Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quarta-feira, maio 30, 2007

Black Dog





Música em homenagem ao Black.

O cão lavrador.

Black e o espelho: os cães se confundem.

Black e um objeto do grupo dois (pé da djindinha): isto-aqui-cê-não-pode-roer.

Black e vários objetos destruídos do grupo um.

Black e o "o nosso amor é lindo, tão lindo."

Black aguarda seu segundo jantar: ravioli, churrasco e um monte de outras coisas que ele expurgou às três da manhã da pior forma possível.

Estava bem mais bonito quando entrou.



Ontem eu resolvi passar um quality time com meu afilhado negão canino, o Black, que sempre se queixa comigo de ter menos compainha humana do que gostaria. Depois de pedir autorização à mamãe-Daisy-dele pro peludo dormir em minha casa, preparei uma mochilinha com comedouro, ração pro jantar e pro café da manhã, escova de dentes e dentifrício para cães (afinal, ninguém suporta dormir com um cachorro bafejando como tigre), e lá fomos nós, felizes da vida, como duas criancinhas de seis anos que vão dormir na casa do amiguinho da escola pela primeira vez na vida. No caminho, fomos cantando músicas temáticas alegres, como "Black Dog", do Led Zep, e "Cara Valente", da Maria Rita, mas tenho pra mim que fez muita falta pro Black não ter um iPod só pra chamar de seu: o cara parecia não entender de onde vinha tanta inspiração para a minha cantoria, e passou a viagem toda, do Jardim Botânico a Botafogo, me olhando meio de lado.

Pro Black dormir em minha casa, que não é só minha, mas também dos meus famigerados pais, minha famiglia (a saber: meus pais) teve de passar por uma espécie de Concílio de Trento que durou um terço do dia: eles precisavam saber se o Black tinha alguma restrição alimentar, como alergia ou intolerância a massa dormida ou churrasco velho, e, sobretudo, se eu estava só levando o canino para uma noitada eventual ou se, na verdade, estava tentando algum movimento esquisito e fortuito-oportunistóide, do tipo "olha que fofura de cachorrinho linducho que eu encontrei ali na lixeira, à beira da morte, sem pai nem mãe, coitado". Gente desconfiada é uma merda. Fica até difícil surpreender ou fazer uma coisa maluca com essa gente que suspeita até da própria sombra, mas também confesso que nos últimos 34 anos eu já encontrei alguns bichinhos fofuchos nas lixeiras da vida e os caras, graças à minha verve dramático-italianística chantagistóide, tiveram uma vida mais digna que a minha.

Então estava o Black me olhando de lado de lá, meus pais me olhando de lado de cá, e os três se olhando de lado, principalmente quando o extra-peludo começou a se coçar nervosamente no meio da cozinha, levantando uma nuvem de pêlos pretos e sujos sobre as panelas fumegantes do jantar, e eu achei que o momento era exatamente oportuno pro meu afilhado e eu tomarmos um bom banho quente, pra todo mundo entrar no clima familiar neurótico-higienista e ficar assim, limpinho e mais à vontade. Depois do banho, fizemos uma escova progressiva aromaterápica, limpamos nossas orelhas e lixamos nossas unhas para impressionar meus pais no jantar. O cheiro do refogado da minha mãe tinha atiçado o instinto selvagem estomacal do meu afilhado Labrador, que, mesmo tendo devorado sua micro-porção de ração em dois pentelhésimos de segundo, continuava inundando nossa copa de saliva canina. À menor mexida de cabeça, ele fazia lindos desenhos gosmentos de baba no chão e nas paredes, o que culminou com o segundo Concílio de Trento do dia, desta vez pra decidir qual das comidas da mesa poderíamos oferecer para acalmar o cão-hóspede sem prejudicar sua saúde ou alterar sua rotina. Na verdade, eu poderia ter decidido isto sozinha -- afinal, fiz cinco anos de faculdade só pra saber que não se pode dar comida caseira pra cachorro impunemente --, mas como ontem eu estava com seis anos de idade, votei efusivamente no ravioli de frango com molho de churrasco e salada de alface, mostarda e chicória, com um fio de azeite extra-extra virgem (aprendi com o Lau). Como meu pai e minha mãe são pessoas rústicas, nascidas e criadas no interior do estado do RJ, adicionamos também um angu velho ao rancho do negão, que as pessoas rústicas sabem melhor que ninguém que angu e osso de galinha não fazem mal a cachorro algum.

O Black se esbaldou no ravioli com azeite e mostarda, mas terminou seu segundo jantar tão antes da gente que ficou arisco e inquieto, roendo o pé da mesa, puxando a toalha e latindo pra me provocar (depois das 22h, meu Deus!), o que culminou com nossa expulsão precoce da área social da casa antes do trigésimo minuto do primeiro tempo. Vi-me obrigada a terminar o jantar no quarto, onde me tranquei com o ridículo canino para evitar que ele destruisse qualquer coisa da casa que não fosse minha. Aliás, chegando ao quarto, num momento sublime de desapego material zen-taoísta (obrigada, Fran!), eu classifiquei rapidamente os itens expostos em dois tipos, para facilitar as coisas entre o Black et moi: isto-aqui-cê-pode-roer (grupo desapegóide um) & isto-aqui-cê-não-pode-roer (grupo apegóide dois). Enquanto eu terminava meu jantar, ele roeu um chinelo, um boné e uma almofada do grupo um, e quando eu o proibí de roer meu pé, ele começou a falar muito alto, com aquela voz grossa de cachorro ridículo, e eu tive de apagar correndo todas as luzes pra gente dormir bem quietinho. Ele caiu feito um pato e levou só 2 minutos pra roncar e roubar todo o meu cobertor, um recorde absoluto entre os machos de todas as espécies com que já me deitei no sentido horizontal não-bíblico (a saber, humanos, felinos, bovinos, eqüinos, suínos e caninos: sim, eu sou muito vivida, muito deitada e muito não-bíblica!).

Às três horas da madrugada fria, o peludo me acordou com um sonoro pum tão pestilento que me revirou o estômago no meio de um lindo sonho dourado: o ravioli, obviamente, havia deixado sérias seqüelas nas últimas quatro horas de seu trânsito intestinal, e eu tive de levá-lo urgentemente à rua para o alívio peristáltico. Fomos -- eu, de pijama e casaco de neve, e ele de capa de chuva; meu estômago embrulhava só de pensar em dormir com um cachorro de 35kg que não usaria papel higiênico nem chuveirinho depois de exorcisar a massa fecal que já se anunciara ameaçadoramente em formato-presságio de flato traumato-dilacerante. Tentei convencê-lo a ficar só no xixi, mas no que eu ia abrindo a boca pra iniciar meu discurso de contenção de divisas, ele começou a dar mil voltinhas em torno do próprio eixo e, ploft, liberou uma jaca podre prematura grande o bastante pra fertilizar todo o sertão nordestino. Putz grila, pensei: como eu vou lavar a bunda do cachorro e usar o secador maxi-turbo em silêncio às 3 e meia da manhã? Eu torcia secretamente pra que a chuva apertasse até haver um dilúvio sem precedentes históricos, e assim, em meio ao caos, nós poderíamos voltar semi-náufragos, nadando de volta à casa, onde meus naturalmente estressados pais ficariam tão aliviados com nosso milagroso retorno que não reclamariam nem um pouco de ouvir o barulho ensurdecedor de um secador de cabelos maxi-mega-ultra-turbo na calada da madrugada. O dilúvio não veio, mas em compensação o sono voltou. Vencida pelo cansaço e pela lógica extremamente óbvia do "o que é um pum pra quem já está todo cagado?", voltei pro meu historicamente higiênico leito com o Black, onde nos deitamos de bunda suja e tudo e roncamos até o dia seguinte, quando a faxineira veio para me redimir e transformar novamente num ser humano digno da matrícula de médica veterinária da Vigilância Sanitária da Cidade do Rio de Janeiro, amém.

Às sete da manhã, acordei com latidos caninos que inicialmente se pareciam com cantos de pássaros raros numa praia deserta das Ilhas Seychelles, mas à medida que meu afilhado negão mastigava meu rosto, eu ia substituindo a fantasia do "só mais cinco minutos nesta ilha" pela dura realidade do "se não descer em cinco minutos, vou te mijar, peidar e cagar todinha". Descemos, ele perseguiu meia dúzia de gatos e gambás, comeu -- num segundo de minha distração com o troco -- metade dos pães franceses que eu levei séculos escolhendo pela temperatura, peso, porte e cor, fez um novo e assustadoramente volumoso cocô, e voltamos pra casa felizes, pra um café da manhã de dois segundos: o tempo que durou a modesta porçãozinha de ração que eu havia separado para ele na véspera. Como eu não conseguia enfiar novamente o animal arisco no banheiro para escovar os dentes comigo, porque afinal ele estava traumatizado com o banho da véspera, pedi pro meu pai ficar de olho na fera enquanto eu tinha três minutos de privacidade na frente de minha pia, e neste interim, pro meu desgoverno, o Black roeu boa parte do meu pai, fez pipi na sala e destruiu um objeto não-neutro do grupo dois.

Lembrei muito do desenho da Lilo & Stitch: a menina vai a um canil municipal para adotar um cachorro e acaba adotando um monstrinho alienígena que nem canídeo era. Eles vivem felizes para sempre, mas ela passa por maus bocados até descobrir que o nível de malcriação dele extrapolava os patamares máximos da normalidade, o que é mais ou menos o que acontece com meu afilhado negão canino.

