Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quarta-feira, janeiro 31, 2007

Abadessa Souphy, uma mulher de Deus, discorre sobre a incrível relação entre pentelhumes e viadagem.

Van-Or querida, vou relatar-lhe um boato que corria lá pelo prelado em
Araraquara, dando conta de que o Monsenhor Sipango, religioso sério e duro,
quando era garotinho, tropeçou no salão de barbeiro da cidade.

Como você sabe, meu doce, nestes salões acumulam-se pelo assoalho chumaços de cabelos cortados, grumos às vezes volumosos que são varridos depois por um dos barbeiros num instante de folga mas que, num dia de muito movimento, chegam a formar um oceano de madeixas no chão do estabelecimento. Pois bem, o fato é que o menino caiu de cara num montículo de cabelo. Doeu muito, decerto. E depois ainda teve a coisa de cuspir fora a cabeleira toda.

Passou-se o tempo, e o então jovem e futuro seminarista, rapaz garboso e bem apessoado, passou a apresentar certa aversão por tudo que fosse tenue ou excessivamente cabeludo, incluindo xavascas, briocos e outras manifestações virilhentas. Como conseqüência, o pobre elemento viu-se tangenciando o aviadamento e, preferindo afastar-se da opção pederastiana, abraçou a causa monástica.

Não tenciono, com este relato, estabelecer qualquer vínculo entre o episódio de Monsenhor Sipango e a sua reação quase-furibunda à cena nipo-pentelhar (que, confesso, até me agradou) do referido filme Babel. Mas podemos elucubrar evocando algum processo náuseo-cabeludo imiscuído na avantajada psiquê humana.

Esperançosa de ter contribuído com pelo menos uma fagulha de luz em questão tão inquitante e, porque não?, horripilante, despeço-me com as mais carinhosas bênçãos do Altíssimo.


Abadessa Souphy (em comentário hilariante neste quartinho, no post sobre o bicho cabeludo)

Pau no c* do Minc!


Pau no c* do Minc!
Originally uploaded by Van-Or.

Meu namorado red nose precisa ser adotado urgentemente. Ele tem cerca de um ano, é castrado, adestrado, dócil e não há um dia em que eu não pense nele com lágrimas nos olhos. Foi abandonado por causa do preconceito feroz da lei mais estúpida que existe.

VanOr se responde (sim, VanOr fala sozinha e é normal)

Querida VanOr,

Tenho 34 anos de vícios e muitas vezes acho que a única solução pra todos os meus problemas (de uma vez) é um gole de cicuta com 20 ml de sakê, 6 uvas Itália esmagadas com 4 folhas de manjericão, duas pedras de gelo e meio saquinho de Finn.

Digo "de uma vez" porque eu sou ansiosa demais pra resolver um probleminha de cada vez. A lista de vícios é interminável: sou viciada em cafeína, médicos, remédios e doenças em geral, cabeleireiro, manicure, pedicure e toda sorte de serviços supérfluos superfaturados tipicamente mulherzinha, vestidinhos novos, homem malandrão, homem que volta pra ex, homem que se desculpa usando clichês ("O problema não é contigo, é comigo.", ou: "Ainda não me sinto pronto pra casar e ter filhos.", ou: "I love you, babe, but how can we make it if I live in Israel (ou EUA, ou Cape Town, ou dentro de um iate, ou em BH....) and you have an entire future ahead of you in Rio?"; ou, o que me enlouquece mais do que tudo: "Você é boa demais pra mim." -- desculpe, mas só de escrever isso, tive de dar uma pausa pra vomitar). Enfim, sou viciada em homens que me abandonam em geral, do meu pai biológico em diante. Cheguei num ponto em que eu preferia ser viciada em heroína e pronto.

VanOr, cara (jamais te chamaria de "Cara VanOr", que meu sangue corre ao contrário com lugares comuns)... Eu olho pro meu corpinho repleto de hematomas (também sou viciada em joelhaços) e penso: será que minha já nem tão curta experiência com homens impossíveis está querendo me dizer que eu preciso mudar e seguir o conselho das minhas amigas e amigos
gays -- e fingir que caguei pro cara, jamais ligar de volta, nunca dizer o que eu sinto, quero e espero, ser fria como um iceberg, bla bla bla -- ou o que eu preciso mesmo é esperar que apareça um cara que NÃO engate uma ré e fuja a 120 por hora quando eu disser, piscando meus enormes olhos castanhos brilhantes: "Estou apaixonada por você". Será que esse cara existe ou o Greg, meu personal tarólogo, está demitido?

bjs,

Aquela que não aprende nunca, porra.

VanOr responde:

Querida Mulher de 34, seja bem-vinda à maturidade. Você já percebeu que há apenas dois tipos de pessoas no mundo: os homens e as mulheres. São espécies diferentes que só procriam por um milagre divino. Não existe fórmula mágica pra grudar um no outro e o outro no um, mas existem coisas que você pode fazer pra não se sentir vazia enquanto não pintar o homem certo que seu personal tarólogo diz que vai pintar há 3 anos (e sim, esse puto está demitido!):

1. divirta-se com os errados, com camisinha e sem compromisso;

2. treine pra correr a maratona de Paris no ano que vem;

3. ganhe muito dinheiro (porque maratonas em Paris custam caro);

4. páre de pintar as unhas e se depilar fora de casa (economize pra maratona de Paris e reduza seus gastos com antialérgicos);

5. use mais seu cérebro e menos o seu coração, porque o cérebro sangra menos, fofa;

6. termine de ler "Mais Platão e menos Prozac", querida: você ainda é dependente de auto-ajuda, mas tente se enveredar pela filosofia: pinta cada homem-gato de óculos nesses cursinhos livres da PUC!...;

7. colete alguns óvulos enquanto eles ainda não têm um potencial altíssimo pra Síndrome de Down, pague uma mensalidade pra mantê-los bem congeladinhos e jogue pela janela essa merda de relógio biológico: é pressão demais pra você, minha florzinha maternal... Na pior das hipóteses, você ainda pode pedir emprestado um espermatozóide congelado pro Oscar Niemeyer te fecundar quando você fizer 60 anos, se não tiver pintado nenhum candidato a pai viável até lá (pedindo com jeitinho, de joelhos, ele acabará cedendo -- mas corre, que o cara já tem 100 anos!);

8. da próxima vez que um cara te repetir uma desculpa-clichê, em vez de ficar paralisada de choque, horror e vontade de gargalhar, relaxe esse seu corpinho flexível, faça seus pranayamas enquanto conta até um e meio e diga, bem blasé, pra não se estressar (que o estresse envelhece): "Não precisa dizer mais nada, querido. Já entendi tudo. Agora vai tomar no olho do teu cu, tenha uma boa vida e vê se deleta meu telefone do teu celular pra não correr o risco de me ligar bêbado, de madrugada, em conflito."

Afinal, uma mulher de 34 precisa dormir bem pra acordar linda, bem disposta pra correr atrás da vida e sem olheiras.

Uma série de 15 joelhaços na veia, com três repetições em intervalos de 45 segundos,

VanOr (sua personal alterego, a seu dispôr)

terça-feira, janeiro 30, 2007

Pensamento encalhado do dia

Há mais entre o cara que "Simplesmente
não está a fim de você
" e a ex do supõe nossa VanOr filosofia.

Palavras do Greg, o sábio que não precisa de tarô pra ver o que está na cara.

domingo, janeiro 28, 2007

Gargalhada do dia

Conversando ainda há pouco com meu fiel amigo-confidente e ex-personal trainer, comentei que uma amiga, que ele acha linda (e é, por sinal), está infelizmente indisponível e apaixonada por um dentista; tanto, que está pensando em cursar odontologia. Comentário dele:

Porra, vocês mulheres são loucas demais: você namora um músico, e quer ser cantora; depois, namora um maratonista e cisma que vai correr uma maratona; a outra namora um dentista e quer fazer odonto. Não sei onde esse mundo vai parar!



Detalhe: ele namorou uma estagiária. Não tem moral alguma pra desdenhar do mimetismo amoroso laboral.

Exposição do Alex Ferro no Mofo



Nesta segunda 29, estarei no Mofo às 23h pra ver as tais fotografias que o Alex passou meses fazendo nas salinas do estado. Algumas delas eu já tinha visto e, posso garantir, esse moleque não é bobo, não. Ele sabe o que faz. Sei que pedir pra encontrar qualquer ser economicamente ativo numa segunda, às 23h, é minimamente esdrúxulo, mas se vocês não puderem me esperar, vão ao menos para conhecer o trabalho bacana do Alex e tomar uma tábua de caipirinhas na primeira apresentação, às 20h.

