu preferia (e ainda prefiro) escrever o roteiro duma temporada insuportável inteira de Malhação a redigir um singelo relato de caso de sarna tratada com Sulphur (Ah, Samuca, por favor, me poupe!).

Minha professora de Metodologia, Lilian -- um angel com "R" na frente -- explicou pra turma neste sábado o que é um problema científico. Fiquei encantada! O problema científico é a chave da investigação científica, e tenho espamos de terror toda vez que penso no destino da Humanidade caso cérebros pensantes não tivessem dedicado imensa parte de suas vidas para elucidar esses mistérios tão intrigantes de nosso dia-a-dia. Tomem Newton como exemplo: ele poderia ter ficado putinho e até irritadinho porque uma maçã caiu em sua cabeça, mas em vez disso gastou alguns zilhões de seus fantásticos neurônios tentando explicar por que uma maçã cai da árvore, em vez de flutuar. Bendito problema científico, bendito Isaac, bendita maçã!

Aí chega minha vez de formular um problema científico com a homeopatia, que já é, por definição, uma espécie de patinho feio da ciência por não produzir, através de uma mesma receitinha de bolo, os mesmos resultados em todos os indíviduos. Isto porque a homeopatia individualiza os pacientes, e como não há um ser vivo igual ao outro, de forma geral, fodeu pra homeopatia! Minha primeira pergunta pré-problemática científica é, obviamente: será que algum cientista vai se rir de mim se eu tentar insinuar que homeopatia é ciência, e não bruxaria? Aí eu me aprumo melhor, ponho-me mais orgulhosa e dona do meu nariz, e questiono: e quem os cientistas pensam que são pra achar que sabem de tudo? Aí então, com o ego super inflamado, dispo-me de toda e qualquer humildade e digo: agora quem vai ser cientista aqui sou eu!

Preparem-se, meus queridos, que titia VanOr está fazendo planos mirabolantes de rodar a baiana nesse métier de gente que engoliu um cabo de vassoura! Nos últimos dias, tenho deitado a cabeça atormentada (pelos problemas científicos) no travesseiro, fazendo mil promessas mentais de experimentar, testar, placebar, comparar, microfilmar, provar, esfregar no nariz do cético, publicar e o diabo a quatro! Dia desses, fui até a uma feira educacional pra ver o que a Austrália, a França, o Canadá, o RU e os EUA têm pra me oferecer em termos de linhas de pesquisa. Tipo assim: digas-me o que pesquisas, que eu te direi qual é o meu probleminha científico. Hacemos qualquer business, mon chéri, mas desde que haja bolsa, heim! Desta forma, pode-se fazer ciência e turismo, por que não? A vida não precisa ser chata se a gente souber se organizar.

Amigos, estou avisando: se existe algum manual de decoro ou etiqueta nesse ambiente asséptico, inodoro, incolor e insosso da ciência, é melhor me avisarem logo, porque eu estou chegando quente, que é pra já ir fervendo!

PS pros pesquisadores sérios que porventura lêem meu blog: vocês não têm problemas científicos cruciais pra resolver, não? Ah, me deixem em paz! :o)))))

domingo, abril 06, 2008

Nam Thai


Nam Thai
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Kho Phi Phi

sexta-feira, abril 04, 2008

Da Graça


Da Graça
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quarta-feira, abril 02, 2008

A radiografia de um passarinho

Sentia um mal-estar físico danado na sala de espera do setor de radiologia da São José, que atende tanto pacientes internos quanto externos, e os parcos minutos que me prendiam ali, longe da cama onde passei os últimos cinco dias convalescendo, pareciam uma verdadeira eternidade. Olhei feio pro atendente que me fez ficar de pé enquanto digitava os dados dos documentos que eu acabara de lhe entregar, e quando ele me flagrou contrariada, mostrou sua expressão mais aflita e convidou-me imediatamente a esperar sentada. Sentei para provar que estava realmente sentindo-me mal demais para ficar em pé à toa, mas o centro do universo logo passou de mim a uma maca que saía da radiologia carregando uma pessoa tão coberta e tão cravejada de tubos e sondas, que era mesmo impossível distingüir se o paciente era homem ou mulher, jovem ou idoso. O enfermeiro que empurrava a maca cuidadosamente tinha fones nos ouvidos e um tom bonito de pele que só as pessoas saudáveis têm.