Depois do xixi e dos gritos do meu pai, eu fiz uma mochilinha pra mim mesma e me mandei de casa, sem nem tomar banho, de pijama e casaco de neve. Devolvi o Black e me adiantei pro trabalho. Sorte que eu sou servidora pública, e como só tem maluco no serviço público, ninguém reparou que eu estava de pijama até as quatro da tarde.

***

Comentário do meu pai depois d'o Black destruir um objeto não-neutro do grupo dois e demarcar nosso sofá: "Ah, ele é um bichinho lindo! Mas não traz de novo pra casa não, tá bem?". Detesto admitir, mas há certas visitas que só podem entrar na casa da gente em segredo, desde que não roam nada proibido.


terça-feira, maio 29, 2007

O AdSense me confunde!

Zé Antônio, desculpe o plágio, mas o AdSense me confunde! Não sei como ele vem aqui, no meu próprio personal quartinho, anunciar de "funk" motéis em Hollywood (como assim, ele sabia disso?) a cursos de dermatologia veterinária, passando por uma charlatã qualquer que traz o homem amado (quem quer que seja isto) em dez dias*, com DDD de São Paulo, a capital nacional do só-pague-se-estiver-safisfeito-garantimos-até-a-próxima-Copa. Não entendo como o AdSense entra no meu cérebro e descobre essas sinapses soltas, com essas mensagens sublimares assustadoras (OK, tudo bem homem-amado-em-dez-dias, mas como assim "funk motel" em Hollywood?!?).

Enquanto o cara estava aqui vendendo medalhas do papa ou o Cristo com uma das sete maravilhas caóticas do novo mundo, eu fiquei super na minha, até porque assinei teoricamente um contrato em que ficaria na minha e não tocaria neste assunto, mas peraí: tolerância tem limite! O cara está neste momento anunciando ar-condicionado LG neste frio fo-di-do só pra me confundir. Só pr'eu achar que ele funciona de forma absolutamente louca e randômica, e teoria da conspiração de cu é rola. De minha parte, já tomei uma decisão: se o AdSense não me enlouquecer até o primeiro Ad-cheque, eu vou transformar este quartinho na maior bandeira anti-banner e anti-pop-ups comerciais da blogosfera.

A propósito: eu não tenho nada a ver com os pop-ups do Mercado Livre et al que pop-ocam toda vez que alguém entra neste blog. Aliás, aviso aos baixos espíritos: eu não ganho nada -- nem um centavo, nem um convite e nem uma suíte no Paraíso com vista pro mar -- com isto. O Guimattos deu a excelente dica de um eliminador de pragas, o Ad-Aware, mas comigo só funcionou no primeiro dia. Pra vocês verem que nem eu, a anfitriã e rainha da carne seca deste quartinho de bagunça, consigo me livrar dos vermes e anúncios pegajosos que captam mensagens subliminares onde nem minha fodástica joelhaçoterapeuta alcança. AdSense, leve-me ao seu líder: eu pago em dobro!!!

*Mui realista, ela! Todo mundo sabe que, se Deus fez o mundo em seis dias e descansou no sétimo, três dias é um tempo porco demais pra se fazer qualquer coisa bem feita.

Dia Comercial dos Namorados: minha personal "Wish List"

Não vou pagar esse mico de dizer que eu podia estar aqui roubando, matando, estuprando, mas estou só pedindo. Eu só vou pedir, porque pobre pede mesmo: é maior que a gente.

Pra ninguém dizer que eu sou caótica, vou organizar minha lista por categorias cerebrais:

Pedidos de Miss:
1. Que todos os políticos do Brasil que roubaram quantia igual ou superior a 220 mil reais, a exemplo do Ministro da Agricultura do Japão, se suicidem (mas não esqueçam de escrever antes uma cartinha pedindo desculpas ao povo pelos transtornos causados);
2. Que todos os políticos que não se suicidaram (vide pedido 1) desenvolvam crise plena de consciência.

Pedidos Sentimentalóides:
1. Uma Pajero Full pra poder participar dos ralis outdoors da Mitsubshi (a inscrição é gratuita);
2. Uma jaqueta de veludo cotelê vermelho 38 da Cantão pra combinar com a listrinha vermelha do meu all-star cáqui (eu tenho muito amor por esse all-star);
3. Uma máquina fotográfica digital compacta, dessas que dispensam vinte pilhas AA por dia pra tirar duas fotos com flash (eu adoro fotos com flash e odeio vinte pilhas AA por dia);
4. Um iPod pro ladrão (eu adoro meu iPod, mas eu queria muito ter um pro ladrão levar, coitado do ladrão; vai ser muito frustrante o ladrão me levar o único iPod que tenho, e isto vai acontecer mais dia, menos dia, porque ladrão é um bicho doidinho por iPod, e desde que eu consegui enfiar no diabo do iPod as músicas que eu gosto, eu fico com esse radinho no ouvido o tempo todo).
5. Um spray de pimenta com eletrochoque desfibrilador pra enfiar no rabo do ladrão que me roubar o iPod (eu adoro fortes emoções, e não vou abrir mão tão facilmente do meu estimado radinho, com músicas do Led Zeppelin e Supertramp que só Deus sabe como eu consegui enfiar lá dentro).

Pedidos Zen-Taoístas:
1. Desapego material (uma pajero full deve custar mais que minhas córneas, rins e fígado no mercado negro de transplantes; e o que é um iPod com as melhores músicas do mundo perto de uma vida humana, entende?);
2. Agradecimento (eu devia ser muito agradecida à vaca-sórdida-leviana por ela ter dado sumiço no-va-fucking-men-te no meu décimo segundo boletim trimestral de estágio probatório, porque isso me ensinou mais uma importante lição sobre a maldade humana, mas em vez disso... eu só quero que ela tenha uma morte horrível, bem sofridinha... e lenta.)
3. Um namorado (só pra eu perceber, após três semanas e meia, que antes zen-namorado que com um babaquara qualquer).

***

É. Acho que é tudo. Mais que isso, só se for o gênio da lâmpada. Se for um gênio jeitosinho, do tipo que não fala merda, quem sabe?

Licença, gente.

Passei uns dias "fora da área de cobertura ou desligada". Eu ia botar a culpa na gripe, que foi tão aguda, galopante e esquisita que eu achei que fosse uma daquelas doenças raras, que matam em 72h. Aí eu me preparei pra morrer em 72h, e nada; e vocês hão de convir que quando a gente se prepara toda, todinha, todona pra morrer em 3 dias e, em vez disso, fica boa, isso é coisa de pirar. Além disso, dá muito ódio não ter nem um motivo concreto pra provar que os acadêmicos do Copa D'Or pecaram por não ter me pedido um hemograma (afinal eu tinha febre e petéquias, carajo!), mas dizem que Deus ajuda as crianças, os bêbados, os bichos e os estagiários do Copa D'Or. Dizem. E é só por isso -- e por causa do Labs, porque vai que um médico de verdade me pede um hemograma um dia! -- é que eu ainda vou lá.

Eu também poderia pôr a culpa na TPM, mas se fosse pra atribuir às oscilações hormonais todo e qualquer up-and-down nessa minha montanha russa emocional, eu teria motivos mais do que humanitários pra ser castrada sem anestesia. Pro meu próprio bem (e pro bem de toda a Humanidade).

Aí eu fiquei assim, sem motivo concreto algum pra ter saído do ar. Nada de errado no trabalho, só o errado de sempre (aquela vaca sórdida leviana sumiu com meu último boletim de estágio probatório pela terceira vez consecutiva!); nada de errado na minha família, só as esquisitices de sempre; nada de errado com o meu peso, só os 2 quilos a mais de sempre; nada de errado com os meus amigos, só o carinho de sempre.

Buscando uma justificativa ecológica, racional e absolutamente científica pra minha atimia, tentei relacioná-la à frente fria que chegou com o deslocamento de uma massa polar justo com a mudança da lua nova pra crescente, mas percebi que isto seria forçar demais a barra. Não tão científico assim, mas ao menos cronologicamente signitivativo, eu poderia dizer que surtei porque, afinal, faltam duas semanas para mais um dia comercial dos namorados "sem namorado". Ou seja: foda-se que o dia dos namorados seja uma data comercial como o Natal ou outra qualquer, mas essa parte do "sem namorado" agita, de um jeito absolutamente surreal, todas as moléculas destemperadas que recheiam minhas células somáticas -- e, o que é pior!, enervam e apressam meus gametinhas de trinta e tantos anos, que ficam me mandando mensagens subliminares em sonhos onde eu sou a única atendente do Bob's pra dar conta duma fila do tamanho do show da Ivete Sangalo na praia: "Comé qui é, minha filha: dá pra ser ou tá difícil?!".

Pra finalizar este mea-culpa -- sim, isto aqui é um mea-culpa --, confesso que surto sempre que duas ou mais amigas têm filhos ou chás de bebês simultaneamente. Eu não tenho como lidar com isto em plena véspera de "dia comercial dos namorados sem namorado", em plena TPM, no meio de uma massa (bi)polar crescente, numa pós-canelite-gripe-aviária-rara (e ainda por cima sem hemograma!!!) e, sobretudo, sem meu último boletim de estágio probatório que aquela vaca... sórdida... e leviana... fez desaparecer do mapa pela terceira vez consecutiva, só pra me enervar.

Mas eu já estou calma. Fui ali, dei uma piradinha e já voltei.

Se a vaca aparecer com a boca cheia de formiga, não fui eu: foram meus gametas enfurecidos, fatigados de tanta espera, em meus sonhos psicóticos de eficiência fisiológica. Amém.

segunda-feira, maio 28, 2007

The "I am not my hair" song.






