Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

sábado, fevereiro 28, 2009

Momento "um filminho fala mais que zilhões de palavras"

Conheci pela Monica.

"Her Morning Elegance" (com Oren Lavie).

Sun been down for days
A pretty flower in a vase
A slipper by the fireplace
A cello lying in its case

Soon she's down the stairs
Her morning elegance she wears
The sound of water makes her dream
Awoken by a cloud of steam
She pours a daydream in a cup
A spoon of sugar sweetens up

And she fights for her life
as she puts on her coat
And she fights for her life on the train
She looks at the rain
as it pours
And she fights for her life
as she goes in a store
with a thought she has caught
by a thread
she pays for the bread
and she goes
Nobody knows

Sun been down for days
A winter melody she plays
The thunder makes her contemplate
She hears a noise behind the gate
Perhaps a letter with a dove
Perhaps a stranger she could love

And she fights for her life
as she puts on her coat
And she fights for her life on the train
She looks at the rain
as it pours
And she fights for her life
as she goes in a store
with a thought she has caught
by a thread
she pays for the bread
and she goes
Nobody knows

And she fights for her life
as she puts on her coat
And she fights for her life on the train
She looks at the rain
as it pours
And she fights for her life
as she goes in a store
where the people are pleasantly
strange
and counting the
change
as she goes
Nobody knows

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Galera do bem


Galera do bem
Originally uploaded by Van-Or
As borboletas são eternas mesmo!

Na hora de remover as fotos repetidas do Flickr*, saiu essa lindinha aqui, das lindonas Dani e Patrícia. Ei-las novamente no melhor estilo "daqui não saio, daqui ninguém me tira". :-)

*A TIM está fazendo essa gracinha comigo: eu envio uma mensagem multimídia uma única vez, e meu aparelho está de prova!, e ela aparece no Flickr/blog duas, três, às vezes cinco vezes! Vou verificar se esses MMSs repetidos não solicitados estão sendo debitados de minha conta, porque isso será motivo mais do que justo pra exercer meu direito de ir e vir da operadora que eu quiser sem perder meu número.

Se bem que trocar de número de vez em quando é bom pacas.

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Meus reis


Meus reis
Originally uploaded by Van-Or
Celso e Gabi.

Na Praia Vermelha, com o Exalta


23-02-09_1919.jpg
Originally uploaded by Van-Or
Folia de rainhas

Exalta, Rei!


Exalta, Rei!
Originally uploaded by Van-Or
Saideira na praia vermelha

Songo é isso


Songo é isso
Originally uploaded by Van-Or

Concentração no Curvelo


Concentração no Curvelo
Originally uploaded by Van-Or
O que diabos seria songorocosongo?

domingo, fevereiro 22, 2009

Bonner e Fatima Bernardes ao vivo


Do boitatá

Agora é o baile


Agora é o baile
Originally uploaded by Van-Or
Ainda estamos animadas!

Wal e Tita


Wal e Tita
Originally uploaded by Van-Or

Ela mentiu!


Ela mentiu!
Originally uploaded by Van-Or
Caso paula

Monalisa


Monalisa
Originally uploaded by Van-Or

Boitatá


Boitatá
Originally uploaded by Van-Or
Ô, abre alas que eu quero passar!

sábado, fevereiro 21, 2009

Duas pra lá, duas pra cá


Duas pra lá, duas pra cá
Originally uploaded by Van-Or

Purpurina power, baby.

Tomei uma atitude de gente grande: em vez de ficar em casa com medo e torcendo pra chover no bloco dos outros (porque assim os ladrões mais frouxos desistem), fui ao salão esta manhã e purpurinei as unhas dos pés e das mãos sobre uma grossa camada de esmalte vermelho. Agora sim, estou me sentindo mais corajosa e guerreira! É o poder maravotalhoso da purpurina, que faz mulheres nuas sairem às ruas como se estivessem vestidas -- elas pensam que estão vestidas, eu juro: é a purpurina que dá essa ilusão de capa, de roupa, de proteção -- e governantes agirem como se o Rio fosse realmente um cidade candidata às Olimpíadas de 2016. Mas como tudo que brilha sai depois de 10 lavagens fortes, na quarta eu removo o esmalte e volto a vestir meu figurino marrom.

Até que um milagre aconteça.

