Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

sexta-feira, outubro 31, 2008

Preconceituoso, moi?!?

Segui a dica do Globo (em artigo de Nicholas Kristof, colunista do New York Times, na página 33), e fiz o teste de Harvard de associações implícitas para saber o quão racista sou. A resposta ("não apresenta diferença nas escolhas automáticas por brancos ou negros") não me surpreendeu, mas eu tenho impressão que esse teste deve estar fazendo muita gente revisar seus conceitos.

Em tempo: o teste é super simples, mas é todo em inglês e dura entre 5 e 10 minutos, do cadastro ao resultado. Agora resta saber se o fato de eu indicar um teste em inglês caracteriza preconceito. Vou esperar Harvard se manifestar!

quinta-feira, outubro 30, 2008

Coisas que não perdoamos pelo caminho

Feriado do servidor público

Ouvi no rádio, dia desses, uma propraganda do governo federal que dizia mais ou menos assim: "Você conhece o Monteiro Lobato escritor, seus livros e idéias incríveis, mas provavelmente não sabe que ele também foi um funcionário público." E depois vinha a vinheta lembrando que dia 28 de outubro é dia do servidor público.

Nas entrelinhas, eu li: "28 de outubro, galera: dia desse grande merdalhão que você odeia gratuitamente. No entanto, segure seu preconceito, pois o cara atrás do balcão até pode ter um cérebro ou, quem sabe?, um coração."

Seria mais ou menos como dizer que o Flamengo sempre foi um time de pernas-de-pau, mas o Zico, em compensação, ó: um grande poeta! Ah, eu não perdôo os publicitários que fizeram uma campanha idiota dessas. Podem até dizer que estou defendendo os meus, mas duvido que os mentores dessa campanha sejam funcionários concursados. Devem ser, isto sim, uns moleques de 12 anos fazendo estágio na licitação ilícita de algum tio.

Aliás, o feriado do funcionário público será celebrado nesta sexta, dia 31, pela municipalidade do Rio de Janeiro. Vamos ver se a gente consegue tirar 917 mil eleitores cariocas do Rio desta vez pra provar que o Cabral é bom e o Dudinha é Paes e amor. E que tanto faz a data do feriado, desde que os eleitores com cacife pra viajar sejam eleitores do outro.

***

A Vaca Leviana

Passa o tempo, passa a vida, mas se tem uma única figura não-genérica no planeta Terra que eu odeio de verdade, com todas as forças, se tem uma pessoa que eu não perdôo por nada, essa figura é a Vaca Leviana, por todas as maldades e o assédio moral que ela me aprontou.

Outro dia foi uma cabeçada do meu trabalho almoçar lá na feira dos paraíbas, umas 20 pessoas. Não sei quem começou, mas aquele almoço foi completamente dedicado a falar mal da Vaca Leviana, de como ela é pérfida, de como ela persegue as pessoas, de como ela não sossega até destruir, corroer e danificar a sanidade física, mental e social de seus desafetos. Alguém até falou que a mulher é tão louca que persegue a própria sombra, só porque a pobrezinha é mais alta. Acho que vou mandar uma carta pro Paes sugerindo que ele libere logo um alto cargo comissionado pra essa bruxa, senão todos os 600 servidores direta ou indiretamente ligados ao seu setor terão que nadar crawl em seu veneno, pelo menos até que ela tenha o seu DAS garantido.

Aliás, muito feio isso das pessoas se articularem pra manter os cargos que não lhe pertencem. Ainda bem que isso não acontece na Mangueira: a gente é favelado, mas tem ética e boas maneiras.

***

Livros que acabam de qualquer jeito

Li somente agora "Travessuras da Menina Má", do Llosa. O livro ia bem, bem, até que o autor começou a confundir referências (conheceram-se num consultório ou num hospital? estavam doentes ou aguardavam notícias de uma amiga doente?) e, por fim, matou a heroína abruptamente. Abruptamente e, diga-se de passagem, de uma culpa católica sem precedentes históricos! Está explicado porque o Llosa quis ser presidente do Peru: porque sente muita culpa!

Não dá pra perdoar narradores que matam seus heróis nas últimas vinte páginas. Não está gostando da história, meu filho, vai pra outra, mas pára de dar essa morte moral pros personagens malvados; pára de achatar todo mundo em uma dimensão boazinha ou mazinha. Gente ruim não morre na vida real - taí a vaca leviana que não me deixa mentir -, então pra que se enganar? Eu fiquei tão vaca-leviana da vida com as Travessuras da Menina Má que me proibí, para todo e inesgotável sempre, de ler livro em que o mau morre no final. Como eu vou saber do fim antes de ler, não sei, mas não quero mais essa aulinha rasa de educação moral e cívica no meu ócio criativo.

E o 593 bate!


E o 593 bate!
Originally uploaded by Van-Or
Não sei como não acontece mais vezes, pois a marquês de são vicente é tomada por alunos da PUC e ônibus anfetaminados a esta hora do dia. Deus é carioca, favelado e mora na Rocinha, só pode.

terça-feira, outubro 28, 2008

CQC - Top Five 20/10/08 - Prt2 - Bônus Track - Maisa



E por falar em culpa católica... UAHUAHAUHAUAHA!

segunda-feira, outubro 27, 2008

Lindíssimos CQCildos

A única coisa boa depois deste segundo turno é o CQC. Os caras agora deram de implicar com a esposa do Maluf, na certeza de que ela seria a primeira a dar uma exclusiva com os podres do marido, caso ele pise na bola.

Os super-sérios (e chatos pra caceta) que me perdoem, mas fair play é fundamental. Neste quesito, preciso confessar, o engomadinho do Paes até que tem algum mérito. O programa de hoje está engraçadíssimo!

Kill Bill

Pois é. Rosalda Garotinho, a mafiosa populista mais casca grossa do país, ganhou as eleições de Campos com 59% dos votos úteis. A gente somos inútel mermo, mano. Haja silo pra tanto curral eleitoral!

Por falar em casca grossa, seria ótimo se os milicianos e fanfarrões de rinhas de galo das alianças cabralescas começassem a se matar para tentar garantir cargos no governo municipal do Rio de Janeiro. Afinal, há muitas bocas pra tão pouco sarapatel, e olha que o desespero só tende a crescer agora que Dudu Malvadeza começou a repartir a pizza.

Pode ser só o luto falando por mim, mas quando penso em um futuro político melhor pro Rio, me vem à cabeça um trágico acidente automobilístico com o casal Garotinho e seus filhos (apenas os 23 picados pela mosca azul, os outros 27 poderiam escapar). Depois era só convidar o Quentin Tarantino pro roteiro e a Uma Thurman pro velório, e estávamos conversados. Só escapariam vivos os mafiosos que mandassem o assessor em seu lugar.

Tem gente que sonha em ganhar na sena. Eu sonho com coincidências cinematográficas.

domingo, outubro 26, 2008

Gabeira vence no Rio de Janeiro

Estou com o Noblat, que disse que o Gabeira ganha quando perde. Perdeu este segundo turno por 55mil votos, mas quando um candidato que tem como principal plataforma a ética e a transparência consegue 1.640.870 votos (49,17% dos válidos) numa cidade tão importante quanto o Rio de Janeiro, isto há de significar alguma vitória. E essa vitória há de querer dizer alguma coisa.

Que a gente não tem cara de babaca, pra dizer o mínimo.

Quanto ao Paes, que é super amigo do governador e do presidente e fez disso sua principal plataforma eleitoral, quero ver como é que ele vai se virar "sozinho" quando seus amiguinhos sumirem do cenário político daqui a dois anos. Ué, estão rindo da minha cara por quê? O fenômeno já começou: o Gabeira venceu no Rio de Janeiro! (ponham isso na cabeça de vocês de uma vez por todas)

E em relação a essa vitória quase subjetiva, tenho a dizer que ele não poderia ter vencido melhor, nem mesmo se os 917mil eleitores que preferiram viajar no final de semana prolongado tivessem comparecido às urnas e marcado 43.