A mantra for those who have nothing left to cut off.

I am the soul that lives within

I Am Not My Hair (Akon Remix)

Konvict
Konvict Music uh huh

See I can kind of recall a little ways back
Small tryin to ball always been black
And my hair I tried it all I even went flat
Had a gummy curled on top and all that crap (o oh)
Just tryin to be appreciated
Nappy headed brothers never had no ladies
Never hit the barber shop real quick
Had a mini little twist and it drove her crazy (crazy)
Then I couldnt get no job
Cuz corporate wouldn't hire no dreadlocks
Then I thought about my dogs on the block
Kinda understand why they chose to steal and rob
Was it the hair that got me this far?
All these girls these cribs these cars?
I hate to say it but it seem so flawed
Success didnt come til I cut it all off

[India.Arie: Verse 1]
Little girl with the press and curl
Age eight I got a Jheri curl
Thirteen and I got a relaxer
I was a source of so much laughter
At fifteen when it all broke off
Eighteen and I went all natural
February two thousand and two
I went on and did
What I had to do
Because it was time to change my life
To become the women that I am inside
Ninety-seven dreadlocks all gone
I looked in the mirror
For the first time and saw that HEY,

[Chorus]
I am not my hair
I am not this skin
I am not your expectations no no
I am not my hair
I am not this skin
I am the soul that lives within


[India.Arie: Verse 2]
Good hair means curls and waves
Bad hair means you look like a slave
At the turn of the century
It's time for us to redefine who we be
You can shave it off
Like a South African beauty
Or get in on lock
Like Bob Marley
You can rock it straight
Like Oprah Winfrey
If it's not what's on your head
It's what's underneath and say HEY,

[Chorus]

[Akon: Verse 2]
Who cares if you don't like that
With nothin to lose postin with the wave cap
And the cops want to harass because I got waves
Ain't see nothin like that in all my days (o oh)
And you gotta change all this feelings
They be judging one another by their appearance
Yes India, i feel ya girl
Now go 'head talk to the rest of the world because,


[Bridge]
(Whoa, whoa, whoa)
Does the way I wear my hair make me a better person?
(Whoa, whoa, whoa)
Does the way I wear my hair make me a better friend? Oooh
(Whoa, whoa, whoa)
Does the way I wear my hair determine my integrity?
(Whoa, whoa, whoa)
I am expressing my creativity,
(Whoa, whoa, whoa)

[India.Arie: Verse 3]
Breast Cancer and Chemotherapy
Took away her crown and glory
She promised God if she was to survive
She would enjoy everyday of her life ooh
On national television
Her diamond eyes are sparkling
Bald headed like a full moon shining
Singing out to the whole wide world like HEY,

domingo, maio 27, 2007

A liberdade é verde.

Faz frio em meu quarto verde, mas é possível que seja em toda a cidade. Fui ontem ao Parque Lage com amigas, e fazia frio ali, naquela simpática mesinha à beira da piscina verde. As garçonetes do Café du Lage parecem ser recrutadas pela esquisitice: conseguem o emprego somente as mais tatuadas, as mais anoréxicas, as mais descabeladas ou as mais parecidas com a Noiva Cadáver. Dá gosto de ver.

No Instituto Moreira Salles, eu sempre me deslumbro com aqueles três imponentes exemplares de "pau mulato", nos jardins desenhados por Burle Marx. São árvores retas e gigantescas, de madeira rígida como aço, e tão lisas e lustrosas que parecem enceradas. Esqueçam os legumes de duplo sentido: o melhor objeto fálico do mundo é o pau mulato, especialmente nesse arranjo triplo burle marxiano, na frente de um laguinho de carpas vermelhas, tendo apenas o verde por testemunha dos devaneios carnais loucos que tal cenário é capaz de suscitar em qualquer ser mais vivo que morto.

Ou em qualquer ser mais livre do que preso.

Eu quero ser garçonete do Café du Lage.

terça-feira, maio 22, 2007

Fla X Flu

Escrevo de meu semi-leito (não está fácil pra ninguém) de morte pra dizer que, depois de integrar a equipe 34 de 35, que ficou em terceiro lugar na segunda etapa do rally Mitsubishi outdoors, neste sábado último em BH, e depois de ter corrido 10km com o Lau ladeira acima e abaixo -- mas sobretudo acima -- no Belvedere dessa linda cidade, fui abatida por uma gripe sinistro-esquisitóide, que faz meu esqueleto todo doer, minha garganta arder, minha temperatura disparar acima dos 38 graus, e não tem Tylenol nem Novalgina que controlem os humores desse vírus.


Eu falo mal, eu sei, mas quando tomei antitérmico e a temperatura não baixou, dei um pulinho no Copa D'Or. Eu tinha certeza que era dengue, até porque me apareceram umas petéquias na perna, mas os estagiários de 12 anos daquela emergência não me deram ouvidos, não pediram nem um hemograma pra ver se era uma virose qualquer ou uma coisa rara, digna de mim!, e me mandaram pra casa com uma receita pra sinusite. Como se sinusite desse febre alta! Se eu estiver morta amanhã, por favor, fechem aquela budenga. E, se não for pedir too much, me telefonem: estou carente. A febre acaba com a gente.

Marcadores: , , ,

sexta-feira, maio 18, 2007

A Música

Agora com imagem e pregação evangélica. Valeu, YouTube!

O Perfume

Hoje eu conheci o melhor perfume do mundo: o Isabela Capeto para a Phebo. Logo de manhã, tive de ir a uma copiadora na Primeiro de Março e, ali do lado, tinha uma perfumaria da Phebo linda, com uma prateleira só desse perfume, com um frasco esquisitão de bonequinha. Com exceção do frasco, que parece uma boneca voodoo em sofrimento, vermelha ainda por cima!, o Isabela Capeto/Phebo é a melhor combinação de fragâncias amadeiradas exóticas, sem descambar pro óleo essencial de macho, nem praquela coisa caricata do hippie emplastrado de patchouli e cannabis. Coisa fina, enfim.

Meu aniversário é daqui a muitos dias, quase 60, mas fica aqui a sugestão de presente. Não me incomodo de ganhar presente repetido, que coisa boa a gente estoca ou faz escambo.

Trilha sonora para carta bomba

Foi a Jussara Razze quem me mandou pela primeira vez. Menos de cinco dias depois, cinco amigos queridos me mandaram a mesma faixa, que eu considero um fenômeno internáutico de divulgação. Como o Castpost anda arisco e superlotado, mando a letra e ofereço, via vanorresponde@gmail.com, a musiquinha de 1,5 Mb.

Vai tomar no cool (uma canção gospel como outra qualquer)

Vai tomar no cool
Vai tomar no cool
Vai tomar no cool
Bem no meio do seu cool
Vai tomar no cool
Vai tomar no cool
Vai tomar no cool
Bem no meio do seu cool
Vai tomar no cool (vai, vai, vai, vai, vai!)
Vai tomar no cool (vai, vai, vai, vai, vai!)
Vai tomar no cool (bem no meio do olho do seu cool)
Vai tomar no cool (vai, vai, vai, vai, vai!)
Vai tomar no cool (vai, vai, vai, vai, vai!)
Vai tomar no cool (vai tomar no meio do olho do seu cool)

Repeat chorus

E agora com vocês, Bob Dylan!
Vaaaaaaaaaaaaaaai! Vaaaaai tomaá naw coool, vai tomaaaaá naw coool
Bem no meio doooo sewl cool (Vai tomar no cool!)
Your ass is everything! (Vai tomar no cool!)
Vai tomar no cool (Vai tomar no cool!)
Vai tomar no cool, (no seu cool!) yeah-yeah!

Vai tomar no cool (vai, vai, vai, vai, vai!)
Vai tomar no cool (vai, vai, vai, vai, vai!)
Vai tomar no cool (bem no meio do olho do seu cool)

quinta-feira, maio 17, 2007

Rascunho de carta bomba

Querida ex-jararaca,

Antes que eu me esqueça, que eu estou com o sistema muito nervoso, vai tomar no meio do olho do seu c*. Você entendeu, sua cretina: substitua o "*" pela letra "u". E vê se deixa de ser sonsa, pelo menos uma vez nessa sua vida miserável: é muito importante que eu te diga isso antes que você morra, e eu espero sinceramente catalizar sua morte com isto. Não que eu tenha o poder de matar alguém apenas com a força do pensamento: quem fumou a vida inteira, que nem uma chaminé, foi você, sua nojenta desalmada. E quem fuma a vida inteira não precisa de inimigos. Tampouco tenha essa ilusão megalomaníaca de que eu sou sua inimiga: você está aquém do meu ódio. É até possível que eu, aparentemente, te odeie; isso é só pra não odiar sua vítima mór, o filho que eu namorei. Porém, convenhamos: qualquer anencéfalo acadêmico de psicologia na UniverCidade de Tribobó City (noite), sacaria essa.

Resumindo muito, sua escrota, queria dizer que todas as roupas que você me deu são ótimas pra uma Testemunha de Jeová, e foi só por isso eu dei todas aquelas saias longas e blusas de ombreira no sinal, pro cara do biscoito Globo e pros meninos de rua malabaristas, que com certeza vão poder usar esse figurino ridículo em algum espetáculo circense.

Outra coisa: na próxima encarnação, vê se trepa de verdade com seu filho. Não fique nessa punheta de "ela não é boa o bastante pra você". Assuma sua perversão, vá pro inferno e seja feliz.

