Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quarta-feira, outubro 31, 2007

Saudade, amor e gratidão.


Às vésperas do dia de Finados, e não à toda, percorri o cemitério de pequenos animais do meu trabalho em busca de inspiração para um texto sobre luto. Mais especificamente, o luto pela perda de um animal de companhia. Tudo nas lápides que lia me levava a concluir que o bom convívio de uma pessoa com seu peludinho inevitavelmente resulta em amor -- e um amor tão gigante que, como falou Kundera, chega mesmo a escandalizar --, gratidão e, eventualmente, porque a vida não é perfeita, em saudade. Uma saudade impossível de se colocar em palavra, e olha que saudade já é a palavra mais exata que existe, dentre todos os idiomas do mundo, pra designar essa dor que não tem cura.

Na verdade, como profissional de Saúde Pública, eu deveria usar esse texto como prelúdio para explicar (a essa gente que precisa de explicação pra tudo) que quando o cadáver de um animal é displicentemente jogado no lixo ou mesmo dignamente enterrado no fundo do quintal ou no parque preferido do bichinho, ele pode contaminar o solo e os lençóis freáticos. É por isso, e não por ser excêntrico ou exótico, que a prefeitura do Rio oferece à população os serviços de um cemitério e de dois crematórios de pequenos animais.

Mas aí, quando me pus cara a cara com o luto, com tanta saudade e gratidão ("pelos 15 anos de alegria", "pela maravilhosa companhia"), fiquei com o texto institucional engasgado na garganta. Flagrei-me fazendo contas pra saber a idade do Povo Brasileiro e da Princesa Radija, sempre errando pra menos, por mais que eu me concentrasse, e então novamente me lembrei do Kundera em "Insustentável Leveza do Ser": ele teria me dado uma bronca feia, pois eu estava pensando nos meus peludos com a consciência pesada da morte. É certo que eles estão bem vivos e, enquanto a vida sorri ou abana a cauda, não se deve pensar em sua antagonista. Fim de papo. Não quero mais escrever sobre luto, eu não sei escrever sobre luto. Só uma pessoa emocionalmente inteligente pode falar sobre luto, e isso não é pra mim.

***

Saudade, amor e gratidão.
Saudade, amor e gratidão.
Saudade, amor e gratidão.

***

Quando perdemos um amigo tão querido, devemos entrar em quarentena afetiva -- sim, há os que chamem isso de luto --, pra dar uma chance pro coração reencontrar seu compasso. A duração dessa quarentena não depende do tamanho do amor, nem da saudade, e sim da subjetiva e individual capacidade de aceitar alguns fatos burros da vida. Como este: se o cão é o melhor amigo do homem, por que foi feito tão menos longevo?

Não quero mais falar sobre luto, pronto. Eu não posso, não é pra mim.

segunda-feira, outubro 29, 2007

Blindagem carioca


Blindagem carioca
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Funciona, mas há controvérsias.

Tédio mata a gente, morena.


Tédio mata a gente, morena.
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Eu devia ter trazido um livro, uma cesta de croché ou um boi pra amolar.

Casa de ferreiro...


Casa de ferreiro...
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A Cuíca, gata da Rita, tem essa mania de tomar água do copo da gente. Enfia a pata lá dentro e leva à boca, em concha. Eu acho lindo.

Distração


Distração
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Hoje eu já escovei os dentes com pomada antibiótica e coloquei adoçante na coca-cola. Esqueci onde estacionei minha bike e descobri que ela estava no mecânico. Quebrei uma garrafa de amaretto no supermercado e comprei lírios achando que eram gérberas. Acho que esse dia tá bom pra acabar. :o(

domingo, outubro 28, 2007

Rio, City of Splendour -- presente do Aldo

Este é um documentário de 1936 sobre a Cidade Maravilhosa. Dá vontade de chorar, sobretudo do minuto seis em diante, porque eles explicam como as borboletas do Brasil entraram todas em extinção pra virar souvenir.

Recomendo -- aos cardiopatas, ecologistas, ufanistas e anti-racistas em geral -- que assistam o filme completamente sem som. Não vale a pena escutar nada do que está em inglês, mas o vídeo é precioso pelas imagens coloridas e maravilhosas daquele tempo que, graças aos céus, de certa forma, não volta mais.

Duração: 7min54seg

quinta-feira, outubro 25, 2007

A little mite from my friends

Quando eu era criança, tive sarna umas dozes vezes. Meu beagle, o Polaco, era rueiro, sarnento e assintomático. O cara dormia na cama comigo, claro, e quem se fodia era eu, claro. Às vezes, minha sarna era tanta, que o cachorro se coçava só de me ver. O sabonete padrão lá de casa era o Acarsan, um remédio quase homeopático pra sarna hoje em dia, mas que até hoje fede pra caramba. Acho que nunca fui uma criança cheiruda por causa do Acarsan, que fedia mais que Rexona ou desodorante da Avon. Se não me falha a memória, ele tinha até um cheirume de enxofre. Meu cachorro tinha um certo preconceito do meu cheiro de Acarsan, mas como ele era o algoz da sarna, relevava e se resignava a dormir comigo, desde que pudesse usar mais da metade do meu travesseiro. Foram os dias sarnentos mais felizes de minha vida.


Depois do Polaco, passei um tempão sem ter sarna. Depois de tanta sarna, toda picada de mosquito que coçasse parecia ser um presságio da parasitose pra mim. Criei paranóia. Já era grande demais pra feder a Acarsan.

Entrei pra faculdade e comecei a namorar geral. Um belo dia, ouvi meu namorado-Beto -- um estudante de veterinária já metido a mochar boi de fazenda -- dizer: "Melhor não me abraçar, não, que eu acho que tou com sarna." Pra quem não entende nada de sarna porque não teve contato com a natureza, eu explico: essa é uma doença que se pega no mato (ou de bichos que vivem no mato). Foi o Beto me dizer isso, que eu ri de me acabar. Disse, gargalhando: "Já tive tanta sarna, meu filho, que fiquei imune. Não pego mais."

No dia seguinte, no entanto, lá estava eu esperando a única farmácia de Seropédica abrir pra comprar a merda do Acarsan. Me fodi de verde amarelo. A sarna transmitida por pessoas parece ser mil vezes mais virulenta que a sarna transmitida por cães. Ou talvez o Acarsan tivesse ficado menos eficaz depois de tanto tempo.

Depois do Beto-veterinário, eu passei muitos, mas muitos anos mesmo, sem ter sarna. Se tinha um cachorro sarnento na clínica que ninguém queria pegar, eu pegava. Tenho pra mim, até hoje, que sarna é doença que só dá em quem tem medo de ter. Infelizmente, esta foi outra convicção que caiu por terra quando namorei um inglês, do tipo alto e de olho azul que a gente nunca imagina que terá sarna. Ele morava em um apartamento alugado por temporada que tinha sarna no colchão. Aí, pegamos sarna: ele e eu. Fiquei tão puta, mas tão puta! -- tudo bem pegar sarna dum cachorro ou até dum estudante de veterinária que mocha boi no mato, mas dum inglês, caralho!!! --, que marquei uma emergência na dermatologista. Ela me pôs num encaixe que durou 6 horas, mas eu esperei porque estava muito puta, doida pra saber das últimas novidades venenosas contra sarnas e ingleses. Ela prescreveu uma loção e eu comprei logo dois frascos, um pra mim e um pra ele. Expliquei que era pra ele passar em todo o corpo, que não podia deixar um milímetro de fora, e que a gente ia incinerar aquela merda de colchão e todas as roupas de cama. Mandei ele deixar toda a roupa de molho em água sanitária mega-ultra-super concentrada e, dois dias depois, só tinham sobrevivido duas peças de roupa do coitado. Ele achava tudo ótimo, pois culpa era seu nome, e confesso que eu não deixei barato. Fiz cobranças coloniais até injustas, do tipo: "quem é o porco subdesenvolvido aqui, heim?".