Enquanto seu lobo não vem, eu conto apenas com a graça do Todo-Todo e de sua Digníssima Mãe, além da minha fé inabalável no glitter-power, para sobreviver mais ou menos ilesa a este carnaval carioca. Uma festa tão bonita não merece o medo de ninguém. Santa Teresa me espera!

Enquanto houver carnaval de rua, há esperança.

Que fantasia marrom é essa?

De um lado, a Roda Rio 2016, promovendo a cidade para as Olimpíadas.

De outro, um arrastão semi-organizado aos turistas de albergue, pobrecitos! Logo eles, que são fodidos de grana, que andam largados, de chinelo e que vêm pra cá sabendo que serão inevitavelmente assaltados -- só não explicaram pros caras que isso poderia acontecer em sua própria cama, em seu próprio quarto de hostel. UM ABSURDO!!!

O Rio de Janeiro está querendo enganar a quem, afinal? Será que alguém realmente acha que as desigualdades sociais e a desgovernança de tantas décadas podem ser resolvidas ou disfarçadas com uma campanha insossa e uma roda gigante? Imagem & paisagem não é tudo: sediar olimpíada é só pra quem consegue levar o poder público a toda a população, pra dizer o mínimo.

Fiz minha programação de carnaval, como sempre, e estou há 2 semanas preparando fantasias com o auxílio luxuoso de minha super mamma. Estava, até ontem, empolgadona pra pular carnaval, mas confesso que essa peristalse dolorida de violência lambeu meu ânimo. Agora eu olho pro meu programinha e vou cortando alternativas pré-selecionadas de folia:

Esse bloco aqui, vou limar: tô com um feeling de que vai sair bala perdida. Tem tudo pra sair bala perdida: gente bêbada, caras anabolizados sem camisa e divulgação na TV. Este aqui, esquece: medo de arrastão. Esse aqui também, não: no ano passado, teve muito empurra-empurra. Corredor não pode se fraturar de bobeira.


As minhas fantasias de Betty Boop, borboleta, marinheiro e princesa me olham lá, do armário, decepcionadíssimas com este meu cagaço de última hora. Acontece que depois dos 35 a gente começa a sentir mais medo de morrer ou de se machucar. Sei lá. Pode ser uma mudança positiva da idade, mas também pode ser apenas uma fantasia de carnaval: estou vestida de marrom da cabeça aos pés. Muito prazer, estou fantasiada de cagaço-humano. Quem sabe na quarta-feira minha cor volte ao normal!

Por causa dessa minha fantasia horrorosa e leviana de que o Rio é uma cidade violenta onde as pessoas não têm direito à propriedade privada ou à vida (no caso de balas perdidas) - certamente é só uma bad trip de minha parte, um princípio de síndrome do pânico, nada que possa afligir o governador Cabral ou sua cunhã, o prefeito -, parei de dizer a que blocos pretendo ir. Vou torcer pra chover nos dias e horas em que eu estarei na rua, porque assim vão pra casa os foliões de mentira e os ladrões mais preguiçosos. Menos chance de dar merda quando chove. O pior que pode acontecer é um resfriado.

Ainda assim, prefiro passar a semana de pós-carnaval curando um resfriado que um traumatismo craniano. A coisa está, realmente, muito marrom. Nunca vi tanto marrom assim!

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Manu Chao - Clandestino

É velharia, mas ainda é super bacana.


Clandestino (Manu Chao)

Solo voy con mi pena
Sola va mi condena
Correr es mi destino
Para burlar la ley
Perdido en el corazon
De la grande Babylon
Me dicen el clandestino
Por no llevar papel

Por una ciudad del norte
Yo me fui a trabajar
Mi vida la deje
Entre Ceuta y Gibraltar
Soy una raya en el mar
Fantasma en la ciudad
Mi vida va prohibida
Dice la autoridad

Solo voy con mi pena
Sola va mi condena
Correr es mi destino
Por no llevar papel
Perdido en el corazon
De la grande Babylon
Me dicen el clandestino
Yo soy el quiebra ley

Mano Negra clandestina
Peruano clandestino
Africano clandestino
Marijuana illegal

Solo voy con mi pena
Sola va mi condena
Correr es mi destino
Para burlar la ley
Perdido en el corazon
De la grande Babylon
Me dicen el clandestino
Por no llevar papel

Argelino, Clandestino!
Nigeriano, Clandestino!
Boliviano, Clandestino!
Mano Negra, Ilegal!