Ih, eu disse que a maior isca de otário do Paes foi a tão alardeada parceria com os mano? Foi mal, gente, me confundi: na verdade, foi sua campanha difamatória imunda repleta de descontextualições cretinas. Mas vamos lá, atitude mental positiva: com sorte, serão só quatro anos.

sábado, outubro 25, 2008

Onda Verde e Rosa (com letra maiúscula, por favor)

Outro dia, saindo do trabalho, em vez de esperar 15 minutos pelo único ônibus que passa na frente da Mangueira, optei por pegar um mototáxi no ponto que fica na frente do IJV. Cheguei pros motoboys e mandei:
- Aê, chapeize: qual de vocês pode me dar um bonde até ali, na estação?
Um deles me olhou de cima abaixo e respondeu com aquela voz mais pastosa da provocação:
- E o cara, aí! A mulé é mó playboy, mas pelo menos fala a linguagem da gente, a linguagem do morro.
E eu, que sempre achei o meu linguajar bastante adequado a Botafogo, percebi somente então que o ser humano pode sair da Mangueira, mas a Mangueira não sai do ser humano jamais!

***

Um dos caras do portão do IJV, um sambista de voz rouca, denotativo inequívoco de sua aptidão à boêmia da Mangueira, me adora. Ele me chama de Morena, e eu o chamo, bem... de Moreno. Pois na semana retrasada eu tive um corpo a corpo com o Moreno. Coloquei-o contra a parede e perguntei em quem ele ia votar. No engomadinho do Eduardo Paes, ora! Novidade nenhuma, pois todo mundo sabe que o Chiquinho da Mangueira, aquele píula!, é Paes. Então, como era de se esperar, toda a Mangueira é Paes. Aí eu comecei a recapitular com o Moreno episódios recentes da história de nosso município, da carreira do Paes, do Gabeira e, não sei como (acho que porque o Moreno é artista), a gente acabou falando do exílio do Brizola no Uruguai e do Darcy Ribeiro no próprio Brasil. "No próprio Brasil?", perguntei eu intrigadíssima, e certa de que ele sabe mais do Darcy Ribeiro do que eu própria, porque o Moreno pelo menos não perde uma feijoada mensal da Mangueira, e todo mundo sabe que o Darcy é tema do samba-enredo da escola este ano. Este ano, aMangueira sabe mais do Darcy Ribeiro do que qualquer antropólogo chinfrim.
- Sim, Morena. O Darcy ficou exilado na Amazônia, lá no meio dos índios. Ele falava a língua daqueles índios lá todos. Os militares nunca ficaram sabendo que ele estava no Brasil, porque naquela época não tinha internet, celular e nem nada.

Ah, tá.

No final, depois de termos falado sobre Jango e o caceta, eu confessei pro Moreno o objetivo daquela conversa de lenga-lenga: "Moreno, cá entre nós, meu querido, na sinceridade total: eu só estou aqui gastando minha saliva porque quero que você vote no Gabeira, pô. Se não for por tudo que eu te disse, pelo menos vote nele por mim, que eu sei que você me ama." Aí ele pareceu ofendido:
- Mas Morena, se você queria que eu votasse no cara da sunga, era só dizer! Secamos garganta à toa, minha princesa: seu desejo é uma ordem!

E eu, que não podia me fazer de rogada, arrematei:
- Será que você consegue convencer uns 3500 até o dia 26?

Afinal, é só sublimar o rosa, porque o verde eles já têm.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Atenção, senhor paparazzo!


Olha quem os paparazzi atacaram dia desses: a Bia Rónai e seu amigo Zeca Camargo. Na matéria da revista de fofoca (que fez a foto acima), aparentemente o personagem secundário é a minha amiga, mas aqui neste quartinho ela é estrela de grandeza maior. E tenho dito!

Onda verde


Sou uma pessoa temente à lei, então jamais usaria camiseta com o nome de qualquer candidato no dia das eleições, mas um verdinho básico pode, minha gente! Sugiro que todo mundo tire uma fotinha com a roupa verde na frente da seção eleitoral. Não sei quanto a vocês, mas se o Paes ganhar, eu vou passar 4 ou 8 anos mostrando a minha foto verde pros eleitores do Paes que vierem reclamar da vida comigo. Vai ser meu jeito verde-de-raiva de dizer "eu te disse, mas eu te disse!"

E você, servidor público federal ou estadual que já está com a malinha no carro pronta pra mais um fim-de-semana prolongadão às custas de sua alienação política: não pense o senhor que alguma janela blindada será capaz de o proteger dos próximos quatro anos. Querendo ou não, a política afeta a vida de todo mundo (então é bastante questionável que o senhor troque 3 dias de férias por quatro anos de inferno de mão beijada).

ATUALIZAÇÃO IMPORTANTE: a Fernanda, leitora do blog da Cora, escreveu algo que o jornal de hoje confirmou de forma muito menos simpática:

"Não é crime não, mesmo após a alteração da lei 9.504/97 pela Lei 11.300/06. Porém, muitos mesários não sabem disso e acabam impedindo eleitores de ingressarem nas zonas eleitorais.

Agora, é vedada na campanha eleitoral a confecção, utilização, distribuição por comitê, candidato, ou com a sua autorização, de camisetas, chaveiros, bonés, canetas, brindes, cestas básicas ou quaisquer outros bens ou materiais que possam proporcionar vantagem ao eleitor. Ou seja, o eleitor tem que confeccionar, por conta própria, sua camiseta.

Se quiser saber mais a respeito, é só entrar no site do TSE ou TRE-RJ!!!!!!!!!!"

Ou seja: o senhor, Seu José, e a senhora, Dona Maria, podem votar com a camiseta do Gabeira, que não tem tempo quente algum.

quinta-feira, outubro 23, 2008

Pensamento, esse monstro adorável que eu afogaria todos os dias.

Uma professora de yoga uma vez me disse que o pensamento é um monstro que devemos aprender a controlar. Em relação a isso, imagino que existam pelo menos três correntes sobre o controle da mente: a que acha que isso é impossível, a que acha que é perfeitamente possível e, por fim, aquela que acredita que o pensamento pode até deixar de comer suas galinhas, se for devidamente alimentado, mas nunca será domesticado ou usará um coleirinha ornamentada com o telefone de seu dono.

O pessoal do pensamento incontrolável percebe que, se ele começa com um foguinho, em pouco tempo toda a floresta da mente estará consumida pelo incêndio alastrante. Isso parece ter acontecido, por exemplo, com o pensamento do sequestrador da menina Eloá, em Santo André: um pensamento obsessivo de posse e uma grande incapacidade de aceitar a rejeição rapidamente evoluiram para pensamentos assassinos que acabaram por se concretizar com um empurrãozinho da polícia. Não sei se teria sido útil o negociador do sequestro dizer ao sequestrador: "Meu amigo, essas coisas feias todas estão só na sua cabeça, e é melhor que elas fiquem aí." Se isso funcionasse, toda a Psiquiatria moderna estaria em cheque. Se fosse tão fácil assim controlar o pensamento, não haveria hospícios, neuroses, psicoterapeutas e, puxa vida, talvez não existisse nem arte, porque uma das grandes utilidades da arte (ao artista!) é canalizar o pensamento caótico que não pode ser, de outra forma, exteriorizado.