Dois dias depois da campanha do Povo Contra a Sarna-Frankstein, ele me liga. A voz acusava que estava nos últimos estertores: "Something is very wrong, dear." Fui ver o que era. Cheguei lá, ele me recebeu de sarongue. Melhor dizendo: de canga. O cara estava nu, enrolado na minha canga rosa da cintura pra baixo. E de óculos. Sentei no chão do corredor e me mijei de rir. Ele me pôs pra dentro, pois era do tipo discreto. Expliquei a gargalhada: "Claro que tem alguma coisa errada: não é assim que homem vai à praia no Brasil, dear." E ele: "Você não está entendendo, dear. Eu não consigo vestir uma cueca desde que passei aquela loção no corpo todo. Esse medicamento assou minhas partes íntimas."

Eu adoro esse jeito polido-contido dos ingleses. Um brasileiro teria dito coisa muito pior.

Pedi pra ver o dodói com olhar clínico e fiquei tão chocada que mordi a língua e tapei a boca pra não gritar de horror, sob a canga: o cara estava com a virilha e adjacências em carne viva, um troço nojento à vera. O novo remédio pra sarna era realmente sinistro: aparentemente, matava carrapatinhos e outros bichos ainda mais pluricelulares. Marquei outra emergência com minha dermato e salvei a vida do inglês. Custou, mas salvei. O namoro durou muito pouco depois disso, pois restaram várias lembranças ruins que a gente, sobretudo ele, não superou.

***

Há exatos nove anos que eu não tenho sarna. Tenho me enroscado nos bichos mais sarnentos que encontro pela frente, sempre na esperança de desenvolver imunidade a uma nova cepa de sarna, e acho que tem dado certo. Por sorte, também nunca mais me deitei com ninguém -- nem homem, nem cão -- com sarna. Mas apesar das evidências, fico pensando cá com os meus botões: como é bom ter um pouco de sarna pra se coçar! A vida rigorasamente asséptica é uma chatice.

Ainda sem nome


Ainda sem nome
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Adoro dias chuvosos. Os bípedes ficam especialmente mais grudentos em dias chuvosos.

Cow parade in Rio


Cow parade in Rio
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Mais uma vaquinha fofa. Ipanema está cheia delas, sem ofensa às vacas, claro!

Piscinão de Botafogo


Piscinão de Botafogo
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Chove tanto que o Rio ganhou mais um curral aquático eleitoral.

A cidade está cheia de vacas


A cidade está cheia de vacas
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Esta aqui vai à praia mesmo quando chove.

Parlamentares X Cassetas

Não verifiquei a veracidade dos fatos, mas a quando a idéia é maravilhosa, foda-se!

Recebido por e-mail da TeAmo:


Câmara se queixa do "Casseta & Planeta".
O Globo (Brasília)

Pressionada por deputados, a Procuradoria da Câmara vai reclamar junto à Rede Globo pelas alusões feitas no programa "Casseta & Planeta" exibido terça-feira passada.

Os parlamentares reclamaram especialmente do quadro em que foram chamados de "deputados de programa". Nele, uma prostituta fica indignada quando lhe perguntam se ela é deputada? O quadro em que são vacinados contra a "febre afurtosa" também provocou constrangimento.

Na noite de quarta-feira, um grupo de deputados esteve na Procuradoria da Câmara para assistir à fita do programa. Segundo o procurador Ricardo Izar (PMDB-SP), duas parlamentares choraram. Izar se encontrará segunda-feira com representantes da emissora, para tentar um acordo, antes de recorrer à Justiça.

O presidente da Câmara também se disse indignado: - O programa passou dos limites. Eles têm talento suficiente para fazer graça sem desqualificar a instituição, que garante a liberdade para
que façam graça.

O diretor da Central Globo de Comunicação, Luís Erlanger, disse que a rede só se pronuncia sobre ações judiciais, depois de serem efetivadas. Os humoristas do Casseta & Planeta não quiseram falar sobre o assunto, dizendo não querer "dar importância à concorrência".

NOTA DE ESCLARECIMENTO:

Foi com surpresa que nós, integrantes do Grupo CASSETA & PLANETA, tomamos conhecimento, através da imprensa, da intenção do presidente da Câmara dos Deputados de nos processar por causa de uma piada veiculada em nosso programa de televisão. Em vista disso, gostaríamos de esclarecer alguns pontos:

1. Em nenhum momento tivemos a intenção de ofender deputados ou prostitutas. O objetivo da piada era somente de comparar duas categorias profissionais que aceitam dinheiro para mudar de posição.


2. Não vemos nenhum problema em ceder um espaço para o direito de Resposta dos deputados. Pelo contrário, consideramos o quadro muito adequado e condizente com a linha do programa.


3. Caso se decidam pelo direito de resposta, informamos que nossas gravações ocorrem às segundas-feiras, o que obrigará os deputados a "interromperem seu descanso".


Equipe do Casseta & Planeta

quarta-feira, outubro 24, 2007

Carteirada

Como toda a blogosfera já sabe, minha Cora madrinha foi atropelada por uma moto. Eu soube do acidente pelo Picolé, meu maluco preferido, que ligou pra dizer: "NÃO DEIXE A CORA FAZER A ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO DO IPHONE!", como se eu fosse capaz de não deixar a Cora fazer alguma coisa. Aí ele me explica seu tom alarmista: é que a última atualização do iPhone fode os desbloqueados de vez. Ri-me, dizendo que -- rélo-ou! -- a Cora tanto já sabe disso que escreveu sobre este assunto há quase duas semanas. E ele: "Eu sei, mas aquela atualização de que ela falou já foi quebrada; dessa agora ela não sabe, porque saiu agora mesmo. E como ela está sendo operada neste exato momento, não deve saber ainda."

Cuma? Ahn? Operada? É? Ahn? Atropelada?!? Quê? Não pode visitar?

É ruim de não, heim!


Lá fui eu praquele hospital que me inspira os piores rosnados, pronta pra matar ou morrer. Eu ia ver a Cora e foda-se. Não é todo dia que uma pessoa querida é atropelada e, pior, operada de emergência no meu hospital-desafeto preferido! Eu e minha bike chegamos ao flat service em 20 minutos. Saí de casa tão rápido que esqueci os documentos. Quando vi a fila do INAMPS pra identificação de visitantes na portaria, pensei: só falta agora esses trogloditas não me deixarem subir porque eu esqueci uma maldita carteira de identidade. Como conheço aquilo lá de tantos outros carnavais, cerrei os punhos, estufei o peito e disse, na minha vez: "Meu nome é Vanessa Ornella e tenho cadastro aí nesse sistema como visitante e acompanhante. Vou no quarto tal, para ver a paciente tal." Acho que cheguei tão marrenta, que o pobre do atendente teve medo de contrargumentar, e apenas imprimiu uma etiqueta com meu prenome, dizendo: "Da próxima vez, senhora, traga uma identidade, tá?". Ele foi fofo. Rosnei que e subi, me mijando de rir. Foi a primeira carteirada sem carteira de que tenho notícias.

No quarto, a Heliana (que acompanhou a Cora desde o início do perrengue) pedia que eu ligasse pro centro cirúrgico a toda hora para ter notícias da paciente. A primeira foi tchan, a segunda foi tchun e, na terceira, a fulana do centro cirúrgico, que a essa altura estava farta de repetir a ladainha padrão do "este é um procedimento demorado, senhora, e não há previsão de horário para o término", resolveu rodar a baiana pra cima de moi!:

-- E a senhora por acaso é alguma coisa dela?
-- Por acaso eu sou (minhas mãozinhas já de prontidão, na cintura).
-- É o quê?
-- Amiga, ué!

Tenho a impressão de que a fulana, furiosa por der dado informações altamente confidenciais (a-han!) a estranhos, anotou em seu caderninho da Hello Kitty: "naum dar nunka maixxx informaxaumxxxxzsççç para pezxxssçoas ki naum sexjgam da familha du paxxchssçienti."

