Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

sexta-feira, outubro 30, 2009

Palavreado engrandecido

Para o meu mais completo choque e horror, apesar de eu já ter recebido um sinal divino de que sofro de um distúrbio léxico avançado, ontem, uma das estagiárias da Clínica me fez a seguinte revelação bombástica:

- Você falou 'caralho' pro cliente.
- Oi? Eu disse o quê?
- "Isso dói pra caralho!"
- Caralhos me mordam! Eu disse isso?
- Disse.
- Mas fratura dói pra caralho e ele achava que o cachorro estava muito bem, o que mais eu poderia dizer?
- Ah, sei lá. Algo mais formal.

De forma que eu decidi que vou trocar todas as palavras grandes por sucedâneos do português formal. Pênis enorme, você defecou o esperma todo. Ah, vá ser penetrado pelo ânus! Vá você, seu filho da prostituta! Pênis imenso, esse homossexual está enchendo o esperma da minha bolsa escrotal. Escreva o que eu estou dizendo, ele vai co-pu-lar comigo!

Pensando bem, fô-se. Para bom entendedor, meio palavrão basta. Nada como cará pra dar a ênfase exata às coisas que precisam ser exatamente enfatizadas. Tomá no.

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ATUALIZATION: O Tom Taborda, meu muso da última flor do Lácio, refinou estupidamente minha tradução das palavras baixas para palavras altas, e eu tinha que compartilhar isso aqui com vocês porque algumas pessoas, como minha adorada mãezula, não sabem abrir caixa de comentários:

VanOrita, já que é para substituir, faça-o em linguagem castiça: macrofálico, você coprocontaminou a amostra seminal! sodomize-se! vá vc, rebento de marafona! megapriápico, esse uranista está causando retenção seminal na minha bolsa cremastérica! E, biblicamente: ...ele vai me co-nhe-cer!  BTW: 'biscoito' não significa 'duas trepadas'

quinta-feira, outubro 29, 2009

Writer's block, a missão

E o Flamengo, heim?

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Por quanto tempo o Maneco ainda vai prolongar essas cenas em Petra? Tudo o que eu quero ver é a Aline Moraes rolando das pedras pra ficar tetraplégica.

Será que eu sou muito má?

quinta-feira, outubro 22, 2009

Escrever é um estado de espírito

Eu sei que vocês são inteligentes e já perceberam, então eu  resolvi que não há mais como disfarçar - e mais vale o homem que se assume, que aquele que se enruste: eu, Vanessa O., 30 e poucos anos,  estou sofrendo de "writer's block". Aliás, agora que eu descobri que isso é praticamente uma doença (com CID e tudo), tenho todos os motivos hipocondríacos do mundo pra assumir orgulhosamente minha mais nova moléstia mental em estado avançado putrefante. Hoje mesmo eu atendi um cachorro apresentando um odor cadavérico bastante suspeito na cavidade oral, mas foi só examiná-lo minuciosamente para perceber que o defunto que apodrecia era justamente a micro-porção do meu encéfalo que outrora me compelia a escrever.

O cerébro humano é composto por vários gominhos asquerosos, sendo um deles o responsável por inventar temas que poderiam render uma crônica, uma piada, um livro, uma campanha publicitária, um cartão de aniversário ou quiçá uma coluna de jornal. O bloqueio do escritor consiste, basicamente, na necrose existencial deste segmento gosmento específico do cérebro, o que faz com que seu portador fique completamente paralisado - chocado e petrificado - diante de uma tela branca. Os sintomas podem persistir por até 60 anos, segundo a wikipedia -- e vocês sabem que, depois do Google, a wikipedia é o orixá da umbanda que mais sabe das coisas no Universo.

Eu tenho cá pra mim que a vontade de escrever [compulsivamente] é inversamente proporcional à plenitude amorosa. Tudo bem, solteiras rancorosas, eu sou forte: podem me odiar, se isso lhes fará sentir um bocadinho melhor.

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OK, vou usar meu último recurso de defesa.