Os controladores da mente, por outro lado, propõem técnicas infalíveis de autocura e meditação para a devida contenção neuroquímica endógena do monstro-pensamentoso. Eu, particularmente, acho isso duma ingenuidade risível, pois por mais que tenha tentado, nunca consegui esvaziar minha mente e pensar em nada. Mesmo quando nado, que é o mais próximo que eu chego de pensar em "nada", penso: "E se um cardume de peixes me atacar? Será que tem um tubarão me espreitando lá do fundo do mar? Quantos coliformes fecais eu acabo de engolir?". E se nado numa piscina, penso: "azul, azul, azul, opa: uma folhinha ali no fundo!" Por isso, toda vez que faço alguma aula ou sessão de relaxamento que começa com a voz pastosa do instrutor dizendo "Inspire profundamente e, na expiração, esvazie sua mente...", eu tenho uma vontade incontrolável de gargalhar, o que atrasa meu processo de relaxamento em cerca de dez minutos (sobretudo se a classe está cheia e eu sou a única espiando os outros de rabo de olho e gargalhando por dentro). Buda teria vergonha por mim, eu sei, mas andei conversando com muita gente que medita e todos me disseram que expirar o pensamento é a maior balela. Na melhor das hipóteses, você o filtra e pensa só em coisas desejáveis. O que me leva ao terceiro e último grupo: os que abdicaram de escravizar a besta e aceitaram ter com ela um convívio meramente pacífico.

Parece ser no mínimo razoável admitir que o pensamento não pode ser controlado, mas sim compreendido, relativizado, aceito e aprimorado. Prefiro pensar assim a imaginar que vim com um defeito de fabricação e, por isso, não consigo controlar meu pensamento. Aliás, em minha defesa, preciso lembrar que existe um grande abismo entre o descontrole total, como é o caso do sequestador assassino, e o controle absoluto, que é o caso de alguns faquires que conseguem reduzir abruptamente a freqüência cardíaca a seu bel-prazer, entre outras coisas fascinantes. Por outro lado, reconheço não ser nada fácil aceitar (de verdade) tudo o que se pensa espontaneamente. Muito processos são necessários para que um pensamento ruim não nos tire a credencial de ser humano. Por exemplo: imagine que você tenha um pensamento preconceituoso negativo (alguns especialistas defendem a tese de que o preconceito, antes de ser uma questão cultural, deriva do instinto de autopreservação, portanto pode ter conotação positiva, mas não vou entrar nesse mérito). Tenho certeza que você tem os seus, mas tomemos por exemplo o seguinte pensamento: "Prefiro morrer a morar num determinado lugar". Não vou citar lugares específicos porque o texto está grande e o pensamento descontrolado dos usuários de orkut só registraria a frase em negrito e rapidamente criaria comunidades para me exterminar. Aliás, essa descontextualização patológica aviltante às pessoas com meio cérebro hepatizado é exatamente o que o Eduardo Paes está fazendo com o Gabeira neste segundo turno, mas voltemos ao pensamento ruinzinho: "Prefiro morrer a morar num determinado lugar".

Primeiro você deve admitir que este pensamento é seu ("OK, eu penso assim e nem por isso vou me entregar à polícia; muita calma nessa hora!"). Depois, deve ser racional em relação a isso ("Há poucas chances de eu efetivamente morar nesse determinado lugar, então não há muito sentido ficar pensando nisso nestes termos": é neste momento que o pensamento pára de crescer e envenenar o portador. O dano está controlado). Agora que já admitiu e racionalizou, deve colocar o pensamento em perspectiva (Não deve ser nada fácil morar em um lugar esquecido pelo poder público; morar nesse lugar representa uma situação de exclusão sócioeconômica e cultural a qual eu dificilmente me adaptaria, é natural que eu me sinta assim). E, por fim, aprimorar o pensamento para que ele, um dia, possa sem externado sem semear a cizânia* (talvez, em vez de me atacar - prefiro morrer a morar lá! - eu deva votar melhor; talvez eu deva cobrar providências aos governantes; talvez eu possa me associar a um grupo de voluntários e fazer algo por essa comunidade, afinal isso me incomoda a ponto de eu preferir morrer a lá viver).

Pensamos coisas inomináveis que jamais verbalizaremos, mas tudo bem: a sociedade espera isso de nós. O abismo entre o que se pensa e o que expressa é o que define a moralidade. Ou a hipocrisia. Não é nada bonito admitir que estou no grupo dos hipócritas e quetais que não controla o pensamento (apenas o aceita, contextualiza e aprimora) o que, em última instância (e só pra dizer o mínimo), significa que tenho pensamentos muito maus, sobretudo contra mim, mas que eu nem sempre verbalizo.

Então, como exercício de auto-aceitação, hoje vou verbalizar um desses pensamentos muito ruins que não tem saído da minha mente nos últimos dias: o ser humano é um terreno extremamente fértil para o rancor e o ódio, mas o amor não germina com tanta facilidade nas pessoas. A mente humana não aceita facilmente o pensamento alheio (e o credo, a opção sexual, as diferenças culturais, etc), e isso faz parecer verdade a máxima de que todo mundo é uma ilha. Estamos todos exilados, de certa forma, em nossa própria ignorância. E como aprimorar um pensamento tenebroso desses? Só através da esperança. Esperança de que nasçam (ou já tenham nascido), no mundo inteiro, milhões de pessoinhas portadoras da eloqüência e do altruísmo necessários para convencer todas as outras, pessoas normais como eu e você, de que o pensamento coletivo pode ser direcionado para coisas boas. As palavras, unidades estruturais do pensamento, podem ferir e provocar guerras, mas também podem salvar o mundo. Para isso elas têm de ser proferidas no formato exato, aquele que fala direto à alma, e encontrar ouvidos aptos e mentes abertas dispostas a lapidar seus pensamentos ruins.

* Ainda que a cizânia seja a premissa do orkut e dos leitores raivosos de blogs em geral.

terça-feira, outubro 21, 2008

Stand de ciências na Carioca.

Está fofo, mas... abafa.

segunda-feira, outubro 20, 2008

Meus cães de guarda-segredo.

Meus pais voltaram de Miguel Pereira envergonhados ontem: descobriram que nossos peludos não são cães de guarda convencionais. São cães de guarda-segredo. Explico:

Numa noite fria e úmida - e em Miguel Pereira, O Terceiro Melhor Clima Do Mundo, as noites frias são realmente muito frias -, minha mãe ouve um ruído vindo lá da cozinha. De baixo de seu murundu de cobertas, ela fez unidunitê pra escolher quem seria incomodado para investigar que barulho era aquele. Na suíte presidencial da casa naquele dia, dormiam 4 criaturas encolhidas de frio: meus pais, em sua caminha modesta, e meus peludos, em suas camas maneiríssimas sob suas respectivas cobertas felpudas. Minha mãe, é claro, lançou o primeiro olhar de súplica para o Povo Brasileiro, nosso Galgo Iraquiano, que embora castrado ainda é o macho alfa da casa. Quando ele sentiu o olhar suplicante de sua escrava humana lhe pesando sobre o cangote, ajeitou-se na almofada, virou-se de costas e afundou a cabeça entre as patas e a coberta. E o barulho na cozinha, sinistro, lento, aterrorizante, prosseguia.

"Radija", minha mãe chamou baixinho. Minha mãe sempre confiou nos 35 quilos de pura ferocidade de nossa pastora islandesa, mas naquela noite, especificamente, a peluda estava cansada demais para sequer abrir os olhos. E minha mãe ainda insistiu, sussurrando: "Radija, levanta. Radija! Vá ver que barulho é esse na cozinha, anda!" Mas os pastores islandeses não respondem bem ao imperativo, então Radija fez o que se espera de um cão com personalidade nessas horas: não obedeceu ao comando. Mas ao menos abanou o rabo para dizer que tinha entendido, só que não ia rolar. E o barulho agonizante, como o de um batalhão de ratos marchando sobre as latas da despensa, não parava. Mas poderiam ser gambás, poderia ser um ladrão muito pequeno, poderia ser um tapete de baratas, enfim. Pelo barulho, era algo muito incomum e muito sinistro em nossa cozinha, e isso não podia ficar assim.