Minha sorte de não-familiar-angustiada (quem disse que é preciso ser da família pra ter o direito de se preocupar?) é que, poucos minutos depois dessa ligação, entra o cirurgião no quarto, já com sua roupinha de passear pela rua, dizendo que a cirurgia tinha acabado e tinha sido um sucesso. Ufa!

Entre a saída do médico e a entrada da Cora, passaram-se poucos minutos. Se eu tivesse tido tempo pra sentir tédio, teria feito minha última ligação, desta vez pra horrorizar a mocréia do centro cirúrgico, dizendo que antes de sair por aí perguntando sobre laços de parentesco, ela deveria exercer melhor seu ofício e aprender a informar corretamente, como se fosse uma pessoa de verdade, o que está acontecendo com os pacientes que desceram há tantas horas praquele lugar frio e assustador, onde todo mundo fica inconsciente e com a bunda de fora. Mas foi só ver a pequena chegar bem, sem cara de atropelada que, aliviada, descansei minhas armas.

***

A agressividade, muitas vezes, é só uma forma ridícula de demonstrar sofrimento.

terça-feira, outubro 23, 2007

Eu não tenho nome (ainda).


Eu não tenho nome.
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Mas tenho certeza de que minha família será a melhor do mundo.

Eu não tenho raça, mas depois do mapeamento do DNA, quem tem? Estou disposta a adotar uns bípedes mesmo assim. Não sou racista.

Tenho 2 meses e pouco mais que meio quilo. Serei mignon, e os melhores perfumes, bem... vocês sabem: são fêmeas ruivas de luvas brancas!

Telefone para contato com o bípede que detém minha guarda provisória (atende pelo nome de Estér): 21-8782 7240

PS importante:
Nunca adote um animal por impulso (ou ainda: só ponha seu boné onde você pode alcançar).

segunda-feira, outubro 22, 2007

Matemática do absurdo

Tudo começou num dia 13, passou por um 19 de agosto sinistro e acabou-se num dia 26, há 3 meses.

Parece mentira, mas ainda tenho seus números em meu celular, embora saiba todos de cor desde sempre. Parece absurdo imaginar que se eu discar qualquer um deles você nunca mais dirá alô do outro lado. Parece loucura, mas metade de mim torce pra que exista um outro lado (com jardins verdejantes e coisas bonitas), e a outra metade apenas torce pra que seja tudo mentira. Pelo menos do 19 em diante.

Talvez ainda exista uma terceira metade minha -- você sabe, a matemática nunca foi meu forte -- que muitas vezes "esquece" que nunca houve um 26 de julho; em vez disso, calcula que se 26 é o dobro de 13, e se tudo começou no dia 13, então o fim é o dobro de tudo. E assim, você é o dobro de mim, e eu sem você sou menos que um décimo. Melhor ainda, ou pior ainda, melhor dizendo: sem você, é como se eu recomeçasse do zero. Como se eu nascesse de novo depois de uma morte muito lenta e sofrida. Há alívio no nascer, mas quanto sofrimento até que os pulmões descolabem!

Desdobro-me em mil lamentos e tento, juro que tento. Mas se a diferença entre 20 e 18 é 2, e se 2 vezes 13 é 26, eu me pergunto: de onde surgiu esse 19 do 8? Onde foi que errei nessa conta?

Se ao menos eu pudesse falar contigo, se ao menos você pudesse me explicar... Sua matemática era perfeita para tantas coisas, mas tão ruim para outras.

Calculou mal, por exemplo, meu amor por você. E a hora de partir.

O melhor lugar da casa


O melhor lugar da casa
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Só para as pessoas gatas.

Guerra na Mangueira


Guerra na Mangueira
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Mataram o dono do morro, um político assistencialista amado (a-han) por todos. Crises internas. O bicho tá pegando, e onde o bicho pega, lá está a tropa de elite. Não vão vocês dizer que eu tô aqui de apologia de tortura nunca mais!

domingo, outubro 21, 2007

Então é verdade? O mundo é irremediavelmente mau?

Por que eu sempre tenho de escolher os domingos para chorar mais que nos outros dias, eu não sei. Talvez seja porque, aos domingos, eu tenho tempo de pôr a leitura em dia. Leio e-mails iniciados por "FW:", desde que sejam de pessoas que eu gosto muito e não tenham mais de um "FW", porque aí é Fw:Fw:Fw:FoWda. Aos domingos, também tenho tempo pra ler o jornal e entrar nos blogs de alguns dos meus queridos.

E foi numa dessas que eu li, pelo blog da Cora, a matéria da "Isto É" que explica, até pra quem tem preguiça de entender, porque a corrupção é a forma mais cruel de genocídio. Porque a corrupção mata crianças de fome, seu vizinho de dengue e seu melhor amigo de bala perdida. A matéria, da "Isto É" diz basicamente que a multimistura de 3 farinhas baratas, responsável pela redução em 13% da mortalidade infantil por desnutrição nos últimos 30 anos, foi preterida a um alimento industrializado super mais caro e super menos nutritivo (mas super mais lucrativo pros ladrões do planalto central) nas merendas escolares. Uma pediatra que combate no front da mortalidade infantil implorou ao presidente em exercício que reconsiderasse a decisão, mas ele apenas chorou e calou-se. Ao ler um absurdo desses, senti calores no rosto. Cheguei mesmo a ouvir meu sangue correr ao contrário nas veias. Andei nervosamente do quarto à sala, da sala ao quarto, olhos vermelhos colados no chão e cabeça pegando fogo, pensando em como acabar com isso, me sentindo um verme impotente diante do desastre iminente. Eu espero sinceramente que José Gomes Temporão, nosso ministro da Saúde, morra de fome um dia. Não serve nenhuma outra moléstia: tem de ser fome.

E aí, em meio aos meus devaneios desarvorados sobre os suplícios de Tântalo piorados que eu infligiria aos párias da política se fosse Zeus -- um deus humano, vingativo e allmighty --, recebo um e-mail da Bia Petri dizendo, por pura coincidência, que aquilo que eu desejo pro nosso ministro hediondo da Saúde aconteceu, de verdade, com um inocente cão numa exposição de arte: o "artista", se é que se pode chamar um fascínora insensível assim, escreveu numa parede "Eres lo que lees", usando ração canina para formar as letras. Aí, sabe-se lá porquê, esta besta deficiente achou que seria muito bacana colocar sob seu letreiro exótico, que exalava um cheiro forte de comida, um cão subnutrido e faminto, que foi capturado à rua num bairro pobre da Costa Rica, com a ajuda de crianças idem, e preso na "instalação" satânica com um arame curto. O cão morreu, sem água ou comida, no dia seguinte.

A Bia me mandou um link para petição toda civilizada contra este FILHO DA PUTA DESGRAÇADO, mas a mim não basta assinar o documento de repúdio: QUERO QUE ELE RECEBA O MESMO TRATAMENTO QUE DEU A ESTE CÃO! SUPLÍCIO DE TÂNTALO NA VEIA!!!

Sem sacanagem: cheguei à dura conclusão de que não dá pra consertar o mundo, mas se eu tivesse hoje R$3000 no banco, iria ao cu da Costa Rica pra capturar e torturar esse pulha até a morte. Se o câncer é um tecido formado por milhões de células, ao menos uma eu tenho de matar pra não me sentir tão estupidamente impotente diante das atrocidades da vida.

Eu disse vida? Desculpem o fel, mas eu só posso estar delirando!

PS: não tenho coragem de colocar aqui as fotos da "instalação" satânica, que é uma das quatro imagens chocantes que eu mais quero esquecer.

sábado, outubro 20, 2007

Mamã vai às compras

E acaba de voltar, trazendo notícias do front. Supermercado de classe média, hoje em dia, é uma verdadeira batalha: pessoas se gudunham, lutam pelo último iogurte light dentro da validade, fazem escândalo quando tem alguém com 11 itens na fila de 10 dez itens, e por aí vai.