Na verdade, o que acontece é que, ultimamente, eu só tenho vontade de falar sobre o meu trabalho. Afinal, o meu trabalho é o máximo! Eu mexo em cães e gatos o dia todo e ainda recebo um ordenad[inh]o pra isso; trabalho com uma equipe que adora o que faz e que, obviamente, adora conversar sobre... ora, o que mais? Trabalho! Aí, quando eu menos espero, percebo que meu universo se fechou numa coisa só (ou em duas, mas a outra eu não divido em blog) e minha fonte de assuntos diversos, outrora inesgotável, secou. Apesar da absoluta falta de [outro] assunto [maneiríssimo pá carajo pra elucubrar que não o meu trabalho fodástico rock'n'roll total], eu ainda convoco minhas tropas cerebrais e tento:

- Comentar a nova novela das nove, que tem uma heroína negra chata para ca-ra-lho que o público, tal qual ocorreu com a falecida Maria Eduarda, já se prontificou a matar. (não consigo chutar cachorro morto);
- Discorrer sobre o absurdo sem precedentes históricos que foi a bandidagem carioca ter abatido um helicóptero blindado da polícia com armamentos antiaéreos (mas quem, no mundo inteiro, não acharia?);
- Destilar meu ódio sobre a Polícia que não apenas livra a cara de autores de latrocínio, como lhes toma o produto do roubo e não presta socorro à vítima (perda de tempo e total clichê falar que a única coisa que diferencia um policial do bandido é a farda);
- Dizer que sinto uma saudade paralisante dos meus amigos - da Gabi, minha musa; da Marina, minha plataforma; do Tom, meu capuccino com ombrinho predileto, and so on -  mas meu tempo anda completamente distribuído entre as duas coisas que mais me empolgam na vida (e uma delas vocês já sabem qual é)...


... e eu estava aqui fazendo um esforço danado pra extrair algum outro tema da minha mente, quando me ocorreu que quanto antes eu terminar este post, mais rápido eu voltarei pro meu novo livro de cabeceira, "Oncologia em Pequenos Animais".

Para que algumas histórias tenham um final feliz, a criatura veterinária não pode - nunquinha! - parar de estudar.

quarta-feira, outubro 14, 2009

O que vai pela nuca das pessoas

Domingo passado eu corri 5km numa prova da Adidas que acontece a cada nova estação. As corridas de rua no Rio têm juntado um número cada vez maior de participantes, a ponto de muita gente nem considerar corrida mais como um esporte. Corrida é rotina, assim como ler jornal e escovar os dentes. Ciclismo é transporte. Esporte, à vera mesmo, é corrida MAIS natação MAIS ciclismo. E assim nascem os monstros...

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A gente percebe que corrida está deixando de ser esporte observando a biodiversidade nas pistas: tem filho com pai separado (porque o pai não podia deixar a criança sozinha em casa em seu domingo de direito, então levou o filho pra dar uma voltinha no Aterro - só esqueceu de avisar ao menino que ele teria de correr pra não ser atropelado pelo estouro da boiada); tem amigas que colecionam camisetas coloridas; tem vovós de 90 anos em busca do afago de uma neta; e pra não dizer que eu estou sendo leviana, há uma quantidade considerável de labradores, poodles e até atletas de verdade, daqueles que cumprem planilhas, tomam suplementos e têm um treinador pra chamar de seu.

Corrida de rua é realmente o anti-esporte. Nem o COI reconhece a modalidade se ela for praticada fora de uma pista de atletismo; ele até reconhece a maratona, mas apenas por motivos históricos e poéticos. Há um lirismo inquietante na morte após o quadragésimo quilômetro.

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Correndo em meio a milhares de coleguinhas de anti-esporte nesse domingo, eu tive a oportunidade de ver o que anda pela nuca das pessoas. A nuca é uma espécie de para-choque de caminhão, onde o contribuinte tatua frases ou desenhos que consigam sintetizar seu "eu" mais verdadeiro. Quem corre atrás, obviamente, fica sabendo que o proprietário da nunca: tem dois filhos (tatuagem de menino e menina estilizados); tem um filho chamado João Pedro (tatuagem de pezinho de bebê com o nome João Pedro embaixo); é fã de alguma atriz global (tatuagem de um trecho do "Pai Nosso"); tem ou teve um amor chamado Edu (tatuagem de coração com os dizeres Dri & Edu); gosta de filmes de terror ou, por algum motivo bizarro, ama o número 13 (tatuagem enorme de 13 com uma fonte super sinistra).

Sei lá. Eu jamais tatuaria minha pele com um número. Se não pelo tanto que isso remete ao Holocausto, pelo menos pra não tornar pública minha estupidez numerológica. Há coisas terríveis sobre nós que basta a nós saber.