Então minha mãe, armada com uma chinela havaiana, foi ela mesma à cozinha ver o que era. Ao acender a luz, viu um vulto dramático cortar o céu entre a pia e a porta com um grito arrepiante. Gritou. Meu pai, que tinha sido poupado até então, acordou. E já que ele, que é o mais preguiçoso da casa, tinha acordado, os peludos acordaram também. E foram todos à cozinha, fingindo interesse genuíno, ver porque minha mãe tanto gritava. Sherlock examinou a cena do crime e diagnosticou: o vulto do ladrão pertencia a um gato. O gato estava jantando os restos do churrasco sobre a pia. Era elementar, meu caro Watson: só um gato teria aquela agilidade, aquele grito e aqueles dentinhos que ficaram perfeitamente marcados na picanha.

- Um gato?!?, estranhou minha mãe. Mas se fosse um gato, nossos peludos teriam ficado muito nervosos. Eles ficam muito nervosos na presença de gatos.
- Ué, e não ficaram?, quis saber meu pai.
- Não! Eles ouviram o barulho, ignoram meus apelos e simplesmente continuaram a dormir.

Meu sonolento pai pensou, mas não muito, pois o frio o compelia a voltar imediatamente para a cama, e decretou:
- Vamos guardar segredo, então. Como eles: se eles são cães de guarda (segredo), e deixaram o gato entrar e sair da cozinha na surdina, nós também jamais falaremos sobre isso a ninguém. Pela honra deles!

***

Em alguns momentos, minha família me lembra muito dos 3 Mosqueteiros. E nada me tira da cabeça que esse gato andou subornando meus cães. Em época de picanha, minha gente, vale tudo entre cães e gatos. Taí o Eduardo Paes que não me deixa mentir.

domingo, outubro 19, 2008

Feliz horário de verão.


Hoje eu queria ter começado a dieta do flash, que nada mais é que fotografar tudo o que se come com o objetivo de desenvolver uma anorexia nervosa não quimicamente induzida, ou seja, uma neurose alimentar absolutamente natural que levará o contribuinte complexado ao emagrecimento e, eventualmente, à morte.

Mas aí eu pensei bem, pensei muito bem e, três capuccinos depois, decidi que essa dieta não é pra mim. Eu levei 3 capuccinos pra perceber que não gosto de fotografar comida feia, mas isso não quer dizer que eu não coma comida feia, e taí a feijoada que não me deixa mentir. Eu resolvi que só vou voltar a fazer dieta quando o sertão virar mar. Do jeito que chove no Rio, talvez na segunda-feira que vem.

sábado, outubro 18, 2008

Profissão: bonequinha de cinema

Odeio que me chamem de boneca, sempre odiei. Quando eu era pequena, não sei porque, eu tolerava "princesa" super bem, mas boneca pra mim era palavrão. Aos 12 anos, aprendi a dizer que boneca é o caralho e, desde então, a única boneca que eu poderia ser é a Boquinha Suja da Estrela, se ela existisse. Mas aí eu arrumei um namorado chamado Ken, e muitos desavisados, pra não perder a piada, têm me chamado de Barbie. É brincadeira, eu sei, e só por isso eu não dei um fim sinistro a esse povo todo: só pra provar que eu sou capaz de entender uma piada. Mas a raiva taí, ó, solta no ar, e eu precisei fazer alguma coisa com ela, senão essa massa maléfica de ódio incontido poderia se voltar contra mim. Então eu mandei a Barbie ao cinema para tentar entender como pensa o Bonequinho-Viu do Globo.

No início, Barbie não entendeu bem o que era pra fazer, por isso desperdiçou alguns baldes de pipoca em completo estado de ausência mental. Só depois da vigésima fita (e nós assistimos quase 100 entre as férias e o pós-operatório) ela começou a tecer alguns comentários sobre o que viu. E eis algumas das coisas que ela viu:

O Labirinto do Fauno (2006)
Não funciona nem como filme pra criança, nem como filme pra adulto. Pra criança, tem muita violência (aliás, este filme é altamente contra-indicado para quem acaba de operar o nariz, porque todas as cenas bárbaras de tortura começam com um esmagamento nasal); pra adulto, os efeitos especiais e as criaturas míticas são extremamente caidaços, dignos del grand circo de Passa Quatro. Salve a Lycra e as maquiagens baratíssimas! Uma pena: o enredo exigia uma produção mais bem cuidada.

The Fall (2006) - o título em português seria "A Queda"
"Tipo assim", Barbie tentou explicar, "esse é o filme mais bonito que eu já vi em toda a minha vida!". Ela insistiu tanto, que eu fui ver também. Tivemos que dividir um lençol pra evitar que um rio de lágrimas nos eletrocutasse em frente à TV, e quando o narrador depressivo começou a liquidar a fantasia da menina, personagem por personagem, Barbie pulava na cadeira e gritava: "NÃÃÃÃOOO!" E nós choramos tanto que não daria nem pra ler legenda. No fim, nós duas só tínhamos um pensamento fixo: ter uma filha igualzinha a atriz mirim romena que roubou todas as cenas.

Ensaio sobre a Cegueira (2008)
Tão incrivelmente perturbador que o cérebro da Barbie quase precisou ser resfriado em Coca Light. Depois de uma temporada no inferno, a heroína-que-vê recorda a bestialidade do homem ao ver uma matilha de cães devorando um cadáver. Logo em seguida, quando chora e um cão vem lhe lamber as lágrimas, ela percebe no animal uma humanidade que falta ao próprio ser humano. Barbie não entendeu bem o porquê, mas aplaudiu de pé. E nunca mais foi a mesma. Agora ela tem assunto pra tomar um Cosmo com o bonequinho-viu.

quarta-feira, outubro 15, 2008

A farsa do granuloma estenosante

Cheguei ontem no meu otorrino furiosa. Antes de prosseguir este relato, eu reconheço que não deve ser nada fácil ser o otorrino que me operou porque eu sou uma daquelas pacientes hipocondríacas da pior espécie, do tipo que já chega no consultório com três diagnósticos e vinte pedras na mão. Mas ainda assim, caramba, eu só fiz essa porcaria de cirurgia de desvio de septo porque uma médica de 12 anos me disse que em 5 dias eu estaria de volta à minha vida normal. Sei que a gente só acredita naquilo que quer acreditar, de fato, mas fato é que se passaram 24 dias da cirurgia E MINHA VIDA NÃO VOLTOU AO NORMAL!

Toda terça-feira, até dezembro, eu terei de ir ao consultório do meu otorrino pra ver como diabos está a porcaria do meu nariz. Mas ontem, pra não variar, meu nariz estava muito mal. Ele perguntou, simpático:
- E aí, como vai o nariz?
- Mal, doutor, muito péssimo! Pois eis que eu descobri um granuloma lá dentro da narina esquerda. Não bastasse ser um granuloma epitelizado, vascularizado e o diabo a quatro, o monstro ainda está estenosando 3/4 da minha narina. Há dias que não durmo por isso: acordo com a boca seca, os lábios ressequidos e olheiras que inequivocamente acusam o tanto que eu não dormi.

Ele fez cara de "hum, sei", pegou um espéculo e uma lanterna pra fuxicar dentro do meu nariz. Aí eu perguntei:
- Viu o granuloma?
- Vi. Nossa, granulomão.
E veio pra cima de mim com uma pinça enorme. Eu tive que protestar:
- Doutor, mas o que qué isso?!? Você quer tirar meu granuloma epitelizado e vascularizado assim, sem caneta nem talão? Vai doer, doutor, peralá, como assim?
- Apenas relaxe e respire. Pode ser pela boca. Pense nos cachorrinhos.