Quero deixar bem claro que, quando eu digo classe média, não me refiro àqueles que ainda podem comprar produtos orgânicos superfaturados, e sim aos que sabem que se não enfrentarem a guerra do Mundial, que não é segunda nem primeira, mas mensal, não fecham as contas do mês.

Pois la mia mamma foi fazer as compras do mês com meu pai, que queria poupá-la do sufoco, mas ela sabe que mais vale ter quatro pernas que duas na corrida pelos melhores preços (e na hora de chutar algum escrotinho que arme barraco naquele cenário de guerra e horror). E voltou 'inda agora, contando dos atropelamentos, dos palavrões e de otras cositas más que revelo aqui:

Bunda larga

Em supermercado popular, os corredores são estreitos. Se uma criatura estaciona seu carrinho a 10 cm da gôndola enquanto lê, com a maior dificuldade e o apoio de óculos de leitura de camelô o texto em fonte 5 das embalagens, obriga todos os demais clientes a lhe tirarem um sarro da bunda. Ou a esperarem que termine a leitura, mas bem se sabe que a paciência não é uma virtude da classe média. Minha mãe, ao perceber que seu delicado e insistente "com licença" não surtia efeito na bunda míope obliterante, urrou com toda a força de suas entranhas: "COM LICENÇA!!!", e empurrou a barreira formada por carrinho e bundão com toda a falta de delicadeza pra cima da gôndola, derrubando latas, provocando fraturas expostas e trazendo atrás de si uma horda enfurecida (e aliviada), que estava há tempos querendo fazer o mesmo, mas sem muita coragem pra isso.

A classe média ainda está muito tímida pra ser pobre em algumas coisas.


Fila de idosos

Meus pais estavam na décima oitava posição da fila de idosos. Na verdade, meu pai será oficialmente um idoso só no dia 3 de novembro, mas fiado em seus cabelos brancos, entrou na fila menorzinha, a fila das minorias. Aí um velhinho, mas bem velhinho mesmo, cutuca a minha mãe e aponta a placa com o queixo: "Atendimento preferencial para gestantes, portadores de deficiências e idosos".

O coitado podia ter cutucado o meu pai, que é bem mais doce, mas tinha (tinha, meu Deus!) de importunar minha mamma, que tem sangue quente. E ela disse, aos berros: "E VOCÊ ACHA QUE EU TENHO QUANTOS ANOS? EU PINTO O CABELO, USO CREMES E ME CUIDO, MEU FILHO. PRA SER IDOSA EU NÃO TENHO DE SER VELHA E ACABADA QUE NEM VOCÊ! VÊ SE TE ENXERGA!"

Fez-se silêncio no supermercado. Os lutadores estavam todos exaustos, e meus pais venceram o último round por mérito e pontos -- afinal, não é nada fácil fazer compras do mês --, senão teria dado empate. No final das contas (e das compras), também não é nada fácil ir à guerra quando se é idoso, surdo e míope.

sexta-feira, outubro 19, 2007

TROCO (da série "Escambos para uma vida melhor")


Seis horas de serviços de bartender, ou a tradução inglês-português de dez laudas, ou três aulas particulares de inglês, ou duas castrações de gato macho (ou uma fêmea -- pode ser cadela, desde que tenha até 6kg), ou duas noites de baby-sitting para até duas crianças (desde que não sejam ruivas nem gêmeas idênticas), ou dez passeios de 20 minutos com cães numa biking distance da minha casa, ou uma faxina caprichada em cobertura duplex DESDE QUE NÃO SEJA TODA DE VIDRAÇA, VAI TOMAR NO CU!, por apenas UM INGRESSO PARA O SHOW DE JULLIETE AND THE LICKS, no Tim Festival, dia 26 vindouro.

Entrei na era do escambo. Não me peçam de graça a única coisa que eu tenho pra vender, que é a minha cara-de-pau.

***

Ofertas, dúvidas e propostas indecorosas? Escreva para vanorresponde@gmail.com.

Porque os comentários estão escassos

A Jussara S. me chamou a atenção pro fato de que os comentários andam extremamente escassos neste blog, e de repente isso acendeu nimim um sinal de alerta: cor-de-rosa, claro, porque senão não seria nimim.

É bem verdade que eu não sou Cora Rónai, que só de colocar a foto de dois patinhos na Lagoa gera algo em torno de 120 comentários em 24h, todos off topic, but who cares!!! -- a gente vai lá pra só conversar mesmo, e pra isso não importa muito o assunto.

Também é verdade, por outro lado, que eu não me utilizo de artimanhas de guerrilha, como determinados blogueiros que conheço, que criam alter egos polêmicos só pra semear a cizânia e realizar o milagre da multiplicação de comentários. De seus comentários, diga-se!

Tampouco peço pros meus leitores comentarem, porque se é possível que uma criatura consiga ter todas as carências do mundo, inclusive as lacrimais e vitamínicas, esta deficiente sou eu, mas ao menos estou livre da pior carência de todas, que é aquela que permanentemente exige do outro provas concretas de amor. Bem cá entre nós: há coisas que a gente pressente! Não precisamos pôr tudo em palavras, por mais bonitas que elas (ou as coisas) sejam. Há momento para tudo, até para as palavras, senão elas ficam vazias.

Aliás, aproveito o ensejo para pedir aos eventuais portadores desse pior tipo de carência, sobretudo os que a têm no último grau -- embora eu espere sinceramente que aqui não tenha ninguém com esse dodói terminal --, que não encarem minha falta de réplicas nos comentários como desamor ou alguma outra sorte de negligência afetiva. Longe de mim! Tá certo que eu mudei meu mote (aquele que dizia que eu não nego amor nunca, bla bla bla, porque ficou um pouco datado -- aquilo era anos 60 demais e, gente, rélo-ou: século XXI, entende?), mas isso também não quer dizer que eu caguei pra geral e que meu maior barato agora é mandar pessoas à merda. Pelo contrário: eu adoro quando vocês comentam, e adoro quando eu tenho vontade de comentar, mas isto aqui é só um blog (entende?).

Eu posso até estar enganada, mas pra mim a vida é muito mais que isso. Pelo menos assim espero, amém.

***

PS: Putz grila!... De repente eu fiquei aqui pensando, e eu sei que este seria o momento de não verbalizar nada, porque merda não se deve verbalizar sempre, e pirei numa coisa: e se a vida for só isso? Um quartinho de bagunça com uma caixa vazia de comentários, um anúncio de medalha desse papa viado QUE EU O-D-E-I-O e um cantinho com foto, pra gente se rotular? Caraca, isto sim é a ante-sala do inferno!

Recado para as pessoas que perderam meus telefones recentemente

Como medida extrema de contenção de despesas, serei uma pessoa VoIP sem telefone fixo careta-tradicional a partir de novembro. Também troquei a banda larga pela bunda larga, porque meu personal gerente e consultor de catástrofes financeiras, Flávio Felipe, recomendou que eu cortasse a academia de ginástica. O gmail permanece, pelo menos enquanto for gratuito, assim como permanecerá o celular, mas só até o fim do contrato de multa de rescisão milionária.

Rezem novenas a Santa Edwiges por mim. Vale também Santo Expedito, São Judas Tadeu e todos os outros que protegem os flamenguistas, os loucos e os perdulários.

Por falar em Flamengo, vocês já emolduraram o jornal de hoje?

quinta-feira, outubro 18, 2007

Cinco compulsões que fazem parte da minha vida

  1. Computador/internet;
  2. Paranóia de conjuntivite (meu maior medo, horror e pânico, mais do que câncer, mais do que tetraplegia por bala perdida, é conjuntivite herpética -- tanto que eu nunca li nada a respeito, que eu sei que se eu ler, eu vou ter!);
  3. Peludoterapia;
  4. Saudades do passado, do presente e do futuro;
  5. Fortes emoções (ou qualquer pretexto sólido, pastoso ou gasoso pra chorar, xingar ou me desesperar).