Acompanhei o drama de algumas pessoas queridas que viveram a angústia de estar entre a vida e a morte na São José, e é impossível esquecer a vontade que senti de doar um pouco da minha saúde e vitalidade àqueles que nada têm, ou têm, segundo as pessoas mais simplórias, tudo o que se pode ter na vida, amor, dinheiro e uma carreira bem sucedida, menos saúde. Foi na São José que eu compreendi o sentido do desapego, pois quando é você quem está numa maca daquelas, ainda que com os melhores médicos que o dinheiro pode pagar, não adianta sonhar, que a saúde do enfermeiro que te empurra ouvindo músicas alegres não se transmite por osmose. A vida é a coisa mais frágil que há.

Fiquei ainda mais frágil quando precisei pôr um avental daqueles que tiram nossa dignidade de gente vestida para fazer as radiografias que o pneumo pediu. O técnico me sentou num banco gelado, apoiou meu queixo contra uma chapa que mais parece um alvo e, segurando minha cabeça com as duas mãos e a suavidade de um anjo, me pôs na posição certa e pediu que eu não me mexesse. Eu não poderia me mexer nem se quisesse, pois de uma forma muito estranha, lembrei de uma coisa que aconteceu comigo quando eu tinha uns seis ou sete anos.

Ao avistar aquele passarinho junto ao pé de ingá, podia jurar que ele tinha caído do ninho, pois me parecia pequeno, embora completamente emplumado. Ele estava com as penas arrepiadas e o bico enterrado no peito como se tivesse frio, e como não se assustou com a minha presença, fiquei comovida e o levei para casa, carregando-o cuidadosamente nas mãos em concha. Eu não tinha noção que ele estava se preparando para morrer, e nos meus sonhos de menina eu iria alimentá-lo, dar-lhe casa e brinquedos, e ele seria então meu amigo. E seríamos amigos por muitos e muitos anos, talvez para sempre, e ele sempre me seria grato por lhe ter tirado do alcance das crianças e gatos maus, que poderiam devorá-lo numa só bocada. Forrei uma caixa de sapatos com minha toalha de rosto, enchi minhas panelinhas de água, miolo de pão e arroz, e cobri-o com a coberta vermelha da Susi, já que ele parecia ter frio. De tempos em tempos, voltava à caixa e o envolvia sob a coberta, com a delicadeza de quem pressente que mesmo a mão pequena de uma menina pode ser fatal para um passarinho. Não era nem noite ainda quando voltei à caixa e o encontrei morto. Tinha a marca de meus dedos em suas penas, que pareciam ter murchado só onde eu o havia tocado por cima da pequena coberta de boneca.

Agora o técnico do raio X, ajeitando-me sobre o alvo onde a presa deve esperar paralisada, deixava as marcas de seus dedos delicados em meus cabelos desgrenhados de cama. Apesar da suavidade de seu toque, as mãos em concha sobre a minha cabeça, exatamente como eu toquei aquele passarinho, tive a forte sensação de que iria morrer.

Não que eu tenha planos de morrer agora, e acho até muito difícil que uma sinusite dê cabo de minha vida, mas basta uma gripe forte para me lembrar que a vida é frágil, e que dela não levamos nada além desses pequenos rastros de amor que não se apagam jamais.

terça-feira, abril 01, 2008

Gratidão


Gratidão
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Que incêndio é esse?


Que incêndio é esse?
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Parece ser em Ipanema, altura da Paul Redfern.