Então eu confiei. Respirei e não relaxei, que a gente confia, pero no mucho. Segundo seguinte, ele retirou um grande tumor vascularizado e sanguinolento de dentro de minha narina. E me mostrou:
- Olha aqui o seu granuloma.
- Mas como você me tira um tumor assim, sem anestesia?!?, perguntei bastante chocada.
- Simplesmente porque melecas não sentem nada.
Fiquei bolada.
- Meleca? Você está querendo dizer que meu granuloma era, na verdade, um obrocotoma melecóide benigno embora altamente indiferenciado, vascularizado e epitelizado?
- Sim. E mais um pouco, seu tumor vascularizado, epitelizado e estenosante criaria um cérebro e competiria contigo em criatividade.

Putz grila! Justo naquele dia em que levei meu pai ao otorrino porque podia jurar de pé junto que, quando o médico visse meu obrocotoma nasal, chamaria o resgate aéreo do meu plano de saúde pra me levar pro centro cirúrgico mais próximo. Enquanto o médico ia revelando, pouco a pouco, que minha incrível complicação pós-operatória era apenas uma meleca, eu ia olhando de rabo de olho pro meu pai pra ver se ele estava rindo da minha cara. Não estava. Mas poderia, porque na véspera, eu juro que disse pra ele (pra minha mãe, não, que ela não é forte o bastante) que esse pós-operatório tinha tomado um rumo fatal inesperado.

Bem, a verdade é que eu estou aqui, vivinha da silva. Tiraram a meleca e ficou a pessoa: às vezes, isso acontece, até nas melhores famiglias.

Môdade, tia.


Môdade, tia.
Originally uploaded by Van-Or
Este pituco fofão de poucas semanas apareceu hoje no IJV com uma fratura, já reduzida. Muitos candidatos a dono, mas nada concreto ainda. Se até sexta não pintar, terei peludo novo na hospedaria. Algum interesse? Av. Bastolomeu de Gusmão, 1120, são Cristóvão. Procurar pelo filhote arrottevailhado (mas temos outros!)

terça-feira, outubro 14, 2008

Servidor, não morda essa maçã!

Ontem, pelo diário oficial do munícipio, descobri que o feriado do servidor público (27/10), que cairia na primeira terça-feira pós-eleitoral, foi transferido para a sexta seguinte, dia 31/10. Ótimo, eu pensei: finais de semana prolongados são sempre bem-vindos. Para meu choque e horror, descobri hoje que para os servidores da esfera cabralesca do governo, o feriado foi antecipado para a segunda-feira logo após o segundo turno, a fim de favorecer a evasão de eleitores do Gabeira do Rio. Faz sentido, Cabral. Afinal, de acordo com as pesquisas, quanto menos eleitores de classe média votarem no segundo turno do Rio, melhor pro seu querido Paes.

Essa manobra me lembrou muito da história da Branca de Neve com a maçã envenenada oferecida pela bruxa. A maçã taí pra quem quiser morder. Agora só nos resta torcer para o eleitor carioca não ser ingênuo a ponto de chutar esse balde de 4 anos por causa de um final de semana de 3 dias. Meus paralelos entre o Rio e contos de fada terminam por aqui, até porque São Jorge só tem um, mas cavalo tem aos montes.

segunda-feira, outubro 13, 2008

Meia pataca

Obrigada, amigos queridos, por lembrarem que eu teoricamente correria a Meia Maratona de ontem e por me perguntarem como foi. Sinto decepcioná-los, mas não foi. Três semanas após a cirurgia de desvio de septo, ainda não recuperei completamente minhas faculdades naso-sinusais: sinto como se estivesse no auge de uma sinusite pós-operatória que lateja como uma enxaqueca de 2 centímetros quadrados bem localizada abaixo do olho esquerdo, por dentro da face e na diagonal do nariz (tenho certeza de que há um termo anatomicamente correto para isso, mas no momento eu quero mais que ele se foda).

Pra piorar, uma coisa estranha surgiu bem lá dentro da minha narina esquerda. Eu, que a princípio achava que a criatura fosse uma simples formação melecóide exuberante, descobri, com o auxílio de um otoscópio veterinário, que o corpo estranho é, na verdade, uma couve-flor cicatricial daquele tipo que os médicos gostam de chamar de granuloma. É muito fácil chamar de granuloma a couve-flor do nariz dos outros, mas eu quero ver respirar com essa formação rochosa entre toda a atmosfera farta de ar e um trato respiratório sacrificado por sua ausência. Estou na expectativa raivosa de encontrar meu otorrino amanhã cedo e descobrir qual será seu plano mirabolante pra tirar essa verruga estenosante das entranhas da minha narina. Dependendo do que ele disser, eu temo por sua vida.

Tudo isto posto, espero que vocês não se decepcionem irreversivelmente e compreendam porque, no momento de buscar meu kit de corrida (afinal eu tinha pago por ele), eu tive um inesperado rompante de auto-honestidade e deixei com o pessoal da organização do evento meu número de corredor e chip, denotando inequivocamente que nem ao menos tive a intenção de tentar.

Ontem, pela segunda vez este ano, fui da minha casa ao Aterro para ver a emocionante chegada dos corredores. A diferença desta vez pra outra é que eu consegui correr os 5km do trajeto (quase 1/4 da meia!), não chorei que nem um bebezinho porque não tive condições físicas de participar da grande festa, nem tampouco botei olho gordo na medalha dos outros. Fiquei feliz da vida com meus 5km e com a minha camiseta climalite novinha em folha.

Na verdade, acho que mereço até uma medalha pelo meu otimismo: em 2008, eu me inscrevi em duas meias e não corri nenhuma, mas eu fui pollyana o bastante pra achar (sinceramente) que conseguiria.

O otimista é um tipo de trelelé que não faz mal a ninguém.

sábado, outubro 11, 2008

Dicas de produção de halloween para festa da minha irmã Hannah

Halloween tá quase aí e minha irmã caçula, a Hannah, pediu dicas de decoração para sua festa temática no play. Como eu acho bastante caído aquele halloween que não tem nada a ver com a gente, pensei em dois estilos alternativos:

1. Rélou-in para gente fina, elegante e sincera:

O tema é assombração do folclore nacional. Vampiros, bruxas e abóboras serão barrados na portaria, onde aquela mulher odiável que detém a lista de convidados estará vestida de Cuca. (cuidado com a Cuca, que a Cuca te pega!)

Haverá um bambuzal na entrada do bar e os garçons estarão caracterizados como sacis pererês, porque todo mundo sabe que o Saci mora num bambuzal. O véio do saco carregará pro fogo do inferno os menores de idade que tentarem tomar bebida alcóolica, e a mulher loira de branco assustará as meninas no banheiro para que a fila ande mais rápido. O DJ mixará os melhores momentos do Sítio do Pica-Pau Amarelo e um dos pontos altos da festa será a quadrilha dos curipiras, com todo mundo dançando pra trás na velocidade cinco. Depois da quadrilha, será celebrado o casamento da noiva maluca do Nelson Rodrigues. Bebida será quentão e a comida, um churrasquinho preparado pelo analista de Bagé na cabeça incandescente da mula sem cabeça. (caraca, eu me borrei só de pensar, tenho paúra da mula sem cabeça!)

Para essa produção, você precisará de:
1. Cola
2. Tesoura
3. Cartolina
4. Bambuzal
5. CD do Sítio do Pica-Pau Amarelo e outros (poucos)
6. Pó de carvão (pros sacis)
7. Roupa de Cuca
8. Vestido de Noiva

2. Uma tarde na Faixa de Gaza:

Nesta festa, a decoração é bem mais fácil. O importante é fazer parecer que o salão sofreu um bombardeio aéreo, com mesas e cadeiras viradas, copos de plástico transparente estilhaçados e muito ketchup nas paredes. Espalhe pela mesa de comida umas pernas e braços de bonecas e jogue umas cabeças de Barbie no ponche (bem vermelho). Sugestão de comida: feijoada (porque parece uma sopa de mortos de guerra, sobretudo se você colocar bastante pé, costela e orelha), falafel, pão pita e hummus tahine, ou simplesmente nada, porque se faz bastante jejum no Oriente Médio por motivos religiosos.