Se eu passo um dia sem computador, sem coçar o olho, sem esfregar orelhas peludas, sem sentir saudades ou fortes emoções (algumas das quais me levam a recar a cabeça até o couro!), juro pelo santupai: envelheço dez anos em um dia!

Agora me digam vocês: é absolutamente normal ter pelo menos cinco compulsões crônicas ou sou só eu? Quais são as cinco compulsões capitais de vocês?

quarta-feira, outubro 17, 2007

Eu e Raio de Sol


Eu e Raio de Sol
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terça-feira, outubro 16, 2007

Pequenos milagres particulares


Pequenos milagres particulares
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Chegaram ainda agora por Sedex: 3 exemplares, um CD do Galpão e um vale-brinde sui generis: um rio de lágrimas de felicidade.

Meu texto entrou na página 131 da seção "Sagas" desta tocante compilação. O conto chama-se "Por um Raio de Sol", e foi publicado neste quartinho no dia 5 de setembro de 2006, em homenagem à minha musa mór, Gabi Amaral.

Porque sofria das piores angústias, minha personal musa me fez chorar naquele dia, e foi só reler a "saga" que eu percebi que tô chorando até agora. O que apenas prova que, quem chora por último... chora mais!

segunda-feira, outubro 15, 2007

Não é fácil ser linda, magra e foda.

Com vocês, a alongada bailarina Ana Medeiros, aquela que faz o flamenco se apoderar de todos os nossos sonhos e pretensões de horas livres.

And the Pappa


And the Pappa
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Michele, o Grande Caetano, como todas as pessoas caetanas.

La Mamma


La Mamma
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Confesso que estou prosa. E que por esta eu não esperava: uma grata surpresa, enfim. :o)

O gene da hipocondria

Meu sobrinho, O Cara, um paulista-carioca praticamente baiano, na flor dos 5 anos, hoje reclamou com sua mamãe Mone de uma estranha "dor no coração".

Não estava apaixonado, lamento dizer: apenas caiu e se esbaldou na piscina antes de dar uma chance pra digestão das coisas mais estranhas (tipicamente baianas, devo dizer), o que subitamente lhe provocou as dores naturais de um pum profundamente encravado nas entranhas.

Conversamos em tom solene, ao telefone, agora há pouco. Eu, a Poderosa Djindinha, veterinária oficial da família; ele, o paciente, me contando de seu problema deveras intrigante prum fedelho de tão pouca idade. Tentei ser neutra -- afinal, não quero passar ao meu próprio sobrinho a falsa impressão de que a vida é fácil --, então, apenas disse:

-- Meu querido, Djindinha vai te dizer uma coisa: depois dos cinco anos, o coração da gente começa a se deteriorar e, em pouquíssimo tempo, acaba indo pro Beleléu. Pede pra tua Mamã-Mone te dar uma colher de melzinho, que logo essa moléstia cardíaca passa. Mas faça logo, antes que o pior aconteça!

Ele me pareceu muito satisfeito, tanto com a gravidade da situação, quanto pelo apelo gustativo da solução que dei.

Eu sempre soube que esse diploma de veterinária me serviria pra alguma coisa na vida.

domingo, outubro 14, 2007

Grávida como os amores

Estou me sentindo tão grávida quanto a Marina, aquela ex-cantora Lima (uma pena!), por causa de dois filhotes que têm alguma coisa do meu DNA e estão por aí, dando seus primeiros passinhos: a peça "O Conselheiro -- uma comédia mau humorada" e o livro de contos compilados pelo Galpão, "Pequenos Milagres e Outras Histórias", onde há um continho meu.


Assisti hoje "Olga", o filme, e de todas as coisas tocantes na história, a que mais me tocou foi a transformação que a maternidade operou na mente e no coração daquela idealista, daquela guerrilheira, daquela mulher que passou a maior parte da vida achando que o amor era coisa para fracos. E eis que de repente, em meio a este meu momento Olga, em que eu cheguei a ter convicção absoluta de que o amor poderia me afastar de meus objetivos, tal qual uma Bonequinha de Luxo num café da manhã na Tiffany's -- não que eu queira comparar uma mulher digna como a Olga Benário a uma Bruna Surfistinha qualquer --, comecei a duvidar que este caminho, o da racionalidade, leve a algum lugar. Não adiantar blindar o coração e achar que a partir daí é só cumprir etapas de um plano. O coração é um órgão traiçoeiro, e em algum momento ele irá bater mais forte, em ritmo de carnaval, e por mais que tapemos nossos ouvidos à tentação da folia, acabaremos por mudar de rumo e ir na direção do que realmente importa.


É piegas, eu sei, mas os filhos nos deixam amolecidos assim. Agora, o que eu mais quero é parir que nem uma porca, quero povoar o mundo com tantas crias, mas tantas e tantas, a ponto de fazer os cientistas considerarem seriamente que talvez realmente exista, sim, algo como a geração espontânea. Quero ter dez, cem, trezentos mil ou cinquenta milhões de filhos, e vou amamentar a todos, ficar idiota com todos e aí, quando um dia a morte ousar me buscar, eu poderei dizer: minha vida valeu a pena, porque o verbo que elegi foi "amar". Ou melhor: meu verbo é "ser", mas não simplesmente "ser", e sim "ser mãe".Ainda que duma peça, dum conto num livro de capa e papel, dum blog, dum post, dum cartão de Natal. Em todas essas coisas que eu escrevo, está meu código genético, e eu quero transformá-lo num vírus mutante capaz de mudar o mundo, mesmo que eu não esteja aqui pra ver. Quem precisa de olhos, quando se tem filhos!

sábado, outubro 13, 2007

Alô, Porto Alegre!

Cena de "O Casamento", um dos temas da aula-palestra d'O Conselheiro


Finalmente cumpri minha promessa de vir à Porto Alegre para rever amigos e, lógico, assistir à peça que marca minha estréia como coautora, co-roteirista ou codramatruga (sou tão nova e ignorante no ramo que desconheço o termo correto pra isso).



"O Conselheiro", que foi uma maluquice que o Michele (fala-se Miquéle) Caetano me convenceu a escrever com ele por e-mail, foi uma gestação não planejada que deu muito certo. O filhote é bem simpático, tem o humor auto-crítico da mãe e a cagação de regra do pai (hahaha, ele está aqui querendo me estrangular!). É claro que só um textículo de 34 páginas não transforma nada em uma "comédia mau humorada"-- aliás, o subtítulo da peça, que é sobre um conselheiro matrimonial visceralmente contra o casamento e que tem lá suas opiniões implicantes sobre homens, mulheres e a paixão, essa doença da qual todos querem padecer, mas muitos (como o próprio Conselheiro) não o assumem. Foi necessário ter por trás a direção e a inventividade do Michele, fundamentais pra driblar a chatice conceitual de um monólogo, e a atuação brilhante do Miguel Ramos e sua "interlocutora", a talentosíssima bailarina flamenca Ana Medeiros.



Pois mal aportei neste Porto Feliz, e o Michele me levou aos estúdios da Rádio Gaúcha (nada mais típico), para dar uma entrevista sobre a peça. No dia seguinte, ontem, a RBS (a Globo daqui) fez uma filmagem de trechos da peça e entrevistou o ator, a bailarina, Michele e eu. Fui franquíssima, claro, e disse que não saberia dizer do que se trata a peça, porque escrevi há tanto tempo que me esqueci. Era pra ser uma crítica severa à falta de incentivo à cultura no país, pois a peça só aconteceu pela grande teimosia do Michele, mas soou como se eu tivesse Alzheimer.