O Mofo tem um garçom que atende pela alcunha de "Sabiá", um cara que sabe o que você vai beber só de te olhar no olho, que também vale a ida à Barão de Flamengo, 35. Tem dias em que tudo o que a gente precisa na vida é de um garçom assim.

Nada é necessariamente verdade.

Desde que Fernando Pessoa veio com aquele papinho brabo de que "o poeta é fingidor/ e finge tão completamente/ que chega a fingir que é dor/ a dor que deveras sente", criou-se um precedente importante pra mentira escrita, seja ela em verso, prosa ou jabá. Estou tocando da forma mais delicada possível neste assunto, que vai obviamente me levar à pândega da falsa morte (auto) anunciada da Meg SubRosa, porque eu sempre desconfiei, desde que fiz minha primeira busca na internet usando o Alta Vista, que eu nem sei se ainda existe, que devemos sempre suspeitar da veracidade dos fatos propagados em progressão geométrica por spams e blogs. Uma falsa verdade -- e no tocante às mentiras, quanto mais dramáticas, porque humanos têm essa necessidade patológica de sofrer, mais verossímeis --, como aquela dos filhotinhos de labrador que seriam degolados pela dona louca se não fossem DOADOS em 24h, pode passar três, às vezes cinco anos circulando e se propagando pelo mundo. Bem-vindos à rede internacional de intrigas, inverdades e teorias conspiratórias.

Por e-mail, já tentaram me convencer -- e eu caguei, é lógico -- que o Redbull, líquido do qual sou praticamente dependente química, é uma arma infalível pra dominar o mundo e concentrar a renda global nas mãos de seu criador, o anticristo. Então, desde sempre, apesar de ingênua, babaquara e crédula, até porque eu minto muito mal e acho que todo mundo é igualzinho a mim nisso, desconfio de tudo que leio na blogosfera.

Oscar Niemeyer se casou aos 99 anos -- minha primeira reação à esta notícia, antes de verificá-la em todos os jornais do país, foi: a imprensa marrom está dominando a Terra e, logo, seremos todos marrons: a cor oficial do cocô do cavalo do bandido. Mas quando a notícia triste (sim, eu tinha esperança de me casar com o Oscar) impressionante é mais pessoal, como no caso da falsa morte da Meg, é claro que a gente não imagina que a imprensa marrom esteja por trás disso, deturpando a verdade. A tendência é crer. E sofrer. Eu e muitos dos meus amigos vestimos um luto até descobrir que Meg está entre nós. OK. Melhor assim. Foi chato sofrer à toa, tendo já tanta coisa concreta pra sofrer de verdade? Foi. Mas foda-se. Não vou transfigurar meu sofrimento em mágoa, quando na verdade ele virou, instantaneamente, alívio de sabê-la viva. E me deixou ainda mais cascuda pra lidar com o bicho homem.

Bicho complicado, esse. Infelizmente, como não nasci cachorro, tive de aprender (e todo dia traz uma nova lição) a lidar com meu semelhante. E lembrar -- ou melhor, nunca esquecer! -- que as pessoas, ao contrário dos cães, não emitem sinais claros de que vão te atacar, a qualquer momento, na parte mais frágil do corpo. Aliás, para os cães, a parte mais frágil do corpo é o pescoço ou o tórax. Humanos sabem que nosso calcanhar de Aquiles é o coração subjetivo. Aquele que sangra emoção, sofre e chora.

Tem gente que se especializa em desferir golpes letais no nosso telhado de vidro. Não creio que seja este o caso da Meg. Não quero colocar em discussão se ela deve ser perdoada ou não pelas lágrimas derramadas em vão. Sou partidária do choro. Chorar clarifica a visão, lava a alma, libera hormônios humanizantes. Chorar é humano, enfim. Se cães fôssemos, uivaríamos. E o uivo, a lástima canina mais próxima de uma lágrima humana, serve pra chamar um ente querido que se desgarrou da matilha.

Que nossas lágrimas tragam a Meg pra perto, e não o contrário. Às vezes os cães são tão mais brilhantes que a gente que me dá vontade de roer um osso. Mas isso, como tudo que se lê por aí, não é, necessariamente, verdade.

Dama honrada em sépia


Van delivery
Originally uploaded by Lucas Mobile.

Eu acho (acho!) que só tomei duas Laylas. Tenho certeza (quase!) que puseram álcool nos meus drinks de uva com manjericão. Ganhei uma almofada linda, toda bordada de gatinhos, da Bia Petri (e dormi abraçada a ela, como se fosse o grande amor da minha vida). E agora, sóbria e fazendo uma análise bastante crítica da modelo nesta foto, não entendo como meu cabelo foi ficar, assim, cacheado tão poucas horas depois de uma escova progressiva (sem formol, por favor). Alguém deve ter molhado o meu cabelo antes da hora!

Peraí, licença um segundinho: UAHUAHAUAHAUHAUAHA!!!

Heliana, querida, obrigada por ter zelado por minha honra me entregando na porta de casa. Do jeito que eu estava ontem, eu iria acabar dormindo agarrada a algum cachorro de mendigo sob o viaduto do Corte do Cantagalo.

(foto descaradamente roubada do Flickr-celular do Lucas)

Vã delivery by Heliana


Vã delivery by Heliana
Originally uploaded by Van-Or.

Fomos pela praia porque é mais fofo.

sábado, janeiro 27, 2007

Palaphita


Palaphita
Originally uploaded by Van-Or.

Pai d'égua.

Bicho cabeludo, bicho de sete cabeças

No dia mais lacrimoso deste já lacrimo-fluvial 2007, assisti "Babel" na luxuosa companhia do Tom Taborda. Apesar da fossa, da TPM, do colo Tabordiano e da minha normohidratação (que quando eu choro muito, tenho de tomar 5 litros d'água por dia, senão desmaio, hipotensa), nem chorei em "Babel". Uma mulher ao meu lado estava tendo uma convulsão de soluços e lágrimas ao acender das luzes, e confesso que senti uma pontinha de inveja daquele choro, mas -- embora trate-se de um filme denso sobre o sofrimento familiar nas mais diversas culturas --, chamou-me mais a atenção o emaranhamento das tramas. Aquilo me distraiu tanto que, pra minha grata surpresa, nem mesmo na cena em que o Brad Pitt chora -- e olha que eu sou daquelas que não pode ver um homem chorar; o cretino pode até mesmo estar chorando por não querer gastar uma bala de seu revólver pra me matar, mas eu vou chorar junto, não importa o motivo --, consegui verter lágrima.

Não vou dizer que não sofri, porque sofri pra valer em "Babel". E o que mais me doeu foi o vazio da adolescente japonesa que tentava ocupar seu oco com a oferta ostensiva de seu sexo, na cega esperança de que alguma convexidade peniana lhe preenchesse a concavidade da alma. Numa das cenas, ela, uma figura andrógina extremamente kinky, propositalmente caracterizada pra brincar com o imaginário salutarmente pervertido do espectador, usando uma mini-saia colegial de meio palmo, tira a calcinha e expõe sua genitália cabeludérrima pra um grupo de garotos babaquinhas num point infanto-juvenil. A cena, que faz muita gente rir, foi a mais próxima de me fazer chorar. Deixo a explicação disso a encargo de Freud. Estou sem saco pra desenvolver, até porque o bicho cabeludo era só um gancho pra um outro tópico, algo off: não suporto pentelhos fora da linha do biquini. Vou passar o cerol-definitivo a laser em todos. Chega de cêra na minha virilha: inimigos da linha do biquini, pra mim, agora, só no cerol. Deixem estar, pentelhos, que assim que este verão passar vocês vão rodar. Até lá, mais por motivos ideológicos que estéticos, vou deixar o bicho cabeludo. Quero curtir os últimos dias dos meus pentelhos idem (ou dos meus idem pentelhos). A japinha do filme não mereceu minhas lágrimas, mas ao menos esta homenagem minimalista eu devo a ela.

E por falar em bicho cabeludo, me veio o gancho do bicho de sete cabeças: por que o guardião do inferno é um cão de três cabeças? Por que não uma xereca cabeluda? A julgar pela disparidade entre o comportamento sexual das mulheres, que geralmente relutam em dar na primeira vez, e
o dos homens, que geralmente insistem em trepar na primeira vez, tenho pra mim que a vagina, enquanto símbolo de poder, mistério, pecado e obsessão, é o bicho de sete cabeças mais cabeludo que existe. E o pobre do bichinho nem dente tem, coitado! Ó, infâmia!