Distribua estalinhos pros convidados jogarem uns nos outros e nos pés das meninas, semeie a cizânia! Faça uma iluminação bem dramática, com celofane vermelho nos spots de luz e uma lâmpada estroboscópica. Soe uma sirene toda vez que a música estiver ruim. Se a sirene tocar muitas vezes, mande o DJ pro paredão, tome-lhe o passaporte e coloque-o de castigo em Guantanamo. Nem precisa torturar, ele vai entender o recado. A mulher da porta será a Condoleezza Rice e o garçom estará vestido de homem-bomba.

Atividades sugeridas: malhar o judas (use no judas a máscara do Bush, mas se você quiser fugir um pouquinhozinho de nada do tema, pode usar uma máscara do Eduardo Paes recortada de uma dessas propagandas ilícitas que ele espalhou pela cidade); juntar o pessoal da azaração numa parte do salão que receberá o nome de "campo minado", onde os candidatos receberão torpedos no celular com mensagens de paquera (estar no campo minado significa que você está a fim de receber um torpedo); num cantinho do salão, instale O Grande Muro das Lamentações (um painel gigante onde os convidados poderão falar mal dos outros e de seus professores). Faça uma gincana e dê o prêmio pra quem achar o Bin Laden.

Para esta festa, você precisará de:
1. Cola
2. Tesoura
3. Celofane vermelho
4. Lâmpada estrobo
5. Música árabe e funk proibidão com apologia ao tráfico
6. Bonecas plásticas ocas e fáceis de desmembrar (no SAARA, boas opções de saldão depois do dia das crianças).
7. Mossad, Scotland Yard, MI5, FBI, CIA, NSA e KGB (mas mesmo assim, acho difícil que vocês encontrem o Bin Laden. Não custa nada tentar, though.)

***

Se eu tiver alguma outra idéia, te aviso, mas por enquanto é só.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Tarô

Chega um determinado momento da vida em que a gente precisa tomar uma decisão, e ela era do tipo que não decidia nada sem consultar o inconsciente coletivo, os astros, o tarô, os búzios, enfim: era uma mulher de fé! Só que sua crença esotérica tinha uma particularidade: para evitar que um determinado tarólogo (ou astrólogo, ou buzólogo, etc) começasse a montar quebra-cabeças complexos com os fatos que ia revelando de sua vida, e a fim e evitar que isso interferisse na clarividência do profissional, ela se forçava a trocar de esoterista após a segunda consulta.

Mal entrou na casa do novo tarólogo - super bem indicado por uma amiga como o mais infalível do Rio, "não erra nada, menina, é duma precisão cartesiana, tudo o que diz é batata, chega a dar medo!" -, foi logo impondo suas regras:

- Olha, antes de você pôr as cartas, já vou avisando que não quero saber de notícia de morte. Se der morte, pode ser até da bezerra, prefiro que não me diga nada porque eu tenho muito medo dessas coisas.

Ele concordou, acendeu velas, rezou, pediu pra ela cortar com a mão esquerda, escolher dez cartas, virou, pôs numa certa ordem e olhou, olhou, olhou, franziu o cenho, mas não disse nada. Até que suspirou, levou as mãos à testa como se enxugasse um suor invisível e fez aquela expressão emblemática de "e agora, josé?".

- O que foi? Meu jogo tá muito ruim?
- Não sei, querida, tá? Olha pra isso e me diz o que você acha: o enforcado tá de cabeça pra baixo na casa das mudanças olhando pra imperatriz, que tá na casa dos temores, e daí pra frente, ó, tá tudo trancado. Eu sei, você me pediu pra não falar de morte, mas com esse jogo tá difícil!
- Ai, meu Deus! Eu vou morrer? Agora que você tocou nesse assunto, eu preciso saber!
- Olha, não é bem assim que o tarô funciona: o tarô não diz, tá, sugere. As cartas apenas representam as suas tendências no momento, mas o destino não está completamente definido, até por causa do livre arbítrio. Então é assim: você tem grandes chances de sofrer, sei lá, um sequestro relâmpago, uma saidinha de banco, uma bala perdida, essas coisas traumáticas que acontecem no Rio. São eventos praticamente arquetípicos pro carioca que, mesmo que não resultem em morte, representam uma perda muito grande.
- OK, vamos trocar a idéia da morte pela idéia de uma perda muito grande. Se é uma perda muito grande, será que eu vou terminar com meu namorado?
- Poderia ser, mas olhando aqui seu jogo... não me parece que você esteja namorando no momento...
- E se eu eu arrumar um hoje? Eu posso arrumar um namorado, aí ele termina comigo e a perda fica sendo essa.
- Não, não tem bofe nenhum aqui nesse jogo.
- E se essas perdas muito grandes forem referentes à minha carteira de ações? Eu perdi muito, muito, muito mesmo. Foi uma perda muito grande!
- Escuta, querida, eu entendo que você esteja muito abalada com essa notícia, mas com a Morte a gente não tem poder de barganha. Tá claro aqui, ó: você vai morrer. Ou sofrer uma perda muito grande. De qualquer jeito, esse evento mudará seu destino.
- E se mudar o destino da cidade? E se essa perda tiver uma conotação política? Eu ando muito envolvida com as eleições municipais, isso tem preenchido minha vida quase que completamente. Eu tou muito envolvida com a minha cidade, eu amo o Rio, eu amo ser carioca. É tanto amor e envolvimento que talvez o tarô tenha confundido o meu destino com o do Rio, né? Heim? O que você acha?
- Bem, se você está assim, tão envolvida, até pode ser. Mas se for isso, sinto muito: significa que seu candidato vai perder.
- Ótimo! Quanto lhe devo?
- 50, mas você não quer ouvir o resto do jogo?
- Não, obrigada, eu já tenho a minha resposta. Coitado do Gabeira, ele bem que merecia ser prefeito do Rio. Não era pra ser!

Pagou, caminhou até a saída e, antes de sumir pela porta, voltou-se pro tarólogo, que ainda balançava a cabeça, atônito:
- Vem cá, o Gabeira é seu cliente?
- Por acaso é.
- E aí, ele vai ganhar ou vai perder?
- Vai ganhar.
- Puta que pariu!
- Que foi?
- Vou ter que começar a gostar daquele pilantra vira-casaca do Eduardo Paes!
- Ou então vai morrer.
- Nem morta!

quinta-feira, outubro 09, 2008

Ininterruptamente

Interfona o porteiro pro meu apartamento:

- Tô ligando pra avisar que hoje vai faltar luz no prédio de 9 da manhã às 5 da tarde.
- Ininterruptamente?, quis saber meu pai. (na verdade, ele já sabia que sim, mas como foi pego de surpresa pelo interfone, entrou no piloto automático e perguntou uma coisa qualquer.)
- Ó, eu posso até estar errado, mas acho que vai faltar luz no interruptor também.


Sem querer tripudiar sobre as mazelas da Educação no Brasil, eu juro que achei meu porteiro genial nessa rápida associação duma palavra a outra apesar das acepções diferentes, até porque eu sei que ele não está acostumado a palavrões com mais de três sílabas.

Infelizmente, o português dele está melhor que a geografia do nosso presidente (se ele estivesse certo e a crise tivesse realmente que cruzar um oceano para chegar aqui, talvez a gente ganhasse algum tempo pra decidir o que fazer com as ações que perderam o sentido em duas semanas).