ME GUSTA PACAS!

Que hora son mi corazn
Te lo dije bien clarito
Permanece a la escucha

Permanece a la escucha
12 de la noche en La Habana, Cuba
11 de la noche en San Salvador, El Salvador
11 de la noche en Maragua, Nicaragua
Me gustan los aviones, me gustas tu.
Me gusta viajar, me gustas tu.
Me gusta la maana, me gustas tu.
Me gusta el viento, me gustas tu.
Me gusta soar, me gustas tu.
Me gusta la mar, me gustas tu.
Que voy a hacer,
je ne sais pas
Que voy a hacer
Je ne sais plus
Que voy a hacer
Je suis perdu
Que horas son, mi corazn
Me gusta la moto, me gustas tu.
Me gusta correr, me gustas tu.
Me gusta la lluvia, me gustas tu.
Me gusta volver, me gustas tu.
Me gusta marihuana, me gustas tu.
Me gusta colombiana, me gustas tu.
Me gusta la montaa, me gustas tu.
Me gusta la noche, me gustas tu.
Que voy a hacer,
je ne sais pas
Que voy a hacer
Je ne sais plus
Que voy a hacer
Je suis perdu
Que horas son, mi corazn

Me gusta la cena, me gustas tu.
Me gusta la vecina, me gustas tu.
Me gusta su cocina, me gustas tu.
Me gusta camelar, me gustas tu.
Me gusta la guitarra, me gustas tu.
Me gusta el regaee, me gustas tu.
Que voy a hacer,
je ne sais pas
Que voy a hacer
Je ne sais plus
Que voy a hacer
Je suis perdu
Que horas son, mi corazn
Me gusta la canela, me gustas tu.
Me gusta el fuego, me gustas tu.
Me gusta menear, me gustas tu.
Me gusta la Corua, me gustas tu.
Me gusta Malasaa, me gustas tu.
Me gusta la castaa, me gustas tu.
Me gusta Guatemala, me gustas tu.
Que voy a hacer,
je ne sais pas
Que voy a hacer
Je ne sais plus
Que voy a hacer
Je suis perdu
Que horas son, mi corazn
Que voy a hacer,
je ne sais pas
Que voy a hacer
Je ne sais plus
Que voy a hacer
Je suis perdu
Que horas son, mi corazn
Que voy a hacer,
je ne sais pas
Que voy a hacer
Je ne sais plus
Que voy a hacer
Je suis perdu
Que horas son, mi corazn

Que horas son, mi corazn
Que horas son, mi corazn
Que horas son, mi corazn

Que horas son, mi corazn

Que horas son, mi corazn

Radio reloj

5 de la maana

No todo lo que es oro brilla
Remedio chino e infalible

Entrando no clima

Bongo Bong, Manu Chao

domingo, fevereiro 15, 2009

Os Manu aê, meu!

Chapeize, eu acabo de comprar meu ingresso pra ver Manu Chao na quinta, na Fundição Progresso. Alguém daqui também vai? Alguém se habilita? O cara é maneiro à vera, as músicas são viciantes, mas eu não quero ser a única pessoa com mais de 25 anos em toda a Lapa na quinta-feira. Quem frequenta aquilo lá às quintas, sabe bem do que estou falando. Como eu comprei meu ingresso num impulso manuchaoístico semi-delirante, agora eu vou de qualquer forma. Na pior das hipóteses, eu faço uma maria-chiquinha assimétrica, ponho uma saia de poá, uns óculos amarelos e tento me mesclar com a galera, mas se der pra ir sem fantasia de chiquitita, eu prefiro.

Afinal, carnaval pra mim só acontece nas rodas de samba e nos blocos que tocam marchinha. Suvaco do Cristo, por exemplo, já era.

Começando pelas melhores partes


A culpa é da minha Cora Madrinha

Ela mostrou a cena de Hair em que eles cantam Age of Aquarius, um lance tão exótico que eu passei a minha vida acreditando que não tinha passado de um daquele sonhos malucos que a gente tem na infância, que misturam Cuca, macacos falantes e cidades repletas de doces no interior sombrio de baleias engolidoras de crianças capturadas inadertidamente enquanto faziam seu castelinho de areia. O que me faz pensar que as crianças vivem num estado inatrual nteressante de Lucy in the sky with diamonts.