Quando a vida parece estar uma m...


Quando a vida parece estar uma m...
Originally uploaded by Van-Or.

... Lembre-se que tudo poderia ser bem pior: por causa de uma perebinha no nariz, uma veterinária insensível poderia te obrigar a usar um ridículo colar elisabetano que, além de ter saído de moda há séculos, ainda foi improvisado com material de demolição. Um nome politicamente correto para jersey, lurex e filmes de raio X com mais de 2 anos.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Três gatinhas


Três gatinhas
Originally uploaded by Van-Or.

Bia, blusa e Chiquinha

O proprietário responsável e o cão-cidadão

Como veterinária de pequenos animais, considero uma lástima que minha profissão ainda seja mal interpretada, por muita gente boa, como uma atividade fútil, limitada ao corte de unhas, controle de pulgas e vacinas de cães e gatos. O veterinário é um profissional de Saúde Pública da maior importância. Quando castra um animal, ele está evitando o alastramento desastroso da indústria de filhotes, que despeja milhares de animais nas ruas todos os anos. Animais abandonados à própria sorte em logradouros públicos têm potencial para transmitir doenças importantes à população humana e animal dos locais por andam transitam. O abandono de animais, pela crueldade e pelo desrespeito à Saúde Pública que encerra, é proibido por leis federais e municipais, mas é apenas uma pequena ponta do iceberg da negligência humana na posse e condução responsável de seus animais.

Como formador de opinião e cidadão consciente de seu papel na sociedade, todo médico veterinário deveria passar a seus clientes, na rotina da clínica, entre uma consulta e outra, noções primordiais de posse responsável. Um dono responsável de cachorro, por exemplo, não deve apenas recolher as fezes de seu cão das calçadas de seu condomínio para evitar uma multa, e sim porque é importante respeitar o direito do próximo de passear em um ambiente limpo. Fezes de cães podem conter parasitos, então seu vizinho também tem o direito de não contrair as doenças que poderiam ser evitadas com uma simples coleta higiênica. Não devemos nunca culpar um animal pelas atitudes de seu dono. O animal é inimputável, mas seu dono, não: ele pode responder judicialmente por crimes ambientais (de maus tratos, exemplo) e até penais, como ocorre na condução negligente de um animal agressor.

O conceito de posse responsável está intimamente ligado à harmonização do convívio entre os animais e o ser humano. Um proprietário responsável cuida da saúde e do bem-estar de seu cão ao mesmo tempo em que protege a saúde e o bem-estar de seu vizinho, evitando que seu melhor amigo assuste pessoas (com latidos e rosnados) ou transmita parasitos em ambientes freqüentados por toda sorte de gente e bichos. Um proprietário responsável educa e socializa seu cão para que ele não pule nos outros, não agrida crianças passeando de bicicleta, entre outras coisas que facilitariam muito o convívio de todos que gostem ou não de animais. Nem todo mundo precisa gostar de bicho, mas todos precisam respeitar o próximo. Nunca devemos esquecer que nosso direito acaba onde o do outro começa.

Seja um proprietário responsável e tenha o insuperável orgulho de ter um cão-cidadão.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Queridos.


Queridos.
Originally uploaded by Van-Or.

Fábio e Daisy, dois lindos na noite do Leme.

Friends in happy mode


Friends in happy mode
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Desejo mesmo de mudar.


Desejo mesmo de mudar.
Originally uploaded by Van-Or.

Se eu ficar triste de novo até março, vou precisar cortar cabelo numa peruca. Mas não há mal que sempre dure, nem fossa que tesouras hábeis não cortem. Agora é tratar das olheiras e desligar o sad mode. Levanta, sacode, bla bla bla.

Da séria série "Campanhas por um Mundo Melhor": Preserve a vida de um motoqueiro ou ciclista, amigo motorista.

Escrevo este post amoroso-apelativo com a vista embargada por uma cachoeira de lágrimas; e sempre que me lembro de cachoeira, me lembro de Oxum e do Véu de Noiva, e a palavra "noiva" faz minha TPM gritar, e o sertão vira mar só do meu pensamento derrapar um segundinho que seja pra fora da linha original de racicíonio.

Vou retomar daqui: tenho toda a legitimidade do mundo pra chorar. Sou canceriana com lua em câncer, porra! Estou em TPM. Meu perfume preferido está em falta. Sou mulherzinha, e minhas unhas estão um lixo. Faltam 3 horas pr'eu cortar o cabelo (e talvez pintar), mas essa espera insuportável pro paliativo mais eficaz contra meus dissabores me faz querer cortar os pulsos muito além das madeixas. Faltam 6 anos pra eu encontrar o pai dos meus filhos (e meu relógio biológico berra!).

O fim do mundo me espreita e, como se nada disso bastasse, hoje eu cheguei no canil e não encontrei o Bob. O meu cãovelado Bob, o pretinho do G, o vira-lata mais cheio de molejo de toda a Mangueira. Rodei os outros 17 canis gritando por ele. Urrando por ele. Cheguei aos prantos à sala dos veterinários e perguntei, tentando não entrecortar as palavras com soluços que insistiam em me pular pela garganta, onde-caralhos estava o meu Bob. O pretinho do G. "Pretinho do G?", tiveram o desplante de me perguntar, como se houvesse ou jamais tivesse havido outro pretinho no G que não meu primeiro e único Bob. Tive de me apoiar nas paredes pra buscar, mãos trêmulas, a foto dele que eu tinha guardada no celular. A estagiária olhou a foto enquanto minhas lágrimas rolavam aos litros, feito cena de naufrágio em cinema-catástrofe. "Ah, esse... Foi adotado ontem." A voz me fugiu, o chão me sumiu, e tudo que eu conseguia fazer era um gesto de "me dê", apontando pras fichas de adoção. Assustada com minha convulsão lacrimosa, a estagiária me estendeu, sem maiores delongas, a ficha com os dados do adotante do Bob: um homem de Seropédica, que mora em casa e também levou, no mesmo dia, uma outra cadelinha. Sem conseguir dizer uma palavra, saio desolada e ligo imediatamente pra minha chefe: "Le...va...ram o... meu (soluço gutural) Bob...". E ela, com voz de oba-oba: "Ele foi adotado?!?". Emito um misto de soluço e sim, e ainda recebo um mega esporrão dela, que diz que eu devia estar feliz porque ele só ganhava carinhos 5 vezes por semana de mim, e agora vai ganhar cinco carinhos por dia, todos os dias da semana, por alguém que gosta muito de cachorro.

No vácuo do Bob, percebo que fiz a maior merda do mundo por ter terminado com o Luca. Sua dona, minha intrépida amiga motoqueira Dani, está se recuperando de um acidente de lambreta ocorrido no sábado passado. Traumatismo craniano, uns arranhões, nenhum osso quebrado, muita sorte e alta dentro de dois dias. Ofereci-me pra ficar com o Luca enquanto ela está no hospital, cheia de soros e enfermeiras, mas a família já havia providenciado a estadia do meu ex num resort cheio de regalias e com vista pro mar. Insisti na oferta, mas percebi uma nota de mágoa na voz de minha ex-sogra-canina escoriada, ainda ressentida com o desmanche inusitado de meu namoro com seu aristocrático Golden, trocado sumariamente pelo plebeu Bob.

E agora, estou sem nenhum peludo pra chamar de meu. (suspiro)

Mas voltando ao tema deste post lacrimo-tendencioso, e porque dois amigos queridos se acidentaram de moto nos últimos três meses, se fuderam legal mas tiraram a sorte grande de não morrer, que é a estatística trágica mais comum nos acidentes de moto, eu gostaria de pedir a você, amigo motorista, sobretudo o(a) amigo(a) motorista que brochou na véspera, brigou com o marido, tomou um toco dum babaquara sem caráter que só queria te comer (mas você só deu porque quis), tomou uma lavada do patrão medíocre, uma fechada do taxista abusado, enfim, a todos vocês, seres potencialmente assassinos com porte de arma emitido pelo DETRAN, que tenham muito, mas muito cuidado com os motoqueiros e ciclistas. Eles podem até ser enervantes às vezes, buzinar no seu ouvido durante o engarrafamento enquanto passam serelepes a 60km por hora , a 2 mm de seu retrovisor, quando você está estacionado na Voluntários e sem ar condicionado, com os vidros fechados e medo de arrastão, mas por trás daquele capacete (ou não!), acreditem, também bate um coração. Um coração libertário, que gosta de vento na cara; que tem mãe, que por sua vez tem um coração que quase pára de bater quando vê a filha inconsciente naquele freak-show que é a emergência do Miguel Couto. Por trás daquela bicicleta motorizada (ou não), feia ou bonitinha, importada ou favelada, há uma criaturinha que gosta de esportes, que gosta de bichos e tem uma turma de amigos de infância que se desesperam quando ouvem a notícia do acidente. E que vão visitá-la no hospital fazendo piadas e falando sem parar, mas saem aos prantos porque percebem o quão frágil a vida é. E o quanto está em nossas mãos preservar não só a nossa, como a do próximo. Porque o próximo, nunca se sabe, pode ser você.