PS otimista: troco minhas ações da Vale por uma caixinha de Altoids. Mas tem que ser de canela!
PS realista: troco todas as minhas calças 36 por calças 40. Se o Gabeira assumiu a sunga, eu vou assumir a bunda e pronto.

quarta-feira, outubro 08, 2008

Jogada a seus pés, moi?!?

Então o Globo me publica a foto do Gabeira enrolado numa toalha, como se fosse um mini-vestido, com asinhas vermelhas de fada ou, como diriam as más línguas, de um anjo caído do céu (apenas uma forma sutil de aludir a Lúcifer); e eu, porque sou franca e escrevo tudo o que penso (mas também tenho o hábito de me arrepender depois, fazer o quê?), disse no blog da Cora que é uma pouca vergonha o que a mídia está fazendo com o coitado do Gabeira, que taxar o pobrecito de diabo de sunga é praticamente pedir de joelhos pro eleitor do Crivela votar no paespalho do adversário, and so on, and so on, and so on.

Para o meu choque e horror, a Cora, que é uma pessoa sensata, disse (dois pontos): às vezes um charuto é só um charuto, assim como uma toalha vermelha é só uma toalha vermelha. Estou entre os leitores que não gostaram da foto, mas daí a transformá-la em vinculação ao demônio é extrapolar um pouquinho, né não?

Isso me fez ter o insight crucial de uma vida inteira: gente, hello-ow: eu exagero! Desculpa, tá, mas eu exagero!!!!!!!!!!!! Eu não sei simplesmente reportar um conto: eu t-e-n-h-o que aumentar um ponto. Não sei fazer um relato imparcial de coisa alguma, porque tudo o que eu conto terá, inevitavelmente, as cores que vejo (e acontece que eu vejo cores demais onde tudo que se vê é cinza). Portanto acabo de descobrir, e somente agora, no fim da vida, que eu não posso ser jornalista. Podem me pedir qualquer outra coisa: mate, Vanessa! Roube, Vanessa! Estupre, Vanessa! Tudo isso eu posso fazer, mas ser jornalista, que é bom, reportar as coisas como elas são, que é bom, ah, desculpa!, mas isso eu não posso.

Porque eu exagero, gente!

Não que eu use o exagero conscientemente como uma artinha para convencer o interlocutor do que digo: eu exagero para, primeiramente, me convencer do que digo, e só assim, devidamente convencida, eu exagero ainda mais para convencer adiante. Na verdade, eu só exagero porque preciso de convencimento. Em última instância, eu exagero porque sou extremamente cética. Se Jesus reencarnado arriasse de joelhos na minha frente operando milagres de tudo quanto é tipo pra me convencer, eu tenho pena é dele, pois eu não acreditaria. Sou ruim de cética! Minha doença é o ceticismo, e não o exagero.

Talvez por isso eu ainda não tenha contado aqui o episódio da fé etíope no Harlem. Depois de tanto tempo e distanciamento crítico do episódio, eu tenho certeza mais do que absoluta de que eu exageraria na narrativa, carregaria nas cores e distorceria os fatos, e eu não gostaria de distorcer os fatos pra vocês. Os meus amigos têm direito de saber a verdade, mas a verdade é a apenas a raiz quadrada de alguma coisa que eu já alterei com meu imaginário mágico.

Na verdade, eu não exagero: interpreto. À medida que passa o tempo, eu vou interpretando mais e mais, vou dissecando o fato-cadáver e lhe expondo as veias trágicas, as artérias cômicas e aí, quando vejo, nada resta do corpo além dos vasos tragicômicos anatomicamente preservados.

Mesmo pensando exageradamente assim, eu ainda acho que O Globo quis, sim, prejudicar o Gabeira com as fotos da sunga e da asinha vermelha de ontem. Não conseguiu porque, afinal de contas, o Gabeira estava nadando no Flamengo. Seria o fim do mundo se, além do vestidinho e das asas vermelhas, ele estivesse nadando no Vasco, porque aí não teria flamenguista que votasse nele. E vamos combinar que é melhor perder o voto de todos os vascaínos que de todos os flamenguistas, assim, quantitativamente falando.

Isso pode ser apenas um exagero da minha parte, mas eu duvido. E de minha incredulidade, eu sou testemunha!

PS: Gabi Amaral, minha musa, meu amor, meu raio de sol: por tua culpa, o Noblat me citou hoje em seu blog. Depois a exagerada soy yo! :-)

domingo, outubro 05, 2008

Good times 98

Desde que eu soube que terei a bela oportunidade de votar novamente no Gabeira no segundo turno, entrei num clima gentileza-gera-gentileza, amorrr, e de amorrr pra romance, u-hu, foi um pulo, e de romance pra música brega, pronto: foi quase instantâneo.

Não me perguntem como, mas eu tenho todo um arsenal Good Times 98 ao alcance do meu mouse.

Há certas coisas a meu respeito que vocês preferem nem saber.

Então eu ouvi meu hino mela-cueca de todos os tempos, Lovin' You, de Minnie Riperton. Fiquei tão emocionada que fui na wikipedia ver o que havia sobre a moça: ela morreu de câncer na década de 70, logo depois de "Loving you". Quer dizer, não importa que o ser humano transcenda a mediocridade da espécie - neste caso, ela atingia agudos que muita gente boa pode sequer ouvir: se o câncer bateu, meu amigo, fudeu! Mil vivas às exceções, mas que elas não se apresentem prontamente, porque eu ainda estou magoada demais pra comemorar (somente) a vitória alheia.

Eu sei que eu deveria estar dançando e cantando porque o Gabeira, afinal... mas, cara: Minnie Riperton morreu na primavera da vida, e mordida por esse caranguejo traiçoeiro! Eu nunca poderia imaginar. Dancei com garotos que eu não tinha nem peitos, nem coragem pra beijar ao som dessa música. Eu estava crescendo, e ela estava virando petróleo. Fossa, minha gente: fossa total, fossa abissal, fossa pré-sal.

Amar você é fácil porque você é lindo.

Tem coisa mais triste?

Lovin' You - Minnie Riperton
Lovin' you is easy cause you're beautiful Makin' love with you is all i wanna do Lovin' you is more than just a dream come true And everything that i do is out of lovin' you La la la la la la la... do do do do do No one else can make me feel The colors that you bring Stay with me while we grow old And we will live each day in springtime Cause lovin' you has made my life so beautiful And every day my life is filled with lovin' you Lovin' you i see your soul come shinin' through And every time that we oooooh I'm more in love with you La la la la la la la... do do do do do




Minnie Riperton

Segundo turno

Quando eu soube que Gabeira era um dos candidatos a prefeito, achei que era mentira, porque era bom demais pra ser verdade. Depois que vi a campanha dele, fraquíssima, mas que graças aos céus eu não acompanhei na íntegra por causa das férias (o que muito poupou meu coração de emoções fortes), eu pensei que esse devia ser o preço da verdade. Se não fosse assim, não teria graça alguma ter o melhor parlamentar do Brasil se candidatando à prefeitura do Rio.

Agora que eu soube que ele está no segundo turno, estou achando estranhíssimo que todos os sites dele estejam fora do ar, exceto pelo e-legalize. E ele tem vários: www.gabeira.com, www.gabeira.com.br, www.gabeira.com.br/cidadesustentavel/, e por aí vai.

Pode ser paranóia minha, mas só o e-legalize, mermão, numa hora dessas? Sei não, mas parece pegadinha pra analfabeto funcional a título de sabotagem.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Movimento dos Sem Bifa (MSB)

Mais um pra engrossar o MSB: menino de 7 anos invade zoológico na Austrália e mata animais pequenos, atirando-os no recinto do crocodilo (Reuters Brasil). O noticíario da Globo fala em 13 vítimas, entre lagartos e tartarugas. O mais impressionante é que o meliante fez esse senhor estrago no parco intervalo de 30 minutos! Se tivesse agido por mais uma hora, talvez não tivesse sobrado nem o crocodilo que devorou os outros bichinhos. Esse moleque está, definitivamente, precisando tomar umas bifas. Seus pais, então, nem se fala!