Beeeeem capaz, como se diz por aqui.
O Conselheiro está em cartaz no Teatro Carlos Carvalho, no Espaço Cultural Mário Quintana, à Rua dos Andradas (Rua da Praia), de sexta a domingo, às 20h, até o dia 21 de outubro de 2007.

sexta-feira, outubro 12, 2007

Olha quem encontrei no aeroporto!


Olha quem encontrei no aeroporto!
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Quem diria, numa whiskeria! :o))))

terça-feira, outubro 09, 2007

Crianças roubadas

Quando foi abandonada pelo vigarista cretino de seu marido, que a largou no meio da roça com sete filhos e uma meia dúzia de porcos e galinhas, é possível que minha vó, Dona Izolina, tenha até derramado umas lágrimas (no tapete atrás da porta). Ninguém a viu chorando, claro, pois ela era uma típica chorona do tipo 3. Minha mãe era uma fedelha de 3 anos na ocasião, e tinha um irmãozinho mais novo e um mais velho, uma escadinha de um ano entre eles. Foi meu avô dobrar a esquina no breu, que vovó juntou a criançada e horrorizou geral: "Se o pai de vocês voltar aqui, vocês tratem de correr pra dentro de casa e pra baixo da minha saia, que ele vem é pra roubar 'ocês de mim." E virou-se pros 3 fedelhinhos, ameaçadora: "E vocês, que são pequenos, ele 'garra numa braçada e carrega com ele no cavalo duma vez só!"

Não preciso dizer que o vigarista cretino do meu avô virou uma espécie de bicho papão que atravessou gerações. Minha mãe passou a infância inteira com medo de ser roubada; minha avó, para sobreviver, cuidava da fazenda dum figurão e dava pensão para uns eventuais caixeiros viajantes. Era só ouvir os cascos dum cavalo na estrada de chão, que a molecada toda corria pra dentro de casa, se escondia debaixo da cama e, dizem as más línguas, até faziam xixi e outras coisas na calça, de tanto medo de que o cavalo estivesse trazendo o bicho papão, esse grande ladrão de criança.

Quando saiu da roça pra cidade grande, minha avó teve de distribuir os sete filhos -- até encontrar escola pra todos, um emprego e uma casa -- pelos seus parentes que já estavam no Rio. Minha mãe, que a essa altura já era uma mocinha de cinco anos, ficou uns tempos com seu padrinho, enquanto Madrinha Yolanda lhe costurava o enxoval -- camisolas, saias e blusas -- para o ingresso no colégio interno. Padrinho punha mamãe no colo e dizia: "Minha filhinha, o que vamos fazer hoje?" E mamãe chorava. "Mas, minha filhinha, o que foi, por que você chora tanto?". E minha mãe chorava era ainda mais! Até que um dia, entre soluços e catarros, ela conseguiu explicar o motivo de tanta lacrimosidade: ela era filha da mãe dela, e não dele. Por uns dias, dadas as evidências lingüísticas do roubo de criança e pelo sumiço inexplicável de vovó, minha infanta mãe ficou desconfiadíssima de que Padrinho a tinha roubado de sua progenitora para todo o sempre. O diabo, todos sabem, tem várias caras.

***

É claro que, de minha parte, eu também sempre tive um certo medinho de ser roubada da minha mãe. Fui criada pra ter medo do velho do saco, da bruxa das balas envenenadas e das multidões estabanadas que separam crianças de suas mães para sempre. Era um medo vago, até que um dia, de fato, eu me perdi da minha mãe. Ou melhor, minha mãe me perdeu, porque nenhuma mãe ajuizada, que foi criada com medo de ser roubada, desgruda o olho de sua filha de quatro anos em plena feira hippie de Ipanema, num domingo de sol e na década de setenta!

Antes de ficar histérica -- e olha que o limiar de histeria de uma criança é super baixo --, eu olhei em volta e, dentre as centenas de pernas que via, nenhuma delas era a da minha mãe (embora todas usassem boca-de-sino ou mini-saia). Aí eu fiquei histérica, e logo um policial veio me acudir. Eu ainda não tinha medo de polícia, mas pelas perguntas do cara -- "Como é a sua mãe? Qual o nome dela? Onde você mora? --, eu sabia que ele não ia me ajudar era porra nenhuma. Uma criança de quatro anos não tem condições de fazer um retrato falado com geo-referenciamento, caraças! E eu chorava, gritava, tentava soltar minha mãozinha da mãozona do guarda, esperneei e dei tanto escândalo, que minha mãe acabou me encontrando no meio do clarão que eu abri na multidão com meu espetáculo de histeria. Parecia que o guarda estava me roubando, e as pessoas começavam a dizer: "Coitada da menina, deixa ela ir!". Aí o guarda me soltou, e eu voei no colo da mãe que corria na minha direção; nem vi se a cara dela era de medo ou alívio, mas a abracei com raiva, muita raiva d'ela ter me perdido. E logo dormi, que é muito cansativo ser roubada da mãe.

segunda-feira, outubro 08, 2007

Hellow'e'en!

Genta, embora eu não acredite nos Estados Unidos, Halloween está chegando. Em breve, todas as festas de aniversário cafonas de outubro obrigarão o contribuinte comum a usar uma fantasia, e eis que vocês, numa tenebrosa noite de sábado, a menos de 10 minutos de sair batido de casa ou perder a(o) namorada(o), se encontrarão na frente do armário, tentando criar em cima do incriável. Será tarde demais pra alugar fantasia, comprar peruca ridícula ou uns óculos do Zé Manjado Bonitinho. Bem que as lojas de conveniência dos postos de gasolina podiam vender essas coisas, mas eles não têm -- nem nunca terão! -- um estoque visionário. Então, por sugestão do Tom Taborda, começo aqui a sugerir uns figurinos fáceis de improvisar:



Anna Rexia



Acompanha peitos artificiais, cabelos louros (artificiais ou não, mas preferencialmente naturais) e dez atestados de lipoaspiração nos últimos 2 anos.



Noiva Cadáver






Ideal para mulheres com olheiras naturais, preferencialmente anoréxicas e/ou com fraturas ou outras partes do esqueleto expostas.


Le serial killer de la Marseillaise



Inspirada no Hino Nacional da França, La Marseillaise, esta fantasia fará qualquer criança se borrar ao ouvir um adulto entoar "Allons, enfants!", primeiro verso deste cântico sanguinário, com sede de escalpo inimigo. Aparrã-te-mã, pr'esse povo révolutionnaire, liberté de pescoço est roulette. Ou ainda: liberdade no terceiro olho dos outros é refresco.

Dez motivos pra você abandonar o vício da homofobia

  1. De forma geral, homens são bobos e mulheres são chatas. Não se pode culpar um homem por ter eliminado a chatice de sua vida. Entre bobeira e chatice, é claro que todo mundo optaria pela bobeira. Afinal, é muito mais legal ser ridículo que reclamão.

  2. Há mais hombridade na opção de ser gay por não gostar de mulheres do que no baixo instinto de um comedor, promíscuo e mentiroso (e por que não dizer?, PORCO CHAUVINISTA!), incapaz de se envolver afetivamente, pelo mesmo motivo: não gostar de mulheres. Observem bem: existe uma grande diferença entre gostar de sexo com uma mulher e, de fato, gostar de mulher. A mulher é um pacote complexo, e o sexo é só um microelemento nesta mega salada polivitamínica.

  3. Mulheres homossexuais não têm de explicar pras suas parceiras onde fica o clitóris.

  4. Homens (bobos) gostam de mulheres (chatas) -- desculpem a repetição, mas eu sou mulher, e não sou exceção. Homens interessantes, bonitos e modernos gostam de homens idem. No lugar deles, eu faria o mesmo.

  5. Há gente demais no planeta Terra. O homossexualismo, de certa maneira, ajuda a desacelerar o crescimento demográfico -- e ainda ajuda escoar a produção das pobres criancinhas órfãs disponíveis pra adoção. Não é porque o casal é homossexual que não vai querer ter filhos, e a adoção é sempre uma boa opção.