Respeito é bom, respeito é humano e sem respeito não há esperança de dias melhores.

Dani, querida: recupere-se logo! E pare de assustar suas mães.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Corrida: endorfinoterapia antidepressiva


Corrida: endorfinoterapia antidepressiva
Originally uploaded by Van-Or.

Quando eu digo que toda depressão dá um tipo de barato, ninguém acredita. Mais duas semanas assim, e eu chego ao peso ideal. Ou me convenço de que ideal de cu é rola.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Da série "A vida ainda vale a pena": Amigos de infância


Eu e Fábio na Adega do Pimenta. Sempre faz sol quando a gente se encontra. Em Santa, em Roma, no mundo inteiro.
Foto: Daisy (uma margarida em forma de gente de bolso)

Tudo que sei é que nada sei.


Tudo que sei é que nada sei.
Originally uploaded by Van-Or.

G. Rosa

Pensamento doloroso do dia.


Pensamento doloroso do dia.
Originally uploaded by Van-Or.

Guimarães Rosa

domingo, janeiro 21, 2007

Sweet Charity: o clown que não nega amor nunca.


A dulcíssima Charity Love Valentine de Cláudia Raia e Betty Boop: qualquer semelhança (entre nós) não é mera coincidência.


Quando assisti Noites de Cabíria, do Fellini, não me identifiquei nem um pouco com a prostituta generosa e ingênua que dá tudo de si pro seu homem; e o que não dá, lhe é violentamente tomado. Não me identifiquei, porque a protagonista desse rodrigueano Fellini é um clown perfeito, com realejo, maquiagem de palhaço e tudo. Nunca, antes de assistir Sweet Charity, presente lindo do Joel, havia me sentido um clown. Embora nunca tenha me considerado uma pessoa séria o bastante pra ter contador, planejar a compra da casa própria e outras coisas que pessoas sérias fazem, também nunca me senti uma palhaça.

Mas americano é foda. Pega uma história italiana cheia de entrelinhas e a decodifica pra platéia conseguir entender tudo direitinho. E, dessa vez, graças a uma notícia triste que recebi minutos antes do show (e que removeu meu filtro cor-de-rosa pra percepção da vida) e ao didatismo irritante das produções americanas, eu entendi: sou uma espécie inequívoca de clown amoroso. Está escrito na minha testa: quero dar todo meu ouro pra você, bandido. Só os bandidos conseguem ler, claro. E eu, como todo clown, não tenho a menor noção de que pregaram um cartaz na minha testa e sigo, ignorando a clara transmissão da mensagem, em busca da minha alma gêmea. Só que, se é que existe uma alma gêmea para mim, ela nunca irá se identificar com a designação do cartaz: "bandido". Da mesma forma que, antes de Sweet Charity -- que, apesar de ser um musical divertido, um Fosse circense super bem produzido, me fez chorar por dentro do início ao fim --, eu não me sabia clown.

Agora eu sei. E, olha: sei que é uma merda isso que vou dizer, mas tô morta de pena de mim mesma. Não sei do que mais preciso agora: se de uma lobotomia, de um corte de cabelo ou de um veneno infalível pra matar somente meu coração. Não meu descompassado músculo estriado cardíaco, mas essa minha fonte inesgotável de amor. Que -- apesar de ouro -- eu não nego nunca. Mas só pra pessoa errada. Ou pra pessoa certa, no momento mais errado.

A pior coisa de ser clown é a inconveniência.

Soneto de separação


Vinicius
Originally uploaded by Joel´s.

Se isto, lido nas letras miúdas de um livro, já faz o coração sangrar, numa parede então, em letras garrafais, faz o coração parar de bater.

De repente, não mais que de repente.

Revista VanOr: a revista que não nega amor nunca


Criação do Joel no Flickr, onde ele colocou uma fotinhas que dão o tom da exposição que fomos ver no Museu da Língua, em Sampa.

Sobre a revista (gracinha, Joel!), eu até que achei a moça da capa bonitinha, mas essa linha editorial (mezzo piegas, mezzo à frente de nosso tempo) não venderia nem um único exemplar neste início do século XXI. Aliás, do jeito que eu sou babaca, eu daria todas as revistas em vez de vender. Típico meu.

Não quero parecer pessimista, mas acaba de acontecer um lance que me deu uma clareza inédita sobre minhas reais perspectivas amorosas: eu nunca vou encontrar um cara mentalmente são ou geográfica & emocionalmente disponível que se adapte a este meu jeito tão franco e amoroso de ser. E a triste conclusão a que cheguei é: ou eu me transformo em algo que não sou (o que seria abominável), ou desisto dessa busca eternamente frustrante pelo cúmplice ideal (o que seria triste, pois perder a esperança é sempre triste).

Pode ser só um mood provocado pelo mau tempo, mas, a bem da verdade, estou inclinada a desistir. Como sou brasileira, vou enrolar mais um pouquinho antes de ceifar o verde do meu arco-íris e colocar um prótese de plástico com computador de bordo e piloto automático no lugar desse meu músculo estriado cardíaco todo troncho, que bate forte e involuntariamente, mas só pelas pessoas que nunca ficarão comigo.

Museu da Última Flor do Lácio


Museu da Última Flor do Lácio
Originally uploaded by Van-Or.

Linda de morrer a exposição do Guimarães Rosa!

sábado, janeiro 20, 2007

É ou não é?


É ou não é?
Originally uploaded by Van-Or.

Rosa como a vida.

Choro solto na exposição


Choro solto na exposição
Originally uploaded by Van-Or.

O cara grande no comando


O cara grande no comando
Originally uploaded by Van-Or.

Ele está quase grande o bastante pra pilotar. Ah, sim: porque sobrinho meu não dirige. Pilota.

Cara grande in Sampa


Cara grande in Sampa
Originally uploaded by Van-Or.

Acordei enroscada num cara grande. Ele não queria foto, mas a orelha eu garanti.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Sweet Charity in Sampa


Sweet Charity in Sampa
Originally uploaded by Van-Or.

Eu e Joelito esperando o show começar.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

O melhor da joelhaçoterapia endovenosa

Ao longo de todos esses anos de psicanálise (ou não!), tomei uns joelhaços fantásticos que, admito só hoje, arderam mais que pimenta no olho na hora da aplicação (mas deixaram um saldo positivo e me aproximaram bastante do que sou hoje):

Contexto: momento deprê-anoréxico, em que eu atingi meu menor peso da idade adulta.
Joelhaço (voz tranqüila e irônica): "Pois é, Vanessa, olha que interessante: com 45 kg, você tem o corpo de uma adolescente; se perder mais 5, terá o peso de uma criança; se perder mais 30, voltará a ser um bebê. E se, além disso, você ainda conseguir ficar mais magra, poderá voltar pra barriga da sua mãe. Não é legal?"
Autor: Cláudio Cals (psiquiatra e psicanalista)
Resultado: saí do divã e bati um pratão digno de larica. Recuperei os 3 kg perdidos em menos de um mês.

Contexto: depressão com pensamentos suicidas persistentes.
Joelhaço (voz de quem está lixando as unhas): "Nã... Você não vai se matar. Quem passa 3 horas por dia numa academia de ginástica e tem 2 empregos não tem tempo nem de se matar."
Autora: Maria Luíza Duret (psicóloga e psicanalista)
Resultado: eu não me suicidei; em vez disso, voltei pra yoga. Power yoga.