Eu ia escrever alguma coisa mais elaborada, mas você não merece meu latim. Tem sorte de merecer meu vinho de mesa, comprado a preço dessas suas velas de macumba no Mundial. In vino de mesa, semper veritas.


PS: acabo de economizar 5 anos em psicanálise porque tenho certeza absoluta que a vaca me lê.

Skype



Eu ia dizer uma tonelada de coisas desagradáveis que fervilham na minha língua sempre que eu bebo além da cota semanal em menos de uma hora. Mas resolvi fazer um exercício taoísta que é uma espécie de jogo do contente da cultura milenar chinesa: vou elogiar uma coisa boa que aconteceu comigo hoje. Falei com o Jacob no Skype. E basta: mais detalhes, eu não dou. Jogo do contente de cu é rola. Eu vou ser desagradável se eu quiser! Vou, neste momento, rascunhar uma carta bomba pra cada uma das minhas ex-sogras nos últimos 5 anos, exceto pra mãe do Lau, porque deve ser foda ser mãe do Lau. Não é nada fácil ser mãe do Lau.

Efeito Vanessa Atalanta

Foi aos oito ou nove anos que eu descobri que Vanessa é um nome genérico de borboleta. Eu tinha sido obrigada a ler na escola "O caso da borboleta Atíria", assim como me obrigaram a ler tudo da Lygia Bojunga e, de quebra, "O escaravelho do diabo". Não sei quais eram os critérios literário-psicopedagógicos daquela época remota, em que crianças tinham de debater sobre livros que eram obrigadas a ler (não existia a noção da leitura lúdica, eu acho).

OK. Pois foi aos 34 e muito que eu descobri o filme "Efeito borboleta". E isto me tornou uma psicopata da roteirização da vida. Não tenho tempo pra explicar, pois, enquanto escrevo, alguma coisa irreversível pode estar acontecendo a uma pessoa a quem eu quero muito bem, ou quereria, no futuro, mas como eu disse, estou sem tempo pra explicar.

O nome desse efeito pode perfeitamente e vanessa-atalanticamente ser "efeito Concha Y Toro" ou "efeito Porca de Murça", e os enólogos de baixíssimo calão poderão entender o que eu estou dizendo. Mas, como eu ia dizendo, estou sem tempo de explicar. Resolvi que, há 20 anos, quando detectei uma séria anomalia comportamental na mãe de um ex-amigo, que se tornou ex-namorado, se eu tivesse dito pra ele: "te trata, que tua mãe é muito doente", ele mesmo não teria adoecido. E nem essa vaca anômala teria se tornado minha ex-sogra, e eu não teria, hoje, este ódio conceitual das sogras.

Se eu não tenho namorado hoje, é simplesmente porque eu não suporto a idéia da sogra. São raros os homens com menos de 50, física e mentalmente sadios, que têm mãe devidamente morta.

Pode até ser chocante pra vocês, que me acham legal e me acham boa, mas in vino semper veritas: se tem coisa que eu não suporto é sogra. Namorado bom é namorado com mãe morta, de preferência desde o parto. Eu sou tão altruísta que juro que me mato, tão logo o meu primogênito arrume a primeira namoradinha aos 10 anos de idade. Não quero traumatizar criança alguma, quanto mais as minhas.

quarta-feira, maio 16, 2007

Mordida no cérebro

Ontem foi aniversário de um ano do meu afilhado canino negão, o Black. Daisy, Raul, Black e eu comemoramos em grande estilo: primeiro brindamos com champagne. Depois, o Black e eu, que somos fracos pra bebida, ficamos meio altos e começamos a brincar de violência: eu latia, mugia, grunhia, gania e rosnava, e o já-adulto-mas-ainda-infantilóide Black apenas reagia proporcionalmente. Ou seja: com muita violência e descontrole motor. Enceramos todo o chão da casa da Daisy de tanto que rolamos no chão, e, num dado momento, quando eu estava completamente vulnerável, escondendo o rosto entre as mãos pra fazer algum barulho monstruoso estranho, o Black deve ter confundido minha cabeça com um coco e tentou arrancá-la do meu pescoço. Doeu um pouco na hora, mas eu estava tão engajada na brincadeira, que só parei de lutar com o aniversariante quando o porteiro interfonou pra pedir silêncio. Já passava das dez da noite, afinal. Uia.

Impossibilitados de continuar a latir em voz alta, resolvemos continuar a farra de aniversário no melhor restaurante dog-friendly gourmet do Rio: a carrocinha de podrão do Humaitá. O Black já tinha jantado em dobro, naquela noite, mas nós, não. Pedimos um cachorro quente em homenagem ao aniversariante e deixamos cair, "sem querer", várias ervilhas, ovos de codorna e fiapos de batata palha justo na boca do canino. Foi uma festa muito alegre. A Daisy me perguntava se ele tinha consciência de que estávamos comemorando seu aniversário. Como eu tinha sofrido uma mordida no cérebro e estava com o córtex racional -- parte do encéfalo onde moram Tico e Teco, meus dois únicos neurônios -- deveras babado e mastigado, eu às vezes dizia que sim, às vezes dizia que não. Não consigo, no entanto, me lembrar das explicações que dei, se é que dei alguma.

Hoje acordei com o cocoricó de um galo pontiagudo, do tamanho de um canino-canino. Senti, pela dificuldade com que me levantei, que estava com o SNC irreversivelmente seqüelado. Depois dessa mordida cerebral eu sei que nunca mais serei a mesma pessoa. Tenho a forte impressão de que estou mais ridícula e possivelmente dotada de superpoderes, o que pode ser apenas o quadro inicial da Síndrome da Mordida Cerebral Canina, um mal que aflige sete em cada três veterinários ridículos distraídos ou confiantes em excesso.

À medida que minha doença neurológica for evoluindo, irei relatando pra vocês o que sente, pensa, sofre e espera da vida um paciente mordido-cerebral-terminal, pelo menos enquanto a encefalite purulenta supurante permitir que eu continue me sentando ao computador sem babar ou morder o teclado. De antemão, já posso recomendar: não tentem fazer isso [sofrer uma contusão perfurante canina no crânio] em casa. No meu lugar, muita gente já teria ido ao Copa D'Or pra fazer um transplante de cabeça; por sorte, no entanto, os estagiários recém-formados de lá ainda são tementes a Deus, de forma que todos os mordidos sairiam da emergência mais querida da zona sul resignados, com uma receitinha de Pomada Minancora e vitamina C.


***

Eu disse sete em cada três veterinários? Deve ser a febre.

Marcadores:

VanOr responde (edição incrível, fantástica, extraordinária)

Querida VanOr,


Há mais entre minha complicada história de amor e a Terra do que supõe vossa VãOr filosofia. Vou resumir bastante minha epopéia espírito-afetivo pra que você não desista do meu caso antes de me aconselhar: descobri, entre um fenômeno paranormal e outro, que minha atual noiva é a reencarnação da minha esposa na última vida. Até aí, seria tudo lindo, perfeito, maravilhoso. No entanto, uma ex-namorada mal comida dessa mesma última vida descobriu em que corpo eu reencarnei, acabou reconhecendo minha antiga esposa, sua rival de outras vidas, no corpo material de minha atual noiva (está me acompanhando?), e deu de possuir a pobrezinha no auge das nossas carícias preliminares, numa espécie de ménage a trois de outro mundo. Eu sei que é o sonho de todo homem possuir duas mulheres ao mesmo tempo, mas veja bem: DESDE QUE uma não esteja possuindo a outra! No sentido kardecista, é claro.


Enfim, VanOr, não dá. Já tentei fechar os olhos pra não ver a cara transfigurada e tampar os ouvidos pra não ouvir as cinco vozes que saem da minha noiva possuída, mas um homem também tem suas sensibilidades, e eu não consigo me concentrar, se é que você me entende, enquanto uma grita "Help!", e a outra grita (com uma voz grossa estranhíssima): "Vojimatá, s'a fiadaputa!". E agora eu te pergunto: o que devo fazer pra me livrar desse espírito com dor de cotovelo? Já pensei em trocar de namorada, mas vai que o espírito passa a perseguir todas as mulheres que eu namore! Preciso matar o mal pela raiz.

beijos preocupados,

O Perseguido de Vidas Passadas


VanOr responde:

Querido Perseguido,

Sua situação é grave. No seu lugar, eu não veria mais nenhum filme de terror, não colocaria os pés no chão antes de verificar se há um monstro embaixo da cama e nunca mais dormiria com as luzes apagadas. Instale câmeras de monitoração em toda casa, escritório e locais que mais freqüenta, pois há caçadores de fênomenos paranormais de renome mundial que comprariam suas filmagens a preço de ouro só pra provar que você está mentindo. (não dê pelota pra eles, eles não sabem o que é ter uma mulher possuída em seu encalço)

Aconselho que você antecipe o Dia dos Namorados e dê logo pra sua garota um crucifixo de prata com a inscrição "Vade retrum, Satanás", pra ser carregado junto ao peito a qualquer momento e em qualquer lugar, que o capeta é traiçoeiro e não escolhe hora nem ocasião pra atentar.