Mas não era um sonho: aconteceu de verdade. E eu precisei ouvir a música 67 vezes ontem pra me convencer de que estava acordada, e não sonhando. Há, claro, controvérsias sobre ontem ter sido a verdadeira entrada da nova "era de Aquário", mas eu obviamente darei o benefício da dúvida à versão que não me faz esperar mais 500 anos pra isso.

Acho caído esperar 500 anos pra qualquer coisa.

Aquarius

When the moon is in the Seventh House
And Jupiter aligns with Mars
Then peace will guide the planets
And love will steer the stars

This is the dawning of the age of Aquarius
The age of Aquarius
Aquarius!
Aquarius!

Harmony and understanding
Sympathy and trust abounding
No more falsehoods or derisions
Golden living dreams of visions
Mystic crystal revalation
And the mind's true liberation
Aquarius!
Aquarius!

When the moon is in the Seventh House
And Jupiter aligns with Mars
Then peace will guide the planets
And love will steer the stars

This is the dawning of the age of Aquarius
The age of Aquarius
Aquarius!
Aquarius!

sábado, fevereiro 14, 2009

Abriu o céu!


Abriu o céu!
Originally uploaded by Van-Or

Há flores no céu


Há flores no céu
Originally uploaded by Van-Or

Céu meio aberto


Céu meio aberto
Originally uploaded by Van-Or

Meu post anual de Valentine's Day


A coisa tá feia: antes era semanal, agora entrei no padrão anual.

É quase certo que eu esteja exagerando, afinal Valentine's Day é só uma vez por ano mesmo, embora o dia dos namorados, o dia pra valer, seja somente em 12 de junho. O Brasil pode ser mil coisas estranhas e ter mil políticos que constroem castelos cafonérrimos sem declarar nadinha à Receita, mas pelo menos não é maria-vai-com as outras nessa coisa do dia dos namorados. É muita pressão ser diferente, mas a gente aguenta!

***

Pois Valentine's Day só teria sentido de verdade pra mim se eu estivesse ainda namorando um americano, mas não estou. Aí eu fico na dúvida: mando cartão pra ele mesmo assim ou vai parecer estranho?

Já recebi valentines de amigos, de ex-namorados, de amigas e até da minha tia, e taí uma coisa que eu realmente não entendo sobre esse povo que celebra o dia dos namorados fora de época (quase uma micareta romântico-sentimentalóide): ser o valentino de alguém significa exatamente o quê? Significa que você quer bem àquela pessoa, que "tamo junto" e temos afinidades ou que trocamos saliva, pra dizer o mínimo, e sentimos o coração bater dobrado na presença do destinatário (do cartão, do afeto)? Isso sempre me deixou confusa. Nunca entendi Valentine's Day, nem nunca vou entender porque se vende quase tantos cartões nessa data quanto no Natal, que é o dia mais importante do ano no planeta onde vivo e é um dia para todos, e não só para um limitado grupo de pessoas com sentimentos românticos por alguém.

Na dúvida, eu pecarei pelo excesso. Até porque uma das minhas resoluções de ano novo é exagerar em tudo relacionado ao afeto, exceto comida, e por isto eu aproveito este post de Valentine's para mandar alguns recadinhos do coração:

  1. A vida é uma só. (este recado, eternizado pelo Poeta, não carece de desenvolvimento);
  2. O amor quase nunca respeita equações matemáticas e ignora veemente o dilema de ligar ou não no dia seguinte;
  3. O amor é bicho solto. Se prender, morre. E não tem Dr. House ou super-vet que salve.
  4. Amar um monte de gente é modus operandi. Amar uma pessoa só é uma puta sorte (se você tem essa sorte, meu amigo, saia à rua, bata no peito e grite: ganhei na mega sena!!!)
  5. Eu sei que não é a mesma coisa, mas ter amigos como vocês (a essa altura do campeonato, eu não acredito que alguém que não seja meu amigo ainda leia este blog) me dá essa sensação de sorte que só os enamorados correspondidos têm, e por isso eu dedico este valentine a todos os meus ex-namorados e amigos queridos, com quem vivi momentos esplêndidos o suficiente para justificar o espaço que ocupo na Terra, o ar que respiro, enfim, minha existência.
Ah, tá. Agora acho que entendi esse tal de Valentine's Day.