Contexto: luto e complexo de culpa por ter me separado de um namorado que eu ainda amava intensamente.
Joelhaço (voz intrigadíssima): "Uma pergunta: tu tens a capacidade de pôr câncer nas pessoas? Porque, se tiveres, eu tenho uma listinha de dez pra ti. Começando pelo José Dirceu."
Autora: Carmem Dametto (psiquiatra, psicanalista e minha joelhaçoterapeuta de Bagé preferida)
Resultado: Ficou o luto. Mas 95% do complexo de culpa foram pro cara*ho instantaneamente.

Contexto: Piscina condominial. Crianças gritando. Ressaca. Eu disse: "Quando criança, nunca fui de berrar assim. Talvez porque tivesse asma, talvez porque minha mãe me impusesse limites."
Joelhaço-reflexo não solicitado (soltou sem pensar, que nem pum em elevador): "Antes berrar, do que ter asma."
Autora: uma amiga psicanalista do meu ex, que me enfureceu porque falou isso sem ao menos me deitar num divã, a filha da puta! E era domingo!
Resultado: Tenho ódio dela até hoje (UHAUAHUAHA).

terça-feira, janeiro 16, 2007

O CORE tá comendo na Mangueira. :((((

Hoje não pude ver meus peludinhos: ligaram do hospital dizendo que o bicho estava pegando na Mangueira e que os portões do instituto, que fica na esquina de uma das ruas de acesso à comunidade, estavam fechados. Ninguém podia entrar, nem sair. Pensei no Bob e nos outros 119 caras que ficam sob aquele telhado altamente metralhável. Chove no Rio. E se um maluco resolver atirar justamente no telhado do canil? Meu coração ficou apertado no peito: e se uma bala perdida fura o telhado que protege meus peludos e sua ração da chuva? E se o tempo não melhorar? E se eles pegarem uma gripe? E se um tiro desses acertar justamente...

Tem coisas que é melhor nem pensar. (nem preciso dizer que estou passando mal de tanto chorar)

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Pensamento da noite (especialmente para a Sandra Pimentinha)

Não acredito em príncipes encantados.
Já me daria por feliz se encontrasse um príncipe limpinho.

When the token falls...


When the token falls...
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Flagrante de uma mulher de 34 pensando na morte da bezerra.

Mesmo doente, o pai é uma fera!

Estava aqui, fechando um trabalho, quando ouço meu pai tendo uma crise de tosse por causa duma sinusite que ele cronificou de teimoso, por automedicação. Ofereço ajuda, ele rosna que não quer nada. Enquanto o sigo pela casa, minha mãe sinaliza com o olhar: "mantenha distância: animal feroz." Pergunto a ele coisas objetivas (está com falta de ar? quando você tosse, sai catarro? a garganta arde? a cabeça dói?), e ele olha pra minha cara por dez segundos (e a carinha dele, coitado, é péssima; pro bichinho ficar assim, é que a coisa tá feia), estende a mão como um guarda-de-trânsito interrompendo o fluxo do meu falatório, dá mais cinco segundos de pausa e, quase sem voz, me paga um esporrinho: "Não fale comigo. Não consigo responder." Tenho vontade de gargalhar, porque só percebo que aquilo é um esporro pelo cenho que ele franze quando está muito zangado. Dou meia volta, mas sei que não vou conseguir dormir enquanto não tentar cuidar desse pitbull dodói marrento. Volto com remedinhos e óleos essenciais de eucalipto e cipreste. E um estetoscópio Welch Allyn Meditron, que funciona tão bem em cavalos, quanto em pais geneticamente selecionados para o combate. Mostro o esteto pra ele ver que eu não vou fazer nenhuma maldade (a gente sempre faz assim com os bichos), peço pra ele só balançar a cabeça dizendo sim-não, e pergunto: "Posso?" Ele faz que sim. Peço-lhe pra respirar de boca aberta, inspirar e expirar longamente, depois peço que a boca fique fechada, como quem não quer nada, pra ver se o último check-up cardiológico dele ainda está valendo. Quando ele pergunta por que estou demorando tanto, me faço de desentendida e declaro: "Pulmões limpos. Agora vamos tratar dessa sinusite."

Obviamente, ele não quer tomar remédio algum. Também não quer ir ao médico agora, porque a esta hora da madrugada só há residentes pré-púberes no plantão das emergências. Ele quer ir ao médico no dia seguinte sem mascarar sintomas. Explico, pacientemente, que rinosoro 3% é só água com sal, e que os inofensivos fluimucil e rinofluimucil não vão curá-lo até o dia seguinte, mas vão permitir que ele durma melhor. Talvez até, quem sabe?, deitado. Como um ser humano deve dormir. Ele aceita, rosnando com o fio de voz que lhe resta. Ainda tento empurrar um Claritin D, mas ele pede pra ler a bula e me empurra a caixa de volta: "Anti-histamínico, eu não tomo." Novamente, tenho vontade de rir, pensando em como seria difícil ter esse tipo de embate verbal com um cachorro de 80 kg: "Vacina eu não tomo, mas de jeito algum! Prefiro morrer de cinomose a ser espetado com essa agulha 25 x 7 e esse líquido gelado".

Faço pra ele uma nebulização com óleo essencial de cipreste e eucalipto. Agora ele consegue respirar pelo nariz e até falar um pouquinho mais. Quando acho que está tudo bem, que ele está bem cobertinho, bem deitadinho-sentado no sofá, na penumbra aconchegante, pergunto se ele não quer ir ao meu médico, que é um pneumo fodaço. E ele, só pra provar que é meu pai, diz: "Não. Se seu médico fosse bom, você não teria todos esses remédios em casa."

E eu juro que podia ter dormido sem essa manifestação mal-humorada híbrida de ingratidão e crítica paterna crônica.

domingo, janeiro 14, 2007

MBA em Administração Gestacional (só para cancerianos com lua em câncer)

Estou administrando (afetivamente, só na minha cabeça maternalmente doentia) duas grávidas queridas: minha Prima-irmã, Joana, e a Tati, cuja gravidez foi profetizada pelo Joel*. Entre uma correria e outra, sempre penso nelas e nas ervilhas de coração pulsante que as duas sortudas carregam no ventre. A da Joana, no terceiro mês, já ultrapassou, à esta altura, o porte de uma laranja. Ou seja: o feto da minha Prima já é quase uma mocinha (e minha torcida pra que, na próxima ultra, dê XX na cabeça!). Fico aflita por notícias, fico torcendo pra que minhas futuras barrigudas estejam descansando com as pernocas pra cima, mas quase nunca consigo encontrar tempo de chegar em casa, em horário decente, e ligar pras duas pra saber da barriga.

Eis que na semana que passou, pus na minha lista de prioridades: "monitorar minhas grávidas". Marquei um jantar com a Tati, que cozinha muito bem, por sinal; e liguei pra Prima. Ela atendeu com voz de choro. Precisei sentar pra não desmaiar de angústia: "ESTÁ TUDO BEM COM O BEBÊ?!?", perguntei quase gritando, mas me esforçando muito pra aparentar controle emocional. Ela me tranqüilizou, eu fiz respiração de cachorrinho e consegui fazer meu coração parar de tentar pular pela boca para ouvir o motivo da tristeza da Prima: ela foi intimada pelo senhorio de seu apê a dar ou descer: ou melhor: ou comprar, ou sair. E ele, obviamente -- que depois de sogra, a raça que eu mais detesto é senhorio --, chutou uma valor quatro vezes acima da linha do absurdo, e isso arrasou minha assalariada prima, que já estava decorando o quarto dA bebê (pensamento positivo!). Eu prometi a ela que a ajudaria a encontrar um apê bacana em tempo recorde, e já mobilizei todos os meus contatos. Contudo, não custa nada pedir encarecidamente pra vocês acionarem os de vocês e sondar se alguém está vendendo ou alugando um apê bacaninha pra uma preciosa mamãe, um papai-canguru e uma bebezinha que chega em junho.

O que a Joana busca em um imóvel-urgente-urgentíssimo é, em suas palavras,

"um dois quartos (no mínimo) com dependências, e com aluguel chegando ao máximo de R$1.000,00. Estamos estudando qq bairro."


Eu prefiro que seja em Botafogo, porque fica mais perto de mim.

Há a possibilidade de compra, dependendo do imóvel e mil outras variáveis, que só a Joana e o Beto poderão explicar melhor. O e-mail da minha Prima Joana em busca de ninho é jodv@globo.com. Por favor, se souberem de alguém que tenha a oferecer um imóvel desse tipo, escrevam pra ela. Ou pra mim. E eu lhes serei eternamente grata. Uma mãe não pode passar pela angústia da decoração do quarto do bebê no oitavo mês.