Contrate um padre pra benzer a caixa d'água do prédio da sua namorada uma vez por semana, ponha uma espada de são jorge atrás da porta, deixe uma oferenda pro seu exu de cabeceira na encruzilhada mais próxima, ponha montinhos de sal grosso em todos os cantos da casa, redecore sua casa dentro das premissas do Feng-Shui, aprenda a fazer ikebanas, faça o bem (não importa a quem) e, pra evitar o pior, quando vocês forem transar -- momento em que a desafeta desencarnada deve ficar mais violenta -- deixe todas as luzes acesas e, na hora de se despir, tire tudo, menos o (farto e espalhafatoso) colar de alho do pescoço, nem os galhinhos de arruda de trás da orelha. Se você não tem um animalzinho de estimação ainda, arrume uma coruja branca, como a Harry Potter, e adestre-a para dar alarme de invasão de espíritos obsessores. Compre um milheiro de São Judas Tadeu e distribua os santinhos em sinais de trânsito, doe todos seus brinquedos velhos prum orfanato e todas as roupas que você não usa há mais de um ano pro abrigo mais próximo de você. Não que essas coisas possam, efetivamente, te ajudar, mas por que não aproveitar o karma pra limpar seus armários e mudar sua vida?

Meu querido, se depois de todos esses pequenos cuidados você continuar tendo problemas com a possessão demoníaca de sua namorada, só restará a solução radical da bala de prata ou da estaca de madeira no meio do coração. Mas isso, nós sabemos, só funciona com vampiros e lobisomens. Talvez seja mais fácil você tentar amansar a fera com um chocolatinho. Comigo, pelo menos, funciona.

um beijo, duas ave-marias e três pai-nossos,

VanOr

terça-feira, maio 15, 2007

Black's beautiful, Black's birthday!

Hoje é aniversário de um ano do negão Black, o labrador hiperativo da Daisy e meu peludoterapeuta-afilhado (desde 2007). Eu sei que ele não lê meu blog, mas aqui vai o recado de qualquer jeito: woo-woo-wool-wool-woo. Arf, arf, arf, arf, arf. Slick, slack, slock*.

* A última frase molhada quer dizer: "Espero ter sido clara o bastante".

segunda-feira, maio 14, 2007

Canelite

Nunca esteve em meus planos sofrer algum tipo de lesão músculo-esquelética correndo, mas, como toda hipocondríaca que se preze, eu sabia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde. Foi mais cedo do que eu imaginava: no terceiro quilômetro de um treino de doze, no último sábado, saí da pista claudicando como uma potranca falida pro turfe. Ao me ver em estado tão esquelético terminal, meu querido professor de corrida de rua, o Carlinhos, tocou um terror geral, dizendo tudo que uma pessoa impressionável hipocondríaca precisa ouvir nessas horas: "Pode ser fratura por estresse!" Peguei a bike e voei prum hospital ortopédico tudo-em-um, e saí de lá com receita de antiinflamatório e remédio pro estômago, RX, ultra-sonografia (não era nada!) e a primeira de doze sessões de fisioterapia e acupuntura. Voltei pra casa pedalando, pois não tá morto quem pedala. Cheguei a pensar que era frescura minha, mas foi só esfriar um pouquinho que a dor na canela voltou a me maltratar, como se eu tivesse levado um coice.

***

Hoje, no trabalho, contei pra Rita de minha dor-poltergeist sem causa conhecida na canela. Ela, que além de corredora é veterinária, portanto opina melhor sobre manqueira do que qualquer médico do Copa D'Or, me veio com esta:
- É canelite.
- Ha!
- Tô falando sério: todo mundo que corre tem isso. É canelite.
- Conta outra. Canela nem é uma parte do corpo reconhecida pela ciência. Como eu poderia ter "canelite"?
- Dói no meio da canela?
- Dói.
- Tem um ovo ali, em cima do osso?
- Tem.
- Então é canelite. Pergunta pro fulano, que corre. E pro beltrano. Aliás, foi o beltrano que me ensinou o que é canelite, e da primeira vez que ele me falou disso, eu fiz que nem você: "conta outra!"; mas depois de rodar em todos os médicos e ouvir deles que não é nada, cheguei à conclusão que esses caras não sabem o que é canelite, quando, na verdade, é óbvio: uma dor absolutamente real e palpável, bem localizada no meio da canela, no alto do osso, acompanhada de um "ovo" sem hematoma. Só dói quando a gente corre. Ou quando se palpa o ovo na canela. (e pôs-se a expôr sua teoria patofisiológica pra essa dor)
- Meu Deus, é isso mesmo: eu tenho canelite! Qual é o prognóstico? Eu vou ficar boa? Você ficou boa?
- Bom, quem corre, vai ter uma canelite de vez em quando. É tão certo quanto a morte e os impostos. Os malucos cagam pra isso e continuam correndo, apesar da dor. Os normais, como eu, param uma semana ou duas, a dor pára, depois volta, e assim vai.

Ou seja: se eu quiser correr, vou ter que assumir que vou ter canelite de vez em quando, e pronto. Um dia, talvez, eu posso até passar a gostar da dor. E pode ser que haja um dia em que a falta da dor me faça sentir vazia e desamparada. Por ora, no entanto, nada me tira essa sensação concreta de que tomei um coice no meio da canela e não percebi. Estou tentando me lembrar qual foi o último cavalo com quem conversei. Todos os muares são suspeitos. Parei de dar bom dia por enquanto, que quem dá bom dia a cavalo fala muito. E pode tomar uns coices.
***

Está na hora d'a Medicina se render à sabedoria popular e começar a aceitar os diagnósticos de espinhela caída, lepra canina, sistema nelvoso, canelite e obrocotoma (tumor esquisitóide de natureza desconhecida em órgão não identificado). Pomada Minancora nessa cambada de doença safada, que nem nome científico tem!

Calhambeque Bibi


Cool old cars
Originally uploaded by Van-Or.
Não sei o que é isso, mas eu quero dois!

sábado, maio 12, 2007

Programa de Sábado, no Jardim Botânico


Samba in Rio.
Originally uploaded by Van-Or.
A partir das 14h ou 15h tem uma roda de samba e choro no Armazém Colonial, na Pacheco Leão 320 (se não for este endereço, é bem perto: é na frente da Globo!). Cachorros são bem-vindos, a cerveja é servida em baldes de hidratação eqüina com gelo, e a galera é ultra animada e simpática.

Ah, e o que é melhor: aceitam Smart VR! ;o)

Black is beautiful.


Black is beautiful.
Originally uploaded by Van-Or.
É ou não é?

sexta-feira, maio 11, 2007

Gafes famigliares que entraram pro Livro dos Recordes

Gafe nº1: As Didas não envelhecem jamais!
Eu e minha madrinha caminhávamos pela Av. Rio Branco. Enquanto aguardávamos o sinal abrir para atravessarmos a rua, minha tia olha pra uma mulher ao seu lado e a acha familiar:
- Engraçado... Eu acho que conheci a sua filha, há uns 20 anos.
- Gilda, deixa de ser palhaça: sou eu, Marilu! Vinte anos depois, assim, como você: velha e acabada. O tempo passa. E filha é o caralho! Tá maluca? Eu sempre fui sapatão! Tá me estranhando?

***

Gafe nº2: Nunca rezem avôs céticos e ateus.
Meu avô Argeu, por parte de paidrasto, nos seus últimos dias de doença terminal, resignou-se a receber o apoio emocional nada ortodoxo de parentes e numerólogos, amigos antigos e rezadeiras, primos de terceiro grau e cirurgiões espíritas. Visitou-o um tal de Dr. Fritz. O quarto estava na maior escuridão, todas as janelas fechadas, e toda a famiglia ali reunida, fazendo uma corrente positiva pra dar as boas-vindas ao bom médico desencarnado.
Dr Fritz: Arrrrgéo... Coma vai, Arrrrgéo?
Vovô Argeu: [PRRRRRRUMMMM]

Para o choque de todos, meu avô respondeu ao espírito do médico alemão de renome internacional com um sonoro e fétido pum. Fez-se silêncio por mais dois segundos, até que um primo adolescente explodiu em gargalhadas. Alguma tia mais velha, e portanto menos saudável, pediu para acenderem as luzes e abrirem as janelas, que ela não conseguia respirar com aquele odor pestilento. E o Dr. Fritz, apesar de todo seu esforço germânico para falar um português sem sotaques, nunca mais voltou a ser visto, ouvido ou sentido nas casas da minha famiglia.
O pum é inimigo dos espíritos de luz.

Cartão de dia das mães pruma mamma analisada*

Nem adianta me olhar assim, que eu não comprei presente de Dia das Mães! Tá pensando que meu dinheiro é o quê? Capim?!? Que eu sou sócia da Light e meu dinheiro dá em torneira? Não, minha filha... Eu me esfolo de trabalhar em 3 empregos, chego em casa morta, cansada, careca, acabada e você ainda vem me pedir um beijinho? Não, as coisas não podem ser assim... Você tem que pa-rar pra pen-sar, mas não!: se eu paro, eu penso; se eu penso, enlouqueço. E por falar nisso, cadê aquele sapato que eu te emprestei há 3 anos, heim? Por acaso estaria com aquela blusa minha que você anda usando, ou será que está u-nha-e-car-ne com aquele brinco de marcassita que eu nunca mais vi? MEU DEUS, VOCÊS QUEREM ENTRAR POR DENTRO DE MIM!!! Não basta meu sangue, vocês querem minha alma! Ma che? Tá chorando por quê? Quem brigou com você na escola? Me dá nome e sobrenome, que eu vou exilar esse filho da puta do continente. Agora vem, deita aqui na minha barriga: vou te fazer um cafuné. Eu te amo muito, muito, muito, e agora deixa de bobagem. Vamos ver se tem algum filminho água com açúcar passando na HBO? E, ó: pode deixar: amanhã eu te compro um presente bem bonito, tá? O que você quer? O céu é o limite, e o nosso amor é lindo. Tão lindo! Nada pode ser mais lindo que o nosso amor.