  6. Todo mundo tem o direito de ser feliz. E ninguém deveria ocupar seu tempo monitorando a vida -- e a felicidade -- dos outros.


  7. De uma forma muito estranha, aquilo que a gente costuma criticar nos outros geralmente corresponde àquilo que menos gostamos na gente. Ou seja: até que me provem o contrário, a homofobia é uma forma de demonstrar horror à própria homossexualidade enrustida.


  8. Homofobia é preconceito, e o único preconceito universalmente aceito é o preconceito contra preconceituosos. Eu atropelo gente preconceituosa.


  9. Por causa dos homofóbicos, muitos homossexuais enrustidos mantêm as aparências através de relações heterossexuais fadadas ao fracasso, encontrando uma válvula de escape no sexo extra-conjugal (geralmente, rapidinhas sem proteção). Ou seja: a homofobia aumenta, indiretamente, o índice de doenças sexualmente transmissíveis. E quem paga o pato, invariavelmente, é a pobre da desperate housewife traída, que pode morrer sem saber se contraiu hepatite ou AIDS do material não esterilizado da manicure, de uma bolsa de sangue ou do marido bissexual (por força das circunstâncias).


  10. Deixa que digam
    Que pensem, que falem
    Deixa isso prá lá
    Vem prá cá
    O que é que tem?
    E eu não tô fazendo nada
    Nem você também
    Faz mal bater um papo
    Assim gostoso, com alguém? (Grande Jair!)
  11. Bonus Track: Se vocês tiverem mais algum motivo pra escrotizar a homofobia, por favor coloquem aqui, pr'eu fazer o update desta minha personal campanha por um mundo melhor.

Primavera


Primavera
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domingo, outubro 07, 2007

Hino Nacional

Juro que não estou de sacanagem, mas graças ao STJ, dia desses me peguei cantarolando o nosso hino enquanto lavava louça. Normalmente eu canto bossa, samba e até Madonna (meu lado Mona), mas de repente eu me dei conta de que o Hino Nacional Brasileiro é foda pra caralho. Quem não sabe do que estou falando, favor clicar no título deste post e aumentar o som. OK, concordo que nosso hino seja um pouco afetado, mas há de se convir que foi feito pra arrepiar os homens e arrancar lágrimas das mulheres. Meu pai, que nesse meu dia ufanista preparava o café da manhã ao meu lado, na pia, também entrou na onda e cantou comigo, transformando a cozinha no local mais patriótico da casa. Não demorou nem duas estrofes, e nós começamos a errar a letra, como qualquer brasileiro padrão. Nada comprometedor, mas entre pais e filhos tudo é motivo pra briga ("É nosso, e não vosso!"; "BRAÇOS FORTES, E NÃO BRAÇO FORTE: AS PESSOAS NORMALMENTE TÊM DOIS BRAÇOS!!!"); então ele, que é ranheta, e por isso cismou que era braços, e não braço, foi lá no computador e imprimiu o hino pra quebrar a cara, e agora esta folhinha fica colada na frente da pia pra evitar querelas.

Já estamos cantando o Hino Nacional sem errar, nem mesmo na parte que fala do "lábaro que ostentas estrelado". Para isto, treinamos por 3 dias seguidos. Imagino que nenhum jogador de futebol tenha tanta disponibilidade de tempo assim, pelo que se vê na TV. Tivemos de nos utilizar, no entanto, de métodos avançados de leitura e interpretação histórica de texto pra poder dar sentido às partes que vivíamos errando. Segue abaixo a letra do hino nacional mais bonito do mundo (depois do da França), com comentários.

HINO NACIONAL
Letra: Joaquim Osório Duque Estrada
Música: Francisco Manuel da Silva


Parte I

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante,
(Trocando em miúdos, as margens do rio Ipiranga, que nunca ouviam nada de mais, nunca recebiam nenhuma notícia maneira e tocavam sua existência plácida e tranqüila, um dia ouviram o grito de independência - "o brado retumbante" - de nosso povo. Heróico, por sinal. O Brasil era, enfim, uma nação independente, pelo menos em tese.)
E o sol da liberdade (da independência!), em raios fúlgidos (brilhantes),
Brilhou no céu da pátria nesse instante.

Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte, (Conquistamos a independência, essa coisa valiosa, com muita luta, mermão... embora isso seja lá uma gorda mentira.)
Em teu seio, ó liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte! (Nós desafiamos até a morte para manter nossa soberania, ou seja: se pintar um trelelê, vai sobrar pra geral. Vai ter muita classe média mandando seus filhos pro exterior como desertores e quem vai morrer pela pátria é o pobre do trabalhador de salário mínimo com carteira assinada.)

Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança à terra desce, (Um raio assim-assado desce do céu até a terra)
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece. (Ou seja, sempre que não houver nuvens no céu, veremos a imagem do Cruzeiro do Sul, uma das nove constelações representadas em nossa bandeira)


Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza.
(Esta estrofe me deixa TODA ARREPIADA: é a única que personaliza o hino; se não fosse por ela, que diz que o Brasil é um gigante territorial e lindo -- e é, gente, é sim! -- e pela ligeira alusão ao dia da independência às margens do Ipiranga, este hino poderia ser de qualquer outro país).


Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!



Parte II

Deitado eternamente em berço esplêndido,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!

Do que a terra, mais garrida,
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores; (teus risonhos, lindos campos têm mais flores que qualquer outro lugar vistoso)
"Nossos bosques têm mais vida",
"Nossa vida" no teu seio "mais amores." (eu não entendo as aspas, alguém entende?)

Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado, (que a bandeira -- ou lábaro -- estrelada seja símbolo de amor eterno; nossa bandeira já teve 21, mas agora são 27 estrelas: 26 pros estados e uma pro DF )
E diga o verde-louro dessa flâmula (m.q. bandeira)
- "Paz no futuro e glória no passado."

Mas, se ergues da justiça a clava forte, (Se pintar um trelelê diplomático...)
Verás que um filho teu não foge à luta, (...o Brasil verá que seus filhos não fugirão do serviço militar obrigatório, até porque o tráfico paga bons salários pra quem sabe manusear um fuzil e reconhece "o olho ruim do gato" no paiol.)
Nem teme, quem te adora, a própria morte. (Quem adora o Brasil não teme nem a morte, mas eu acho isso um pouco exagerado; eu amo meu país, mas não gostaria de morrer pela pátria, não. Aliás, tenho medo de morrer e ponto. Tenho medo até de gripe.)

Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

A mixologia moderna

Ontem eu fiz o primeiro cocktail inventado por mim, inspirado numa querida amiga portuguesa que freqüenta o bairro gay madrileno (aliás, redundante dizer "gay madrileno") da Chueca, tem corpo de bailarina e usa roupas dramáticas. Trata-se do Monalisa (ou simplesmente Mona, mas só pras bibas íntimas), um long drink montado, alegre e refrescante, feito com vodka, uva, manjericão e soda limonada, servido em copo longo com bastante gelo, pra ficar bem fresquinho.

Monalisa


Fiz uma degustação do drink no Caroline, e geral aprovou. Taí a foto da Daisy, que não me deixa mentir:



Na verdade, como era de se esperar, os machos heterossexuais latinoamericanos, sobretudo os homofóbicos, detestaram a Mona, acharam "fraca, bebida de boiola, nem parece que tem álcool". Ou seja, eu sou um gênio!!!

Aliás, pra quem aprecia a boa mixologia moderna, o Caroline Cafe é definitivamente um dos melhores bares de coquetelaria do Rio. Lá eles até servem cerveja, vinhos e destilados puros de todos os tipos, mas eu desconheço um bar que tenha tantas opções de cocktails quanto esse. Além disso, o Furtado, gerente e chefe do bar, é um barman fodástico e a simpatia em forma de gente. É inacreditável, mas ele sabe de cor os nomes dos assíduos, as bebidas e copos preferidos por cada um, assim como a quantidade de gelo e açúcar que os clientes gostam. Como um bom barman tem de ser, aliás.