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Enlevedo de cerveja (ou declarações de amor a uma hora dessas)

Eu achei que agora só fosse escrever às quintas, mas eu odeio essa obrigação de escrever apenas num determinado dia da semana. Eu quero escrever quando eu tiver vontade, pô! Tudo bem que de repente eu achei que as quintas tinham virado o *meu dia de escrever*, mas agora eu vejo claramente -- I can see clearly now, la la la la -- que eu viajo na regra, a regra me viaja e eu, como bom cachorro que sou, sofro de cinetose, que é o vômito do viajante. Ou seja: a regra me dá náuseas. Eu precisava ter nascido na década de 50 pra ter sofrido as torturas da ditadura e, só assim, me curar dessa rebeldia terminal para, décadas depois, virar malandra federal de tailleur, plástica e pensão-tortura vitalícia. Sei lá. Nada contra. Mas também nada a favor.

Estou apenas divagando.

Ah, sim! Escrevo agora porque estou enlevada por uma taça magnífica de alentejano, um barato tão fortíssimo que eu me pergunto: por que o ser humano ainda sobe morro pra comprar bagulho, meu pai? Vai no Zona Sul, meu amigo! Vai no Mundial. Compra um vinho bacana, porque o barato do vinho é melhor! (Eu poderia jurar, mas quem jura, mente.) E, ó: ainda vem com recolhimento de imposto (e tome imposto!) e responsabilidade social. Enfim, eu ia dizendo...

Um paragrafinho aqui, super-cá entre nós: se eu não me interrompo numa crise de verborragia hemorrágica como esta, eu vou dizendo, dizendo e não chego a lugar nenhum. A gente sabe que o excesso de palavras costuma ser a antítese do conteúdo e, sobre isso, eu poderia ficar ainda horas elucubrando, mas eu decidi que agora eu vou direto ao ponto. Direto ao post. Direto ao título. Porque é muito gozado como eu sempre começo a escrever pelo título, de forma que eu não sei o que seria de mim sem um título. Talvez eu tenha feito faculdade só por isso, mas talvez só por amor aos animais. Talvez só por amor. Vixe, maria: eu tô que tô!

Pois venho por meio dessas már-traçada declarar meu amor irrestrito e incondicional a um determinado grupo de pessoas, o que não quer dizer que eu ame só essas no mundo, na vida, mas o alentejano me despertou a urgência de manifestar publicamente o meu amor por estas que ora, especificamente, cito:

Minha ex-chefe, Rita, que foi recentemente demitida por injusta causa, ou seja, foi exonerada de seu cargo de confiança, pois toda vez que um político é substituído por seu rival, ele também substitui os cargos de confiança do outro, porque rival que é rival não confia em ninguém que seja da confiança "do outro". E a Rita não apenas foi a melhor chefe do mundo, como me tirou das garras da leviandade boviniforme que governa os calabouços mofados daquela ala burrocrata terminal do serviço público que mais parece um câncer metastático que, se Deus quiser,! ainda terá remédio: aquela em que a incompetência impera e a mais ínfima demonstração de competência suscita os piores assédios morais concebíveis pela mente humana. A Rita me tirou dessa vibe ruim e me deu ninho pra crescer e até voltar a me reconhecer como ser humano, depois de ter quase desistido de pertencer à espécie. A Rita, ao contrário da música, devolveu meu sorriso. E só agora que a gente não trabalha mais lado a lado, e por isso eu tenho sentido tantas saudades!, é que eu percebo a dádiva que é conviver com pessoas do bem: elas nos fazem pensar que o mundo tem jeito. Por este motivo, eu hoje lhe entrego a chave de ouro para esta bela suíte com a vista pro mar dentro do meu coração.