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Por falar em Holocausto, "Bastardos Inglórios", do Tarantino, dá uma lavada na alma da gente. Eu vi o filme, li o roteiro e recomendo!

sexta-feira, outubro 09, 2009

Tapete de cachorro impoliticamente correto

Eu tenho de perder essa mania de abrir o e-mail ao acordar. Hoje, por exemplo: acordei feliz e saltitante às 6 da manhã, o que já é super tarde pra mim, e estava satisfeitíssima por ter conseguido dormir 8 horas sem sair de cima. Nada poderia estragar meu dia - nem a chuva, nem as olimpíadas da Barra da Tijuca, nadinha mesmo -, mas eis que encontro em minha caixa postal, assim, de cara, uma mensagem com a foto de um cachorro morto (encontrado afogado, numa praia, com as patas dianteiras caprichosamente amarradas - prova cabal de que o mundo é mau) e outra com a notícia de que a Bolívia, esse país estranho que pode plantar coca sem ir em cana, está comercializando tapetes de cachorro (como aquelas coisas grotescas que fazem com ursos e tigres, só que com estampa de dálmata ou old english sheepdog).

Por favor, chapeize: poupe-me dos e-mails sórdidos. Vai ter um dia em que eu simplesmente pararei de abrir qualquer email que contenha as palavras cachorro, cão, gato, bicho, animal, criança, bebê, foca, golfinho e baleia. Ninguém suporta tanta notícia de crueldade. É cruel não poder fazer nada diante de tanta miséria humana.

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Uma pessoa da família, cujo nome não revelarei para preservar sua altura anônima, foi renovar a carteira de motorista esta semana. Na hora do exame físico, o suposto médico que a atendeu disse que não poderia aprová-la porque ela tinha 1,41m, estatura insuficiente para a emissão da licença de condução de autos do DETRAN. Como qualquer pessoa da minha família, a criatura se revoltou, subiu nas tamancas e ameaçou a integridade física do médico, obrigando-o a aferir novamente sua altura para provar que tinha não 1,41m, mas sim 1,43m, estatura  igualmente nanica, mas já suficiente para sua aprovação no exame físico da renovação. Tanto insistiu, que conseguiu. Até agora eu não sei se foi ela que cresceu de raiva ou se foi o médico que se encolheu de medo.

Eu entendo completamente a revolta dessa minha pessoa querida. Não é humanamente concebível que um ser humano perca 2cm de altura a cada 5 anos, minha gente! Essa apropriação indébita de estatura há de ser incompetência da sub-raça de médicos que trabalha pro DETRAN, que por sua vez nos obriga a pagar os fundilhos das calças (e mais um pouco) pra ter renovado o direito de dirigir nas ruas esburacadas deste país.

Por outro lado... se minha parente não tivesse conseguido renovar sua carteira por ser (suponhamos) baixinha demais, ela talvez conseguisse tirar uma licença de condução para portadores de necessidades especiais, e aí poderia estacionar sem dificuldades em shoppings no Natal e no dia das mães, compraria carros com desconto e gozaria de um sem número de vantagens que as pessoas sem necessidades especiais não têm. Bem feito: ninguém mandou nascer perfeitinho.

O limite entre uma pessoa especial e uma não especial é, muitas vezes, apenas uma problema postural.

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Numa boa: eu enfiaria muita porrada num félodaputa que tivesse um tapete de cachorro desses estendido no chão da sala.

sexta-feira, outubro 02, 2009

Rio 2016

Confesso que estava com um certo medinho d'o Rio ganhar a disputa pelas Olimpíadas de 2016, afinal esta é uma cidade onde pessoas que andam com acessórios e aparelhos caros nas ruas são rotuladas de malucas (porque todo mundo sabe que a violência no Rio é tão inevitável quanto a morte e os impostos), pilotos de motos potentes são vítimas de latrocínio, e o metrô, embora limpinho e quase bilingue, está longe de dar conta do recado. Eu não estaria exagerando se dissesse que o Rio só tem desvantagens em comparação às outras concorrentes, exceto pelas belezas naturais e simpatia de seu povo. O que, aliás, não é pouca merda.

Agora que sediaremos a festa de 2016, só nos resta torcer pros políticos não roubarem demais (já que "muito" é a praxe da categoria) e para que realmente façam as obras milagrosas que integrarão e transformarão a cidade, reduzindo as desigualdades sociais e dando aos nossos jovens um motivo a mais para irem à praia que não o arrastão.

A natação, por exemplo.

Não sei quanto a vocês, mas eu vou correr pra comemorar. Parece muito, mas 7 anos é pouco tempo pra eu me tornar uma maratonista olímpica. Não é todo dia que a gente tem uma maratona olímpica passando na porta de casa e na passarela do samba. Peito pra fora e barriga pra dentro, que há muito trabalho pela frente!