*Joel, vê se você descobre aí quando eu vou ficar grávida. O Greg erra todos os anos essa merda.

Citação do dia

A foolish consistency is the hobgoblin of little minds.*
(Ralph Waldo Emerson)
*intraduzível, mas tem tudo a ver com a complementação do último post.

sábado, janeiro 13, 2007

Tragicomédia da vida privada, com Zezé Polessa.


Tragicomédias da vida privada, com Zezé.
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Talvez por isso eu nunca tenha me casado. Tenho medo da degradação humana impelida pela sociedade das mentes pequenas.



Atualização/ Complementação prolixa desse post-shit:

Quando eu escrevi as apressadas linhas deste post pelo T9 do meu celular, imaginei que geral interpretaria: "essa maluca está desdenhando justamente o que quer comprar". Não se trata disso. Acho casamento uma coisa linda quando as duas partes acertam na escolha. Foda é acertar. E acertar, pra mim, não tem o caráter cristão-hipócrita-fatalista preconizado pelo artigo primeiro da Constituição dos Infelizes, que roga que o casamento deve durar "até que a morte os separe".

Eu sou da escola do Poetinha, gente:
"Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas que seja infinito enquanto dure". E, nesta vida nem tão curta assim, eu já compreendi que o amor não dura para sempre. Que a paixão -- e isso já provaram os americanos, que nunca têm nada pra fazer além de estudos antropo-sociólogicos esquisitos, com análise estatística e tudo -- dura até 2 anos. Depois, se o tesão não acaba, se a tolerância persiste, se a compreensão do outro evolui, o amor, aquele amor que leva uma pessoa a juntar os trapinhos com outra, se transforma noutra coisa. Talvez adoração. Talvez apego histórico-afetivo. Talvez preguiça de voltar pro front. Talvez cumplicidade. Talvez economia. Talvez teimosia. Mas, feitas todas as somas e subtrações, nas uniões que funcionam, o amor se transforma em alguma coisa com saldo positivo. E eu conheço casais muito queridos que sabem exatamente do que eu estou falando.

Sou contra o casamento impingido pela mediocridade mental. E os principais motivos do casamento medíocre, que levaria uma pessoa a dizer "sou infeliz, mas sou casada", são:

1. No caso das mulheres: medo de ficar pra titia (leia-se: medo de não casar antes que a juventude passe);

2. No caso dos homens: medo de passar por viado ou galinha irrecuperável (mesmo que, casado, continue um galinha irrecuperável, o que é um tipo incontestável de viadagem);

3. Urgência de provar ao ex-amor (geralmente o still-amor não resolvido), e aos familiares & amigos em geral, que aquela página está virada. Como se isso importasse a qualquer um que não o ator da própria infelicidade.

4. Dependência financeira. O clássico "casar pra sair de casa" ou "casar pra ter alguém com quem dividir as contas". Ou, pior, mais nojento e asqueroso ainda: casar pra poder parar de trabalhar e ser sustentada por um marido machista, que dá casa, manicure e roupas de grife lavadas, mas que em paga exige a humilhação cotidiana da subserviência.

Isso tudo, pra mim, é degradação humana. Quando escrevi 2 linhas pelo celular, quis dizer isso. Mas meu poder de síntese ruim não vem acompanhado de vibrações telepáticas.

Exceto pras pessoas que realmente me conhecem.

Não pensem que nunca me pediram em casamento. Não pensem que nunca considerei me casar com alguns desses. Mas, noves-fora-zero, identifiquei na minha lista de "prós" algum dos motivos acima. E então, claro, fui contra. Prefiro ser feliz.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Longe é um lugar que não existe.


Longe é um lugar que não existe.
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Da orla do Rio, se vê Niterói. Há um vilarejo ali, onde areja um vento bom.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Rotina alternativa 24h/dia


Rotina alternativa 24h/dia
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Correr à noite pra não cair na tentação da naite. Uma canção francesa ne me quite pas no Ipod. Algumas pessoas peidam despudoradamente. Deviam criar um neutralizador de butano para academias.

A orelha sarou!


A orelha sarou!
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Este é meu cãopanheiro, Bob. Estamos absolutamente apaixonados um pelo outro. Torçam pra que eu ganhe na mega hoje, pois assim que eu tiver uma casa grande o bastante pra nós dois (e um carro com ar condicionado), levarei o Bob pra mim. E seremos felizes para sempre.

terça-feira, janeiro 09, 2007

Traição

Venho por meio deste humilde post revelar à toda blogosfera que eu estou sendo infiel ao meu namorado, Luca. Digo isso sem o menor traço de orgulho, pelo contrário: acho traição uma coisa bárbara, agressiva e asquerosa. E o Luca não merece uma namorada infiel: o cara é ruivo, sarado, tem olhos cor de mel, sempre usa um acessório bacana pra me ver, mora de frente pra Lagoa, sabe sentar e dar a patinha, baba pouco, toma banho toda semana, enfim... é um tipão. Dizem até que ele tem pedigree, mas como eu sou mestiça (tão mestiça que sou quase pura por cruza!), lá de onde eu vim essas coisas não têm a menor importância. Sei que ele é tudo o que uma mulher podia querer num cão, mas não dou nem pelota pra raça de nome estrangeiro que ele tem.

Não quero que vocês pensem que eu não gosto do Luca. Por favor, não me interpretem mal! Eu amo o cara! Quando a gente se vê, a gente se embola no chão, se beija com paixão e faz coisas que deixam qualquer ser humano com muito nojo de mim. É que a gente tem essa química de pele com pêlo, uma coisa meio louca e arrebatadora, sabe? Mas ainda assim, ainda sendo o Luca tudo que eu sonhei num namorado canino, o coração tem razões que a própria razão desconhece. Enamorei-me dum neguinho sem raça definida, lá do canil municipal da Mangueira. Um típico cãovelado. Eu o chamo de Bob, mas pro resto das pessoas ele é "o pretinho do G". Eu chegava no canil e os 120 cães começavam a latir, ora reclamando da minha atrevida invasão de território, ora clamando por minha atenção. E dentre os latidos que pediam meu carinho, e eu poderia dizer, sem medo de errar, que eram pelo menos 50 latidos de todos os timbres e volumes, eu passei a reconhecer o do Bob. E ia lá falar com ele. A gente se beijava pela grade, rápida e furtivamente, pra que ninguém nos visse, e quando dei por mim, já estava enchendo o bolso de doguitos de todos os sabores, pra fazer-lhe uma surpresa diferente por dia. E assim, pouco a pouco, eu e Bob criamos uma ligação tão forte que minha consciência afundou, com o peso de mil pianos de cauda, pela infidelidade que eu estava cometendo com o meu mais que adorado Luca.

Hoje ocorreu um episódio que, finalmente, deu uma guinada em minha vida afetiva: cheguei ao canil coletivo e não ouvi o latido do Bob. Senti meu coração saltar pela boca, só de imaginar que alguém poderia ter adotado meu namorado canino sem antes ter passado por uma rigorosa sabatina (sabe fazer cafuné? pode passear com ele 4 x dia? mora de frente pro mar? o carro tem ar condicionado, pra eventualidade do Bob precisar pegar uma carona na fresca?). Fui ao G, onde o Bob mora e, pro meu desespero, lá estava ele: amuado, nariz inchado, olhos vermelhos, orelha furada e com um pequeno filete de sangue escorrendo-lhe pelo pescoço. Os camaradas do canil tinham coberto meu Bob de porrada, na maior covardia. Ele estava envergonhado de ser visto naquele estado caótico, mas eu fingi que não percebi sua petição de miséria e o tirei dali imediatamente. Levei-o pra passear no jardim e tivemos uma série conversa sobre essa necessidade que eles (os caras) têm de brigar pra mostrar quem manda em quem. Expliquei que eu era dele, só dele, e que os outros podiam falar o que quisessem, mas que ele não ligasse pra nada, pois só o meu amor por ele já era o bastante pra que ele se sentisse o alfa; ou em alfa. Levantei a moral do Bob antes de colocá-lo na mesa do ambulatório, onde ele escondeu persistentemente a fuça no meu sovaco pra que eu não tocasse em seu dodói. Fui delicada, o mais que pude, e limpei aquela bagunça toda. Dei mil rosnados só de pensar nos caras que bateram no meu peludinho preferido e dei-lhe muitos doguitos, toda vez que ele me deixava cutucar sua orelha perfurada a dente. Depois, porque eu sou covarde, chamei um auxiliar pra me ajudar a dar uma injeção dolorida de benzetacil no meu bobinho. E garanto que doeu mais em mim do que nele, que nem reclamou, de tanto que me ama.