* Ma non troppo!

Causos Populares Cazaques

O Povo Brasileiro, descobrimos hoje, não é um Galgo Iraquiano (potente soltador de armas químicas, mas colonizado ianque por tempo demais): é um Galgo do Cazaquistão -- ou Galgo Cazaque, para os íntimos. Se um dia a coisa ficar russa demais no Cazaquistão, não estranhem se descobrirmos que os hieroglifos do pedigree de nosso galgo queriam dizer, na verdade, Quirguistão, e não Cazaquistão. Não é nada mole entender esse riscado dos países exóticos, e a lingüística nada mais é que uma ciência geopolítica oportunistóide.

***

Falando no Povo Brasileiro, que foi resgatado das ruas e passou muitos anos com síndrome do pânico (uma predisposição genética dos animais de pedigree muito refinado), relato agora uma história digna de nota: em 1999, quando o Povo passava seu primeiro carnaval em Miguel Pereira, meus deslumbrados pais, que há tempos não tinham um cachorro pra chamar de seu, resolveram levar meu galgo pro olho-do-furacão da cidade -- a rua do vai-e-vem, onde ninguém pega ninguém --, e sentar lá, no boteco mais concorrido, com nosso pobre sabujo cazaque fantasiado de odalisca havaina, ostentando no pescoço dois colares floridos de amarelo e vermelho. Foi nesse dia que descobrimos que o Povo tinha fobia de ruído: um folião embriagado no bar carregava um irritante tarol e, tomado pela alegria do carnaval e suas inevitáveis biritas, vez por outra fazia o chão da Terra tremer com suas rufadas. O Povo, é claro, se borrava de medo sempre que o cara brincava com sua caixinha de barulho. Meu pai, que não é pessoa parcial, calma, afável, nem nada, rugiu logo pro folião: "MEU AMIGO, SEU TAROL ESTÁ INCOMODANDO O MEU CACHORRO!". E o folião respondeu, dignamente: "Foda-se. Carnaval não é lugar pra cachorro." Ao que meu pai respondeu: "E NEM PRA VIADO!" E, dali pra frente, meu infantilóide e meio bêbo pai passou 40 min olhando pro moço do tarol e dizendo, sem som, só com os lábios: "Vi-a-do! Vai-se-fo-der. Vi-a-do!". Até que o cara foi embora e deixou o nosso Povo Brasileiro em paz.

Eu passei 4 anos sem pisar em Miguel Pereira, claro. E o Povo nunca mais usou a mesma fantasia de havaina, pra evitar revanches contra minha famiglia. As pessoas são muito rancorosas hoje em dia.

***


PS: Não sei porque cargas d'água escrevi calzaque em vez de cazaque. O Houaiss puxou minhas orelhas.

Update: O porta-voz do Povo Brasileiro, o Excelentíssimo Sr. Meu Pai, acaba de dizer que o Povo voltou a ser um Galgo Iraquiano. No momento, ele está apenas se refugiando ideológica e politicamente no "distrito" turco do Curdistão, às margens do belíssimo lago Van, que fica a uma walking distance do campo minado por ianques. Com o olhar feroz que meu galgo tem, se ele não tomasse essa decisão radical de buscar exílio, o Tio Sam poderia prendê-lo em Guantanamo e torturá-lo até que ele confessasse onde está Bin Laden. Ou quem mexeu no meu queijo, o que, hoje em dia, dá no mesmo.

quinta-feira, maio 10, 2007

A biografia não autorizada do Rei RC...

...está disponível na internet*.

Não é que Deus existe e é justo? ;o)

* Se eu soubesse colocar arquivos para download neste bloguito, já o teria feito. Mas pra que servem os e-mails? Os daqui são vanorresponde@gmail.com e quesefoda.cansei@gmail.com. Pra este assunto específico, eu dou preferência ao último.

quarta-feira, maio 09, 2007

Tratante, moi?

Não fui ao Maraca ver o Flamengo golear os chicanos uruguaios. Sempre digo que vou [ao Maraca], empolgo geral, e acabo não fondo. E a desculpa é sempre a mesma: Maracanã não faz bem à garganta. Além dos gritos, que é só entrar no Maraca que a galera grita, o vento que ali sopra, mesmo no mais romano dos verões infernais, ferra qualquer corda vocal. Sobretudo as mais fresquinhas, como as minhas, tratadas a pão-de-ló pelas melhores fonoaudiólogas do planeta Terra, Clarisse e Ana Calvente.

Eu tenho essa megalomania de um dia ser cantora, revelada no chuveiro por um vizinho voyeur, em busca de novos talentos.

Quanto será que pagam pruma estrela de musical pornô?

***

O Joel não conseguiu abrir meu blog em Londres, onde gente fina é outra coisa: uma janela o alertava pro fato de que este quartinho! tem conteúdo inadequado para os elevados padrões morais e cívicos britânicos. Deve ser essa quantidade enorme de meninos de 5 anos se comportando mal, ou talvez seja minha esperança do vizinho voyeur-écoutéyeur descobridor de talentos, ou, quem sabe, a fudelância grupal que eu perdi por pouco, amiiiiiiiiiiga, kkkkkeeeee kkeeeeé iiiiisssssssssssoooo, mas fui fotografada mesmo assim.

***

Eu adoraria ver fotos minhas numa suruba. Seria como ir a uma micareta sem ir, de fato. Ou ir ao Maracanã sem, enfim, gritar. Ou seja: é só mais uma fantasia.

Pra não dizer que não falei de papas.

Um primo meu, quando pequeno, numa época em que ainda não havia TV a cabo, viu seus desenhos e programas infantis serem substituídos, sistematicamente, pela massacrante cobertura televisiva à visita do Papa João Paulo II ao Brasil. Pouco tempo depois, JPII tomou uns tecos dum, como se dizia naquele tempo?, atirador. Ninguém entendeu nada quando, durante o noticiário que exibia imagens do atentado, meu primote gritou pra TV, como se o Papa pudesse ouvi-lo: "BEM FEITO, SEU FILHO DA PUTA!". Avós e tias carolas, que tanto tinham se dedicado à educação cristã daquele esp'ritinho de porco de cinco anos, rezaram várias novenas pela alma do menino. Só depois é que elas rezaram pela recuperação do Papa. À famiglia tudo, ao Papa, o que sobrar.

***

Fui à Roma uma única vez, no verão de 2003. Fiquei num apartamento em frente à entrada do museu do Vaticano e fiz todos os tours que podem ser feitos ali. Porém, todavia, contudo, no domingo, que é dia da plebe receber a benção do Papa, eu queria mais era dormir dentro da geladeira: fazia 45 graus à sombra, e isso às 10h da matina! Meu então namorado travou uma luta gloriosa contra minha possessão demoníaca estrogênica e conseguiu me arrastar pelo entorno do muro. E lá fui eu, praguejando, maldizendo a Itália e seus verões, enquanto fritava a sola dos pés na calçada-frigideira, rumo à Piazza San Pietro, onde uns trinta mil fiéis aguardavam a aparição do (já) moribundo JPII. Niki o homem me aparece na janela -- e eu confesso que fiquei emocionada de ver uma criaturinha tão frágil e trêmula fazer um mega-ultra-power esforço pra falar a tanta gente que foi ali só pra vê-lo --, eu identifico, no meio da multidão, o Fábio Pareto, uma das minhas pessoas favoritas, querido amigo de infância. Eu moro no Rio, ele em Lisboa. Ele não sabia que eu estaria em Roma, tampouco eu poderia imaginar que ele fosse estar lá no mesmo dia. Se tivéssemos combinado de nos encontrar no meio daquele mar de gente, nunca teríamos tido sucesso. A gente gritava tanto de felicidade -- em bom italiano de novela da Globo: "ÉS IL MIRACOLO DO PAPA, ÉS IL MIRACOLO DO PAPA!" --, que os guias de turismo católico arrastavam seus fiéis a uma distância segura de nós, os malucos. Afinal, o Papa pode até ser milagreiro, mas há de se ter cautela com gente doida. Se o cara, que é papa, tomou uns tiros, imagina um fodido qualquer!

***

O papa chega hoje, e o céu resolveu cair sobre nossas cabeças. Não pude deixar de observar. Se o Flamengo não vencer por 4 gols mais tarde, terei certeza: esse cara é fascista. E estranho.

***

Fiz uma visita cheia de privilégios famigliares ao Castel Sant'Angelo, nessa ocasião em que estive em Roma. Um dos "privilégios" de que usufrui descaradamente foi sentar minha bunda num trono papal, que fica numa sala de reuniões onde, na metade do tempo, os papas e seus intelectuais assessores de saias deviam ficar elocubrando sobre o cardápio papal da semana ou o modelito da missa de domingo. Pois sentei minha bunda lá, percuti o trono com meus dedinhos e senti um profundo vazio existencial: eu jamais poderia ser papa: minha bunda não é grande o bastante: eu estava sobrando ali, naquele troninho.

Pensei que a privada papal também devia ser muito solitária. Sem trocadilhos.

Mea culpa

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.

(Ternura, do Poetinha, Ele, O Vinicius de Moraes)

Breves considerações sobre o câncer

"O câncer é a esquizofrenia das células." (frase proferida por esquizofrênico de 17 anos, parente de cancerosos, em um momento relâmpago-único de lucidez entre eletrochoques; detalhe: ele nunca teve câncer, mas é doido até hoje.)