E porque estou enlevada, também declaro meu amor aos colegas de trabalho que têm tornado minha vida possível nesse momento esburacado da estrada da existência: Tatiana, que prescreve florais que curam a alma (e, mais importante que isso, tem sempre um par de ouvidos atentos pra me escutar e desafogar minhas angústias); Glauco, o super vet que tem me dado todo o apoio moral e técnico pra mudar de profissão (ou pra voltar à profissão de que eu tinha desistido há tantos anos); e Fernando, que sempre aparece na clínica pra verificar se eu fugi, desisti ou se estou chorando de novo porque não me lembro como se faz um exame neurológico completo, entre tantas outras coisas. Sem o carinho dessa galera, a perda da Rita, entre outras perdas que não quero citar, teria tornado o ar sólido ou líquido demais pra respirar.

Por fim, porque não há justiça sem que se volte às origens, quero declarar publicamente meu amor surreal e irrestrito aos meus pais.

Eles sabem o porquê.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Texto quintal

Pode ser coincidência -- como também pode não ser --, mas fato é que eu dei de escrever somente às quintas-feiras neste blog. Se fosse aos domingos, eu poderia dizer que meus posts são dominicais, mas sendo quinta um dia da semana sem muitos adjetivos, decretei que este blog entrou numa fase quintal: não no sentido pagodeiro-de-raiz do grupo "Fundo de Quintal", que é super marotão por sinal, mas no sentido de quinta-feira. Porque a quinta-feira também é um dia querido, também é um dia maroto e sobretudo porque, se ninguém antes tinha pensado num adjetivo específico para as coitadas das quintas-feiras, eu acho muito justo que elas ganhem o quintal -- que é um adjetivo neológico querido, extremamente florido e igualmente maroto.

***

Ontem, na clínica, um homem levou uma cadela vendendo saúde.
- O que o traz aqui?, tive a obrigação profissional de perguntar.
- O olho vermelho. Ela está com o olho vermelho.

Pergunta daqui, examina daqui, e o olho vermelho não era nada de mais. Conversamos longamente sobre a saúde da menina, mas o homem sempre interrompia meu colóquio pra falar de coisas que nada tinham a ver com aquele cão ali, e sim com as perdas que ele sofrera recentemente; e repetia a toda hora que não podia, de jeito nenhum, perder também aquele cachorro. Ah, tá.

Às vezes o ser humano está tão só que vai ao veterinário em vez de ir ao psicanalista, ou ao padre, ou ao pai-de-santo, ou ao barman. Relevei, porque eu sou uma "pessoa humana" que, afinal, entende perfeitamente os laços especiais que se formam entre o homem e seu peludo. Estendi-me no exame e no tempo de consulta pra deixar o proprietário confiante de que seu cão estava bem. Mas ele não se convencia. Cheguei naquele ponto em que a gente precisa dar um jeito de expulsar a criatura do consultório, alegar incêndio e evacuar o prédio. A sala de espera bombando, e o homem lá, chovendo no molhado:

- Mas e aí, doutora, me diz com sinceridade: eu vou perder essa cachorra? Eu vou perder, heim?
- Não, pode ficar tranquilo que não vai perder. É um cachorro grande, pesa 28kg. Mantenha-a na coleira sempre ao alcance de seu olhar, que eu duvido que o senhor a perca.
- Mas e se ela morrer? Ela vai morrer?!?

Eu não podia mentir. Porque eu não sei mentir. Então falei a verdade:
- Vai morrer, mas só porque tudo que é vivo morre um dia, com exceção do Oscar Niemeyer. Só que ela não vai morrer hoje, né? Olha como ela está esbanjando saúde, alegre e feliz!

Aí eu aprendi -- porque a gente aprende pelo menos uma coisa nova todos os dias -- que a verdade não pode ser usada inadvertidamente com gente maluca. Esse sujeito não achava que sua cadela estivesse alegre e feliz. Para ele, os entes queridos morrem justamente assim: no auge da alegria e da felicidade. E eu tive de dar meu jeito pra me livrar dele e chamar o próximo, além de passar o resto da tarde inteira fugindo dele, porque ele queria de mim algo que eu realmente não podia dar.

Lítio, talvez. Ou uma garantia de vida eterna, talvez.

Vida eterna? Ah, vida eterna eu não queria, não. Mas já que eu vou ter de morrer um dia, eu bem que queria morrer alegre e feliz. Porque a gente sempre morre um pouquinho toda vez que fica triste, eu bem que gostaria que minha morte fosse a antítese dos piores trechos de minha vida.

Pior coisa que tem é passar a vida esperando a hora de morrer e deixando a vida passar ao largo.