Findo o curativo e a sessão de cafunés (só na orelha boa), entrei no canil antes dele e tive um particular com os outros caras. Eles escutaram, envergonhados, e entenderam que tinham se excedido. Tudo podia ter se resolvido ali, naquela conversa, mas quando o Bob entrou no canil novamente, a porrada comeu geral. Culpa minha: afinal, eu não tinha nada que ter dado moral justo pro cara que apanhou, mas eu dei meu jeito de contornar a situação, cocei a barriga de todos, fiz curativo num branquelo que saiu mancando da primeira briga e, no final do dia, tomei uma decisão: vou terminar com o Luca.

Não dá pra amar dois caras ao mesmo tempo, porque quando a gente ama, é claro que a gente cuida. E pra cuidar de dois... haja tempo!

Pensamento paranóico-desesperado do dia

Um ser humano sabe que atingiu o fundo mais profundo do poço quando não tem tempo nem de ler, muito menos de responder e-mails, que dirá correr! Ou seja: no fundo do poço*, há oito quilos com a boca arreganhada, cheia de dentes, esperando pra invadir este corpitcho que não lhe pertence.

*Fundo do poço sempre me lembra daquele Chacalzinho básico, intitulado "Delírio Puro", que diz mais ou menos assim: "No fundo do poço em que me banho/ há uma claridade que me namora toda vez que vou ao fundo/[...]/No fim do fundo, eu te amo." E eu digo mais: vou correr hoje, custe o que custar. Porque no fim do fundo, eu me amo.

domingo, janeiro 07, 2007

Liberté, egalité, "voluntarié" (ou, pros preciosistas, bénévolat -- à la vonté!)

Eu podia estar aqui roubando, matando, estuprando ou até pregando o evangelho, mas estou só fazendo propaganda do voluntariado, uma experiência que está mudando minha vida como eu imaginei que só a maternidade seria capaz.

Não deixa de ser uma transferenciazinha, mas com todo esse amor que eu tenho pra dar, e poderia dar pra uma pessoa só (o que seria dum egoísmo escroto), o voluntariado se tornou um exercício regular de distribuição do meu infinito afeto para peludinhos sem-teto.

Eu comecei devagar e com cautela, e ainda estou caminhando a passos de lesma, até porque tenho medo de virar uma militante maluca, daquelas que tiram toda a roupa e se acorrentam a uma árvore centenária em vias de ser cortada para permitir a construção de uma rodovia. A minha tendência, obviamente, e até porque eu não nego amor nunca, é justamente essa: ficar bem, mas bem maluca mesmo! Ou alguém aqui tem alguma ilusão de que os ativistas do Greenpeace e do PETA são pessoas mentalmente equilibradas?

Agarrar uma causa nobre e se empenhar pra mudar o mundo (ainda que só um tiquinho-assim) através dela muda a vida de qualquer pessoa. Analisando isso num nível rigorosamente racional, como um engenheiro o faria, qualquer pessoa que leia jornal no Brasil ou que não tenha nenhuma debilidade mental alienante sente uma impotência escrota diante da corrupção, da miséria, da concentração de renda e tantas outras coisas que fazem meu sangue ferver só de pensar. Cada um com seu discursinho -- uns dizendo que a solução é blindar a vida, outros dizendo que só uma revolução pra mudar essa bagunça --, mas a verdade é que todo mundo se sente impotente a seu jeito. Ver uma criança no sinal pedindo esmola debaixo de chuva, um doente morrendo de câncer porque a verba da saúde foi desviada pr'algum esquemão, um cachorro vagueando atordoado dentro do Rebouças... tudo isso faz a gente passar batido, entre 80 e 100 km por hora (porque se eu paro, eu penso; e se eu penso, enlouqueço) pela cena e sentir o coração exclamar: puta merda!

Exclamar palavrões e discutir política aos gritos, entre uma gelada e outra, não resolvem nada. O que alivia nossa impotência diante de coisas que, pensando de forma bastante otimista, só nossos bisnetos verão melhorar, é arregaçar as manguinhas hoje mesmo e fazer algo. Se juntar a um grupo ou uma ONG bacana, dessas raras que existem pra fazer e acontecer mesmo, e não apenas pra mamar nas tetas do esquemão. Bater numa porta dessas e perguntar: ei, cara: posso ajudar de alguma forma?

Desde que comecei a trabalhar, ainda que de forma minimalista, como voluntária do SOS Vida Animal, por indicação da Bia Petri (que eu amo ainda mais por isso!), fiquei sem tempo de ficar deprimida. Ou impotente. Ou imprestável. Ou idiota, porque votei no filho da puta errado; ou no filho da puta certo, que não foi eleito. Fiquei sem tempo até pra dormir o tanto que eu gostaria, mas ganhei tanto em alegria, que meu tesão pela medicina veterinária voltou. E voltou pra ficar. Eu tenho a profissão mais bonita que existe. E o que mais me orgulha nela é saber que eu posso mudar o mundo através do trabalho que faço diariamente para mudar a atitude das pessoas em relação aos animais e às próprias pessoas. Um veterinário consciente de seu papel como educador e formador de opinião, ensina, entre uma vacina e outra, noções importantes de posse responsável, controle de natalidade e cidadania.

Não há nenhum mérito em ser correto com o seu igual: isto é mera obrigação. Mérito há, e muito, em ser correto, gentil e respeitoso com uma criatura completamente submissa à toda nossa força, fúria e maldade. É quando abrimos mão de nos blindar contra as mazelas do planeta e passamos a combatê-las, como os idealistas guerrilheiros que a ditadura calou, que encontramos nossa melhor chance de viver numa taba melhorzinha. Afinal, parece que a Terra é gigante, mas vista do espaço é só uma bolinha que flutua no azul profundo. E estamos todos no mesmo barco.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Petit-pois

Darumá. Rima com Petis-Pois.



Quando uma mulher psiquiatricamente normal toma conhecimento de sua gravidez, o bebê que ela gera no ventre é menor que uma ervilha. Isso me faz chorar toda vez que vejo um homem de 1,90m (que já foi ervilha -- pasmem! -- um dia).

***

Hoje falei com uma graça de baianinho mezzo francês, mezzo soteropolitano que eu conheci em Salvador neste Natal, o Mauro. Desligado o telefone e mediante o enlevo do reencontro vocal, de repente, me deu uma vontade maluca de voltar a estudar na Alliance pra depois passar uma temporada morando em Bordeaux (fazendo colheita de uva em troca de um prato de comida, de um bom vinho e um canto pra estender meu saco de dormir). Ou talvez seja vontade de fazer biquinho e dizer ah, bon!, como quando digo "ah, é?" sem levantar suspeitas de que caguei e andei pra notícia, dando pinta de muito pelo contrário. Ah, bon! e Ah, é?, dependendo da situação, são os mais perfeitos equivalentes politicamente dissimulados do desprezo profundo contido no inglês "oh, really?", pronunciado assim, letra a letra, como que pra conter o vômito. É por isso que eu amo a língua do Shakespeare: a entonação e a forma como a sobrancelha se move (ou não) ao falar, dizem mais que mil palavras.

***

Conversando ontem com o grande Alex Ferro, cheguei à conclusão de que o que mais me faz falta num namoro é a cumplicidade. Aquele lance de olhar pruma carinha e saber, sem ter de perguntar coisa alguma, que há algo de podre no Reino da Dinamarca. Ter uma percepção canina do outro. Ou então deitar na cama, continuando um papo que a escova de dentes interrompeu, falar até adormecer (no meio de uma frase sem nexo) e acordar sem lembrar em que parte do assunto paramos. E começar tudo de novo durante o café da manhã ou em meio aos cadernos do jornal espalhados pelo chão.

Foi aí que eu descobri, burra velha já, que qualquer tipo de relação estável madura não está primariamente relacionada ao sexo ou ao amor, como se pensa, e sim a essa urgência visceral de se encontrar, no calor do abraço do outro, o encaixe perfeito pra partilhar, ao pé do ouvido, todas as coisas mais importantes da vida. Sabendo disso assim, tão claramente, encerro hoje, oficialmente, minha busca por um par romântico, qualquer que seja. Se meu lance é cumplicidade, tenho mais o que fazer que buscar o impossível: as pessoas não são treinadas, nem na escola, nem na vida, para a honestidade ou para a cumplicidade, e sim para a mentira, para a vaidade, para o egocentrismo.