***

O dia em que encontrarem a cura pra corrupção, o câncer nunca mais matará qualquer ser vivo.

***

Há mais entre o câncer e a Terra do que supõe nossa vã'Or filosofia.

***

Se a gente pode fazer câncer, também pode curar câncer.

***

Enquanto castigo divino, o câncer é a melhor forma cruel de aproximar o ser humano de Deus.

***

Deus não existe. E o câncer é prova disso.

terça-feira, maio 08, 2007

Essa gentalha não desiste, é uma coisa impressionante!

Toda semana, meu gmail recebe ao menos um spam básico de cunho pornochanchográfico, invariavelmente escrito por uma pessoa semi-analfabeta (ou se fazendo passar por uma, talvez na tentativa de se parecer mais com os meus amigos, UHAUAHAUA!), e invariavelmente me dizendo que eu fiquei incrível naquelas fotos da última festa -- a qual eu não fui --, fazendo coisas que até Aquele Que Tudo Já Viu duvida. A decadência moral e cívica me compele a reproduzir aqui, com comentários, trechos do último spam:

"Eiii Lindaaa como c tahh???"
VanOr comenta: Como vêem, o teclado dessa mosca dedetizada tem o mau hábito de duplicar letras em quase todas as palavras. Se tem coisa que me irrita é isso, especialmente se não for gooooooolaaaaaçoooo do Flamengo.

"Aquii a Natalia mando te passa essas fotos, kee isssuuu amigaaa c ta malukaaa?? Como ki vc dexa ele tira fotos suas assim?"

VanOr horroriza: Confesso que precisei reler esta mesma frase cinco vezes pra compreender mais ou menos isto: "Olha, a Natália me mandou te passar essas fotos. Que é isso, amiga! Você está maluca? Como você se deixou fotografar assim?"

Então, tive de fazer um grande esforço mental pausa pra imaginar como eu poderia, sem querer, ter me deixado fotografar em pleno ato de felação grupal. Só tenho uma hipótese: eu devia estar enlouquecida de tanto álcool, pó e heroína! Mas também, mesmo que estivesse sóbria, como uma pessoa transando com cinco caras ao mesmo tempo pode ter energia para protestar contra um eventual paparazzo? Saia justa, essa, heim? Sexo grupal daqui pra frente, pra mim, só com as pessoas da minha família! Não se pode confiar em ninguém hoje em dia.


"c e malukaa dexa ele tira foto sua NUA assim.. isso ja nem e amor mais nao amigaa... acho q ele ta e te usando vio...
Pensa nisso que eu to te falando..
purke nunka vi isso SEU namorado tira foto NUA sua.. e fika mandano pros outros?? [...] Ai em baxo ta o ANEXO das fotos

Fotos.exe"

VanOr desabafa: Quem disse que fetos anencéfalos não são viáveis? Este e-mail é prova concreta de que eles o são, sobrevivem, sim, e dedicam suas vidas a passar spams como este. Deve haver até um berçário com UTI neonatal no lixão da COMLURB, porque o que há de mãe criando o cocô em vez da criança não está no gibi!



segunda-feira, maio 07, 2007

Pequenos pensamentinhos

Se tem um título que eu odeio ver traduzido é "Little Women", de L. May Alcott. Meu sangue ferve, corre ao contrário e eu sinto engulhos biliares quando entro numa livraria e vejo um exemplar de "Mulherzinhas". Há certas coisas que não deveriam ser traduzidas jamais, pelo bem da eufonia. Ou então, vá lá, pelo meu bem. (ódio!)

***

Estou cada vez mais próxima de acreditar em Deus: estou praticamente convicta de que Seu antagonista -- Aquele que Tudo Vê, Tudo Lê, Tudo Sabe e Tudo Encontra -- existe. Desde que fiz aqui aquele pacto capitalista com o coisa ruinzinha, tenho visto diversos a_nú*ncyos de filhotes de raça pura neste quartinho, em minha própria casa! Logo eu, que sou a maior adepta do vira-lata, a maior lobista da posse responsável e uma das combatentes mais ferozes que conheço (modéstia & fúria à parte) de criadores inescrupulosos que injetam centenas de milhares de filhotes com anomalias esqueléticas e etc no mercado, todos os anos. Ô, raça!

***

A peituda, loura e japonesa Lola deu uma roupinha de inverno pro friorento Povo Brasileiro, mas meu pai não permitiu que la mia mamma o ornamentasse "com aquilo!" Minha mãe vestiu o magrelote em segredo, e ficaram os dois, quietinhos e felizes da vida sob a coberta, longe do crivo machista de quem acha que cachorro de roupinha é coisa de viado.

***

E por último, mas justamente por ser o mais importante, eu assisti à final do estadual ontem na casa de vascaínos. Eu era a única no prédio inteiro a gritar "Goooooolaaaaço!!!" ou "Fraaaaaaangaaaaço!" na hora dos pênaltis, sempre puxando a brasa pro meu Flamengo. Nada contra o Botafogo, que é um time super fofo e inofensivo (hahaha), mas chega a ser enternecedor ver a carinha desoladinha dos vascaininhos quando o Mengãozãozãozão ganha. E nem precisa ser deles! É cuti-cuti-cuti demais, gente!

domingo, maio 06, 2007

Verbo

Acordei pensando nas minhas contradições. Se eu detesto rótulos, não sei por que diabos fui fazer pós-graduação em homeopatia, a arte do "remédio de fundo", que nada mais é do que a projeção de um perfil físico e mental de um sujeito muuuuuuito doente (um doente Pulsatilla, um doente Arsenicum album, e por aí vai) sobre uma criaturinha de carne e osso.

Se eu detesto rótulos, não sei porque encomendava, sempre que me encontrava em deep shit, meu mapa astral: aquele riscado colorido, até bonitinho, que determina, com base em dia, latitude e uma hora nem sempre precisa (ah, a memória dos obstetras!), quem é, foi ou será uma determinada criaturinha de carne e osso.

Se eu detesto rótulos, não sei porque comprei "Sextrologia", um livro que encerra, em um verbo, o nativo -- homem hetero, homem gay, mulher hetero e mulher gay -- de um determinado signo. E por que um verbo, depois de tantas páginas cagando rótulo de aspectos físicos, arquetípicos, emocionais e sexuais de um doze (x 4) avos da população? Simplesmente, porque não há rótulo melhor que o verbo. O verbo fere, o verbo marca, o verbo é a arma mais eficaz que eu conheço. Pro bem e pro mal.

A numerologia já disse que meu verbo é o sonhar. A astrologia já acha que meu verbo é o sentir. Mas se alguma dessas artes divinatórias milenares inúteis me perguntasse, cara a cara, olho no olho, qual é o meu verbo, eu só poderia dizer: meu verbo é o fo-da-se.

Que se eu pudesse ser um verbo, eu seria o estar; porque nunca se é coisa alguma.


O homem que diz "sou" não é
Porque quem é mesmo é "não sou"
O homem que diz "estou" não está
Porque ninguém está quando quer
Coitado do homem que cai
No canto de Ossanha, traidor
Coitado do homem que vai
Atrás de mandinga de amor
(Canto de Ossanha, de Vinicius de Moraes & Baden Powell)

sexta-feira, maio 04, 2007

O quarto passageiro

Não é todo dia que o 284 (Praça Seca - Praça Tiradentes) está vazio. Hoje, por acaso, estava: eu, trocador, motorista e meia dúzia de passageiros, cada qual em sua janela solitária. No terceiro ponto de ônibus, sobe um PM armado até os dentes e vai perguntando pra fileira de homens à minha esquerda: "Onde você mora, cidadão? Tá vindo de onde?". No quarto passageiro (faltavam dois, três comigo, mas a essa altura até eu já sabia que o interesse do policial era apenas por homens pardos, tomadores regulares do 284 e moradores de um determinado lugar), o PM teve de repetir a pergunta; e ela saiu assim, meio tensa, meio gritada, meio com a mão no gatilho: "Cidadão, estou perguntando com educação: tá vindo de onde e tá indo pra onde?". O quarto passageiro não gostou nada da elevação do tom de voz do seu puliça e, de repente, enquanto o quarto cidadão se indignava, eu imaginei essa mesma cena -- "Qual é seu signo e pra que time torce?" -- interpretada pelo Evandro Mesquita em um clipe Ploc.

Meu pensamento aterriza com os gritos do PM e, nessa hora, eu tenho certeza que ouvi um clique metálico que podia ser (ou não!) uma arma sendo engatilhada. Calculo a distância do quarto passageiro pra mim e me imagino coberta por seus miolos, caso eles fossem estourados à queima roupa pelo policial destemperado. Um outro PM sobe pela frente, gritando, outro por trás e, ato reflexo, eu levanto um dedinho, como quem aguarda o olhar atento da professora primária para poder falar uma coisa. O destemperado me olha e grita:
- O quê?!?
- Moço... será que dá pr'eu saltar aqui?
- Onde você mora?
- Botafogo.
- De onde você vem?
- Do hospital veterinário.

Vejo na cara do destemperado um breve esforço pra não sorrir ou talvez até mesmo gargalhar do meu cagacinho precocemente manifestado. Afinal, ele deve ter entrado naquele 284 só pra aterrorizar meia dúzia de contribuintes em um fim de tarde enfadonho. Evandro Mesquita me volta à cabeça com os solos de: "Blitz, documentos! Ué... só temos instrumentos... Ei, rapaz, que que cê faz?". E então eu arremato, batendo cílios, no mesmo tempo do solo de baixo dessa parte da música:

- E sou canceriana, e torço pelo Flamengo. Agora, não me leva a mal, moço... mas será que eu posso saltar aqui?