PS puto da vida: Eu atropelo gente que trata mal o garçom.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Almoço de sexta


Almoço de sexta
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Na feira de tradições nordestinas, a carne de sol com aipim que faz o balanço da semana ficar positivo.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Van'Or responde - edição especial, ó pá!

Querida Van'Or,

Vou tentar ser breve, porque como toda mulher balzaquiana, heterossexual e solteira (apesar de bonita, divertida e inteligente), minha história não difere muito das de outras milhares de mulheres de nossa categoria. Está muito claro e muito certo, pois, que homem -- hetero, solteiro, divertido e inteligente (repares que o gajo nem precisa ser bonito!!!) -- é um artigo de luxo em extinção, tanto aí, quanto cá. Nossa sorte é que ainda há os amigos gays para uma boa risada e os filhos de nossos amigos, coisa de dez ou quinze anos mais jovens, para uma boa trepada, que na maioria das vezes nem boa é, mas como atividade aeróbica funciona. Aliás, este é um dos pontos de meu caso-verdade, que passo agora a relatar:

Tenho um ex-namorado que tirei da sarjeta depois d'ele ter rompido, de forma trágica e violenta, um namoro de dois anos com uma maluca que o espancou e o ameaçou de morte. Depois de lhe ter salvo a vida e a auto-estima, processo lento, demorado e nem de longe sexualmente bem sucedido que me custou um ano de peitos ainda duros, o bandido subitamente perdeu o interesse por mim e -- surprise, surprise! -- disse-me as coisas mais lindas, ergueu um altar de pérolas só para me pôr em cima, ao cabo do que, óbvio, me propôs que ficássemos apenas amigos.

Ferida de morte, nunca mais lhe telefonei ou escrevi, mas disso se encarregou eile, sempre nos momentos em que me pressentia mais carente, o que me impediu, até o presente momento, de pôr uma pá de cal sobre essa história. Pois eis qu'esta semana, o gajo me chama para jantar e diz, entre soluços e lágrimas nos olhos, que sou a mulher mais gira e incrível que eile conheceu, mas que esteve à cama, recentemente, com a maluca da ex e tinha ficado, pois, completamente dividido entre nós duas. Após proferir confissão tão casual, pediu-me a opinião com as mãos trêmulas, mas muda fiquei. A única reação que tive foi fumar um cigarro com fúria e ligar, em seguida, para meu melhor amigo em Madri, perguntando-lhe se poderia me acolher e proteger do suicídio no feriado prolongado vindouro. Aqui em Portugal as emergências psiquiátricas são muito ruins, e por um momento eu temi por minha integridade física, já que a mental não existe mais.

Ora, vejas: se o bandido acha que tem duas opções, e uma delas sou eu, passei eu a analisar as minhas: um cara com menos de trinta que trepa de meias, não sabe beijar, não sabe aprender e veste as cuecas antes de dormir; a solteirice inveterada; ou o lesbianismo forçado. Amiga Van'Or, imagines: fiquei desolada! Por favor, digas que eu tenho mais opções, mas sobretudo digas quais são!

Um grande beijo,

Fadista da Minha Terra


***

Van'Or responde:

Querida Amélia Rodrigues,

Realmente... se a gente juntar a minha, a tua e todas as histórias de gente como a gente, daria pra escrever uma minissérie em dois capítulos de 15 minutos, que seria exibida, com muita boa vontade e teste do sofá, após o noticiário de meia noite num canal de quinta categoria qualquer.

Bollywood perde pra gente, meu amor! Só nos falta reviver essas cenas arquetípicas -- do homem insincero dizendo que podemos ser bons amigos (quando ele quer dizer: "até te comeria uma vez por mês, desde que você não me enchesse a porra do saco"); do babaquara voltando pra ex; do escrotizóide dizendo que somos incríveis, mas que só sente tesão pela moça que deveras o escrotiza -- com coreografia do Bob Fosse e músicas purpurinadas do Elton John. Já passamos do ponto da tragédia: esse tipo de drama é puro pastelão.

Não vou dizer o que você deveria ter dito pro verme quando ele "deixou escapar" que comeu a outra e estava, portanto, dividido. Isto é óbvio demais, e não vou aviltar sua inteligência com isso, mas garanto que teria sido ao menos divertido se você lhe tivesse oferecido uma noite de luxúria pra eliminação de qualquer dúvida e, na hora do rala-e-rola, você jogasse as roupas do gajo pela janela, lhe fugisse com o celular e fizesse, com o telemóvel do mancebo, todas as ligações internacionais que você não fez por economia nos últimos dois anos. Infelizmente, esse é o tipo de homem que só se apaixona por mulheres malucas que fazem esse tipo de coisa, e você não quer um babasquizóide desses na tua cola, quer?

Foi o que eu pensei: trate de fazer a maluca e conte até três, que este homem será seu, minha filha. Tenha fé! Melhor um babaquara na mão do que um ceroulão de meias te babando inteira enquanto tenta descobrir onde fica o clitóris. Ou, sei lá: quer a melhor opção mesmo? Fique sozinha um tempo, gostando só de você. Desde que inventaram a técnica plástico-cirúrgica do sutiã de malha de titânio, peito duro não é problema, então não tenha apego aos caras que te devoraram os melhores momentos da tua forma física: em pouco tempo, haverá consórcios de recauchutagem estética em todas as esquinas.

E quanto ao relógio biológico, bem... a gente não quer ter filhos com qualquer babaca, quer? Então, não os teremos! Porque pra cada cara legal REALMENTE disponível, há vinte e sete mil babacas de plantão. Vivemos uma Era de Xepa e precisamos nos conformar com isso. Girls just wanna have fun, querida, e a gente tem de se adaptar aos novos tempos, tomando sempre o cuidado pra jamais chegar ao fundo do poço. E vamos combinar que a combinação do "beijo de batedeira com meias" + "o sadomasoquista trêmulo do eterno retorno" é a melhor representação moderna do inferno de que tenho notícias.

Segura a onda aê, força, é nóis, pense grande, pense em você e vê se te cuida! Espero que as emergências psiquiátricas de Madri sejam bem servidas de tapas e beijos, no sentido lúdico-gastronômico.

Beijos identificados, portanto sem joelhaços,

Van'Or



PS: As cartas para esta seção podem ser enviadas para vanorresponde@gmail.com ou psicografadas por um médium com acesso digital.

terça-feira, outubro 02, 2007

Fototropismo



Originally uploaded by Odyr
Estava eu, distraidamente dando uma passada d'olhos nos últimos uploads de meus contatos no Flickr, quando me deparo com esta maravilha aqui, do Odyr.

O Odyr é um artista de dentro pra fora e de fora pra dentro.

O desenho me lembrou daquelas feirinhas de ciência em que nos fazem, criancinhas ingênuas, explicar pra gente grande como é que um pé de feijão, mesmo enclausurado num copinho plástico de café, com uma pequena aberturinha num canto qualquer, consegue crescer justo por aquele buraquinho, na direção da luz. Os adultos precisam ser lembrados disso anualmente, nas feiras de ciência de seus filhos: toda criatura viva tem ganas de se manter viva, de crescer em direção à luz. Quem busca o caminho contrário está morto e não sabe. Há formas muito mais indignas de apodrecer dentro de um corpo que ter um coração ou um cérebro afuncional.

O racismo é só uma delas.

Um momento de magia, por favor.



Originally uploaded by Monica Langer
Esta foto, cretinamente roubada do flickr da Monica Langer, explica em mil palavras porque o Rio é a cidade mais poética do planeta. E mais não digo, que o óbvio não se explica.

segunda-feira, outubro 01, 2007

Banho, pêlo e bigode


Banho, pêlo e bigode
Originally uploaded by Van-Or
Tomei banho e agora tô esperando minha mãe me buscar. Odeio segundas!