Além disso, tenho essa impressão sutil, graças (ou desgraças) ao meu histórico afetivo de desonestidade masculina (foram uns poucos, mas que fizeram estragos insanáveis), que seria mais fácil encontrar cumplicidade numa mulher do que num homem. Talvez em Bordeaux, talvez em NYC. Aqui, não. O Rio ainda não está adaptado aos gays, infelizmente. Quem sabe o eleitoreiro Minc não cria uma lei pra amordaçar e esterilizar os pitboys e caretas hostis em geral?

Acho que nenhuma criança merece um pai que não seja cúmplice de sua (a da criança) mãe. O amor, essa chama eterna só enquanto dura, pode até mesmo acabar, mas a cumplicidade dos pais na criação dos filhos tem de perseverar. Caso contrário, melhor é ter um cachorrinho. Com filho não se brinca. Prefiro morrer maluca e maníaca, cercada de 100 peludinhos, como Camille Claudel, que ter filhos com um ser humano que não tenha, no mínimo, a hombridade e a fidelidade de um cão.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Eu amo tudo, carajo!


Eu amo tudo, carajo!
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OK, admito: tou super precisando dum tarja preta mais forte..

Amo chuva e o calor da Lapa.


Amo chuva e o calor da Lapa.
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Eu amo o meu trabalho!


Eu amo o meu trabalho!
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Frases motivacionais num ambiente tipicamente mulherzinha, com difusor de aroma anti-TPM, canetas de todas as cores e chá. Muito chá de camomila e lenço de papel pra atender potenciais adotantes ou abandonadores de bichos, além dos sofridos clientes do cemitério e do crematório de pequenos animais.

terça-feira, janeiro 02, 2007

Adeus ano velho, feliz ano novo!

Estou reinaugurando apenas hoje, depois de muitos dias, minha disponibilidade físico-geográfica-afetivo-temporal de estar na frente do computador para: escrever posts, responder e-mails (tantos e tão lindos!), visitar outros bloguitos e, at last but abfabulously not least, pesquisar o que fazer no carnaval de Salvador.

Meu Nêgo de Deus, Marcia Motta e Ana da Bahia, se preparem: eu vou me acabar nessa folia! Já combinei com meu sobrinho que me fantasiarei de Mulher Gato e ele, de Super Homem (ou O Super Incrível Engolidor de Pilhas). Vou ser a penetra mais persistente da cidade e, enquanto eu não invadir todos os camarotes, trios e festas que meu humilde contracheque veterinário jamais permitiria comprar (money is only paper, babe, e valham-me os amigos nessas horas!) o carnaval não vai acabar. Preparem-se: em 2007, o carnaval só acabará em agosto. E tenho dito!

Pois bem. O balanço de 2006 foi positivo. Morreu a mulher de 33, uma louca varrida, campeã dos homens impossíveis, viciada nessa coisinha careta de casar e ter filhos (coitadinha dela!), mas (res)surgiu das cinzas, tal qual um Phoenix estabanado, uma mulher de 34 que decidiu ser magra novamente, retomar o curso de sua vida independente de qualquer-cueca-e-foda-se, detonar todos os maus espíritos que a arrodeavam e conhecer -- às vezes com muita insistência, às vezes nem tanta -- muitas das pessoas adoradas que freqüentam este quartinho onde eu ora circulo nua (afetivamente falando), ora dragmente fantasiada de personagens que eu crio e abandono quando dão o que tinham que dar. E chega um momento em que toda personagem descobre a merda que é não ser gente de carne e osso. Que gente mesmo, gente, de carne e osso, sentimento e pele, calor e coração... putz, gente é uma coisa extremamente foda. Eu amo gente! Mas eu 2006, eu descobri que sou um cachorro. Cachorro também ama gente, embora não tenha a menor noção de que gente não é cachorro. Aliás, cachorro é quase gente, mas como não foi expulso do Idílio, como não comeu a maçã e aquelas coisas todas que Michelangelo pintou no teto da Capela Sistina, como caga e anda pra Deus e pra maldade dos homens, como é fiel àquilo que acredita, cachorro é tudo o que eu quero ser nesta vida. E vejam bem: eu sou um cachorro sem raça definida. Vira-lata. Como meu Povo Brasileiro e minha Princesa Radija, embora eu seja proibida de dizer isso aqui em casa, porque nós combinamos que mentiríamos sobre a genealogia deles, pro resto de nossas vidas, pra que nossos peludos não fossem vítimas do preconceito medonho que o bicho homem inventou. E por isso dizemos que o Povo é um nobre Galgo Iraquiano, poderoso soltador de armas químicas, e a Radija é uma digníssima Pastora Islandesa. Como se houvesse gado na Islândia! Como o cachorro supera o homem nessa coisa da estereotipagem e do preconceito!

O Joel, que é uma das pessoas mais queridas (embora engenheiro, ha ha ha) que eu conheço, veio aqui em casa, em pleno transtorno do último dia do ano, me trazer as romãs que eu não encontrei no Hortifrutti. E eu tomei um vinho com ele, mas como ele não bebe, eu bebi por nós dois. E aí, quando dei por mim, quando 2006 acabava e eu nem tinha tomado meu banho de rosas brancas e sal grosso ainda, e nenhuma companhia de táxi tinha carro pra me buscar, só me restou ir à Ipanema, onde eu romperia o ano numa festa no nove, de bicicleta. Eu, de branco, bêbada, numa bike rosa choque sem pára-lama, pedalando numa rua tão vazia que dava pra subir viaduto no meio da pista, chuva na cara, vi o ano nascer no Corte do Cantagalo: o delírio dos fogos, a chuva, o vento, o viaduto, a rua só pra mim, aquela sensação boa de que o ruim ficou pra trás, que o vento levou.... eu soltei as mãos do guidão e gritei: LIBERDAAAAAAAADE, PORRRA!!! E tive essa sensação muito boa -- e muito forte -- de que 2007 vai ser bom pacarajo! Cheguei à festa coberta de lama, mas fui tratada pelos amigos do Lau (e pelo pai global da minha prima Joana, grávida, querida!), e por ele próprio e por todos, como se eu estivesse limpinha, lindinha, penteada e maquiada. E nessas horas eu penso: imagem não é nada: sentimento é tudo. E-U A-M-O O-S M-E-U-S A-M-I-G-O-S!


Eu ensinei a simpatia da romã pra todo mundo: que tem que chupar sete caroços, fazer sete pedidos e jogar no mar no dia de Reis, etc. Mas como eu fui de bicicleta pra minha festa de reveillon e não estava sóbria o bastante pra pedalar de volta pra casa, fiz uma travessia de uma hora e quarenta minutos do nove à Botafogo, debaixo de chuva, achando tudo lindo, perdi as sementinhas de romã que eu chupei à meia noite e 12 minutos. Vou dar uma de João-sem-braço e chupar as sementinhas hoje de novo, fazer os pedidos e blá blá blá. O que importa é a fé, e ela não costuma faiá.

Antes de desejar a todos um 2007 repleto de saúde e realizações, preciso propôr um brinde (eu já estou bebendo há duas horas, mas nunca é tarde pra vocês começarem) à Tati, uma querida das antigas que eu reencontrei pelo blog, que está, neste exato momento, enquanto teclo essas ébrias linhas, gerando um filho no ventre. E só de escrever isso, meus olhos enchem de uma água, que tanto pode ser lágrima, quanto leite materno, e eu sinto cada vez mais certeza de que o ano que acaba de nascer será repleto de amor, criações extraordinárias, superações e saúde pra todos vocês, meus queridos.

Que a gente se encontre muitas vezes neste ano bom, e que este quartinho, tal qual o coração da mãe que eu nasci pra ser, acolha sempre, com o proporcional carinho, a presença de vocês.

segunda-feira, janeiro 01, 2007

O amor que veio de Cuiabá


O amor que veio de Cuiabá
Originally uploaded by Van-Or.

Meu ano começou com abalos sísmicos e tsunamis de tantos pulos de alegria e lágrimas de emoção que eu verti ao receber, hoje de manhã, uma caixinha encantada - a própria canastra da boneca Emília - enviada pela Jussara S! Linda, tô chorando até agora. Amei tudo, mas o que me fez desabar de chorar mesmo foram as cartinhas.

Festa da virada.


Festa da virada.
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Feliz ano novo, queridos!