***
Mudando quase completamente de assunto, mas ainda sobre o Movimento dos Sem Bifa e o recinto dos predadores estereotipados.

Uma amiga pediu-me que eu divulgasse seu relato a fim de alertar as moças solteiras sobre a mais nova artimanha homossexual enrustida de pavoneamento e pegação da praça carioca: o golpe do comércio atacadista de carne de primeira. Ei-lo:

Depois de ter saído com um gatinho típico, do tipo bonito, gostoso e agradável, mas que tipicamente não liga no dia seguinte, ela se surpreendeu com um convite dele, duas semanas depois, para ir a uma festa em sua casa no sábado. Primeiro ela quis saber se seria uma festa mesmo ou, hum, você sabe?, uma coisinha mais romântica só eles dois. Quando ele disse que era festão mesmo, comida, bebida e DJ, ela pensou: "Taí, ele não ligou antes por isso, tava organizando a festa, coitado!" E depois se empolgou: "Uau, sábado. Ele me chamou pra uma festa no sábado, então a coisa então é séria!"

No sábado, chegando à festa, ela percebeu que no local havia cerca de 50 mulheres. Nenhum homem além do gatinho e de um amigo assustadoramente mais feio. Como o gatinho estava na função de anfitrião, ela inicialmente não estranhou o fato de eles não terem se atracado de imediato, até que O Amigo chega e puxa conversa, super simpático:

- Você conhece o André de onde?
- A gente se conheceu num congresso no sul. E você?
- Ah, eu moro aqui com ele. Acabei de terminar com minha namorada e aí a gente resolveu fazer essa festa pra ele me apresentar a umas gatinhas que andou pegando.

(Pausa obrigatória pra imaginar o sangue fugindo do rosto da minha amiga, o grito crescendo em sua garganta e as unhas se cravando na carne das palmas: COMO ASSIM UMAS GATINHAS QUE ELE ANDOU PEGANDO? TODAS ESSAS CINQÜENTA?!? QUANTAS ESSE FILHO DA PUTA PROMÍSCUO PEGA POR DIA?!? E COMO ASSIM, ESSE COMÉRCIO DE CARNE? SÓ PORQUE ELES VIVEM UMA HISTÓRIA DE AMOR GAY ENRUSTIDA EU TINHA QUE SER ENVOLVIDA NA FARSA DO EMBALO DE SÁBADO À NOITE?)

Mas minha amiga só pensou essas coisas. Ela não disse nada disso porque estrangulou o grito e deixou as unhas encravadas na carne das mãos para não se esquecer de que, se ela sangrasse, os dois tubarões a atacariam. E não há nada mais aviltante que ser o peixinho vivo que jogam no recinto do tubarão - ou do crocodilo - só pra ele se divertir.

- Deixa eu ver se entendi: vocês são um casal de viados bissexualizados e ele está dando as peguetes dele pra você?
- Qu'é isso, gata, olha o rancor! Seu copo tá vazio, bebe mais aí, vai. Come uns canapés, que a gente botou bastante pimenta pra mulherada cair no prosecco depois.

***

Bifa pode até não curar um distúrbo comportamental assim tão grave, mas que pelo menos daria alento à nossa alma, isso sim, daria. Enquanto isso, o MSB só faz crescer.

Andrea Lambert no Globo Repórter

quarta-feira, outubro 01, 2008

E meu voto vai para...

Já que 93% do que os vereadores fazem é completamente inútil para esta cidade, votarei na Andrea Lambert (12004) para receber um dos salários de R$9300,00 que a Câmara Municipal do Rio de Janeiro reserva a cada um dos 50 vereadores que elegeremos neste domingo.

Para quem não conhece, a Andrea Lambert é uma médica veterinária que se dedica a tirar da sarjeta, castrar e consertar gatos e cães tão estropiados que a maioria dos outros veterinários os daria por mortos. Depois que estão castrados, curados, felizes e peludos, ela luta para encontrar uma família bacana que os adote, e sempre fez essas coisas de forma altruísta, como a grande maioria dos protetores de animais. Com o salário de vereadora, ela certamente poderia comprar mais remédios e ração para os bichos de que cuida; com os 70 mil sobressalentes, que a Câmara permite que ela saque do erário para contratar assessores, ainda poderia contratar gente para ajudá-la nessa incessante tarefa. SE É PRA JOGAR NO LIXO 6 MILHÕES POR ANO COM CADA VEREADOR, QUE AO MENOS UM DELES SUJE AS MÃOS PRA LIMPAR BICHEIRA! É muito fácil defender os fracos e oprimidos de cima duma plataforma eleitoral, mas lutar no front é para poucos. Independente da causa defendida, uma pessoa que luta de verdade sempre acaba inspirando covardes e teóricos a agir de fato.

Além de tudo, a Andrea Lambert é doida o suficiente pra bater nos parlamentares que porventura queiram ficar na Câmara distribuindo medalha e mudando nome de rua. Se tem uma coisa na vida que eu pagaria pra ver seria uma sessão de esbofeteamento na Câmara. Essa cambada tá precisando dumas bifas!

Mapa dos EUA

Piada enviada por um americano de fato.

A nata da malandragem

Ontem eu ouvi na rádio o Boechat entrevistando o diretor executivo da ONG Transparência Brasil, que desenvolve uma pesquisa para avaliar o comportamento de nossos parlamentares. O resultado desse trabalho pode ser apreciado no site Excelências, cujo nome já é um deboche declarado à absurda inutilidade desses malandros no Rio de Janeiro, por exemplo, onde 93% da atividade legislativa dos vereadores é irrelevante para toda a cidade. Nossos vereadores vão ao plenário (quando vão!) para votar alteração de nome de ruas, definição de datas comemorativas e concessões de medalhas. Nada mau para quem ganha um salário mensal de R$ 9.288,00 quatorze vezes por ano (eu disse mensal? hahaha) e ainda pode gastar R$70 mil por mês dos cofres públicos para contratar assessores e quetais. Não foi à toa que o jornalista concluiu sua entrevista com uma declaração que me deixou chocada: as Câmaras Municipais não contribuem em nada para a democracia no Brasil. Eu iria além: pelo desserviço da descrença (em nossos legisladores), as câmaras de vereadores servem para afundar o brasileiro ainda mais nessa lama de alienação política que culmina com a aprovação popular de 80% que o Lula tem hoje.

Fala sério, gente: cada um dos 50 vereadores do Rio de Janeiro custa R$6 milhões por ano aos bolsos dos cariocas, o que, na conta do relatório do Excelências, fica em cerca de R$50/contribuinte. Depois de ler o relatório da ONG, eu só posso dizer uma coisa: QUERO MEU DINHEIRO DE VOLTA! Com cinqüenta pratas eu poderia mandar uma carta a cada vereador dizendo que dispenso seus desserviços, muito obrigada, e que data comemorativa de cu é rola! Ah, e enfia essa medalha no rabo!

Antes de ler os relatórios do Excelências, eu pretendia votar numa determinada candidata do PV, afinal de contas ela é toda ética e pró-natureza, mas depois de consultar o relatório da ONG e ver que ela arrecadou cerca de R$360mil em sua campanha junto a empresas do setor de construções/imobiliário - os mesmos caras que matam e subornam para lucrar em cima da degradação ambiental -, tive de enfiar uma faca no peito e me arrepender mil vezes de ter essa mania de acreditar no ser humano.

Mania inútil, essa.