Minha gigantesca mochila vermelha de 3 dias gritava: "reviste-me!". Eu fazia um esforço mental incrível pra não fugir enquanto tentava me lembrar do que tinha dentro dela, mas só me ocorriam pensamentos adolescentes de "não se deixe revistar por nada neste mundo! Morra se necessário, mas não deixe policial algum te revistar porque será o fim da sua vida como você a sonhou". Àquele momento -- e eu estava tão tensa que não podia perceber --, eu flertava com um policial destemperado pra saltar de um 284 -- sabe-se Deus onde!, no cu de São Cristóvão! -- só porque senti um medo irrefreável de virar estatística ou testemunha de estatística, o que dá no mesmo, porque sempre se morre um pouco quando alguém morre ao seu lado.

E o policial, seduzido, me respondeu, piscando de volta:
- Pode ficar, dona: tá tudo limpeza nesse ônibus.

Sorte minha não estar com a mochila de 15 anos atrás. Sorte minha não ter falado a primeira coisa que me veio à cabeça:
- Por que você não me revista? Por que não revista alguém do seu tamanho?!?

Querendo dizer: alguém tão microscópico assim, do seu tamanho. Eu.

quinta-feira, maio 03, 2007

Queixume

O Incrivelmente Fantástico e Internacionalmente Conhecido Devorador de Coisas Indevoráveis passa um quality time com seus avós. Isto quer dizer: passa um tempão sendo estragado pelos véios, à revelia dos pais. Avó paterna aproveita a ocasião pra fazer aquilo que as sogras e mammas sempre fazem de forma sórdida e invasiva, mas super-sorridente: sondar o ambiente doméstico-familiar pra ver se algum adulto anda precisando de corretivo por ali:

Vó: Tudo bem com o Papai e a Mamãe, Pedro Augusto?
PA: Tudo.
Vó: Nenhuma queixa pra Vovó registrar? Alguma coisa que eu deva saber?
PA: É... eu tenho uma queixa, sim.
Vó: Então manda!
PA: É meu pai, vovó: ele tá com mania de sambalelê, agora. Todo dia é sambalelê, eu não agüento mais tanto sambalelê!
(nada isenta): Pode deixar que, no seu pai, quem dá sambalelê sou eu. Ele vai ter de se explicar!

E as duas crianças de cinco anos voltam a construir um castelinho na areia, enquanto os pais tentam adivinhar, inocentes, o que será que Pedro Augusto tanto fala com a avó.

Quase cinco

O Fantástico e Incrivelmente Extraordinário Engolidor de Pilhas, agora em versão quase 5.0 (a contagem regressiva começa do mindinho pro dedão, e eu não sei porque crianças têm tanta pressa de crescer), está começando a entender o poder das palavras: usa-as para desarmar ou chocar pais, avós e professores. Mando aqui três singelos exemplos:

Na mesa, de castigo, porque não quer terminar o almoço:
Mãe: Coma, Pedro Augusto!
PA: Não.
Mãe: Por que não?
PA: Porque você não pediu "por favor".
Silêncio mortal; nenhum "por favor" é ouvido, até que o pai ruge algo como, mas em outras palavras, "por favor de cu é rola"; PA entendeu o recado e comeu tudinho, bem rapidinho.

Após o banho, com a avó correndo atrás dele pela casa para secá-lo:
Vó: Pedro Augusto, sente este pirulito aqui na cama pr'eu te secar!
PA (muito sério): É pirulito, vovó?
Vó: É.
PA: Então chupa!
Silência sepulcral; a avó passa horas pensando no que dizer e, finalmente, manda:
Vó: Ó, vovó vai te dar um conselho: não fale sobre isso com a sua mãe, que tem um compromisso enorme com a sua educação, mas daqui a muitos anos, quando você tiver uma namorada, você vai e pede isso pra ela, tá? Pra vovó, não. Nem pra mamãe, senão vai rolar um sambalelê geral.

Na cozinha, após quebrar um pirex:
Mãe: Ai, minha Santa Madre Paulina, Pe-dro Au-gus-to! O que que você fez, Ped-dro Au-gus-to?!?
PA: Não foi nada, mamãe. Está tudo bem agora, tá? Depois você compra outro.
E passa, pé ante pé pelo cenário de cacos e ruínas, que ele tem mais o que fazer que cuidar de destroços normais de guerra.

quarta-feira, maio 02, 2007

Frente fria

Se houvesse um imposto por lágrima derramada, eu seria a pessoa mais ferrada de grana da face da Terra. Eu choro de todos os jeitos possíveis e imagináveis: pra dentro, pra fora, rindo, soluçando, xingando e gritando com duas veias me saltando da testa, escondida atrás de óculos escuros, sob dois travesseiros, tomando banho, debruçada na janela, lavando louça, lendo no ônibus, tomando café enquanto leio a primeira página, recebendo presentes, falando do passado, do presente, do futuro, enfim: eu choro à vera.

Quando eu era universitária e achava que sabia tudo de tudo, eu tinha certeza a-b-s-o-l-u-t-a de que meu choro era estrogênico. Acontece que eu choro no estro, no proestro, e choraria no anestro (fase sem "estro", sem cio), se essa parte do ciclo estral existisse nas mulheres. Ou seja: TPM não é desculpa pr'eu chorar, embora eu chore (um tiquinho) mais na TPM, só pra aliviar o edema e controlar o peso.

Hoje chorei no ônibus pro trabalho, no trabalho, no ônibus do trabalho pra academia, chorei quando liguei pra minha analista e atendeu a secretária eletrônica, chorei enquanto me vestia pra correr (e, nesse momento, eu pensei: já que eu estou chorando há cinco horas direto e ainda vou correr -- e chorar e correr são duas coisas que emagrecem --, vou comer duas empadas de chocolate), chorei enquanto comia as duas empadas de chocolate (eu tinha que enfiar o pé na jaca, tinha!), chorei quando minha analista me ligou de volta e eu disse que estava chorando direto, chorei fazendo musculação e chorei enquanto me alongava.

Acho que hoje foi o dia em que eu mais chorei na vida. Deve ser a frente fria.

A irmã do Jacob no Flickr!

Nem adianta tentar: ela já tem empresária no Brasil. :o)

Veja mais fotos da jeanet.dk em: http://www.flickr.com/photos/94899302@N00/

terça-feira, maio 01, 2007

Profissão: Pára-raio de maluco

Não sei se porque sou distraída ou se porque também sou maluca, mas hoje eu descobri que eu tenho um magnetismo pessoal pra atrair doidos varridos. Toda sorte de gente me aborda na rua, quase toda semana, continuando uma conversa que não faz o menor sentido pra mim:

- Cara, esqueci de deixar contigo aquele lance!
- Que lance? Como assim, "lance"? (sou eu, com medo de ser assaltada com o golpe do "lance", o que quer que seja isto)
- O lance da loja.
- Ah... (dando ré) Você está me confundindo com alguém...
- Tu não é a Marisa?!? - o maluco está bolado.
- Nã.
- Irmã da Marisa?
- Nã, nã-não. Eu devo ser muito parecida com a Marisa... Normal. Eu sou mesmo um tipinho muito vulgar. Todo mundo diz que eu me pareço com alguém. (sou eu, atacando de maluca pra espantar meu rival)

E não bastasse isso, que, como eu disse, acontece comigo toda semana desde que eu me dou por gente, às vezes alguém me pára na rua pra pedir um autógrafo:
- Plis, Uainona Raider! Um autográf!
- Eu não sou a Winona Ryder.
- Conta outra! - e me cutuca com o papel e a caneta, já se colocando em posição estratégica pra tirar um auto-retrato comigo.


Às vezes, eu dou o autógrafo pra me livrar do maluco. Às vezes, eu me invoco:
- SE EU FOSSE A CARLA MARINS, VOCÊ ACHA QUE EU ESTARIA NUM 592, SEU DOIDO DE PEDRA?!


***

Hoje entrei no Skype e recebi uma mensagem instantânea dum holandês absolutamente desconhecido. Ele dizia, em cerca de 200 palavras, que estava vendendo um restaurante na Espanha pra vir morar no Brasil. Queria casar comigo. Respondi:
- Que legal. Mas a gente se conhece de algum lugar?
- Não. Mas podemos. Chego no Brasil em maio.
- Hum. E, até lá, a gente pode casar.
- Eu adoraria!
- Eu também, querido, mas sabe... é que eu não costumo casar com gente estranha.
- Se a gente se conhecer, eu não serei mais estranho pra você.
- Não... você vai, sim. Vai por mim: vai, sim. Vai ser sempre estranho olhar pra você e lembrar que você me pediu em casamento sem nem me conhecer. É uma atitude muito desesperada. Nem eu fiz isso ainda.
- Será que não dá pra gente esquecer isso?
- Hum... acho que não.
- OK, a gente se fala então.
- OK, eu não te ligo e você não me procura.
- Não entendi.
- É como os cariocas se despedem. É um jeito fofo, franco e carinhoso de dizer tchau.
- Ah, tá. Então, tchau. Eu não te ligo e você não me procura.
- That's my boy!

***

Alguém sabe como eu faço pra evitar que os malucos me encontrem no Skype? Não uso o Skype pra conhecer novos malucos, e sim pra manter contato com os malucos antigos. A cada vez que entro, é um choque que eu tomo. Pra mim, é tudo artimanha d'Aquele que Tudo Sabe, Tudo Vê e Tudo Faz Pra Me Enlouquecer.